O Santo Sínodo da Igreja da Grécia estabeleceu que a semana do Terceiro Domingo da Quaresma seja dedicado às vocações sacerdotais. As vocações, especialmente nos tempos modernos, parecem “absurdas”. O sacerdote da atualidade vive em uma época de contradições e de visão monofisita da pessoa humana, em que é chamado, mais que nunca, a evidenciar a verdade das coisas.
Nosso século foi caracterizado como o século da antropologia pelo Bispo Kallistos Ware. Isto não é de forma alguma interpretado como um tempo em que a atitude e a tendência antropocêntricas estejam presentes. Pode haver uma necessidade mais urgente de explorar a pessoa humana, os seus dons e perspectivas, mas isto não pode ser feito independentemente da Pessoa de Deus. E é aí que o clero deve definitivamente agir. Uma consideração da pessoa humana à luz da antropologia cristã contribuirá para a busca e descoberta de todo o espectro que determina o homem existir e agir como imagem de Deus.
Torna-se, portanto, claro que o clérigo precisa ter como ponto de partida e busca a sua origem divina e a origem divina de todos os seus semelhantes. O sacerdote não deve perder a perspectiva do mistério. Mesmo que o mundo não consiga compreendê-lo, o mistério não deve ser esquecido. Através da oferta e da obra dos Santos Padres, a Igreja conseguiu preservar a singularidade do sacramento. Ao mistério o clérigo deve se voltar sempre, em cada início e em cada fim das ações, o que significa sempre um recomeço.
A Sagrada Eucaristia é o ponto de partida do sacerdote e a entrega final de sua humanidade. A Eucaristia torna mística a experiência afirmada através do abandono da razão. É o momento em que o mistério dita a lógica para servir ao seu propósito.
A era moderna tem estruturas complexas, comportamentos diferentes do hermitismo temente a Deus. Nossa época não é interpretada de forma compreensível. O clérigo não pode se dar ao luxo da complacência e da visão tendenciosa das coisas. E mais, não tem o conforto de uma apuração fácil. Isso não é o bastante. É um grande desafio para o homem moderno encontrar todos os tipos de manifestações organizadas da vida na era pós-moderna.
O primeiro e necessário elemento do sacerdote moderno é entregar-se ao mistério de Deus, mesmo que o mundo convide o contrário!
São Gregório Palamás alerta:
“Quando te afastas de Deus, te tornas bestial ou demoníaco”.
Sim, nossa era é uma era de apostasia. Por isso, o clérigo é chamado a transmitir a mensagem do evangelho, mesmo que o mundo resista a aceitá-lo. A maioria das pessoas nem acredita mais na Ressurreição! Ainda assim, o mistério de Deus deve ser preservado a todo custo. A verdade da Igreja, como fruto do Espírito Santo, não deve ser alterada e esta é a missão dos padres dos nossos dias: mostrar ao homem e anunciar, proclamar o Deus que se oferece e se doa desde a Criação.
O clérigo experimenta uma forte ambivalência. Vive numa era de contradições, mas na qual deve compor. Obcecado por uma atitude monofisista, não conseguirá interpretar corretamente o seu tempo, mas também perceber a condição humana. Não podemos exorcizar as coisas. Tudo o que gera virtude é bom. Os Padres da Igreja recordam-nos que devemos enxergar o rosto de Deus no rosto humano. Por isso Merleau-Ponty, através da fenomenologia, dirá o que é muito importante para a antropologia cristã: “o homem não tem apenas um corpo, mas é um corpo”. Tudo que é material também é espiritual. O clérigo de nossos tempos deve saber disso. Caso contrário, exorcizará tudo. E isso nos é mostrado de forma afirmativa por São João Damasceno quando se refere à matéria e à santificação da matéria em sua obra sobre a Iconografia.
A era do contraste será tratada através da tática da composição. Síntese e conexão da teologia com a filosofia, a psicologia, a fenomenologia. Mas de uma teologia viva que tem uma razão, que tem uma presença, com as suas sensibilidades espirituais profundas em relação ao homem e à sociedade. Teologia no mundo, não fora do mundo, mas sem se tornar mundo. E o mal, a queda, a Morte, o pecado? Como serão tratados? Para responder, tomo emprestado algo de Paul Ricoeur: através da espiritualização do luto. Portanto, a eternidade, a vida futura, não é apenas uma esperança, mas uma certeza. Além disso, começará a ficar cada vez mais óbvio que somente com a presença de Deus no mundo, o mundo se transformará.
Feliz Páscoa!
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