Frederica Mathewes-Green: «Todos por um?»

Traduzido para ECCLESIA por Ricardo Williams | Texto original em inglês: Opinion Journal

Necessitamos unir nossas forças, e não podemos medir esforços» para reiniciar o diálogo entre cristãos católicos e ortodoxos, disse o Papa Bento XVI. Dirigindo-se a representantes do Patriarcado de Constantinopla em 30 de junho, o papa explicou que “não é nem absorção nem fusão, mas respeito à versátil plenitude da Igreja”.

Quem vê as coisas pelo “lado de fora” pode se perguntar por que essas igrejas tão antigas simplesmente não fazem as pazes? Exteriormente elas são muito semelhantes. Ambas as igrejas afirmam que suas raízes estão fincadas na Igreja cristã primitiva. O motivo de sua separação já tem mais de mil anos. Não é hora de olhar para a frente?

São meus irmãos Ortodoxos que aparentemente são os intransigentes nessa história. Os católicos tem se mostrados amigáveis há mais de uma década, e até mesmo o Papa João Paulo II disse que a extensão dos poderes papais – um dos motivos do cisma do século XI – “poderia ser revista em uma nova situação”, e mesmo os Ortodoxos afirmam que Roma foi, um dia, a “primeira entre iguais”.

Porém os Ortodoxos batem o pé, e às vezes são até rudes. Um amigo meu que, é católico romano, disse uma vez que essa atitude é o mesmo que dizer: “peguem o ramo de oliveira e enfiem onde o sol não brilha”.

A Igreja Ortodoxa é comparativamente menor e menos poderosa, e por isso não temos muitas oportunidades de explicar nossa perspectiva. Mas podemos resumi-la em duas palavras: “unidade” e “caos”.

Pela perspectiva católico-romana, a unidade é criada pela instituição da igreja. Dentro desta unidade pode haver diversidade; nem todos concordam com a doutrina oficial, e muitos o fazem a plenos pulmões.

O que mantém as unidade é a qualidade de membro da igreja. Esse tipo de unidade faz total sentido para os norte-americanos: não importa as coisas em que discordamos, todos saúdam a bandeira. E todos os católicos romanos saúdam – mesmo que na prática não obedeçam o Magistério romano.

Aos olhos dos católicos, a Ortodoxia não é vista como uma instituição global e centralizada. Pelo contrário, para eles a igreja parece ser um aglomerado de congregações nacionais e étnicas – uma situação que é ainda mais confusa nos EUA, devido à imigração. Para os católicos, a Igreja Ortodoxa parece um completo caos.

Mas na perspectiva Ortodoxa, a unidade existe pela crença nas mesmas coisas. É como a unidade que existe entre vegetarianos ou fãs de um mesmo time. Uma burocracia gigantesca não é necessária para manter a fé.

Mesmo dentre culturas completamente diferentes, os cristãos Ortodoxos mantém uma unidade de fé impressionante – é claro que às vezes disputas de poder e o pecado atrapalham, mas não há diversidade de fé.

Mas qual é a fonte desta fé em comum? O consenso da Igreja primitiva, ao qual os Ortodoxos aderem até hoje com unhas e dentes. Esse consenso formou-se após muitas disputas, mas há pelo menos mil anos todas as principais questões de fé e moral foram definidas no hemisfério oriental.

Não foi o caso no Ocidente. A expansão do papel do papa trouxe o desenvolvimento teológico em diversas áreas, incluindo aí a própria doutrina da salvação. E nos últimos tempos a igreja católica americano passou por muitas reviravoltas. Aos olhos dos Ortodoxos, a Igreja Católica parece um verdadeiro caos.

Os católicos têm dificuldade em entender isso. Para eles, a instituição da igreja é o principal. Alguns de seus membros dizem que se a igreja impingisse sua autoridade, haveria unidade. A isso, os Ortodoxos respondem: a fé deve ser orgânica. Se você impuse-la ao povo, você já perdeu a batalha, e não haveria unidade verdadeira.

Temos, portanto, duas definições diferentes de “unidade”. A “unidade” significa ser membro de uma mesma instituição ou compartilhar da mesma fé? Para os Ortodoxos, a resposta está na oração de Cristo ao Pai: “para que sejam um, como nós somos um”. [Jo 17:22]

Qual é a unidade entre o Pai e o Filho? Eles não estão unidos por uma força exterior, mas compartilham da mesma essência e vontade. Se somos “participantes da natureza divina”, como disse São Pedro, então, crêem os Ortodoxos, compartilharemos daquela mesma vontade. Isso é o que nos torna o “Corpo de Cristo”, a Igreja.

Por isso que os Ortodoxos vêem com receio frases que falam de uma “versátil plenitude”, como a proferida pelo papa. A diversidade católica romana torna fácil para os católicos nos aceitarem – eles nos vêem como a igreja primitiva, pois nos encaixamos perfeitamente neste conceito.

Mas quando os Ortodoxos olham para os católicos, vêem mil anos extras de desenvolvimento teológico, além de rebelião em suas próprias fileiras.

Atualmente, que tipo de unidade existe entre os católicos da qual podemos fazer parte?

Há inúmeros bons motivos para que haja diálogo entre Ortodoxos e Romanos, pois o diálogo serve para elucidar mal-entendidos. Além disso, o esforço conjunto de ambas pode beneficiar muitas causas que temos em comum. Mas não podemos estar plenamente unidos até que concordemos no significado da “unidade”.