Quem eram e como viviam os monges Estilitas e Giróvagos?

Quem eram os estilitas?

Francisco Vêneto
Publicado em 25/09/23, em Aleteia.org

O termo estilita deriva do grego “stylos”, que significa pilar. 

Refere-se a um tipo muito específico de monge cristão asceta que decidiu viver no topo de um pilar, ou coluna, durante longo período de tempo – tanto em busca de solidão e silêncio quanto como forma de penitência. Essa prática única, e bastante rigorosa, surgiu nos primeiros séculos cristãos, particularmente no Império Bizantino.

Um dos estilitas mais renomados foi São Simeão Estilita, o Velho, que viveu no século V. A sua jornada ascética teve início quando ele se isolou numa pequena cabana, mas depois decidiu morar no topo de um pilar para se distanciar ainda mais das distrações mundanas. Seu pilar, que foi aumentando gradualmente de altura ao longo do tempo, se tornou símbolo da sua dedicação a uma vida de oração e contemplação.

São Simeão o Velho (à esquerda) e São Simeão o Jovem (à direita) | Public domain

Outros santos estilitas

São Daniel, o Estilita, contemporâneo de Simeão, seguiu um caminho semelhante e viveu sobre um pilar durante mais de trinta anos. Santo Alípio, o Estilita, outra figura proeminente, passou 53 anos numa coluna. Estes santos, e outros como eles, viam o seu isolamento como um meio de se manterem “incontaminados pelo mundo”, como recomenda a carta de Tiago (cf. Tg 1, 27).

O significado teológico do estilismo reside na sua personificação do ideal monástico de hesychia– palavra grega que significa quietude, mas também silêncio. Ao retirar-se voluntariamente da sociedade e viver no topo de um pilar, os estilistas pretendiam desvencilhar-se das distrações e alcançar um estado de oração incessante.

O ascetismo de Simeão e sua resistência no topo do pilar durante quase quatro décadas atraíram muitos seguidores e peregrinos que procuravam as suas orientações e bênçãos. Hoje, os restos de uma igreja bizantina construída em torno da sua coluna testemunham o estilo de vida eclesial que ele inaugurou.

Essa prática foi adotada ainda por Simeão, o Jovem, que tinha o mesmo nome do protoestilista, mas também por muitos outros que seguiram aquele extremo estilo de vida cristão ao longo de um século inteiro.

Quem eram os giróvagos?

Alguns santos começaram como giróvagos e depois se uniram a comunidades monásticas estabelecidas.

Os giróvagos eram monges, no início do monaquismo cristão, que vagavam de um monastério para outro em vez de residirem permanentemente em uma única comunidade. Esse estilo de vida, considerado “não-convencional”, era desencorajado pelas ordens monásticas estabelecidas, muito embora também tenha produzido alguns santos notáveis.

O termo vem do latim “gyrovagus”, por sua vez composto pelas palavras “gyrus (giro, círculo) e “vagus” (vagante, errante). Refere-se, basicamente, ao fato de que esses monges ficavam “vagando”.

De certa forma, os “gyrovagi” (plural de “gyrovagus“) precedem os monges mendicantes. Uma forma de entender a relação entre os giróvagos e os frades mendicantes é que estes últimos representam uma evolução dentro da tradição monástica, mantendo características em comum com os primeiros. Os frades mendicantes, como é o caso dos franciscanos e dos dominicanos, também eram conhecidos pelo estilo de vida itinerante, transferindo-se de um lugar para outro e contando com a caridade alheia para o suprimento das suas necessidades materiais. No entanto, havia diferenças significativas entre os dois grupos.

Por um lado, os frades mendicantes faziam parte de ordens religiosas organizadas e seguiam uma regra de vida específica. Eles se dedicavam firmemente a pregar, ensinar e praticar a caridade, permanecendo sujeitos à autoridade dos superiores da sua ordem. Embora levassem uma vida um tanto errante, ela se encaixava na estrutura da sua respectiva ordem religiosa.

Por outro lado, os giróvagos careciam desses laços organizacionais e muitas vezes vagavam de modo independente, sem uma regra clara – ou mesmo sem responsabilidade. Eram vistos como mais egocêntricos, sem a disciplina e a estabilidade das comunidades monásticas estabelecidas.

Mas isto não significa que não houvesse “gyrovagi” santos. De fato, considera-se que vários santos dos primeiros séculos do cristianismo tenham seguido o estilo de vida “gyrovagus“.

Tomemos, por exemplo, São Moisés, o Negro, também conhecido como Abba Moisés. Era um monge etíope do século IV que, antes de se converter, levava uma vida de crimes. Depois de se tornar monge, ele vagou pelo deserto como giróvago ao longo de muitos anos, em busca de crescimento espiritual e orientação. Apesar das suas tendências errantes, ele abraçou os ideais de estabilidade, obediência e vida comunitária. De certa forma, o beato Charles de Foucauld também pode ser considerado um “giróvago contemporâneo”.

É importante notar que, embora alguns santos tenham começado como giróvagos, eles passaram por um processo de conversão ou se juntaram a comunidades monásticas estabelecidas, reconhecendo a necessidade de estabilidade e responsabilidade na sua jornada espiritual.

O Diabo e os três monges

Conta-se que o diabo perguntou a três monges o que cada um deles mudaria no passado. E um dos monges deu uma lição épica no diabo e nos dois outros monges.

Francisco Vêneto
Publicado em 25/09/23, em Aleteia.org

Circula entre grupos católicos um breve conto sobre o dia em que o diabo teria aparecido a três monges e perguntado, um por um, o que mudaria no passado.

“Se eu lhe der o poder de mudar algo do seu passado, o que você mudará?”

O primeiro monge, com grande zelo apostólico, respondeu rapidamente:

“Eu impediria você de fazer Adão e Eva caírem no pecado, para que a humanidade não pudesse se afastar de Deus”.

O segundo monge, que tinha um coração repleto de misericórdia, respondeu:

“Eu impediria você mesmo de se afastar de Deus e se condenar eternamente”.

O terceiro monge era o mais simples dos três. Em vez de responder ao diabo, ele se ajoelhou, fez o Sinal da Cruz e rezou:

“Senhor, livra-me da tentação do que poderia ter sido e não foi”.

O demônio então lançou um urro estridente e, contorcendo-se de dor, desapareceu.

Atônitos, os outros dois perguntaram ao companheiro de vida consagrada:

“Irmão, por que você respondeu desta forma?”

Ele explicou:

“Primeiro: nunca devemos dialogar com o inimigo. Segundo: ninguém no mundo tem o poder de mudar o passado. Terceiro: o diabo não está minimamente interessado em nos ajudar, mas sim em nos prender no passado para descuidarmos o presente.

Por quê? Porque o presente é o único tempo em que, pela graça divina, podemos colaborar com o próprio Deus. O ardil do diabo que mais aprisiona as pessoas e as impede de viverem o presente em união com Deus é o ‘poderia ter sido e não foi’.

Deixemos o passado nas mãos da Misericórdia de Deus e o futuro nas mãos da Sua Providência. Já o presente está em nossas mãos unidas às mãos de Deus”.