São Gregório Palamás é, para nós monges e para todos os cristãos leigos piedosos, modelo de oração, mas também de obediência à Igreja. Gostaria, porém, de me deter à atitude eclesiástica de São Gregório Palamás. Esta atitude eclesiástica genuína, encontrada em todos os santos, exprime-se através da obediência, da confiança, da devoção e do amor à Igreja.
Mas, a que Igreja devemos ser obedientes?
A palavra “Igreja” etimologicamente significa uma reunião de pessoas, uma comunidade. No Novo Testamento, a palavra “Igreja” ganhou um significado mais profundo, porque com a encarnação de Cristo a Igreja não é mais somente uma comunidade de pessoas, mas o Corpo de Cristo. Além disso, a Igreja é caracterizada pelo povo de Deus, os cristãos, que são membros de uma comunidade eucarística. O povo de Deus não é apenas o clero ou os leigos, mas a unidade de todos eles em Cristo. E isto significa que os membros da Igreja são aqueles que estão unidos a Cristo, aqueles que com a vida sacramental são membros do Corpo de Cristo e, claro, batizados em nome da Santíssima Trindade.
A Igreja não é uma organização ou associação humana, mas o Corpo de Deus encarnado, o Cristo. Cristo é inseparável da Igreja, porque Ele é a sua Cabeça. Por sua vez, a Igreja é inseparável de Cristo, porque é o Seu Corpo. A Igreja é o lugar em que a salvação do homem se dá, porque só em unidade com o Cristo há salvação. A Igreja é um Corpo em unidade. Esta unidade é claramente visível na patena Sagrada, onde o celebrante coloca no meio o pedaço de pão, o Cordeiro de Deus, o próprio Cristo, à sua direita a porção que representa a Virgem, à esquerda as porções dos Santos; e à frente a partícula que representa o Bispo da Igreja local, e somado a esta partícula juntos, as pequenas porções que representam os vivos e os mortos. Esta parte da Liturgia, que é celebrada, à parte e chamamos de Prokomídia .
A comemoração do Bispo local é, portanto, necessária para a celebração da Sagrada Eucaristia. O Bispo é imagem de Deus, está no “lugar” de Cristo. A missão da Igreja só pode ser realizada através do Bispo. O Bispo é quem garante a unidade da Igreja e a profissão da correta fé. Sem o Bispo e sem Eucaristia não há Igreja”.
Infelizmente, nos dias atuais, é expressiva a falta de confiança na Igreja e nas suas decisões sinodais. Chegou-se ao ponto e o povo fiel questionar até mesmo o amor dos pastores pelo seu rebanho porque consideram que algumas decisões são erradas ou precipitadas.
Lamentavelmente, ignoram que a doutrina da Igreja é um ensinamento sinodal, e não de pessoas ou de indivíduos. As regras sagradas (os cânones) foram estabelecidas pela Igreja para resolver problemas da Igreja.
Hoje, alguns chegam ao ponto de aplicar os próprios cânones para criar problemas, e não para resolver problemas. Desta forma, o propósito dos cânones perde o sentido. Essa é uma nova abordagem da Teologia atual, mas isso não é Teologia ortodoxa. A teologia ortodoxa tem precisão, mas também tem economia. Tem grandeza. Salva, descansa, pacifica o homem, une. É portanto claro que o Sínodo sempre teve a primeira e a última palavra na Igreja Ortodoxa e, claro, continuará a tê-la até ao fim dos tempos.
Ultimamente, tem surgido alguns clérigos (e leigos que os seguem) que carecem completamente da compreensão e significado do que seja “ser Igreja” e por isso, criam cismas, divisões, confusão, na Igreja. Eles têm uma ideia orgulhosa de si mesmos, acreditando que estão ajudando a Igreja e esperando ser elogiados por isso. O que eles fazem é identificar e condenar as heresias a seu critério, substituindo assim os Sínodos da Igreja, os únicos responsáveis por resolver tais questões. Eles consideram todas as pessoas ao seu redor heréticas, inferiores, iludidas e se consideram os únicos possuidores da verdade e se creem salvadores da Igreja .
E mais grave é que, para tais pessoas, essas atitudes são justificadas porque dizem defender uma fé, a ortodoxia e porque são contra os hereges. Temos a impressão de que quem age desta forma é porque de fato se vê como o correto, o justo, o espiritual, quem tem a experiência da oração mental, quem tem atitude ascética e paternal, enquanto que todo o resto, inclusive o Patriarca Ecumênico, os seus prelados, os seus inúmeros sacerdotes, bispos e leigos, são taxados de ‘secularizados’ e ‘de não se preocuparem com a doutrina e a ortodoxia’.
A Ortodoxia, no entanto, é um assunto da Igreja, não de indivíduos. Muitos que agem individualmente, interromperam inclusive, a comemoração de seus irmãos Bispos, porque os acusam ‘de traidores da Ortodoxia’ porque assinaram os textos do Sínodo de Creta. E chamam este Sínodo de pseudo-sínodo .
Contudo, somente pode definir se um Sínodo é um pseudo-Sínodo ou não, é outro Sínodo. Não pessoas individuais. Nem clérigos ou leigos individualmente são pessoas certas para decidir se um Sínodo é válido ou não.
O mais importante é que o Espírito Santo que mantém a Igreja, em comunidade e comunhão corrigirá o que se precisa corrigir ou ratificará o decidido.
No segundo Domingo da Quaresma do ano de 2024.
Fonte: Fos Fanariou
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