Dia 30 de novembro de 2020, uma Divina Liturgia foi celebrada por S. S. Bartolomeu, Patriarca Ecumênico, com a participação de vários Metropolitas, Arcebispos e o Clero local.
Estava presente uma Delegação oficial da Igreja de Roma liderada pelo Cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
Ao final da Divina Liturgia, o Patriarca Ecumênico dirigiu-se à Delegação da Igreja de Roma, expressando os seus agradecimentos e os da Igreja de Constantinopla a S. S. o Papa Francisco de Roma, pela presença de seus representantes na Festa do Padroeiro da Igreja de Constantinopla, apesar das dificuldades e cuidados necessários ainda presentes por conta da pandemia do Covid-19.
Assim expressou o Patriarca:
“Devido a presente crise de saúde, pela primeira vez em mais de cinco décadas, não foi possível enviar a Delegação oficial do Patriarcado Ecumênico à Festa do Padroeiro da Igreja irmã de Roma, em junho de 2020. Também, pelo mesmo motivo, não se realizou a reunião da Coordenação Geral da Comissão Mista para o Diálogo Teológico da Igreja Ortodoxa e Católica Romana, marcada para setembro passado. No entanto, conforme informado pelas autoridades, a elaboração do texto pertinente está progredindo, e esperamos que, se Deus quiser, o Comitê Coordenador se reúna no próximo ano de 2021, para que possamos proceder rapidamente à convocação da Sessão Plenária do Comitê de Diálogo“.
Em seguida, S. S. assinalou que as dificuldades que surgem periodicamente no diálogo teológico em curso entre católicos romanos e ortodoxos estão relacionadas à complexidade das questões discutidas, “que durante muitos séculos ocuparam e dividiram a Igreja e a teologia”.
“Vamos além de qualquer minimalismo teológico e utopia ecumênica, com realismo e confiança na providência de Deus. A vontade de caminhar com firmeza em direção à unidade almejada permanece intacta, ao comando do Senhor, nosso Deus. Também, o Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa, determina que o objetivo dos diálogos teológicos é “a restauração definitiva da verdadeira fé e do amor à unidade”. A diferenciação da metodologia é permitida desde que “o propósito seja o mesmo em todos os diálogos” (Relações da Igreja Ortodoxa com o mundo cristão, § 12).
De particular importância para nós é o fato de que o “diálogo na verdade” e “no amor” – que completou quarenta anos de vida e fecundidade neste ano -, seja acompanhado de iniciativas para um testemunho comum no mundo contra os problemas, ações e influências espinhosas da modernidade.”
O Patriarca Ecumênico destacou que ele e o Papa Francisco tem preocupações e sensibilidades comuns, e também visões idênticas para enfrentar os grandes desafios de nosso tempo.
“Apoiamos iniciativas que promovam a paz e a reconciliação. Destacamos a mensagem filantrópica da Igreja para a promoção da fraternidade e da solidariedade, da justiça social e do respeito pelos direitos humanos. Estamos participando do esforço para abordar as causas e consequências da grande crise contemporânea de refugiados e imigração. Estamos chocados com os incidentes frequentemente trágicos de violência em nome de Deus e da religião. Nesses acontecimentos redescobrimos o valor do diálogo inter-religioso, da paz e da cooperação entre as religiões para se evitar tais extremos e atitudes, para superar a desconfiança e para consolidar o respeito mútuo. A recente Circular de Sua Santidade o Papa Francisco Fratelli Tutti destaca de forma marcante a preocupação multidimensional da Igreja de Roma diante dos grandes desafios sociais. Três anos atrás, um grupo de teólogos ortodoxos renomados compilaram um texto, com base nos pressupostos teológicos e religiosos, para discutir o ethos social da Igreja Ortodoxa. O ethos social da Igreja Ortodoxa também foi abordado, em março passado, em uma conferência on line provocando um frutífero debate.“
Sua Santidade acrescentou que hoje os problemas morais e antropológicos tornaram-se muito atuais, “de modo que se fala de uma ‘mudança de paradigma’ no âmbito ecumênico”.
“Obviamente, a redução do pluralismo ao niilismo dos valores ameaça a coesão social e a identidade cristã e a dimensão da vida eclesiástica. Não é possível para a Igreja de Cristo aceitar “monólogos paralelos” e “comunhão de opostos” dentro dela, nem adaptar seus princípios divinamente morais e antropológicos às ‘escolhas alternativas’ da civilização secular moderna. A própria vida da Igreja é uma resposta indestrutível às questões da antropologia e da ética. A lacuna que está sendo criada no campo ecumênico, e está constantemente se aprofundando nessas questões, está impedindo o progresso dos diálogos inter-cristãos.
Nesse espírito, acreditamos que a formulação de uma antropologia cristã comumente aceita e o respeito prático aos seus princípios, serão um importante suporte para o curso das relações entre as nossas Igrejas. Então, caminharemos em um diálogo de amor e verdade, mas também em um “diálogo de vida”, vivendo a renovação e a liberdade em Cristo e dando um testemunho comum confiável no mundo sobre a esperança”.
O Patriarca Bartolomeu também se referiu ao seu recente encontro com o Papa Francisco no mês de outubro passado, em Roma, observando que…
“todo encontro face a face com o Papa Francisco é uma experiência especial de fraternidade, que fortalece o esforço de unidade e o caminho para se celebrar o mesmo cálice de Ação de Graças”.
Concluindo o seu discurso, o Patriarca Ecumênico observou que a Festa do Trono da Igreja de Constantinopla é uma festa comum da Igreja de Roma, pois os seus fundadores, os irmãos André e Pedro, se encontraram pessoalmente com o Messias e Salvador do mundo.
Depois destes pensamentos, Bartolomeu pediu que os santos Pedro e André, neste contexto de pandemia, intercedam pela proteção do povo e de todos nós, no testemunho e ministério do Evangelho da salvação (…).
O Cardeal Kurt Koch leu em seguida uma mensagem do Papa Francisco em inglês, na qual expressou votos calorosos ao Patriarcado Ecumênico por conta da festa de seu santo padroeiro, o Apóstolo André.
«Recordo com grande alegria a presença de Vossa Santidade no Encontro Internacional pela Paz realizado em Roma no dia 20 de outubro, com a participação de representantes de várias Igrejas e outras tradições religiosas. Apesar dos desafios impostos pela atual pandemia, a guerra continua a assolar muitas partes do mundo, com novos conflitos armados emergindo, tirando a vida de incontáveis homens e mulheres. Sem dúvida, todas as iniciativas tomadas por entidades nacionais e internacionais para promover a paz são úteis e necessárias, mas o conflito e a violência não cessarão até que todas as pessoas estejam profundamente conscientes de que têm uma responsabilidade mútua como irmãos e irmãs. A esta luz, as Igrejas Cristãs, junto com outras tradições religiosas, têm uma missão a ser cumprida: buscar a fraternidade entre os povos.
Na sua mensagem, Sua Santidade o Papa Francisco afirmou ter experimentado este espírito de fraternidade durante os vários encontros que teve com Sua Santidade, e recordou que o Patriarcado Ecumênico, antes de todas as outras Igrejas, com a Encíclica de 1920, foi a primeira a desejar uma maior proximidade e compreensão entre os cristãos. Ele observou que as relações entre as Igrejas de Roma e Constantinopla se desenvolveram muito no último século, à medida que as duas Igrejas mantêm vivo o desejo de alcançar o objetivo de restaurar a comunhão plena por meio da participação no altar eucarístico comum.
“Embora os obstáculos permaneçam, estou confiante de que caminhando juntos no amor mútuo e continuando o diálogo teológico, alcançaremos este objetivo”, disse o Papa Francisco.
Em seguida, o Patriarca Ecumênico acolheu calorosamente o primeiro ministro da Ucrânia Denys Shmyhal e sua comitiva, observando que sua presença mostra o respeito do povo ucraniano ao Patriarcado Ecumênico.
Sua Santidade acrescentou que responderá ao convite que lhe foi dirigido por Sua Excelência o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, durante sua recente visita ao Fanar, e que fará uma visita oficial ao país no próximo ano, marcando o 30º aniversário de sua independência.
Ele também deu as boas-vindas à Delegação da Igreja Autônoma Ortodoxa da Finlândia.
Após os discursos das autoridades, Sua Santidade condecorou o Pe. Alexio Torrance, Professor Universitário, da América como Protopresbítero do Trono Ecumênico, a quem se dirigiu elogiando sua fidelidade e devoção à Santa Igreja de Cristo e destacando sua conhecida contribuição teológica, pela qual doravante será incluído entre os teólogos da igreja.
Em sua réplica, o homenageado disse que estava profundamente comovido e grato. Em seguida, o Patriarca Ecumênico recebeu em uma audiência especial as autoridades civis e religiosas.
Com informações e fotos de: Arxon.gr
Tradução: Pe. Pavlos, Hieromonge