4º Domingo de São Lucas

«O Sétimo Concílio Ecumênico foi convocado em 787 d.C., na cidade de Niceia, sob a imperatriz Irene, viúva do imperador Leão IV, e era composto por 367 Padres.»
Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

«O VII Concílio Ecumênico»

O Concílio foi convocado para tratar da heresia iconoclasta, que perdurava por sessenta anos.

O Concílio condenou e repudiou a heresia iconoclasta e determinou prover e colocar nas santas igrejas, junto com a da honrada e vivificante Cruz do Senhor, o santos ícones para honrar e prestar homenagem a eles, elevando a alma e coração ao Senhor Deus, a Mãe de Deus e os Santos, que são representados nestes ícones. Depois do Sétimo Concílio Ecumênico, a perseguição aos ícones sagrados surgiu novamente sob os imperadores Leão V, de origem armênia, Miguel II e Teófilo, e por vinte e cinco anos perturbou a Igreja.

A veneração aos ícones sagrados foi finalmente restaurada e confirmada pelo sínodo local de Constantinopla em 843 d.C., sob a imperatriz Teodora. Neste concílio, em agradecimento ao Senhor Deus por ter dado à Igreja a vitória sobre os iconoclastas e todos os hereges, a celebração do Triunfo da Ortodoxia foi estabelecida no Primeiro Domingo da Grande Quaresma, que é celebrada pelas Igrejas Orientais em todo o mundo.

"O Semeador saiu a semear ..."

«A Parábola do Semeador»

No Evangelho deste domingo, Jesus nos apresenta uma rica história, iniciando assim o cortejo literário chamado «parábolas». As parábolas pertencem ao gênero didático da Bíblia cuja intenção e finalidade é ensinar uma verdade religiosa. Próprias e exclusivas de Jesus de Nazaré, significam algo novo na literatura judaica, sem paralelos nos escritos anteriores ou posteriores à sua vinda. Elas são comparações ou imagens destinadas a ilustrar ou transmitir uma ideia, usando de alegorias para desvendar uma realidade premente. O propósito é induzir o ouvinte a admitir uma situação que ele a princípio não percebe como aplicável a si mesmo, mas que, após uma reflexão ou uma explicação mais minuciosa parece se encaixar com muita precisão.

Nos Evangelhos, encontramos dezenas de parábolas narradas pelo Senhor, cada uma relatando uma situação específica, donde se tira várias lições, usando-se de exemplos concretos do dia-a-dia das pessoas comuns.

Na Galiléia, havia muitos terrenos acidentados e cheios de colinas cuja área de plantio era muito restrita devido às suas irregularidades. O Senhor valendo-se deste contexto, desta imagem, compõe aos poucos uma narrativa que é muito familiar a todos, para evidenciar o poder e a eficácia da palavra de Deus.

«Como a chuva e a neve descem do céu e não voltam para ele sem ter regado ou fecundado a terra, assim sucede com a palavra que sai da boca do Senhor» Is 55,10.

A eficácia da palavra divina é observada desde a Criação do mundo pelo «FAÇA-SE» pelo qual o Criador ordenava vir a existência todas as coisas, e imediatamente do NADA germinava a vida.

O Antigo Testamento é rico em exemplos em que Deus se dirige aos homens através da palavra. Por fim, chegada à plenitude dos tempos, Deus não enviou mais simples palavras aos homens, mas sua PALAVRA eterna, seu VERBO. O Verbo assumiu a natureza humana, fez-se carne e veio semear no coração dos homens palavras de vida eterna, sendo este o tema do Evangelho que Lucas nos apresenta hoje.

Entretanto, diz a parábola, a mesma semente produz, num terreno, frutos abundantes; e em outros, nada produz. Eis aí o significado do mistério da liberdade humana ante os dons de Deus.

Em toda parte Jesus semeia a Palavra: nem ao homem de coração mais endurecido Ele a nega, nem aos soberbos, às prostitutas, aos hipócritas a quem o Senhor comparava aos terrenos pedregosos e cheio de espinhos. O SENHOR a todos generosamente oferece a Boa Nova. Assim como o semeador não faz distinção na terra que lavra, semeando por toda parte, também nós não podemos fazer discriminação, entre o rico e o pobre, o douto e o ignorante, o fervoroso e o preguiçoso, o corajoso e o covarde, o pecador e o santo.

São João Crisóstomo nos diz que «se ao ouvir a Palavra os corações permanecerem ainda endurecidos a culpa não é da Palavra, mas de quem não quis mudar de vida».

Por isso a indiferença não deve desanimar o semeador; deve ele ser sempre persistente. A persistência e a confiança devem caracterizar o apostolado cristão, pois nem sempre a receptividade da mensagem anunciada é vista e sentida. A confiante ação do semeador que espalha, com mãos cheias a semente, interpela o ouvinte para que entendamos que as dificuldades não podem barrar o andamento de um projeto divino.

Esta parábola é tão rica que o próprio Senhor se debruça em explicá-la aos ouvintes após a sua narração. Tecer qualquer outra interpretação seria redundância. De qualquer maneira esta parábola encontra sua contemporaneidade em cada cristão.

 

Sobre esta Parábola, é ainda São João Crisóstomo que nos ilumina em sua compreensão. Diz ele:

Um semeador foi semear o seu grão e uma parte caiu ao longo do caminho, outra parte em terra boa. Três partes perderam-se, só uma deu fruto. Mas o semeador não deixou de semear o seu campo. a semente de que fala é, na verdade, a sua doutrina; o campo é a alma do homem; o semeador é Ele próprio. […] «Quem tem ouvidos, oiça».

Nesta parábola, Cristo mostra-nos que a Sua palavra se dirige a todos indistintamente. Com efeito, tal como o semeador da parábola não faz qualquer distinção entre os terrenos, mas semeia em todas as direções, também o Senhor não distingue entre o rico e o pobre, o sábio e o tolo, o negligente e o aplicado, o corajoso e o cobarde, mas dirige-Se a todos e, apesar de conhecer o porvir, pelo Seu lado empenha-se totalmente, de modo a poder dizer: «Que devia eu fazer que não tenha feito?» (Is 5, 4). […]

Além disso, o Senhor diz esta parábola para encorajar os Seus discípulos e educá-los a não se deixarem abater mesmo se os que acolhem a palavra são menos numerosos do que os que a desperdiçam. Era assim para o próprio Mestre que, apesar do Seu conhecimento do futuro, não cessava de espalhar a semente.

Mas, dirás tu, que benefício havia em espalhá-la nos espinheiros, nas pedras ou no caminho? No caso de se tratar de uma semente e de uma terra materiais, isso não faria sentido; mas quando se trata de almas e da Palavra, a coisa é inteiramente digna de elogios. Reprovar-se-ia com razão um agricultor que agisse assim; a pedra não pode tornar-se terra, o caminho não pode deixar de ser um caminho e os espinhos não podem deixar de ser espinhos. Mas no domínio espiritual não é do mesmo modo: a pedra pode tornar-se uma terra fértil, o caminho não mais ser pisado pelos caminhantes e tornar-se um campo fecundo, os espinhos podem ser arrancados e permitirem à semente frutificar livremente. Se isso não fosse possível, o semeador não teria espalhado a Sua semente como o fez. Se a transformação não se realizou, não é por culpa do semeador, mas daqueles que não quiseram deixar-se transformar. O semeador fez o seu trabalho. Se a semente se perdeu, o autor de tão grande benefício não é responsável por isso. Deus não nos pede para sermos bem-sucedidos, mas para sermos trabalhadores, e o nosso trabalho não será menos recompensado só porque ninguém nos escuta. […]

(São João Crisóstomo).

E, Santo Agostinho nos adverte que:

«… há várias maneiras de perder a semente. […] Uma coisa é deixar a semente da palavra de Deus secar sem tribulações e sem cuidados, outra é vê-la sucumbir sob o choque das tentações. […] Para que tal não nos aconteça, gravemos a palavra na nossa memória, com ardor e seriedade. Assim, por muito que o diabo arranque à nossa volta, teremos força para evitar que ele arranque o que quer que seja dentro de nós.

«Um semeador saiu para semear» (Mt 13, 3). Noutro texto, os semeadores foram enviados para colher; agora, o semeador sai para semear, e não se queixa do trabalho. Com efeito, que importa que o grão de trigo caia à beira do caminho, sobre as pedras ou entre os espinhos? Se ele se deixasse desencorajar por estes lugares ingratos, não avançaria até à boa terra! […]

É de nós que se trata: seremos esse caminho, essas pedras, esses espinhos? Queremos ser a boa terra? Dispomos o nosso coração a produzir trinta vezes mais, sessenta vezes mais, cem vezes, mil vezes mais? Trinta vezes, mil vezes, sempre trigo e apenas trigo. Não sejamos mais esse caminho onde a semente é pisada por quem passa e onde o nosso inimigo a agarra como os pássaros. Nem essas pedras onde uma terra pouco profunda faz germinar rapidamente um grão que não consegue resistir ao calor do sol. Nunca mais esses espinhos, as ambições deste mundo, este hábito de fazer o mal. Com efeito, que coisa pior pode haver do que aplicar todos os esforços a uma vida que impede de chegar à vida? Que coisa mais infeliz que escolher a vida para perder a vida? Que coisa mais triste que temer a morte para sucumbir ao poder da morte? Arranquemos os espinhos, preparemos o terreno, recebamos a semente, aguentemos até à colheita, aspiremos a ser arrecadados nos celeiros.

(Santo Agostinho).

Suplemento Litúrgico