2º Domingo de São Lucas
SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
O «Segundo Domingo do Evangelho de Lucas»
O Evangelho que Lucas nos apresenta é uma continuação do Sermão da Montanha e nos convida a uma reflexão sobre o amor, o perdão, a magnanimidade e a oração. Jesus manda-nos bendizer aqueles que nos amaldiçoam, orar pelos que nos injuriam, praticar o bem sem esperar nada em troca, ser compassivos como Deus é compassivo, perdoar a todos, ser generosos sem cálculos ou tramas.
A virtude da magnanimidade, muito relacionada com a da fortaleza, consiste na disposição de acometer coisas grandes em nome da generosidade e do desprendimento. Quem se dispõe a viver assim traça o caminho da santidade.
O magnânimo propõe-se a ideais altos e não recua ante os obstáculos, às críticas ou aos desprezos. Não se deixa intimidar pelas murmurações ou pelo respeito humano; segue porque sua natureza o faz persistente em direção à perfeição. O magnânimo sente uma força que o faz sair de si mesmo em beneficio do próximo. Em sua pessoa não paira a mesquinhez e, para ele, não basta dar e oferecer; ele se dá e se oferece. É uma entrega pessoal às causas nobres. Jesus Cristo entregou-se a si mesmo, sofreu a morte de Cruz, por amor aos homens. Ele se oferece e é oferecido pelo Pai por amor.
A grandeza de alma demonstra-se também pela disposição em perdoar o que quer que seja. Não é próprio do cristão guardar rancores em seu coração, agravos, recordações que nos fazem sofrer; o que nos deveria ser próprio é a disposição permanente ao perdão.
Assim como Deus está sempre pronto a perdoar a todos e a tudo, a nossa capacidade de perdoar não deve também ter limites, nem pelo número de vezes, nem pelo grau da ofensa.
“Se, pois Jesus nos manda amar nossos inimigos, a quem nos dá como modelo? O próprio Deus”.
(S. Agostinho de Hipona).
O Senhor nos deu o exemplo. Perdoou na Cruz àqueles que lhe faziam padecer tanto. Em plena agonia no madeiro, no sofrimento beirando ao insuportável, Ele pede ao Pai por aqueles que o aniquilam: – “Pai Perdoa-lhes; eles não sabem,o que fazem” (Lc 23,34).
Os pedidos que o Senhor nos faz através do Evangelho são possíveis de serem observados na medida de nossa magnanimidade. O Senhor não nos sobrecarregaria com fardos pesados se não nos tivesse provido antes das condições para carregá-los. Para isso, no entanto, é necessário cultivarmos um íntimo relacionamento com Jesus pela oração freqüente. Desta maneira amaremos também aqueles que não nos amam, faremos o bem aqueles que nos fazem o mal, emprestaremos (quiçá, daremos) sem esperar a devolução.
Portanto, a primeira atitude a que somos chamados é a de rezar pelos nossos inimigos. Isto não é fácil. Exige de nós disciplina na oração.
«Compreenderemos o quanto Deus nos ama quando perdoarmos os que nos ofendem; sentiremos o amor divino em nossa existência quando amarmos os nossos inimigos. Quanto mais estivermos próximos de Deus pela oração menos inimigos teremos, pois já o veremos como irmãos.»
(Santo Irineu).
De fato a oração nos transporta para uma realidade divina; a oração nos possibilita levar para o âmago de nosso coração não apenas aqueles que nos rodeiam distribuindo afeto e empatia, mas também aqueles que se aproximam de nós com aspereza, rudeza, inimizade, discórdia e apatia. Isto é possível quando estamos dispostos a fazer de nossos inimigos, parte de nós mesmos: nossos irmãos.
«Então, sim, ao amares teu inimigo, estás a amar um irmão. É esse o motivo por que o amor ao inimigo é a perfeição da caridade, já que a caridade perfeita consiste no amor aos irmãos. Ama e fazes o que quiseres; se te calas, cala-te por amor; se falas em tom alto, fala por amor; se corrigires alguém, faze por amor. Pois é preciso amar o homem e não o seu erro. O homem é obra de Deus, o erro é obra do homem. Ama a obra de Deus e purifica as obras do homem. Se existe o inimigo é porque existe o erro. Retira o erro e em vez de enxergares um inimigo, contemplarás um irmão.»
(Santo Agostinho).
Rezar por nossos inimigos revela a disposição para a reconciliação. Quando elevamos nossos inimigos ao coração de Deus pela oração, será impossível continuar a nutrir maus sentimentos por eles. Pois Deus tudo transforma. A oração transforma o inimigo em “alguém próximo ao coração de Deus”. Tal proximidade nos fará pessoas propensas a um novo relacionamento. Provavelmente não existe nenhuma oração tão poderosa como a oração pelos inimigos. Mas também é a mais difícil pois é exigente. Alguns santos consideram a oração feita pelos inimigos o principal critério de santidade.
Amar os nossos inimigos nos faz próximos da Cruz e da comunhão com o Crucificado. Esta intimidade com o Senhor que sofreu, mas se fez vencedor, abre os olhos de nosso coração para que reconheçamos que em nosso “inimigo” está, na verdade, um irmão que também é amado por Deus. Nem sempre aqueles que julgamos ser nossos inimigos são inimigos de Deus. Constatamos isto quando o Senhor nos chama a atenção dizendo que Deus faz chover e brilhar o sol sobre os justos e sobre os injustos. Não o sol e a chuva apenas terrenos, mas também o “Sol da justiça”, que é o próprio Jesus Cristo.
O amor e o perdão se fazem par quando desejamos viver o Evangelho de forma autêntica, buscando incansavelmente caminhar na santidade dos filhos de Deus: “Sede santos como vosso Pai é Santo”.
«Amar nossos inimigos é o desejo que Tu revelastes, ó Amor Misericordioso do Pai. Pedirias semelhante coisa a nós, se não pudéssemos alcançar? Estarei eu compreendendo em meu intimo tal desejo? Ou equivocado estou em meus conceitos sobre o amor e a inimizade? O que é o amor? Quem são meus inimigos? Teria entre os filhos do Altíssimo alguém que pudesse ser realmente inimigo? Se todos somos filhos do Amor, como podemos gerar inimizade entre nós? Que meus sentimentos em relação aos meus irmãos, aqueles que não são dignos de serem oferecidos no Altar sejam modificados por tua Graça, ó Soberano Celestial. Elevo minha alma a Ti, Criador de todas as coisas, para transformá-la em espaço onde possa acolher aqueles que não me são caros. Rezo por eles, Senhor, e por mim. Que sejamos irmãos antes de tudo para que consigamos enxergar a face do mesmo Pai e sermos dignos do Amor».
Abade Moisés (XXV Discurso)
- STORNIOLO, Ivo. Como Ler o Evangelho de Lucas, São Paulo: Ed. Paulus.
- HAMMANN, A. Os Padres da Igreja. São Paulo: Ed Paulinas.
- Diversos. Orações dos Primeiros Cristãos. São Paulo: Ed. Paulinas.