Quarta-Feira Santa

“Ó miséria de Judas! Contemplava a pecadora beijando os pés de Jesus, meditando dissimuladamente sobre o beijo traidor; e, enquanto ela desprendia as suas tranças, ele se prendia com sua ira trazendo, em vez de bálsamo, sua pervertida maldade, pois o crime não sabe honrar o que realmente deve. Da miséria de Judas, livra-nos, ó Deus nosso!"
Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

Matinas da Santa e Grande Quarta-feira

Nesta quarta-feira, a Igreja dá-nos o exemplo da adúltera que, uma vez tendo se encontrado com o Senhor, percebeu a gravidade de seus pecados, caiu perante Ele e lavou os Seus pés com lágrimas e preciosos perfumes. Os hinos desta manhã exortam-nos a imitar a mulher pecadora confessando nossos pecados e nos afastando deles. Santa Unção em recordação desse tremendo ato de amor trazido por aquela que estava em pecado, a Igreja traz-nos nesta noite os santos óleos, e celebra o Sacramento da Unção para a saúde do corpo, da mente e do espírito.

Os ofícios matutinos (Matinas) da Grande Quarta e Quinta-feira refletem sobre temas diversos. No entanto, devemos pensar em dois fatos que a hinologia bizantina claramente contrasta: o arrependimento da Mulher Pecadora e a maquinação traiçoeira de Judas. Ambos encontram Jesus naquela ocasião, mas a Mulher estranha se prostra diante do Senhor a pedir-Lhe a remissão dos seus pecados, enquanto o conhecido discípulo, contemplando o fato, começa a maquinar sua traição contra o Mestre. Enquanto a Pecadora oferece o que de mais caro possui, fruto de suas ações pecaminosas, o Discípulo oferece o que acredita ser o mais sublime! Os hinos mostram claramente a contraposição:

“Ó miséria de Judas! Contemplava a pecadora beijando os pés de Jesus, meditando dissimuladamente sobre o beijo traidor; e, enquanto ela desprendia as suas tranças, ele se prendia com sua ira trazendo, em vez de bálsamo, sua pervertida maldade, pois o crime não sabe honrar o que realmente deve. Da miséria de Judas, livra-nos, ó Deus nosso!

Por isso é que refletimos sobre o arrependimento da Mulher Pecadora e sobre a condenação de Judas, que, tendo cometido o erro, não pode se arrepender, e por isso é que, revestido de remorso e desespero, ele próprio se julga, se auto impõe a justiça e se enforca. O amor de Deus, no entanto, é muito maior que o crime de Judas; Judas, porém, negou-se a se arrepender. O arrependimento é a prova e a consciência do amor de Deus por nós, e Judas não quis se redimir. Enquanto a Pecadora tudo oferecia para mudar a sua vida, Judas não quis se arrepender.

FONTE: Boletim da Arquidiocese Ortodoxa de Buenos Aires e Exarcado da América do Sul, 2020.