Venerável Makários, o Grande do Egito

São Makários, o Grande, nasceu no início do século IV, na aldeia de Ptinapor, no Egito. Por desejo de seus pais, casou-se, mas logo ficou viúvo. Depois de sepultar sua esposa, Makários disse a si mesmo: «Tome cuidado, Makários, e cuide de sua alma. É conveniente que abandones a vida mundana».

O Senhor recompensou o santo com uma vida longa, mas desde então a memória da morte esteve constantemente com ele, impelindo-o a atos ascéticos de oração e penitência. Começou a frequentar com mais assiduidade a igreja de Deus e a ocupar-se mais profundamente na leitura e meditação das Sagradas Escrituras, mas não abandonou os pais idosos, cumprindo assim o mandamento de honrar os pais.

Até a morte de seus pais, Makários usou o que lhe restava de recursos para ajudá-los e começou a orar fervorosamente para que o Senhor lhe mostrasse um guia no caminho da salvação. O Senhor enviou-lhe um ancião experiente que vivia no deserto, não muito longe da aldeia. O Ancião acolheu o jovem com amor, orientou-o na ciência espiritual da vigilância, do jejum e da oração, e ensinou-lhe o arte de tecer cestos. Depois de construir uma cela separada não muito longe da sua, o Ancião instalou seu discípulo nela.

O bispo local chegou um dia a Ptinapor e, sabendo da vida virtuosa do santo, ordenou-o ao diaconado contra a sua vontade. Makários ficou impressionado com esta perturbação do seu silêncio e foi secretamente para outro lugar. O Inimigo da nossa salvação iniciou uma luta tenaz com o asceta, tentando aterrorizá-lo, sacudindo sua cela e sugerindo pensamentos pecaminosos. Makários repeliu os ataques do demônio, defendendo-se com a oração e o Sinal da Cruz.

Pessoas más caluniaram o santo, acusando-o de seduzir uma mulher de uma aldeia próxima. Arrastaram-no para fora da cela e zombaram dele. Makários suportou a tentação com grande humildade. Sem murmurar, enviou o dinheiro que conseguiu com suas cestas para o sustento da gestante.

A inocência de São Makários  manifestou-se quando a mulher, que sofreu tormentos durante muitos dias, não conseguiu dar à luz. Ela confessou que havia caluniado o eremita e revelou o nome do verdadeiro pai. Quando seus pais souberam da verdade, ficaram surpresos e pretendiam ir até o santo para pedir perdão. Embora São Makários aceitasse de bom grado a desonra, evitou o elogio dos homens. Fugiu daquele lugar à noite e se estabeleceu no Monte. Nitria, no deserto de Pharan.

Assim, a maldade humana contribuiu para a prosperidade dos justos. Tendo vivido três anos no deserto, foi até Santo Antônio, o Grande, o Pai do monaquismo egípcio, pois ouvira dizer que ainda estava vivo no mundo e ansiava por vê-lo. Abba Antônio o recebeu com amor, e Makários tornou-se seu devotado discípulo e seguidor. São Makários  viveu com ele por muito tempo e depois, a conselho do santo aba, partiu para o monastério de Skete (no noroeste do Egito). Ele brilhou tanto no ascetismo que passou a ser chamado de «jovem Ancião», porque se distinguiu como um monge experiente e maduro, embora ainda não tivesse trinta anos.

São Makários sobreviveu a muitos ataques demoníacos contra ele. Certa vez, ele carregava ramos de palmeira para tecer cestos, e um demônio o encontrou no caminho e quis golpeá-lo com uma foice, mas ele não conseguiu. Ele disse: «Makários, sofro grande angústia por sua causa porque não consigo vencê-lo. Eu faço tudo o que você faz. Você jejua e eu não como nada. Você fica vigilante e eu nunca durmo. Você me supera apenas em uma coisa: humildade.»

Quando o santo completou quarenta anos, foi ordenado sacerdote e nomeado chefe dos monges que viviam no deserto de Skete. Durante esses anos, São Macário visitou frequentemente Santo Antônio, o Grande, recebendo dele orientação nas conversas espirituais. Abba Macário foi considerado digno de estar presente na morte de Santo Antônio e recebeu seu cajado. Ele também recebeu uma porção em dobro do poder espiritual de Antônio, assim como o profeta Eliseu certa vez recebeu uma porção em dobro da graça do profeta Elias, junto com o manto que ele deixou cair da carruagem de fogo.

São Macário realizou muitas curas. Pessoas de vários lugares acorreram a ele em busca de ajuda e conselhos, pedindo suas santas orações. Tudo isso perturbou a quietude do santo. Ele, portanto, cavou uma caverna profunda sob sua cela e se escondeu lá para orar e meditar.

São Macário alcançou tal proximidade com Deus que, através de suas orações, o Senhor ressuscitou mortos. Apesar de atingir tais níveis de santidade, ele continuou a preservar sua humildade incomum. Certa vez, o santo aba surpreendeu um ladrão carregando suas coisas em um burro parado perto da cela. Sem revelar que era o dono dessas coisas, o monge começou a ajudar a amarrar a carga. Tendo se afastado do mundo, o monge disse a si mesmo: «Não trazemos absolutamente nada para este mundo; certamente, não é possível levar nada daqui. Bendito seja o Senhor por todas as coisas!»

Certa vez, São Macário estava caminhando e viu uma caveira caída no chão. E perguntou: «Quem é você?» A caveira respondeu: «Eu era o sumo sacerdote dos pagãos. Quando você, Abba, ora por aqueles que estão no inferno, recebemos alguma atenuação.»

O monge perguntou: «O que são esses tormentos?» «Estamos sentados em meio a uma grande fogueira», respondeu a caveira, «e não nos vemos. Quando você ora, começamos a nos ver um pouco, e isso nos dá algum conforto». Tendo ouvido tais palavras, o santo começou a chorar e perguntou: «Existem ainda tormentos maiores?» A caveira respondeu: «Abaixo de nós estão aqueles que conheciam o Nome de Deus, mas O rejeitaram e não guardaram Seus mandamentos. Eles suportam tormentos ainda mais graves.»

Certa vez, enquanto rezava, São Macário ouviu uma voz: «Macário, você ainda não atingiu a perfeição na virtude como duas mulheres que vivem na cidade». O humilde asceta foi à cidade, encontrou a casa onde moravam as mulheres e bateu. As mulheres o receberam com alegria e ele disse: «Vim do deserto em busca de aprender sobre suas boas ações. Contem-me sobre elas e não me escondam nada.

As mulheres responderam surpresas: «Vivemos com nossos maridos e não temos tais virtudes». Mas o santo continuou a insistir e as mulheres lhe disseram: «Casamos com dois irmãos. Depois de vivermos juntos na mesma casa durante quinze anos, não pronunciamos uma única palavra maliciosa ou vergonhosa e nunca brigamos entre nós. Pedimos aos nossos maridos que nos permitissem entrar num mosteiro feminino, mas eles não concordaram. Juramos não pronunciar uma única palavra mundana até a nossa morte.»

São Macário glorificou a Deus e disse: «Na verdade, o Senhor não procura virgens, nem mulheres casadas, nem monges, nem leigos, mas valoriza a vontade livre de uma pessoa, aceitando-a como a própria ação. Ele concede ao livre arbítrio de todos a graça do Espírito Santo, que opera no indivíduo e dirige a vida de todos os que anseiam por ser salvos».

Durante o reinado do imperador ariano Valente (364-378), São Macário, o Grande, e São Macário de Alexandria foram perseguidos pelos seguidores do bispo ariano Lúcio. Eles capturaram os dois Anciãos e os colocaram em um navio, enviando-os para uma ilha onde viviam apenas pagãos. Pelas orações dos santos, a filha de um sacerdote pagão foi libertada de um espírito maligno. Depois disso, o sacerdote pagão e todos os habitantes da ilha foram batizados. Ao saber do ocorrido, o bispo ariano temeu uma revolta e permitiu que os Anciãos retornassem aos seus monastérios.

A mansidão e humildade do monge transformaram almas humanas. «Uma palavra prejudicial», disse Abba Macário, «torna as coisas boas ruins, mas uma palavra boa torna as coisas ruins boas». Quando os monges lhe perguntaram como orar corretamente, ele respondeu: «A oração não requer muitas palavras. É necessário apenas dizer: ‘Senhor, como Tu queres e como Tu sabes, tem misericórdia de mim». Se um inimigo cair sobre você, você só precisa dizer: ‘Senhor, tenha misericórdia!’ O Senhor sabe o que nos é útil e nos concede misericórdia».

Quando os irmãos perguntaram como um monge deveria se comportar, o santo respondeu: «Perdoe-me, ainda não sou monge, mas tenho visto monges. Perguntei-lhes o que devo fazer para ser monge. Eles responderam: ‘Se um homem não se afastar de tudo o que existe no mundo, não é possível ser monge.’ Então eu disse: ‘Sou fraco e não posso ser como você é.’ Os monges responderam: ‘Se você não pode renunciar ao mundo como nós fizemos, então vá para sua cela e chore por seus pecados’».

São Macário deu um conselho a um jovem que desejava ser monge: «Fuja das pessoas e você será salvo». Aquele lhe perguntou: «O que significa fugir das pessoas?» O monge respondeu: «Sente-se em sua cela e arrependa-se de seus pecados». São Macário enviou-o a um cemitério para repreender e depois louvar os mortos. Então ele perguntou o que eles disseram a ele. O jovem respondeu: «Eles ficaram em silêncio tanto para elogios quanto para reprovações». «Se você deseja ser salvo, seja como um morto. Não fique zangado quando insultado, nem orgulhoso quando elogiado.» E ainda: «Se a calúnia é para você como elogio, a pobreza como riqueza, a insuficiência como abundância, então você não perecerá».

A oração de São Macário salvou muitos em circunstâncias perigosas da vida e os preservou do mal e da tentação. A sua benevolência era tão grande que diziam dele: «Assim como Deus vê o mundo inteiro, mas não castiga os pecadores, assim também Aba Macário cobre as fraquezas do próximo, que ele parecia ver sem ver, e ouvir sem ouvir».

O monge viveu até os noventa anos. Pouco antes de sua morte, os santos Antônio e Pacômio lhe apareceram, trazendo a alegre mensagem de sua partida para a vida eterna em nove dias. Depois de instruir seus discípulos a preservarem a Regra monástica e as tradições dos Padres, ele os abençoou e começou a se preparar para a morte. São Macário partiu para o Senhor dizendo: «Em Tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito».

Abba Macário passou sessenta anos no deserto, morto para o mundo. Ele passava a maior parte do tempo conversando com Deus, muitas vezes em estado de êxtase espiritual. Mas ele nunca deixou de chorar, de se arrepender e de trabalhar. Os profundos escritos teológicos do santo baseiam-se na sua própria experiência pessoal. Cinquenta Homilias Espirituais e sete Tratados Ascéticos sobrevivem como precioso legado de sua sabedoria espiritual. Diversas orações compostas por São Macário, o Grande, ainda são utilizadas pela Igreja nas Orações Antes de Dormir e nas Orações da Manhã.

O objetivo e propósito mais elevado do homem, a união da alma com Deus, é um princípio primário nas obras de São Macário. Ao descrever os métodos para alcançar a comunhão mística, o santo confia na experiência dos grandes mestres do monaquismo egípcio e na sua própria experiência. O caminho para Deus e a experiência dos santos ascetas de união com Deus são revelados ao coração de cada crente.

A vida terrena, segundo São Macário, tem apenas um significado relativo: preparar a alma, torná-la capaz de perceber o Reino celeste e estabelecer na alma uma afinidade com a pátria celeste.

«Para aqueles que realmente creem em Cristo, é necessário mudar e transformar a alma de sua atual natureza degradada em outra natureza divina, e ser moldada novamente pelo poder do Espírito Santo». Isto é possível, se realmente acreditarmos e amarmos verdadeiramente a Deus e observarmos todos os Seus santos mandamentos. Se alguém que está noivo de Cristo no Batismo não busca e não recebe a luz divina do Espírito Santo na vida presente, «então, quando ele sai do corpo, ele é separado nas regiões de trevas do lado esquerdo. Ele não entra no Reino dos Céus, mas tem o seu fim no inferno com o diabo e seus anjos» (Homilia 30:6).

No ensinamento de São Macário, a ação interior do cristão determina a extensão da sua percepção da verdade e do amor divinos. Cada um de nós adquire a salvação pela graça e pelo dom divino do Espírito Santo, mas atingir uma medida perfeita de virtude, necessária para a assimilação da alma deste dom divino, só é possível “pela fé e pelo amor com o fortalecimento de livre arbítrio.” Assim, o cristão herda a vida eterna “tanto pela graça como pela verdade”.

A salvação é uma ação divino-humana, e alcançamos sucesso espiritual completo «não apenas pelo poder e graça divinos, mas também pela realização dos trabalhos apropriados». Por outro lado, não é apenas dentro «da medida de liberdade e pureza» que chegamos à solicitude adequada, não é sem «a cooperação da mão de Deus acima». A participação do homem determina a condição real da sua alma, inclinando-o assim para o bem ou para o mal. «Se uma alma ainda no mundo não possui em si a santidade do Espírito para uma grande fé e para a oração, e não se esforça pela unidade da comunhão divina, então ela é inadequada para o reino celestial».

Os milagres e visões do Beato Macário estão registrados em um livro do presbítero Rufino, e sua Vida foi compilada por São Serapião, bispo de Tmuntis (Baixo Egito), um dos renomados obreiros da Igreja no século IV. Suas sagradas relíquias estão na cidade de Amalfi, na Itália.

Fonte: Vema