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O CONCÍLIO PANORTODOXO É VINCULANTE

Os Primazes das Igrejas Ortodoxas, membros do Concílio, durante a Divina Liturgia de encerramento, em 26 de junho de 2016 (Foto: John Mindala).

A ausência de quatro Igrejas no Grande Concílio Panortodoxo, realizado em Creta, de 18 a 26 de junho, não afeta a sua legitimidade, na opinião de dois assistentes, membros da Delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla

É Panortodoxo

A reunião de Creta foi um Santo e Grande Concílio, mas também um Concílio Panortodoxo. A ausência de uma ou mais Igrejas no Concílio não compromete a sua natureza panortodoxa, sobre o que se esteve de acordo unanimemente nos últimos dois anos (e em nenhum momento qualquer Igreja esteve em desacordo!), haja vista os documentos oficiais assinados. Suas decisões têm autoridade e validade Panortodoxa, embora devam se submeter ao processo de recepção. Tem havido numerosos Concílios sem a participação de todas as Igrejas que, no entanto, são vinculantes para todas as Igrejas Ortodoxas. Por exemplo, em 1872, em Constantinopla, só havia duas Igrejas, e a Rússia não participou.

Uma ausência dolorosa, mas que não que minimiza a importância do Concílio

A ausência de Moscou, Antioquia, Bulgária e Geórgia foi dolorosa para as dez Igrejas presentes, é bem verdade, mas não afetou o caráter institucional ou a importância do Concílio. Foi a reunião de Igrejas e bispos ortodoxos mais representativa e completa de toda a história. Nunca tinha havido um Concílio com a participação de dez Igrejas. Seu propósito não era uma reforma, mas a unidade: reunir a Igreja para oferecer um testemunho de maior unidade e, portanto, que fosse mais credível, ao mundo contemporâneo. Embora as Igrejas Ortodoxas estejam unidas sacramental e doutrinariamente, não haviam se reunido em Concílio Panortodoxo há mais de mil anos. Isto é contrário a seus princípios. As Igrejas Ortodoxas foram chamadas a redescobrir sua identidade sinodal, e o Concílio lhes deu esta oportunidade.

Os frutos de Creta

Seu principal êxito foi a institucionalização do processo conciliar na vida da Igreja Ortodoxa na era moderna. O que era um mecanismo natural e regular durante o primeiro milênio foi subestimado e negligenciado durante o segundo. O Patriarca Bartolomeu o reavivou de modo corajoso e visionário. Mas, além disso, uma clara vitória para a Igreja Ortodoxa foi a afirmação de sua abertura ao diálogo com outras Igrejas.

Por quê a questão ecumênica era tão controversa?

As Igrejas Ortodoxas foram se desenvolvendo em ritmos diferentes. Por exemplo, o Patriarcado Ecumênico estabeleceu relações positivas e construtivas com outras Igrejas cristãs e organizações ecumênicas, enquanto outras Igrejas se mantiveram mais distantes dessas relações.

Por isso, havia muita controvérsia sobre o projeto do Documento «Sobre a relação com outros cristãos». Os representantes mais tradicionalistas de algumas Igrejas apresentaram razões para que não se usasse a palavra «Igreja» ao se fazer referência às outras comunhões cristãs não-ortodoxas. Uma função do Concílio foi a de proporcionar linhas de atuação e sincronizar as diferentes perspectivas ecumênicas das Igrejas Locais. Esperava-se que o Concílio não só estimulasse e avançasse na unidade Panortodoxa, mas também na reconciliação intercristã, especialmente com os romano-católicos.

O Pós-Concílio: como será agora?

O processo de recepção é vital em qualquer concílio ortodoxo. Mesmo os concílios ecumênicos, nos primeiros séculos [antes da divisão da Igreja] tiveram que ser aceitos e recebidos pela «consciência do povo de Deus». Gosto de descrevê-lo como o «concílio depois do Concílio».

Todas as 14 Igrejas Ortodoxas terão de promover uma série de programas educacionais, em seminários, paróquias e dioceses, em nível local e regional, para que a Igreja avalie como as decisões do Santo e Grande Concílio seguem a doutrina e a tradição autênticas dos primeiros concílios.

O que resultou do Concílio é a confirmação de que as Igrejas Ortodoxas estão dispostas a se posicionar acima de interesses étnicos ou internos para manifestar que se importam profundamente com os desafios globais do nosso mundo.

Haverão outros Concílios?

Os primazes e outros bispos estavam convencidos e expressaram repetidamente que tais assembleias devem voltar a tornar-se o fórum apropriado para que as Igrejas Ortodoxas possam compartilhar de forma aberta e sincera suas realidades. Uma das reações mais comuns era: «Mas não sabia que a Igreja na Nigéria (Albânia, Coréia etc.) enfrentavam tais e tais situações». Muitos enfatizaram que estes concílios deveriam se reunir a cada sete ou dez anos.

Uma Igreja Ortodoxa para o século XXI

A Igreja ensina que a salvação que nos é ofertada em Cristo cura a humanidade e transfigura toda a criação. Nesta visão cósmica, não pode e não deve haver lugar para o isolacionismo, o sectarismo e o triunfalismo, o obscurantismo, o nacionalismo e o imperialismo. Em um mundo que assiste a mais terrível crise humanitária desde a II Guerra Mundial, a Igreja deve ter uma palavra de esperança e consolação.

Foi milagre de Pentecostes a festa de abertura deste Concílio. Os Primazes e os Bispos se reuniram para implorar e invocar o Espírito Santo, para afirmar e demonstrar sua unidade, bem como para receber a força e a energia para serem testemunhas credíveis da crucificação e da ressurreição do Senhor. Porém, para que isso ocorresse, haviam de permanecer juntos «no mesmo lugar».

João Chryssavgis
Porta voz do Patriarcado de Constantinopla no Concílio

Paulo Gavrilyuk
Consultor internacional do Patriarcado de Constantinopla no Concílio

Fonte: Alfa e Ômega,
(via Sacra-Arquidiocese de Espanha e Portugal)
Tradução por Pe. André Sperandio

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