Metropolita IOSIF de Buenos Aires
«Pois, muitos são os convidados, mas poucos são escolhidos»
A parábola que o Senhor conta nada mais é do que uma alegoria da história do drama humano-divino da evolução e da perfeição, desde a criação até a vida definitiva (após a morte). Nesse contexto, é Deus quem constantemente «convida» todas as suas criaturas, sem distinção, para se reconfigurar a Ele, ou seja, para a felicidade e a perfeição que superabundam n’Ele como arquétipo ontológico criativo-perfectivo.
O Senhor «convida» para a festa – «para o Reino»; no entanto, seus súditos preferem atender aos seus afazeres cotidianos. Todo mundo tem uma desculpa. Ninguém pode se livrar de sua rotina por um momento, rotina que os engoliu em um turbilhão que chega a asfixia interior, muitas vezes. Extrapolando o significado da parábola em nossas vidas, devemos necessariamente nos perguntar quantas vezes sentimos que Deus nos convidou para sermos partícipes de seu plano perfectivo – «banquete» – e rejeitamos este convite por causa de outras obrigações, compromissos ou atividades às quais demos mais importância?
Quantas vezes Deus se nos revelou – pois o convite é revelação como participação – e seguimos nosso caminho cotidiano ao não dar a importância necessária a essa revelação?
Quantas vezes Deus falou conosco através de seus vários e múltiplos meios e nós nos recusamos a esta relação-diálogo?
E indo mais além: realmente nos importamos com toda essa história de Deus, perfeição, transcendência, ou preferimos a realidade pragmática – e programática – que acontece dia após dia em nossas vidas?
Todo o argumento, que necessariamente nos faz pensar, especialmente neste momento de provas, contém uma questão axiológica e é por isso que a questão permanece: o que vale mais? Deus nos convida amorosamente e de maneira gratuita; o que mais nos interessa? De qualquer forma, quem mais nos interessa, Deus ou nós mesmos? Ou melhor, nós mesmos ou nossas atividades, nossas coisas?
O peso da questão recai na nossa avaliação axiológica sobre nós mesmos e sobre Deus. Quem tem mais valor para mim? Embora seja uma pergunta um tanto quanto «tapeadora», gostaria que pensássemos na resposta como um exercício de meditação. A resposta a esta pergunta resolve a situação. E todas as respostas são válidas, embora apenas uma esteja correta.
Creio, no entanto, tratar-se de uma questão que tem a ver com identidade, pois meu juízo – e ação correlativa – sobre algo ou alguém vem do conhecimento relacional que se tem da coisa ou a pessoa que eventualmente cai na esfera de meu interesse. E então outras perguntas surgem: realmente sabemos quem somos e quem Deus é? Qual é a nossa identidade-relação com à Divindade e vice-versa? E, finalmente: qual é a nossa missão nesta dimensão? Qual é o significado da minha vida neste plano?
O problema é, em última instância, de natureza existencial-espiritual.
Enquanto isso, Deus continua a convidar-nos para sua festa; sem distinção, a cada momento, e aguarda nossa presença. E enfatizo que é um convite, não uma imposição. A festa – o «Reino», sobre a qual refletimos ao longo de todo este ano, é o próprio Deus dando-se permanentemente para a sua criação para que se torne como Ele pela participação de sua Graça.
Temos a última palavra; decidimos se aceitamos o convite ou continuamos com nossa rotina diária.