São Lucas Evangelista
SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
«Santo Apóstolo e Evangelista Lucas»
O kondakion acima canta o evangelista São Lucas, resumindo seus dados biográficos essenciais. Em concomitância com a Latina, a Igreja Bizantina também celebra essa festa dia 18 de outubro.
Seguindo o amplo desenvolver-se do Ofício do dia, o Minéon (Próprio) das Vésperas e das Matinas – diz muitas outras coisas a respeito de São Lucas, embora expressas em forma de oração.
«Glorioso apóstolo, como podemos chamar-te? Tesouro seguro das graças dos céus, médico solícito na cura das almas e dos corpos; colaborador e companheiro de viagem de Paulo; redator dos Atos dos Apóstolos, São Lucas: tantos nomes para outras tantas qualidades; intercede pela a salvação das nossas almas».
Ainda nas Vésperas, os textos dirigem-se a ele qual «sólido fundamento da fé», «Iuminar da suprema luz», «não só companheiro, mas também imitador do Vaso de eleição».
Outra prece das Vésperas diz:
«Admirável Lucas, joia dos Antioquenos, intercede perante o Salvador nosso Deus, te suplicamos, pelos fiéis que celebram tua sagrada memória».
A alusão aos «Antioquenos» revela-nos o lugar de procedência de São Lucas. Era um sírio, inicialmente pagão, no qual o anúncio evangélico penetrou em profundidade. Não somente foi o cantor da bondade divina – para lembrar uma expressão de Dante, mas foi também apóstolo incansável que acompanhou Paulo na sua segunda viagem missionária, até Roma.
Permaneceu-lhe fiel durante o tempo em que Paulo foi prisioneiro e deu continuidade à sua obra para que fosse conhecida a universalidade da mensagem da salvação que Jesus Cristo tinha confiado aos seus discípulos. Diz-se que pregou o evangelho na Galácia, no Egito e na Tebaida. Morreu na Bitínia aos 84 anos de idade. Esses são dados tradicionais que nem todos aceitam, bem como a identificação do evangelista com o homônimo companheiro de Cléofas, no caminho de Emaús.
A liturgia bizantina várias vezes repete que o evangelista Lucas viveu a experiência do encontro com o Ressuscitado no caminho de Emaús, embora o tenha reconhecido somente ao partir o pão. Também a liturgia repete que Lucas conhecia a arte de curar:
Bem-aventurado Lucas, repleto da sabedoria de Deus, aprendeste a medicina das almas além da dos corpos; numa e na outra foste excelente, pelo que, curando as almas e os corpos os elevas ao amor como sobre asas; cada dia os elevas para o céu e intercedes por aqueles que te exaltam. (Laudes).
Outro dado da tradição, apreciado pelos artistas de todos os tempos, e pelo qual São Lucas se tornou o padroeiro deles, nós o depreendemos de uma oração do ofício matinal bizantino:
«São Lucas, apóstolo bem-aventurado de Cristo, iniciado nos inefáveis mistérios, bem como doutor dos gentios, com o divino Paulo e a pura Mãe de Deus, da qual pintaste com amor o santo ícone, intercede por nós que veneramos e confessamos a tua santa dormição».
Todos concordam em ser agradecidos a São Lucas pelos muitos retratos da Virgem que nos deixou, especialmente nos primeiros capítulos do seu evangelho. Qual imenso patrimônio artístico está ligado às cenas lucanas da anunciação, da visitação, do nascimento de Jesus com a adoração dos pastores, e da circuncisão! Mas a tradição bizantina nos transmite também que São Lucas chegou a pintar as feições humanas da Mãe de Deus e atribui-se ao seu pincel o famoso ícone da Virgem Odighitria de Constantinopla e outros ícones que mais tarde chegaram até a Itália.
«A graça do Paráclito, do qual foste morada, difundiu-se copiosamente em teus lábios e fez de ti (ó São Lucas) um pregador da paz para os fiéis que elevam hinos: Glória à tua potência, Senhor». (Cânon).
“Vinde todos, aclamemos o apóstolo Lucas como nosso guia na fé: destruindo a mentira dos falsos deuses, conduziu-nos para a luz e para a vida e nos ensinou a glorificar a Trindade; venerando a sua memória, celebramos fielmente o Senhor». (kathisma).
Lucas é chamado «Servidor da encarnação do Verbo» e por seus escritos «nós chegamos a conhecer a certeza das palavras divinamente inspiradas» cujas narrativas são «como as haviam transmitido os que foram testemunhas oculares».
Concluiremos com um hino das Vésperas:
«Salve, o único que nos descreveste a saudação angélica, a jubilosa anunciação da Virgem imaculada, a concepção do Batista que desde o ventre maternal a chama de Genitora do Senhor; o nascimento do Verbo, as tentações, os milagres, os discursos, os sofrimentos, a morte na cruz, a ressurreição da qual tu foste testemunha, a ascensão e a descida do Espírito, os atos dos apóstolos e mormente de Paulo do qual foste companheiro em suas viagens. Tu, Apóstolo-médico e o luminar da Igreja, guarda-a sem cessar».
DONADEO, Madre Maria «O Ano Litúrgico Bizantino», São Paulo: Ed. Ave Maria, 1990.
São Lucas, companheiro e colaborador dos apóstolos
Lucas era inseparável de Paulo e foi seu colaborador na pregação do Evangelho, como ele próprio evidencia, não para se glorificar, mas impelido pela verdade. Com efeito, quando Barnabé e João, chamado Marcos, se separaram de Paulo e embarcaram para Chipre, Lucas escreveu: «Embarcamos para Tróade» (At 16,11) […]; e descreve detalhadamente toda a viagem e a sua chegada a Filippos, onde anunciaram a Palavra pela primeira vez. […] No relato da viagem com Paulo, conta as situações com toda a precisão possível. […] Tendo estado presente em todos os acontecimentos, Lucas registrou-os de maneira rigorosa; não se encontra nele mentira nem orgulho, porque todos aqueles fatos eram conhecidos. […]
Lucas não foi apenas companheiro, foi também colaborador dos apóstolos, sobretudo de Paulo, que o diz claramente nas suas cartas:
«Demas abandonou-me por amor ao mundo presente e foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, e Tito para a Dalmácia. Lucas é o único que está comigo» (2Tim 4,9-11).
Isto prova com clareza que Lucas esteve sempre inseparavelmente ligado a Paulo. Na carta aos Colossenses, também lemos: «Saúda-vos o amado Lucas, o médico» (Col 4,14). […]
Por outro lado, conhecemos muitos acontecimentos do Evangelho – e dos mais importantes – unicamente por Lucas. […] Quem sabe, de resto, se Deus não fez de modo que muitas passagens do Evangelho tivessem sido reveladas apenas por Lucas […] para que todos se deixassem guiar pelo testemunho que vem em seguida, [no seu segundo livro] sobre os atos e a doutrina dos apóstolos, e, guardando inalterada a regra da verdade, todos pudessem ser salvos. Assim, o testemunho de Lucas é verdadeiro; o ensinamento dos apóstolos é manifesto, sólido, e nada esconde. […] Tais são as vozes da Igreja, de onde toda a Igreja retira a sua origem.
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208)
«Contra as heresias», III, 14-15; SC 34
Fonte: Evangelho Quotidiano
Suplemento Litúrgico
Para os Domingos e Grandes Festas.