Sobre a Veneração das Santas Relíquias e Restos Mortais dos Santos

«Eis que consideramos felizes os que perseveraram...» (Tiago 5:11).
Vasily Demidov
Arquipresbítero

O texto defende a prática ortodoxa de venerar as relíquias dos santos, como ossos, cabelos e até corpos incorruptos, que são vistos como instrumentos da graça e do poder de Deus. O autor contrasta essa prática com a rejeição protestante e sectária, argumentando que a veneração das relíquias tem base bíblica e histórica, remontando à Igreja primitiva. Ele cita exemplos bíblicos, como os ossos do profeta Eliseu, que ressuscitaram um morto, e milagres realizados através de objetos tangíveis, como as vestes de Cristo e a sombra de Pedro. O texto também refuta as críticas dos ateus e comunistas, que ridicularizam a incorrupção de corpos santos, apresentando relatos de exames científicos que confirmam a preservação de relíquias. Demidov enfatiza que a veneração das relíquias é uma expressão de fé e uma conexão espiritual com os santos, que intercedem pelos vivos diante de Deus.

Tradução e adaptação para o português por Pe. André Sperandio

A prática ortodoxa de venerar as relíquias dos santos, como ossos, cabelos e corpos incorruptos, é fundamentada na tradição da Igreja Primitiva e na Sagrada Escritura. Os santos são vistos como instrumentos da graça divina, e suas relíquias são consideradas fontes de milagres e bênçãos. Essa prática contrasta com a rejeição protestante e sectária, que nega a legitimidade da veneração dos santos. O autor cita exemplos bíblicos que sustentam essa prática, como os ossos do Profeta Eliseu, que ressuscitaram um morto (2Rs 13:21), e milagres realizados através de objetos tangíveis, como as vestes de Cristo (Mt 9:20-22) e a sombra de Pedro (At 5:15-16). Ademais, o texto refuta críticas ateístas e comunistas à incorrupção dos corpos dos santos, apresentando relatos de exames científicos que confirmam a preservação inexplicável dessas relíquias.

A veneração das relíquias é uma expressão de fé que conecta os cristãos aos santos, que intercedem pelos vivos diante de Deus (Ap 7:14-15). Essa crença é reafirmada na tradição apostólica e patrística, sendo encontrada nos escritos de autores como São João Crisóstomo e São Efraim, o Sírio.

Fundamentação Bíblica e Teológica

A Sagrada Escritura fornece vários exemplos da manifestação do poder de Deus através de objetos tangíveis:

  1. Ossos do Profeta Eliseu: “E aconteceu que, enquanto sepultavam um homem, eis que viram uma tropa de moabitas, e lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, logo que tocou os ossos de Eliseu, reviveu e se levantou sobre seus pés” (2Rs 13:20-21).

  2. A cura da mulher com fluxo de sangue: “Se eu apenas tocar a orla de Sua veste, ficarei sã” (Mt 9:21).

  3. Lenços e aventais de Paulo: “Deus operava milagres extraordinários pelas mãos de Paulo, de modo que até lenços e aventais que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos, e as doenças os deixavam, e os espíritos malignos saíam deles” (At 19:11-12).

  4. A sombra de Pedro: “Trazendo os enfermos para as ruas e os punham em leitos e em camas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles… e todos eram curados” (At 5:15-16).

A prática de honrar os santos e seus restos mortais está enraizada na compreensão da Igreja de que Deus age através da matéria. A própria Eucaristia é um exemplo disso, onde Cristo se faz presente sob as aparências do pão e do vinho.

A Incorrupção dos Santos

A incorrupção de certos corpos de santos é um fenômeno documentado na história da Igreja. Entre os exemplos notáveis estão:

  • São Nicolau de Mira: Cujo corpo exala um líquido milagroso chamado “maná”.

  • São Spiridon de Trimithous: Cujo corpo permanece flexível após mais de 1.500 anos.

  • São Teodósio de Chernigov: Examinado por cientistas em 1896 e encontrado incorrupto.

A história também registra a tentativa dos bolcheviques de ridicularizar a veneração das relíquias, expondo os corpos dos santos publicamente. No entanto, exames conduzidos por médicos revelaram que muitos corpos estavam intactos, sem sinais de decomposição, contrariando qualquer explicação científica.

Testemunho da Igreja e dos Santos Padres

Desde os primeiros séculos, a Igreja honrou os restos mortais dos santos. As Catacumbas de Roma contêm inúmeras evidências desse costume. São João Crisóstomo afirmava:

“Não apenas nos tempos antigos, mas também agora, Deus opera milagres através dos santos. Seus túmulos estão cheios de graça, curando doentes e expulsando demônios” (Homilia sobre o Salmo 109).

Os cristãos primitivos recolhiam os restos dos mártires e os guardavam em locais de culto. Essa prática se intensificou após o Edito de Milão (313 d.C.), quando igrejas foram construídas sobre os túmulos dos santos.

Conclusão

A veneração das santas relíquias é uma prática autêntica e fundamentada na Sagrada Escritura, na Tradição e na história da Igreja. Ao rejeitar essa prática, os protestantes e ateus ignoram a própria dinâmica do agir divino, que se manifesta na matéria. A história cristã demonstra que Deus, em sua infinita sabedoria, continua a glorificar seus santos através de seus restos mortais.

Referências:
  • Bíblia Sagrada. Tradução Almeida Revista e Corrigida.

  • DEMIDOV, Vasily. On the Veneration of the Holy Relics and Remains of the Saints. Jordanville: St. Job of Pochaev Press, 1950.

  • ORTHODOX LIFE. The Veneration of the Holy Relics and Remains of the Saints. Orthodox Life, vol. 30, n. 2, 1980, pp. 23-33.

  • São JOÃO CRISÓSTOMO. Homilia sobre o Salmo 109.

  • Orthodox Information Center. Disponível em: http://orthodoxinfo.com/general/relics.aspx. Acesso em: 07 mar. 2025.