Mensagem do Patriarca Ecumênico Bartolomeu para o Início do Ano Eclesiástico e o «Dia de Orações pelo Meio Ambiente Natural» (1º de setembro de 2023).
«Regozijamo-nos com as repercussões das iniciativas ecológicas do Patriarcado Ecumênico, não só no mundo cristão, mas também nas outras religiões, nos parlamentos e entre os políticos, no campo da sociedade civil, da ciência, dos movimentos ecológicos e da juventude» … «Expressamos ainda a nossa satisfação pelo fato de as pessoas terem compreendido definitivamente a ligação estreita entre as questões ecológicas e sociais e, especialmente, o fato de que a destruição do ambiente natural afeta principalmente os pobres entre nós», acrescentou»… «É neste contexto que devemos também incluir e apreciar os terríveis efeitos criados pela invasão da Rússia na Ucrânia, que está associada a uma horrível devastação ecológica. Cada ato de guerra é também uma guerra contra a criação, na medida em que representa uma grave ameaça ao ambiente natural» … «A Sagrada Comunhão não é apenas a nossa união com Deus e com os outros, mas também a assunção do alimento, a aceitação e valorização do ambiente natural, a incorporação e não apenas o consumo da matéria. A sacralidade que acompanha tal atitude, o estremecimento divino que permeia tal relação, é o diametralmente oposto da Tecnologia e a resposta ao nosso problema ecológico»…
Prot. N° 496
† B A R T O L O M E U
PELA MISERICÓRDIA DE DEUS
ARCEBISPO DE CONSTANTINOPLA-NOVA ROMA
E PATRIARCA ECUMÊNICO
À PLENITUDE DA IGREJA:
GRAÇA, PAZ E MISERICÓRDIA
DO ARTÌFICE DE TODA A CRIAÇÃO
NOSSO SENHOR DEUS E SALVADOR JESUS CRISTO
Reverendíssimo irmãos Hierarcas e filhos amados no Senhor,
Com a graça do Princípio e Aperfeiçoador da nossa fé, iniciamos hoje um novo ano eclesiástico e celebramos com salmos e hinos, pela trigésima quinta vez, o Dia da Proteção do Meio Ambiente.
Alegramo-nos com as repercussões das iniciativas ecológicas do Patriarcado Ecumênico não apenas no mundo cristão, mas também em outras religiões, nos parlamentos e entre os políticos, no campo da sociedade civil, da ciência, os movimentos ecológicos e a juventude. Afinal, a crise ecológica como desafio global só pode ser enfrentada por meio da conscientização e mobilização internacional.
Expressamos ainda nossa satisfação pelo fato de as pessoas terem compreendido definitivamente a conexão imediata entre questões ecológicas e sociais e, especialmente, o fato de que a destruição do ambiente natural afeta principalmente os pobres entre nós. A combinação de atividades ecológicas e sociais é a esperança para o nosso futuro, porque só podemos ter desenvolvimento e progresso sustentáveis quando nos preocupamos simultaneamente com a integridade da criação e a proteção da dignidade humana e dos direitos humanos.
É característico que hoje a ênfase esteja na «expansão ecológica» dos direitos humanos. Na verdade, fala-se de uma «quarta geração» de direitos – juntamente com os direitos individuais e políticos, sociais, culturais e solidários – que se refere à garantia de suas pré-condições ambientais. A luta pelos direitos humanos não pode ignorar que esses direitos estão ameaçados pelas mudanças climáticas, pela escassez de água potável, solo fértil e ar puro, mas também pela «degradação ambiental» em geral. As consequências da crise ecológica devem ser abordadas sobretudo ao nível dos direitos humanos. É evidente que esses direitos, em todos os seus aspectos e dimensões, constituem uma unidade indivisível e que sua proteção é indissociável.
É neste contexto que devemos também incluir e apreciar os terríveis efeitos criados pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que está associada a uma terrível devastação ecológica. Todo ato de guerra é também uma guerra contra a criação, na medida em que é uma grave ameaça ao meio ambiente. A contaminação do ar, da água e da terra por bombardeamentos, o risco de um holocausto nuclear, a emissão de radiações perigosas de centrais nucleares que produzem eletricidade, poeiras cancerígenas de explosões de edifícios, a destruição de florestas e o esgotamento de propriedades agrícolas cultiváveis: tudo isto é testemunho de que o povo e o ecossistema da Ucrânia sofreram e continuam a sofrer perdas incalculáveis. Repetimos enfaticamente: a guerra deve cessar imediatamente e um diálogo sincero deve começar.
Ante todos estes desafios, a Santa Grande Igreja de Cristo continua a sua luta pela integridade da criação, com plena consciência de que a sua solicitude pelo ambiente natural não é simplesmente uma atividade a mais em sua vida, mas a sua expressão e realização essenciais como extensão da Santa Eucaristia em todas as formas e dimensões do nosso bom testemunho no mundo. Este foi também o precioso legado do pioneiro da teologia ecológica, o falecido metropolita João de Pérgamo. Reconhecendo a sua imensa contribuição, concluímos esta Mensagem Patriarcal por ocasião da Festa do Indictus com o que ele escreve sobre a Santa Eucaristia como resposta integral aos problemas ecológicos de hoje: «Na Divina Liturgia, o mundo natural e material, juntamente com todos os sentidos, participam numa unidade inseparável.
Não há antítese entre o sujeito e a realidade objetiva, não existe uma postura de conquista do mundo circundante por parte da mente humana. Este mundo não existe contra, não é objeto do homem, mas é assumido e comungado. A Santa Comunhão não é apenas a nossa união com Deus e com os outros, mas também a assunção do alimento, a aceitação e valorização do ambiente natural, a incorporação e não apenas o consumo de matéria. A sacralidade que acompanha tal atitude, o estremecimento divino que permeia tal relação, é o diametralmente oposto à tecnologia e a resposta ao nosso problema ecológico. A Santa Eucaristia é, também por isso, o melhor que a Ortodoxia tem para oferecer ao mundo contemporâneo».
Desejamos-vos um abençoado ano eclesiástico, irmãos e filhos no Senhor!
1º de setembro de 2023
† Bartolomeu de Constantinopla
Fervoroso suplicante por todos diante de Deus.
Bastante enriquecedora as mensagens. Estava com saudades; há tempos não recebia notícias de Ecclesia.