30/11: Apóstolo Santo André

Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

Santo André, o «Primeiro-chamado»

O relato do Evangelho de hoje indica-nos como Jesus se faz encontrar por aqueles que O buscam. Trata-se do encaminhamento de dois dos discípulos do Batista que o deixam para seguir Jesus que, respondendo à sua busca, os convida a «vir e ver.» Jesus é a resposta de Deus a uma busca do Homem, como no A.T. a Sabedoria que «se deixa encontrar pelos que a buscam».

André deixa João Batista para seguir Jesus; André significa «humano»; as pessoas se tornam humanas quando se encontram com Jesus. André encontra seu irmão, Simão Pedro e testemunha ter encontrado o Messias. É a dinâmica do testemunho que vai provocando a adesão a Jesus.

O Evangelho diz que André encontrou «primeiro» o seu próprio irmão, sinal de que encontrou depois outras pessoas. O importante é perceber que Jesus vai sendo conhecido através daqueles que O testemunham.

Com inegável arte literária, João evoca diante de nossos olhos o homem que busca o Deus da Salvação.

Pelo testemunho do Batista O vislumbra no Cordeiro de Deus. Porém ainda não penetra em seu mistério; quer saber onde é sua morada. Jesus convida o que busca a «vir e ver»: «Vir» significa o passo da fé; «ver» significa adesão da fé. Finalmente os discípulos permanecem com Ele. «Permanecer» ou »morar» significa a união vital permanente com Jesus.

Os que foram a procura do mistério do Salvador e Revelador acabaram sendo convidados e iniciados por Ele. Um encontro como este ultrapassa o que encontra, levando-o a querer unir consigo os que estão a procura, como ele.

Um dos dois que encontraram o Procurado, André, vai chamar seu irmão, Simão para compartilhar sua descoberta. Este se deixa conduzir até o Senhor que, de início, muda seu nome para Cefas que quer dizer «rocha», «pedra», e lhe dá uma nova identidade. Na continuação do episódio encontramos uma reação em cadeia: vemos primeiro o Batista introduzir seus discípulos a Jesus e, em seguida os discípulos procuram outros candidatos.

Todos estes ricos e densos aspectos do desenrolar deste episódio revelam a experiência transformadora da conversão: da inquietação frente à crise de sentido de um mundo sem Deus, ao discernimento da voz que anuncia esta Presença que está entre nós; o reconhecimento, – recuperação da Memória – a nova identidade (Cefas/Pedro) e o impulso a testemunhar esta experiência do Encontro.

André, «Primeiro-chamado», primeiro a testemunhar

Santo André, depois de ter ficado com Jesus (Jo 1,39) e de ter aprendido muito, não guardou esse tesouro só para si: apressa-se a correr para junto de seu irmão Simão-Pedro para o fazer participar dos bens que ele próprio recebeu.

Ouve o que ele diz ao irmão: “Encontramos o Messias, quer dizer, o Cristo” (Jo, 1,41).

Estás a ver o fruto do que acabava de aprender em tão pouco tempo? Isso demonstra ao mesmo tempo a autoridade do Mestre que ensinou os discípulos e, desde o início, o seu zelo para o conhecerem. A pressa de André, o seu zelo em espalhar logo de seguida esta tão boa nova, supõe uma alma que ansiava por ver o cumprimento de tantas profecias respeitantes a Cristo. Partilhar assim estas riquezas espirituais foi mostrar uma amizade verdadeiramente fraterna, uma afeição profunda e um temperamento cheio de sinceridade… «Nós o encontramos, ao Messias, diz ele, não um messias qualquer, mas o Messias que esperávamos.» S. João Crisóstomo (cerca de 345-407), «Homilia sobre o Evangelho de João».

Santo Apóstolo André

«Oh cruz há tanto tempo desejada, oferecida agora às aspirações da minha alma, venho a ti com gozo e confiança. Recebe-me com alegria, a mim, discípulo daquele que pendeu em teus braços».

Assim falava Santo André [segundo a tradição] vendo ao longe a cruz que fora erigida para o seu suplício. De onde vinham a este homem alegria e exaltação tão espantosas? De onde provinha tanta constância num ser tão frágil? De onde obtinha este homem uma alma tão espiritual, uma caridade tão fervorosa e uma vontade tão forte? Não julguemos que encontrava tão grande coragem em si próprio; era o dom perfeito que descia do Pai das luzes (Tg 1,17), daquele que é o único que opera maravilhas. Era o Espírito Santo que vinha em auxílio da sua fraqueza, e que espalhava no seu coração um amor forte como a morte, e mesmo mais forte do que a morte (Ct 8,6).

Queira Deus que também nós participemos hoje nesse Espírito! Porque se agora o esforço da conversão nos é penoso, se velar em oração nos aborrece, é unicamente devido à nossa indigência espiritual. Se o Espírito Santo estivesse conosco, viria seguramente ajudar-nos na nossa fraqueza. O que fez por santo André face à cruz e à morte, fá-lo-ia também por nós: retirando ao labor da conversão o seu caráter penoso, torná-lo-ia desejável e mesmo delicioso. […]

Irmãos, procuremos este Espírito, envidemos todos os nossos esforços para O possuir, ou possuí-Lo mais plenamente se O tivermos já. Porque «se alguém não tem o espírito de Cristo, não Lhe pertence» (Rm 8,9). «Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus» (1Cor 2,12). […]

Devemos, pois, tomar a nossa cruz com santo André, ou antes, com Aquele que ele seguiu, o Senhor, nosso Salvador. A causa da sua alegria era que, não só morria com Ele, mas como Ele, e que, unido tão intimamente à Sua morte, reinaria com Ele. […]

Porque a nossa salvação está nesta cruz.

São Bernardo (1091-1153),
2º sermão para a festa de Santo André

«O martírio de Santo André, apóstolo» O «primeiro» discípulo do Senhor

André foi o primeiro a reconhecer o Senhor como seu mestre… O seu olhar percebeu a vinda do Senhor e deixou os ensinamentos de João Batista para entrar na escola de Cristo… João Batista tinha dito: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Eis aquele que liberta da morte; eis aquele que destrói o pecado. Eu sou enviado, não como o esposo, mas como quem o acompanha (Jo 3:29). Vim como servo e não como mestre. Levado por estas palavras, André deixa o seu antigo mestre e corre para quem ele anunciava…, levando consigo João, o evangelista. Ambos deixam a lâmpada (Jo 5: 35) e caminham para o Sol… Tendo reconhecido o profeta de quem Moisés dissera: «É a ele que escutareis» (Dt 18: 15), André conduz até ele o seu irmão Pedro. Mostra a Pedro o seu tesouro: «Encontramos o Messias (Jo 1: 41), aquele que desejávamos; vem agora saborear a sua presença». Ainda antes de ser apóstolo, conduz a Cristo o irmão… Foi o seu primeiro milagre.

(…) André conhecia estas palavras de Moisés: «O Senhor, teu Deus, suscitará no meio de vós, de entre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deves escutar» (Dt 18: 15). Ouve agora João Batista exclamar: «Eis o Cordeiro de Deus» (Jo 1: 29) e, ao vê-Lo, vem espontaneamente ter com Ele: reconheceu o profeta anunciado pela profecia, e leva seu irmão até junto daquele que encontrou, mostrando a Pedro o tesouro que este não conhecia:

«Encontramos o Messias, Aquele que desejamos. Esperávamos a sua vinda; contemplemo-Lo agora. Encontramos Aquele por quem a portentosa voz dos profetas nos ordenava que esperássemos. O tempo presente trouxe-nos Aquele que a graça havia anunciado, Aquele que o amor esperava ver.»

André foi então ao encontro de seu irmão Simão e partilhou com ele o tesouro da sua contemplação, conduzindo Pedro até ao Senhor. Espantosa maravilha! André não é ainda discípulo, mas tornou-se já condutor de homens. É a ensinar que ele começa a aprender e que adquire a dignidade de apóstolo:

«Encontramos o Messias. Depois de tantas noites passadas sem dormir nas margens do Jordão, encontramos agora o objeto dos nossos desejos.»

Pedro estava pronto para seguir este chamamento; o irmão de André avançou cheio de fervor e de ouvido atento […]. Quando, mais tarde, Pedro vier a ter uma conduta admirável, devê-la-á ao que André houvera semeado. Mas o louvor dado a um recai igualmente sobre o outro; porque os bens de um pertencem ao outro, e um glorifica-se nos bens do outro.

Basílio de Selêucia (? – cerca de 468)
«Sermão em louvor de Santo André, 3-4; PG 28, 1103»

Dados hagiográficos

André foi o primeiro a ser chamado, portanto, o Protóclito (protos = primeiro + klitos = chamar). Recordemos como se deu este chamado: estava ele e seu irmão Cefas pela segunda vez na região do Jordão onde João Batista batizava, este exclamou:

«Eis aí o cordeiro de Deus (Jo 1:36). Ouvindo estas palavras deixaram de seguir João Batista para acompanhar o próprio Cristo. Jesus, voltando-se para atrás e vendo que o seguiam, disse-lhes: ‘Que buscais?’ Eles disseram: ‘Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?’ Disse-lhes Jesus: ‘vinde e vede’. Foram, pois, e viram onde habitava e permaneceram lá aquele dia. Era quase a hora décima. Ora, André tinha um irmão chamado Simão e disse-lhe: ‘Nós encontramos o Messias, que é o Cristo’. E levou-o a Jesus, que olhando-o disse: ‘Tu és Simão, filho de Jonas, doravante chamar-te-ás Pedro’».

Este é, segundo a narrativa de São João, o primeiro encontro de André com Jesus.

André e Pedro, contudo, não ficaram definitivamente com o Divino Mestre, mas voltaram às suas ocupações de pescadores. Dias depois, Jesus, passando pela praia do Lago de Tiberíades, pelas bandas de Cafarnaum, tendo-os encontrado quando lavavam as redes, disse-lhes:

«Segui-me, e eu vos farei pescadores de homens». Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram (Mt 4:18).

Com estas palavras, deu-se o chamamento oficial de André como apóstolo junto com seu irmão Pedro.

Santo André

Nos catálogos oficiais que os evangelistas dão dos doze apóstolos, André ocupa sempre o segundo lugar, depois do irmão Pedro. Poucas menções expressas nos deixou o Evangelho deste apóstolo durante os três anos do seguimento a Cristo. A primeira deu-se por ocasião da multiplicação dos pães e peixes.

Quando Jesus interpelou Filipe sobre a possibilidade de dar de comer a toda aquela multidão, André interveio, dizendo:

«Está aqui um menino que tem cinco pães e dois peixes; mas que é isto para tanta gente?» Jo 6: 9).

Uma segunda intervenção de André deu-se nos últimos dias da vida do Mestre.

«Havia alguns gentios que desejavam ver Jesus de perto e se aproximaram de Filipe, dizendo: ‘Senhor, desejamos ver Jesus’. Filipe foi dizer a André: e ambos o disseram a Jesus».

Diz a Tradição que, por ocasião da partida dos apóstolos para levar o Evangelho pelo mundo, André viajou para a região dos mares Cáspio e Negro. Por último, fundou a igreja em Patras, na Acaia, que foi uma das mais florescentes dos tempos apostólicos. Esta mesma fonte afirma ter Santo André morrido crucificado em Patras, na Acaia, no dia trinta de novembro. A ele está relacionada a Cruz de Santo André em forma de X. Ao vê-la, antes do suplício, teria dito o apóstolo:

«Salve santa Cruz, tão desejada, tira-me do meio dos homens e entrega-me ao meu Mestre; de ti receba O que por ti me salvou!»

Todos se admiravam da coragem e da alegria que se estampava no rosto do apóstolo mártir, quando se entregou aos algozes fixado à cruz, permanecendo dois dias nesta posição, orando, aconselhando e orientando aos seus. Uma piedosa mulher de nome Maximila retirou da cruz o corpo do apóstolo sepultando-o com muita honra.

Depois das perseguições romanas, as relíquias do santo foram transportadas para Constantinopla e, pelo ano 1460, transferidas para Amalfi e Roma. Mais recentemente, o Papa Paulo VI, desejando simbolizar a união de fraternidade com a Igreja Ortodoxa, devolveu as relíquias de Santo André à Igreja de Constantinopla.