Domingo Após a Santa Cruz
SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
«A Crucifixão»
A crucifixão era uma forma de pena oriental que foi introduzida no Ocidente pelos persas. Foi pouco usada pelos gregos, mas muito utilizada pelos cartagineses e romanos.
Na literatura romana, a crucifixão é descrita como punição cruel e temida, não sendo aplicada aos cidadãos romanos, mas apenas aos escravos e aos não-romanos que houvessem cometido crimes atrozes, como assassinato, furto grave, traição e rebelião. Seguindo a forma romana de crucifixão Jesus provavelmente carregou somente a parte transversal da cruz, pois a parte vertical era deixada no local da execução à espera do condenado. Os braços eram inicialmente amarrados e somente ao chegar no local eram pregados ao madeiro.
Acontecia o mesmo procedimento com as pernas e pés. A vítima era suspensa pouco mais de um metro do chão para que as pessoas pudessem dar de beber uma mistura de água e fel ou vinagre para ser mantida o tempo inteiro consciente, sem haver possibilidade de desmaios (Mt 27,48). Os romanos crucificavam os criminosos inteiramente nus e não há motivo para se pensar que tenha sido feita alguma exceção para Jesus. As vestes do crucificado eram entregues aos soldados para serem divididas. As vestes de Jesus não foram divididas mas sorteadas pois era de tecido fino e sem costuras. Tal indumentária e feitio não poderiam ser destruídas, por isso preferiu-se lançar sorte. (Mt 27: 35 ss.)
Uma inscrição com o nome do criminoso e a natureza do seu crime era feita sobre uma tabuinha, que o condenado levava pendurado no pescoço até o local da execução; essa tabuinha foi afixada acima da cabeça de Jesus na cruz. Por ironia de Pilatos, a inscrição de Jesus não indicava um crime, mas registrava simplesmente a expressão «rei dos judeus» (Mt 27: 37). A inscrição era feita em três línguas: aramaico, o dialeto local; o grego, a língua do mundo romano e o latim, a língua oficial da administração romana.
A morte de Jesus foi muito rápida. Ele ficou suspenso à cruz algumas horas. Geralmente a morte dos condenados à cruz se dava depois de alguns dias após pregado. Este foi o caso dos dois ladrões que ladeavam Jesus: foram-lhe quebradas as pernas para que o fim fosse apressado pois a Páscoa judaica se aproximava. (Jo 19: 32 ss.)
No Novo Testamento, o simbolismo teológico da Cruz só aparece em uma afirmação do próprio Senhor e nos escritos de São Paulo. Jesus disse que aqueles que o seguem devem tomar a sua própria Cruz, perdendo assim a vida, para depois conquistá-la (Mt 10: 38). Não se trata apenas de alusão à sua própria morte, mas também da afirmação de que seu seguimento exige a negação de si mesmO (Mc 8: 34), o total desprezo pela própria vida, pelo bem-estar, pelas posses pessoais, a tudo aquilo a que se deve renunciar para seguir Jesus.
Paulo pregava o Cristo crucificado, embora isto fosse escândalo para os hebreus e loucura para os gentios (1 Cor 1: 23). A linguagem da Cruz é absurda para aqueles que, sem ela, se perdem; entretanto é poder de Deus para aqueles que se salvam (1 Cor 1: 18).
Ao encerrarmos a Festa da Exaltação da Santa Cruz, cabe-nos dar à Cruz seu devido valor. O sofrimento nos dá a possibilidade da redenção. Reclamar dele nos atesta que ainda precisamos crescer espiritualmente.