O Ofício Litúrgico da Artoklasia
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O termo ARTOKLASIA (do grego artos=pão + Klao=quebrar ou partir), é de origem grega e deriva das mesmas palavras usadas pelos evangelistas para descrever o que aconteceu na última ceia em que Jesus Cristo «partiu o pão» e o entregou aos seus discípulos como seu próprio Corpo. Ademais, no ofício ortodoxo da ARTOKLASIA, o pão também é «quebrado», remetendo ao mesmo significando da fração do pão que o Senhor realizou.
Trata-se de um ofício litúrgico próprio da Igreja bizantina realizado ao final das Vésperas, Orthros (Matinas) ou da Divina Liturgia.
Cinco pães redondos levedados são oferecidos pelo fiel como sinal de devoção em memória de um familiar, amigo ou conhecido falecido, na data do falecimento ou do onomástico. Os cinco pães são uma reminiscência dos cinco pães que Jesus abençoou no deserto e com os quais saciou a fome de uma multidão de pessoas que o seguiam para ouvi-lo. Recordam também os cinco livros de Moisés (o Pentateuco)..
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Prepara-se, no meio do coro, uma mesa sobre a qual colocam-se: dois castiçais com velas; entre os castiçais os cinco pães, três copinhos contendo grãos de trigo [1], vinho e azeite; o trigo é colocado atrás dos pães, o azeite à direita e o vinho à esquerda. Na tradição eslava os cinco pães são cobertos com uma toalha com bordados tradicionais.
Depois de uma Pequena Súplica, o sacerdote desce do altar trazendo na mão o ícone da festa e o turíbulo, precedido pelos ceroferários. Diante da mesa, incensa os pães e os fiéis e inicia a Litania própria. Em seguida, enquanto o coro canta o Apolitíkion do dia [quantas vezes for preciso], incensa os pães pelos quatro lados da mesa, tendo sempre à frente os ceriferários portando uma vela acesa. Terminando de incensar, segura um dos pães, levanta-o e faz com ele o sinal da cruz em cima da mesa, dizendo:
“Alegra-te, Virgem Maria Mãe de Deus Cheia de Graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres, porque Tu deste à luz o Salvador de nossas almas!”.
Abençoa em seguida os pães, dizendo:
“Senhor Jesus Cristo, nosso Deus, Tu que abençoaste os cinco pães no deserto e com eles saciaste cinco mil pessoas, abençoa também estes pães, [o trigo, o vinho e o azeite]; multiplica-os nesta cidade e em todo o mundo; santifica todos aqueles que deles comerem com fé. Porque és tu que abençoas e santificas todas as coisas, ó Cristo nosso Deus, e nós te glorificamos com o teu Pai eterno e o teu Santíssimo, bom e vivificador Espírito, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém”.
No final desta oração o sacerdote beija o pão, parte-o em forma de cruz e canta:
“Os poderosos empobrecem e passam fome, mas aos que buscam o Senhor nada lhes falta” [Sl 33,11].
E, entra no santuário, dirigindo-se para o altar enquanto o coro canta:
“Bendito seja o nome do Senhor, eternamente, agora e sempre, pelos séculos dos séculos”.
Logo o sacerdote dá a bênção final. Os pães são partidos em pequenos pedaços e distribuídos aos presentes, logo ou depois da comunhão.
Este ofício foi introduzido nos monastérios [2] onde os monges deviam permanecer em vigília durante toda a noite, e os pães serviam como alimento para eles. Aos poucos foi se tornando comum nas igrejas paroquiais. Originalmente, fazia-se a fracção do pão e a sua distribuição logo em seguida, do pão e do vinho; mas, em muitos lugares, parece que este hábito foi esquecido.
No texto grego há uma rubrica observando que «o pão abençoado, se é recebido com fé, previne contra todos os tipos de males».
ARTOKLASIA também simboliza a prática das refeições comuns, agápicas das primitivas comunidades cristãs. Depois de os fiéis receberem a Santa Eucaristia, reuniam-se em torno de uma mesa comum, celebrando assim a união fraterna que existia entre eles pela mesma fé e porque haviam recebido sacramentalmente o mesmo Senhor. Além disso, as refeições agápicas serviam ao propósito de praticar a caridade, alimentando os mais pobres dentre eles.
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Dentre os tantos significados, sublinha-se o fato de, entre os ortodoxos, o pão ser altamente valorizado, não só como um alimento básico, mas também como o símbolo supremo do Corpo de Cristo – pois é o pão que, pela consagração na Divina Liturgia, torna-se o Corpo de Cristo, daquele que é repetidamente designado como o «Pão da Vida», o «Pão que desceu do céu». O pão também simboliza a Igreja de Cristo que se espalhou por todo o mundo do mesmo modo que o trigo nas montanhas, e que foi reunida por Cristo em um só corpo. Assim, ao pão foi dado um significado místico fortemente relacionado à essência da vida espiritual do cristão.
O pão abençoado da ARTOKLASIA tem sido, desde tempos antigos, considerado como meio de santificação pessoal e de ajuda contra as enfermidades físicas e espirituais dos fiéis, se tomado com fé.
Atualmente, o ofício da ARTOKLASIA é, lamentavelmente, um costume cada vez mais raro, sobretudo nos países da chamada “diáspora” ortodoxa.
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NOTAS:
- Segundo costumes locais diversos, o trigo pode depois ser moído e a farinha ser usada para a prósfora, ou também pode ser conservado até o momento da semeadura.
- Dava-se a cada um um pedaço do pão e um cálice do vinho abençoados como alimento para sustentá-los pelo resto da vigília, com a ressalva de que deviam ser consumidos logo, de modo a manter o jejum antes da comunhão. Na tradição eslava, no ofício de Matinas, canta-se o Salmo 50 (51) enquanto todos vêm para a frente para venerar o Evangeliário (se é domingo), ou o ícone da festa, e cada fiel, após ser ungido, recebe um pedaço do pão abençoado mergulhado no vinho
