Abril

Santa Maria do Egito viveu em meados do V século e começo do VI. A sua juventude não era nada promissora. Ela tinha somente 12 anos, quando saiu de sua casa em Alexandria, e ficando livre do controle dos pais, jovem e inexperiente como era se envolveu com a vida devassa. Não havia ninguém quem podia detê-la e tinha muitos sedutores e muitas tentações em volta dela. Assim, ela passou 17 anos nesta vida que leva à perdição, até que Deus misericordioso providenciou a sua penitencia. Aconteceu isto assim: Por força das circunstancias, Maria se juntou a um grupo de peregrinos, que estavam se dirigindo para a Terra Santa. Durante a viagem no navio, a Maria não parava de seduzir os romeiros e a pecar. Ao chegar a Jerusalém, ela se juntou a um grupo de pessoas que iam para a igreja de Ressurreição. Todos os homens entravam livremente na igreja, porém a Maria foi parada por uma mão invisível e não conseguia entrar de jeito algum. Aí ela compreendeu, que Deus não deixa entrar num lugar santo por causa da sua devassidão.

Ela ficou possuída de um grande temor e de um grande desejo de penitencia, e começou a pedir a Deus o perdão dos pecados, prometendo se regenerar. Ela viu logo na entrada o ícone de Nossa Senhora e começou a pedi-La interceder por ela perante Deus. Logo ela sentiu um grande alívio e entrou livremente na igreja. Chorando muito no Santo Sepulcro, ela saiu da igreja completamente transformada. Maria cumpriu a sua promessa de mudar a sua vida. Ela se retirou de Jerusalém para o deserto de Jordão e lá viveu quase meio século em solidão, rezando e jejuando. Assim, com estes atos de penitencia ela se livrou completamente de todo desejo pecaminoso e purificou o seu coração para que este se transformasse num templo do Espírito Santo. O ancião Zózimo, no mosteiro do Profeta João o Precursor, por providência de Deus, encontrou a santa Maria no deserto, quando esta já era uma anciã. Ele foi maravilhado com sua santidade e seu dom de prever as coisas. Uma vez ele viu Maria quando durante a oração ela se levantou acima da terra, levitando e, outra vez, quando ela atravessava o rio Jordão como uma terra firme. Na despedida do velho Zózimo, Maria pediu-lhe que ele voltasse dentro de um ano, para dar-lhe a comunhão. Zózimo voltou para o deserto conforme combinado e lhe deu a Santa Comunhão. Depois, após um ano voltando mais uma vez ele a encontrou morta. O velho Zózimo enterrou as santas relíquias lá mesmo no deserto e na sua tarefa lhe ajudou um leão, que com as suas garras cavou a cova para o sepultamento do corpo da justa. Santa Maria faleceu em 521. Assim, de uma grande pecadora, a santa Maria se transformou, com a ajuda de Deus, numa grande justa, numa das maiores santas e nos deixou um grande exemplo de penitencia. Ela é lembrada pela igreja em 1º de abril e no 5º domingo da Quaresma.

TROPÁRIO:

Fugindo da penumbra do pecado, e iluminando o teu coração com a luz de penitencia, chegaste, ó Maria gloriosa, ao Cristo. Trouxeste contigo a sua Santíssima e Puríssima Virgem Mãe, como a tua intercessora misericordiosa. Assim, recebeste o perdão dos pecados e te alegras agora com os anjos na eternidade.

Santo Alexandre, Patriarca de Alexandria, +326

Santo Alexandre governou a Igreja em Alexandria. Alexandre, santo bispo, esteve zelando pelo rebanho de Cristo e, principalmente, cuidando do alimento doutrinal que começou a ser ameaçado pelo Arianismo. Ário era um sacerdote de Alexandria, que começou a espalhar uma mentira, afirmando que somente o Pai poderia ser chamado Deus, enquanto que Cristo é inferior ao Pai, distinto d’Ele por natureza. Seria portanto, uma criatura, excelente e superior às demais, mas não divina, nem eterna. O bispo Alexandre fez a Ário várias correções, mas este, irreversível, não deixou de envenenar os cristãos, mesmo depois de saber da condenação da sua doutrina. Santo Alexandre, um ano antes de sua morte, juntamente com o imperador Constantino e principalmente com o Papa da época, foram os responsáveis pela realização do Concílio Ecumênico em Nicéia, Ásia Menor, que definitivamente condenou a heresia e definiu: “Filho Unigénito do Pai… Consubstancial ao Pai”.

Pouco se sabe sobre a vida de São Tito, exceto que, desde a sua juventude, ele mostrava-se muito zeloso pela vida monástica. Buscou sempre viver uma vida de ascese, tendo vivido durante século IX no Monastério Studion, próximo de Constantinopla. Por sua vida virtuosa, exercitado no jejum, na pureza de alma e nas boas disposições para com os demais, Tito conquistou o amor dos irmãos e, a seu pedido, foi ordenado sacerdote. Homem de fé fervorosa ele lutou em favor da veneração dos santos ícones durante a perseguição iconoclasta. Por sua vida virtuosa Deus lhe concedeu o dom de curas. O Santo adormeceu em Cristo já em sua velhice.

A imagem de Deus foi fielmente conservadas em ti, ó Pai, pois tomaste a cruz e seguiste a Cristo. Por tuas ações nos ensinaste a olhar para além das coisas que passam e a nos ocupar da alma, porque imortal. Por isso, ó São Tito, tua alma se alegra com os anjos.

TROPÁRIO (Plagal 4º tom)

Os pais de São Nicetas residiam em Cesaréia, na Bitínia. Sua mãe morreu algumas semanas após o seu nascimento. Diante da morte de sua esposa, o pai de Nicetas o levou junto consigo e foram morar em um monastério. O menino cresceu na austeridade da vida monástica. Tão boa educação produziu excelentes frutos e o preparou para o ingresso ao Monastério de Medikion, no Monte Olimpos, Ásia Menor. Este monastério tinha sido fundado há pouco tempo pelo Abade Nicéforo que mais tarde foi canonizado. Em 790, Nicetas recebeu as sagradas ordens por São Tarásios. Foi bispo coadjutor de Nicéforo, sucedendo-o mais tarde. O imperador iconoclasta Leão, o armênio, tirou de Nicetas e de outros abades a paz dos monastérios e lhes convocou para irem a Constantinopla para que manifestassem sua adesão a quem tentava usurpar o trono de São Nicéforo, a sede Patriarcal. Como Nicetas se negasse a lhe obedecer, foi exilado em Anatólia. Ali foi preso em um cárcere sem teto, onde tinha que dormir exposto à neve e à chuva.

Levado para Constantinopla deixou-se convencer, juntamente com outros monges, pela falácia do imperador. Todos receberam a comunhão do pseudopatriarca e retornaram aos seus monastérios. Contudo, Nicetas reconheceu seu erro durante a viagem à ilha de Proconeso, e sua consciência obrigou a retornar à Constantinopla onde se retratou do erro que cometera. Afirmou que jamais abandonaria a tradição dos Santos Padres acerca do culto aos sagrados ícones. Em 813, foi desterrado para uma ilha onde permaneceu encarcerado num calabouço. Alimentavam-se de pão velho que lhe era dado por uma abertura e de água contaminada. Quando o imperador Miguel, o Tartamudo, chegou ao Trono, colocou em liberdade Nicetas e muitos outros prisioneiros. Nikitas retornou às proximidades de Constantinopla, morando em um eremitério até o fim de sua vida.

Os pais de Platon morreram em Constantinopla quando ele tinha apenas 13 anos. Um dos seus tios, que era tesoureiro imperial, encarregou-se de sua educação e o formou para ser seu colaborador. Mas, aos 24 anos de idade, Platon abandonou o mundo e abraçou a vida religiosa. Vendeu suas posses, dividiu o dinheiro entre seus irmãos e alguns pobres e ingressou no monastério Simboleão, do Monte Olimpo, em Bitínia. Depois de revelar grande virtude na execução das tarefas mais humildes e na paciência diante das repressões por faltas que não havia cometido, seus superiores lhe deram a função de copiar livros e trechos de obras dos Santos Padres. Com a morte do Abade Teoctisto, Platon foi eleito para ser seu sucessor, ainda que contasse apenas 36 anos de idade. Era uma época de tribulação e perigo para os monges ortodoxos. O monastério onde São Platon era Abade, no entanto, salvou-se das perseguições do imperador iconoclasta, Constantino Copronimo.

Em 775, São Platon visitou Constantinopla, sendo lá recebido com grandes honras; lá foi-lhe oferecido a direção de outros monastérios, inclusive o de Nicomédia, mas não aceitou, e nem mesmo ser ordenado sacerdote. Mais tarde deixou o monastério de Simboleão para governar o Monastério de Sakudião que os filhos de sua irmã, Teoctista, haviam fundado próximo à Constantinopla. Depois de 12 anos, passou o cargo a seu sobrinho São Teodoro, o estudita. Nesta época o imperador Constantino Porfirogênito se divorciou de sua esposa para casar-se com Teodora. São Platon e São Teodoro iniciaram um movimento para que o monarca fosse excomungado. Por causa disso, Platon foi encarcerado e exilado. Quando recobrou a liberdade, os monges do Monastério de Sakudião refugiaram-se no monastério de Stúdios, fugindo dos serracenos, onde São Platon se submeteu à obediência de seu sobrinho Teodoro. Vivia em uma cela distante e passava muito tempo em oração e fazendo trabalhos manuais. Continuava a opor-se ao imperador e sofreu muito por isso. Mesmo sendo já muito ancião e doente, o imperador Nicéforo o exilou nas ilhas de Bósforo. Durante quatro anos suportou com exemplar paciência que o mudassem de uma ilha para outra. Finalmente, em 811, o imperador Miguel I o libertou. São Platon foi recebido em Constantinopla com muito respeito. O restante de sua vida passou acamado, recebendo a visita do Patriarca Nicéforo. São Platon morreu em 4 de abril de 814 e São Teodoro foi quem presidiu seus funerais.

Claudio e seus companheiros, Teodoro, Victor, Victoriano, Papias, Nicéforo e Serapião eram naturais de Corinto, Grécia, e viveram na época do imperador Décio (249-251). Por lhes ser exigido que negassem sua fé em Cristo, e porque a reafirmaram ainda com maior veemência, um oficial da guarda do imperador o submeteu a grandes tormentos. Mesmo no sofrimento, permaneceram inabaláveis em sua fé em Jesus Cristo, assim como o Apóstolo Paulo, fundamento de nossa Igreja. Foram todos martirizados, um a um. Sabe-se que, de Claudio, cortaram-lhe as mãos e as pernas; Victor e Nicéforo morreram após terem seus membros rompidos; Papias foi jogado ao mar e Victoriano foi lançado ao fogo. Tudo isso ocorreu no próprio povoado onde viviam. Com fé intacta e com alegria em seus corações, partiram para os braços de Nosso Senhor, onde encontraram um lugar luminoso e o bálsamo para seus ferimentos.

Eutíquio nasceu na Frigia e era filho de um ilustre casal da cidade de Theia. Estudou em Constantinopla e foi tonsurado monge no monastério de Amasea. No ano de 552, foi enviado como representante de seu bispo à Constantinopla. Sua atuação em Constantinopla atraiu a atenção de Justiniano que o nomeou sucessor do Patriarca Menas. Eutíquio presidiu o Concilio Ecumênico de Constantinopla em 533, junto com os Patriarcas de Alexandria e Constantinopla. Anos mais tarde, por discordar das posições teológicas do imperador sobre o monofisismo, foi exilado para a ilha de Propondite onde, segundo relata seu biógrafo, operou vários milagres. Eutíquio retornou a sua Sede em 577, com a morte de Justiniano. Adormeceu em Cristo em 06 de abril de 582/6.

Kaliópios pertencia a uma família de senadores de Perge, na Panfília. Foi educado por sua mãe Theocles nas virtudes cristãs. Quando foi promulgado o edital que ordenava a perseguição aos cristãos, por Diocleciano, (304), refugiou-se em Pompeiopolis na Cilícia. Testemunhando os cultos que o prefeito Maximo rendia aos ídolos, o jovem cristão se recusou a participar, declarando: «sou cristão, e através do jejum honro a Cristo!» Imediatamente foi preso e levado aogovernador que lhe ofereceu sua filha em casamento se aceitasse sacrificar aos deuses do império. Kaliópios respondeu: «Conheço bem tudo isso, mas estou totalmente entregue a Cristo, meu Deus, e apresento neste tribunal, em minha defesa, a Santíssima e Imaculada Virgem Maria. Maximo, furioso, ameaçou submetê-lo a longos tormentos. O Santo Mártir respondeu: «As punições, tanto mais longas e cruéis, tornarão minha coroa ainda mais rica e valiosa, pois está escrito: ‘E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente’ (2Tm. 2:5)».

Foi então cruelmente espancado com cabos revestidos de chumbo, e depois jogado sobre as chamas. Mas um anjo interveio e extinguiu o incêndio frustrando os esforços dos carrascos. Depois, o juiz ordenou que o valente guerreiro de Cristo fosse conduzido ao mais profundo calabouço da prisão. Ao saber do que havia acontecido ao seu filho, a piedosa Theocles libertou seus escravos, distribuiu sua riqueza aos pobres e à Igreja, juntando-se ao seu filho Kaliópios na prisão. Esgotado pelas torturas,Kaliópios não conseguia sequer levantar sua cabeça, mas inclinando-se, disse: «Mãe, que bom que veio! Testemunharás a Paixão de Cristo em mim!» – «Estou feliz, disse ela, pois sou capaz de oferecer a Deus o meu mais valioso tesouro». E, todas as noites eles vigiavam juntos, orando e glorificando a Deus. Sendo novamente conduzido ao tribunal, Kaliópios exclamou: «Estou ansioso por morrer por Cristo, o meu Senhor!» Na Grande Quinta-feira Santa Theocles soube que seu filho havia sido condenado à crucificação. Ela possuía então cinco moedas de prata que entregou aos carrascos que crucificaram Kaliópios com cabeça para baixo, como o apóstolo Pedro. No dia seguinte, a Grande Sexta-feira Santa, no exato momento da morte de nosso Salvador, o Santo Mártir entregou sua alma a Deus. Quando seu corpo foi descido da cruz, sua mãe correu para abraçá-lo e, beijando-o por três vezes, glorificou a Deus e entregou também sua alma nos braços do Senhor. Os cristãos do lugar sepultaram reverentemente os corpos da mãe e filho, unidos para a eternidade no amor de Cristo, mais forte ainda que os laços da carne.

Foi papa da Igreja de Roma entre os anos 422 e 432. Nasceu em Roma e, depois de ter vivido vários anos em Milão, junto de santo Ambrósio, foi eleito papa em 10 de setembro de 422, sucedendo São Bonifácio I (418-422). Enfrentou as doutrinas heréticas pelagianas que se haviam difundido, sobretudo nas Gálias e na Britânia. Confiou a Cirilo de Alexandria a tarefa de renegar Nestório e conseguiu a condenação do nestorianismo, primeiramente no sínodo de Roma (430). De acordo com Nestório, Jesus não era Deus quando nasceu e, portanto, Maria não era Mãe de Deus, mas apenas Mãe de Cristo. O Concílio de Éfeso, na Ásia Menor, entre os dias 22 de Junho a 31 de Julho, reconheceu e proclamou oficialmente a Maternidade Divina de Maria. Construiu a basílica de Santa Maria Maior, para comemorar a vitória no Concílio. Finalmente, a heresia nestoriana foi condenada. Enviou São Patrício à Irlanda e São Germano à Bretanha, e foi o primeiro papa a enviar missionários para a Escócia.

Foi o 43º sucessor no trono de Roma. Morreu em 27 de setembro, em Roma, e foi sucedido pelo Papa Sixto III (432-440), que edificou no monte Esquilino outro templo em honra de Nossa Senhora, com uma sólida e bem dimensionada estrutura, formosas colunas jônicas e três magníficas naves, que permanecem até hoje.

II

São Celestino I foi um papa de origem romana, cujo pontificado durou desde 422 até à data de sua morte, em 27 de Setembro de 432. Combateu as heresias de Pelágio e de Nestório (Patriarca de Constantinopla), a quem excomungou, após a sua condenação no Concílio de Roma (430) e no Concílio de Éfeso (431). De acordo com Nestório, Jesus não era Deus quando nasceu e, portanto, Maria não era Mãe de Deus, mas apenas Mãe de Cristo. Foi o primeiro Papa a enviar missionários para a Escócia. Enviou S. Patrício à Irlanda e S. Germano à Bretanha, com intuito de se aproximar mais com a Cristandade Romana. É com este Papa que, pela primeira vez, se cita o “bastão pastoral”.

Santo Eupsíquio, nascido na Cesaréia, na Capadócia, era ainda recém casado quando Juliano, o apóstata, a caminho de Antioquia, passou por aquela cidade. O imperador ficou impressionado ao ver que quase todos os habitantes da cidade eram cristãos. Tomado de cólera quando soube da destruição do templo da deusa Fortuna, condenou à morte ou ao exílio todos os que julgava serem os autores daquele ato. Segundo o historiador Sozemeno, Eupsíquio estava entre esses mártires que morreram no ano de 362. O imperador ordenou então que os habitantes da cidade reconstruíssem o templo. Contudo, em vez de obedecer, os cristãos ergueram uma igreja dedicada ao verdadeiro Deus, sob a proteçãoo de São Eupsíquio. Oito anos mais tarde, São Basílio de Cesaréia celebrou a festa do santo mártir no dia 09 de abril, convidando para o evento vários bispos da região. O nome Eupsíquio está associado a Damaso.

09 de Abril: Santo Mártir Vadim

São Vadim nasceu numa cidade persa, chamada Viflapet. Ele era de uma origem nobre. Após distribuir toda a sua riqueza, ele construiu um mosteiro fora da cidade, onde se refugiou e onde mais tarde era arquimandrita. Às vezes ele se retirava para a montanha vizinha, deserta, para levar uma vida mais contemplativa e se aprofundar mais na oração e uma vez aqui foi digno de uma visão Divina. Durante o reinado do rei Sapor II (376) são Vadim foi encarcerado junto com seus discípulos. Durante quatro meses eles foram torturados para renegar Cristo. Mas os santos confessores, mártires pela fé, agüentaram tudo com grande heroísmo. Na mesma prisão foi encarcerado um certo Nirsan, prefeito da cidade de Aria. Nirsan teve muito medo de torturas, renegou Cristo e prometeu ao rei cumprir qualquer ordem. Daí Sapor mandou Nirsan matar o arquimandrita Vadim. Com mãos trêmulas Nirsan começou bater no são Vadim com a espada, mas só após muitos golpes conseguiu decapitá-lo. Após Vadim, os outros mártires também foram decapitados. Nirsan não aguentou os remorsos e em breve após isto se suicidou.

Oh Padre, salvaste-te servindo de exemplo: aceitaste a cruz e seguiste à Cristo, e com os teus próprios atos ensinaste a desprezar a carne que passa, e nos ensinaste a preocupar com a alma, imortal. Portanto, a tua alma. São Vadim, se alegra junto com os anjos.

Tropário

Durante a perseguição de Décio, Fortunato, o governador das províncias Africanas, publicou o decreto imperial anunciando ao povo de Cartago: «Prestai sacrifícios aos deuses, ou estejam preparados para o suplício!» E fez uma demonstração de instrumentos de tortura, pretendendo assim intimidá-los. Muitos cristãos, atemorizados, acabaram por renunciar a sua fé, mas quarenta deles mantiveram-se inabaláveis. Fortunato ordenou que comparecessem perante seu tribunal para censurá-los por sua obstinação. Então, um jovem cristão chamado Terêncio falou em nome dos cristãos: «Jesus Cristo é o Filho de Deus, que morreu na cruz para nos salvar. A Ele somente adoramos». O governador respondeu: «Adorai nossos deuses, do contrário, morrereis todos!» Falo por mim mesmo e por meus irmãos, que nenhum de nós é tão covarde a ponto de abandonar a Jesus Cristo para adorar teus deuses de pedra. Faça o que quiseres de nós», disse Terêncio.

O governador ordenou então que os quarenta cristãos fossem todos despidos e levados para a esplanada do Templo de Hércules, onde reiterou as suas ameaças, mas como cristãos permanecessem firmes, ordenou que Terêncio, Pompeu, Africano e Maximus fossem açoitados até que invocassem o nome de Hércules. Ante a firmeza dos quatro, mandou que fossem jogados na fogueira na presença de seus companheiros. Em meio às chamas, os mártires de Cristo entoaram o hino dos Macabeus. Terminado o suplício, Fortunato tentou, em vão, convencer os trinta e seis outros a apostatar. Foram então enviados para a prisão suportando pesadas correntes e, um por um, alcançou a glória do martírio pela espada e pelo fogo. Seus corpos foram recolhidos pelos cristãos e sepultados em Cartago onde permaneceram até o quarto século, quando foram transferidos para Constantinopla. Seus nomes estão registrados em diferentes datas do Synaxarion.

O Santo e glorioso mártir Antipas foi contemporâneo dos apóstolos que o tinham posto à frente da Igreja de Pérgamo. Na época da perseguição de Domiciano (c. 83), mesmo já sendo de idade avançada, o santo bispo foi levado à prisão pelos pagãos por negar-se a oferecer sacrifícios aos ídolos. O Santo foi então arrastado diante do governador que havia antes tentado persuadi-lo a renegar sua fé em Cristo, dizendo que a adoração aos ídolos era mais antiga e, portanto, mais respeitável do que aquela nova religião pregada por pescadores e gente humilde. Santo Antipas respondeu lembrando a história de Caim que, embora tenha sido antepassado da humanidade, era, no entanto, abominável e desprezível por ter assassinado seu irmão. Que, mesmo as crenças dos helênicos, também muito antigas, não eram menos desprezível para os que receberam a revelação da plenitude da Verdade nos últimos tempos.

Ao ouvir estas palavras, o governador e os pagãos encheram-se de ódio e o jogaram numa fornalha ardente. De lá, Santo Antipas elevou uma fervorosa oração ao Senhor, dando graças por sofrer por amor e testemunhar assim que o amor de Deus é mais forte que a morte. Assim, entregou sua alma nos braços do Senhor e seu corpo foi sepultado na igreja de Pérgamo. De seu túmulo, um suave odor de bálsamo exalou durante anos, produzindo excelentes efeitos terapêuticos para o consolo dos cristãos na cidade e muitos peregrinos que para lá acorriam de todos os lados, para venerar a memória do santo.

Logo após o martírio de Santo Antipas, São João, o Teólogo, fez referência ao seu nome no livro do Apocalipse, dizendo: «E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios: Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita». (Ap 2:12-13)

São Basílio iniciou seu ministério episcopal em Mourom, uma das mais antigas cidades da Rússia. Levava uma vida irrepreensível, edificando espiritualmente seus fiéis pelo exemplo de uma vida virtuosa. Contudo, foi injustamente acusado de levar uma vida de devassidão e algumas pessoas decidiram puni-lo e, antes mesmo de submetê-lo a um tribunal eclesiástico. Certo dia, foi cruelmente perseguido e ameaçado de morte pela multidão que se deixou seduzir por falsas insinuações do maligno. Durante toda a noite São Basílio passou em vigília em sua capela. Na manhã do dia seguinte dirigiu-se a Catedral da Anunciação onde orou fervorosamente diante do Ícone da Mãe de Deus trazido de Kiev pelo príncipe Constantino, o iluminador de Mourom. Pondo na Santíssima Virgem toda a sua esperança, tomou o ícone em seus braços, dirigindo-se rapidamente ao Rio Oka, onde seus perseguidores o aguardavam prontos para atacá-lo.

O santo, tendo o ícone em suas mãos, estendeu sua mandya, estendeu sobre as águas como se fosse uma balsa, e sobre ela navegou rio adentro contra a corrente. Este milagre assombrou os habitantes de Muron que, em lágrimas, exclamaram: «Ó Deus do Bispo Basílio, perdoe estes teus servos pecadores». Pediram então a São Basílio que ficasse em sua sede e, desde então, o Bispado de Muron foi transferido para Ryazan, ficando sob a proteção do ícone da Santíssima Virgem que passou a ser venerado na Catedral. Depois de viver alguns anos em Ryazan, São Basílio teve novamente que fugir para Pereyaslav por causa da invasão dos tártaros. Lá ele adormeceu em paz no ano de 1295. Em 10 de junho de 1609, seus restos mortais foram descobertos incorruptos.

Nasceu na Itália central, tendo sido eleito papa de Roma num momento em que a heresia monofisita havia entrado na Igreja. Infelizmente, nesta época, a Igreja de Constantinopla estava sob o patriarca Paulo II, um defensor dessa posição junto com o imperador Constantino II. São Martinho defendeu a fé ortodoxa e, através de cartas e delegados especiais enviados ao patriarca Paulo, tentou fazê-lo voltar à verdadeira fé, à doutrina ortodoxa. O patriarca, influenciado pelo imperador insistiu em defender o monofisismo, exilando em diferentes ilhas os enviados do papa. O patriarca ordenou que São Martinho fosse levado cativo para Constantinopla e, posteriormente, exilado em Kherson, na Ucrânia. São Martinho morreu em 16 de setembro de 655, depois de ter governado a Igreja durante seis anos. O mais importante, porém, é que a morte o encontrou lutando pela verdadeira fé e «ensinando corretamente a palavra da verdade»

II

A sua terra natal era Todi e na Igreja Romana era diácono, mas o seu grande feito seria o de substituir o então Papa Teodoro em 13 de maio de 649. Cedo provou ser de linha dura tendo mão forte no governo onde inclusíve não aguardou o consentimento da sua eleição pelo então Imperador Constante II. Por disputas políticas das quais Martinho participou de modo a incomodar o Imperador com a sua atitude, este último ordenou que o exarca de Ravena de nome Olímpio assassinasse Martinho a meio da celebração de uma missa em que ambos estavam presentes, mas ao tentar cravar o punhal, Olímpio foi atingido por uma intensa luz que o cegaria totalmente. Este acontecimento convenceu o próprio Olímpio da santidade que esteve disposto a matar, deste modo mudou de atitude e tentou a reconciliação com o santo. O Imperador sabendo da morte em 653 de Olímpio conseguiu concretizar a sua vingança com o mais novo exarca que seria Teodoro de Calíopa que prende o Papa. Neste momento a acusação era a de Martinho ter-se apropriado ilegalmente do cargo de Papa e assim inicia o seu longo período de martírio e dor, onde se somaram as piores calamidades. Ao longo de todo esse sofrimento tentava manter a vontade do corpo mas por fim foi aprisionado e submetido à falta de comida que o enfraqueceria até a morte em 13 de Abril de 656.

Estes santos faziam parte do grupo dos 70 apóstolos, colaboradores de São Paulo. O Apóstolo refere-se a Aristarco em sua Epístola aos Colossenses: «Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o» (Cl 4,10); e em sua Epístola a Filemon: «Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores». (Fm 1,24). Na segunda Epístola a Timóteo faz referência a Prudente,com base na qual pode-se afirmar que ele era um de seus colaboradores, em Roma: “Procura vir antes do inverno. Éubulo, e Prudente, e Lino, e Cláudia, e todos os irmãos te saúdam” (2Tm 4,21). O apóstolo Paulo conheceu Trófimo em Éfeso. Depois de conhecer as palavras de Nosso Senhor, Trófimo tornou-se companheiro de Paulo nas viagens que fez a Jerusalém e a Roma. São Paulo se refere a Trófimo em sua carta a Timóteo: «Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto». (2Tm 4,20). Na terrível perseguição de Nero aos cristãos, os três foram martirizados, sendo decapitados por causa de sua fé e do reino de Deus que anunciavam, conforme escreve Paulo: «Colaboraram comigo em prol do reino de Deus». (Cl 4,11)

(Lucian, Polyeucto, Quadrato, Antíoco, Iksoron, Memas, Focas, Sérgio, Domécio, Adrian, Zósimo, Victor, Thalkise, Jordão, Anastásio, Teodoro, Jacques e Heodose, na Armênia)

São Soukias e seus companheiros eram de famílias reais e serviam ao rei Artas da Armênia. Quando São Voskeank, discípulo do apóstolo São Judas Tadeu, chegou à Armênia para pregar o Evangelho, eles não só acolheram a Boa Nova como também foram batizados por ele. Quando a rainha Sathenik tomou conhecimento do fato, proibiu o acesso do missionário ao palácio. Atemorizado, São Voskeank fugiu e os seus novos discípulos seguiram-no. Mas, logo foram alcançados pelos oficiais que tentaram, em vão, persuadi-los a retornar ao palácio. Soukias e seus companheiros disseram que queriam permanecer unidos, independente do que pudesse acontecer a seu pai espiritual. Voskeank então foi submetido ao martírio, mas não ousaram tocar nos príncipes que, em seguida, encontraram refúgio no Monte Zrabash que mais tarde, em homenagem ao santo, passou a se chamar Soukavet. Durante quarenta e quatro anos viveram neste lugar uma vida de rigorosa ascese, vestido pela Providência Divina com uma espessa camada de pelos e comendo o que encontravam na natureza.

Nunca foram tomados por enfermidades, vivendo angelicalmente, em contínua oração. Após a morte do rei (c. 130), seu sucessor tomou conhecimento dos príncipes de seu reino haviam desistido de tudo e se convertido à fé cristã. Enviou então uma expedição militar em ao encontro deles. Quando os encontraram nas montanhas, cobertos de pêlos, os soldados custaram crer que fossem mesmo criaturas humanas. Interrogado pelo comandante, Soukias respondeu que havia fugido do mundo para poder viver em paz e dedicar sua vida a Deus, colocando toda a sua esperança na Providência Divina quanto às necessidades do corpo. O oficial prometeu-lhes então que, se voltassem ao palácio real, teriam assegurada uma vida tranqüila e prazerosa. Os santos responderam: «Somos servos de Deus e perdeis vosso tempo com tal abordagem. Por nada nos faríamos estranhos ao Senhor!» ─ Mas vós trocais vossa nobreza e vossa liberdade por uma religião de escravos e adorais um crucificado?», perguntou-lhes o oficial. ─ «Sim, o Crucifixado é o nosso Cristo e o nosso Deus. E se compreendesses isso, farias o mesmo, pois a recompensa que Ele dá é a vida eterna!» Vendo que era impossível convencê-los, o oficial os livrou do suplício, decapitando-os logo. Os Santos Jacques e Teodósio, que haviam conseguido antes escapar, sepultaram depois os corpos de seus companheiros e permaneceram depois no local para prosseguir com suas vidas de ascetismo. Entre os peregrinos que vinham venerar as relíquias dos Santos Mártires, alguns se juntaram a eles formando uma grande fraternidade. No final do século III, São Gregório, o Iluminador fundou neste local uma igreja e um monastério.)

Viviam perto da cidade de Aquiléa, norte da Itália, no final do terceiro século. Ainda muito jovens ficaram órfãs e decidiram casar-se. Quando o imperador Diocleciano visitou Aquiléa, iniciou uma feroz perseguição contra os cristãos e muito rapidamente todos os cárceres estavam repletos. As três irmãs também foram presas e sofreram suplícios. Posteriormente, em uma cerimônia religiosa dedicada a elas, foi dito que nunca tiveram medo dos ataques das feras, nem mesmo quando estas dilaceravam seu corpo. Diz-se também que, durante os suplícios, vários milagres ocorreram, mas os torturadores não se davam conta. Ágape e Chiônia foram queimadas na fogueira, e Irene foi jogada em óleo fervente. Estes martírios aconteceram no ano 304. Os corpos de Ágape, Chiônia e Irene foram sepultados por santa Anastásia. As três irmãs tinham uma fé inquebrantável em Deus e não se atemorizaram ante as ameaças dos torturadores, oferecendo sua juventude em martírio por amor a Cristo.

Entregaram suas vidas terrenas para obter a vida eterna e foram contempladas com a felicidade do Reino dos Céus.

Por suas intercessões que o Senhor nos fortifique em nossos santos propósitos.

Na Pérsia havia uma comunidade cristã cujos integrantes regiam suas vidas pelas palavras do Evangelho, com abnegação, dispostos sempre a sacrificarem-se pelo nome e pela glória de Cristo. O coração desta comunidade era o bispo Simeão, exemplo de vida cristã. Os persas sentiam-se incomodados com a presença dos cristãos naquela região e os delataram para o rei Sapor II dizendo que os cristãos planejavam uma revolução. O rei então ordenou que o bispo fosse trazido a ele para ser interrogado. Simeão argumentou que os cristãos respeitavam as leis e que ninguém entre eles era rebelde. Porém, o rei não ouviu os seus argumentos e, movido por preconceito contra os cristãos ordenou que Simeão fosse encarcerado. Na prisão, Simeão conheceu Gothazat, um cristão que tinha renegado Cristo para preservar sua vida. Simeão, de maneira doce, conquistou-o de volta ao cristianismo, iluminando seu coração coma luz de Cristo. Quando o rei Sapor soube do ocorrido na prisão, ordenou que os dois fossem decapitados juntamente com os 1150 fiéis de sua comunidade. Assim, entregaram todos as suas almas a Deus. «Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave» (Ef. 5, 1-2).

São João foi um dos mais queridos discípulos de São Gregório, o Decapolita. Ainda muito pequeno, compreendeu o valor do amor a Jesus Cristo. Posteriormente, conservando este sentimento em seu coração, aproximou-se de São Gregório, o Decapolita, que lhe consagrou monge para que ele pudesse melhor se exercitar na luta espiritual e obter assim a salvação de sua alma, para glória de Deus. João cresceu espiritualmente na prática da obediência, a ponto de São Gregório agradecer a Deus por considerá-lo digno de ter um bom discípulo. Quando São Gregório faleceu, o crescimento espiritual de João não se estagnou, ao contrário, procurou cada vez mais aprofundar-se neste caminho. «A quem tem sede, darei de beber gratuitamente a água da vida» (Ap 21,6) Isto é, os que querem crescer intelectual e espiritualmente Deus os sacia com sua água, fonte de vida. João viajou por muitos lugares e cidades, incluindo Jerusalém onde descansou em paz no monastério de Chariton.

São Pafnuncio era um eremita e bispo de uma das regiões do deserto do Egito. Participou ativamente do Concilio de Nicéia, em 325, defendendo o celibato clerical principalmente para os bispos. Defendia que somente a mãe, irmã ou tias do clérigo poderia coabitar com ele na mesma residência. Pafnuncio defendia que entre os diáconos e subdiáconos esta regra canônica poderia não ser observada. Relata-se que durante o Concilio, Pafnuncio levantou sua voz em defesa de se respeitar a continência somente para os bispos, ficando opcional para padres e diáconos. Este relato é confirmado pelo historiador eclesiástico chamado Sozómeno que em 16 linhas narra a presença e a intervenção de Pafnuncio no Concilio de Niceia. Algumas Atas do Concilio do Século IV referem-se a Pafnuncio como “defensor da fé”; outras atribuem a ele o título de “Mestre da fé” e um dos importantes “Padres Conciliares”.

Muito freqüentemente se confunde Santo Anastásio de Antioquia com Santo Anastásio de Monte Sinai, este último, um monge que viveu um século mais tarde. Santo Anastásio, Patriarca de Antioquia, era um homem muito sábio e piedoso. Segundo Evágrio, ele preferia sempre o silêncio, e quando alguém discutia assuntos mundanos em sua presença, parecia não ter língua nem ouvidos. Por outro lado, tinha o dom de consolar os aflitos. Durante 23 anos esteve afastado de sua sede por combater às heresias que os imperadores Justiniano e Justino II apoiavam. Mais tarde, o imperador Mauricio lhe restituiu a sede por intermédio do papa Gregório I. Algumas cartas e sermões de Santo Anastásio são conservados até os dias de hoje, como as obras contra os monofisitas. Sua morte ocorreu no ano 700.

São Januário nasceu em Nápoles, no ano 270 d.C. Nada se sabe ao certo sobre os primeiros anos de sua vida. Em 302 foi ordenado sacerdote, e por sua piedade e virtude foi escolhido, pouco depois, para Bispo de Benevento. Sua caridade, infatigável zelo e solicitude pastoral desterraram de sua diocese a indigência, tendo ele socorrido a todos os necessitados e aflitos. Quando em 304, o imperador romano Diocleciano desencadeou em todo o Império cruel perseguição contra o Cristianismo, obrigando os fiéis a oferecer sacrifícios às divindades pagãs, Januário teve muitas ocasiões de manifestar o valor de seu zelo, socorrendo os cristãos, não só nos limites de sua diocese, mas em todas as cidades circunvizinhas. Penetrava nos cárceres, estimulando seus irmãos na fé e perseverança final, alcançando também, naquela ocasião, grande número de conversões. O êxito de seu apostolado não tardou a despertar atenção de Dracônio, governador da Campânia, que o mandou prender. Diante do tribunal, São Januário foi reprovado pelo pró-cônsul Timóteo, que lhe apresentou a seguinte alternativa: «Ou ofereces incenso aos deuses, ou renuncias à vida».

«Não posso imolar aos demônios, pois tenho a honra de sacrificar todos os dias ao verdadeiro Deus»” – respondeu com vigor o santo, referindo-se à celebração eucarística. Irado, o pró-cônsul ordenou que o santo Bispo fosse lançado imediatamente numa fornalha ardente. Mas Deus quis renovar em favor de seu fiel servo o milagre dos três jovens israelitas, atirados também nas chamas, de que fala o Antigo Testamento. São Januário saiu desta prova do fogo ileso, para grande surpresa dos pagãos. O tirano, atribuindo o prodígio a artes mágicas, ordenou que São Januário e mais seis outros cristãos fossem conduzidos a Puzzoles, onde seriam lançados às feras na arena. No dia marcado para o suplicio, o povo lotou o anfiteatro da cidade. No centro da arena. São Januário encorajava os companheiros: «Ânimo, irmãos, este é o dia do nosso triunfo, combatamos com valor nosso sangue por Aquele Senhor, a quem devemos a vida». Mal terminara de falar foram libertados leões, tigres e leopardos famintos, que correram em direção às vítimas. Mas, em lugar de despedaçá-las, prostraram-se diante do Bispo de Benevento e começaram a lamber-lhes os pés. Ouviu-se então um grande murmúrio no anfiteatro, que reconhecia não existir outro verdadeiro Deus senão o dos cristãos. Muitos pediram clemência. Mas o pró-cônsul, cego de ódio, mandou decapitar aqueles cristãos, sendo executada a ordem na praça Vulcânia. Os corpos dos mártires foram conduzidos pelos fiéis às suas respectivas cidades. Segundo relataram as crônicas, uma piedosa mulher recolheu em duas ampolas o sangue que escorria do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benavento. Os restos mortais do Bispo mártir foram transladados para sua cidade natal — Nápoles — em 432. No ano 820 voltaram para Benavento. Em 1497 retornaram definitivamente para Nápoles, onde repousam até hoje, em majestosa Catedral gótica. Aí se realiza o perpétuo sangue, que se dá duas vezes por ano, no sábado que antecede o primeiro domingo de maio aniversário da primeira transladação, e a 19 de setembro, festa do martírio do santo (Igreja Latina) e no dia 16 de dezembro (dia em que Nápoles foi protegido da erupção do Vesúvio). As datas da liquefação do sangue de São Januário são celebradas com grande pompa e esplendor. As relíquias são expostas ao público, e se a liquefação não se verifica imediatamente. Iniciam-se preces coletivas. Se o milagre tarda, os fiéis compenetram-se de que a demora se deve a seus pecados. Rezam então orações penitenciais, como o salmo «Miserere», composto pelo Santo Rei Davi. Quando o milagre ocorre, o Clero entoa solene «Te Deum», a multidão prorrompe em vivas. Os sinos repicam e toda a cidade se rejubila. Entretanto, sempre que nas datas costumeiras o sangue não se liquefaz, Isso significa o aviso de tristes acontecimentos vindouros, segundo uma antiga tradição nunca desmentida. O sangue de São Januário está recolhido em duas ampolas de vidro, hermeticamente fechadas, protegido por duas lâminas de cristal transparente. A ampola maior possui 60 cm cúbicos de volume; a menor tem capacidade de 25 cm cúbicos. Em geral, o sangue endurecido ocupa até a metade da ampola maior; na menor, encontra-se disperso em fragmentos. A liquefação do sangue produz-se espontaneamente, sob as mais variadas circunstâncias, independentemente da temperatura ou do movimento, o sangue passa do estado pastoso ao fluido e, até, fluidíssimo. A liquefação ocorre da periferia para o centro e vice-versa. Algumas vezes, o sangue liquefaz-se instantânea e inteiramente, ou, por vezes, permanece um denso coágulo em meio ao resto liquefeito. Altera-se o colorido: desde o vermelho mais escuro até o rubro mais vivo. Não poucas vezes surgem bolhas e sangue fresco e espumante sobe rapidamente até o topo da ampola maior. Trata-se verdadeiramente de sangue humano, comprovado por análises espectroscópicas. Há algumas peculiaridades, que constituem outros milagres dentro do milagre liquefação, há uma variação do volume: algumas vezes diminui e outras vezes aumenta até o dobro. Varia também quanto à massa e quanto ao peso. Em janeiro de 1991, o prof. G. Sperindeo utilizando-se, com o máximo cuidado, de aparelhos de alta precisão, encontrou uma variação de cerca de 25 gramas. O peso aumentava enquanto o volume diminuía. Esse acréscimo de peso contraria frontalmente o princípio da conservação da massa (uma das leis fundamentais da Física) e é absolutamente inexplicável, pois as ampolas encontram-se hermeticamente fechadas, sem possibilidade de receber acréscimo de substâncias do exterior. A notícia escrita mais antiga e segura do milagre consta de uma crônica do século XIV. Desde 1659, estão rigorosamente anotadas todas as liquefações, que já perfazem mais de dez mil!

A relíquia de São Januário tem protegido Nápoles eficazmente contra a peste e as erupções do Vesúvio, distante da cidade apenas duas léguas e meia. Por ocasião de uma erupção em 1707, que ameaçava destruir Nápoles, o povo levou as ampolas em solene procissão até o sopé do vulcão; imediatamente a erupção cessou! Em 1944, o Vesúvio expeliu lavas, cinzas, pedras e uma poeira arenosa, que alcançou grande altura. Foi sua última erupção. O vento levou essa poeira através do Mediterrâneo, a qual chegou a atingir a Grécia, a Turquia, a Espanha e o Marrocos. Nápoles permaneceu imune. (Fonte: http://www.taufrancisco.com.br – parte do texto, oriundo de www.sangennaro.org.br, com pequenas modificações)

Teodoro nasceu em Sikeon da Galícia, na Ásia Menor. Era filho de uma prostituta, porém desde menino manifestou forte inclinação à vida de oração e, com freqüência, se privava da comida da escola para ir à Igreja. Mesmo ainda muito jovem levava uma vida solitária, primeiramente no sótão de sua casa, depois em uma capela abandonada. Desejoso de cada vez mais afastar-se do mundo, retirou-se durante algum tempo para uma montanha deserta. Quando foi a Jerusalém em peregrinação, tomou o habito monacal e recebeu a ordenação sacerdotal do bispo da região. Levava um vida muito austera; só se alimentava com verduras e em pouca quantidade; usava silício sobre o corpo. Deus lhe concedeu o dom da profecia e de operar milagres. Em outra viagem que fez à Terra Santa obteve por suas orações abundantes chuvas, após um longo tempo de seca. São Teodoro fundou vários monastérios; entre os mais notáveis se destaca um que estava situado próximo a um antigo santuário de São Jorge, seu santo de devoção; outro era o monastério de Sikeon, de sua cidade natal.

São Teodoro foi abade deste ultimo onde viveu a maior parte do tempo numa cela isolada. Mauricio, o comandante do imperador Tibério, ao voltar de uma vitoriosa campanha na Pérsia foi visitar Teodoro. O santo predisse sua gloriosa ascensão ao trono imperial. A profecia se cumpriu em 582 e Mauricio sempre pedia orações a Teodoro por si e por todos os do seu império. Quase àr força, por se sentir totalmente indigno, Teodoro foi escolhido e consagrado bispo de Anastasiópolis. Finalmente, passados 10 anos, obteve permissão para renunciar a sua sede episcopal retirando-se, muito feliz, para seu monastério em Sikeon. Voltou a Constantinopla para abençoar o imperador e o senado. Lá curou um dos filhos do imperador de uma doença de pele. São Teodoro morreu em 22 de abril de 613. Durante sua vida propagou sua devoção a São Jorge.

No dia 23 de abril, a Igreja, no Oriente e no Ocidente celebram o grande mártir, São Jorge. Porém, enquanto a última reforma litúrgica para a Igreja latina viu retroceder a importância desse santo, para os fiéis ortodoxos ele será sempre o «megalomártir, vitorioso e taumaturgo» em honra do qual a festa não se celebra somente em 23 de abril, mas ainda no dia 3 de novembro, quando, por toda parte, se comemora a reconstrução da igreja dedicada a ele, em Lydda (atualmente em Israel), onde foi deposto o seu corpo glorioso. Há uma tradição que aponta o ano 303 como ano da sua morte. Como a liberdade de culto para os cristãos se deu somente dez anos depois dessa data, supõe-se que também a igreja em honra de São Jorge tenha sido construída por vontade do imperador Constantino. Em ambas as festas repete-se o mesmo tropário conclusivo: «Libertador dos cativos e defensor dos pobres, médico dos enfermos, sustentáculo dos reis, ó vitorioso e grande mártir Jorge, pede a Cristo Deus que salve nossas almas».

II

Devem ter sido espetaculares as circunstâncias da sua morte para que os orientais lhe tenham sempre chamado “o grande mártir” e para que a sua pessoa se tenha tornado bem depressa, lendária. Não há culto mais antigo nem mais espalhado. Já no séc. IV Constantino lhe levantava uma igreja. Vários artistas: Rafael, Donatello e Carpaccio representaram São Jorge. No lugar onde esteve içada a bandeira de Portugal por ocasião da batalha de Aljubarrota foi construída, em 1388, uma ermida dedicada a São Jorge. Em 1387 começou a incorporar-se na procissão do Corpo de Deus, por ordem de D. João I, a imagem deste Santo, à cavalo.

No século III, os godos cruzaram o Danúbio e se estabeleceram nas províncias romanas de Dacia e Moesia, de onde partiam para expedições na Ásia Menor, especialmente à Galícia e Capadócia, trazendo muitos escravos cristãos, tanto sacerdotes como leigos. Os prisioneiros, pouco a pouco, tentavam converter seus senhores e construíram várias igrejas. Em 370, um dos chefes godos, para vingar-se iniciou uma forte perseguição aos cristãos que, dentre eles, se destacavam São Savas e São Nicetas. Savas tinha se convertido ao cristianismo ainda muito jovem e  servia a Igreja como cantor e leitor. No inicio das perseguições, os magistrados deram ordem aos cristãos que comessem a carne oferecida aos ídolos. Alguns pagãos que tinham parentes entre os cristãos, persuadiram os  guardas de que os fizessem comer somente a carne que não tinha sido oferecida aos ídolos. Savas denunciou corajosamente a estratégia usada: não só se negou comer a carne como também declarou que quem comesse seria réu de traição.

Alguns cristãos aprovaram seu procedimento, outros, porém, se rebelaram e o obrigaram  a sair da cidade.

Pouco tempo depois, Savas retornou a cidade. Um ano mais tarde as perseguições aos cristãos se intensificaram, e alguns dos mais conhecidos da cidade estavam para prestar um juramento de que na cidade já não havia mais nenhum cristão. Foi quando São Savas se apresentou e disse: «Não jureis por mim, pois eu sou cristão». O juiz perguntou aos presentes se Savas era rico, e ao saber que o único bem que possuía era  suas vestes, o deixou em liberdade, dizendo: «este pobre diabo não pode fazer nem bem nem mal».

Dois ou três anos mais tarde as perseguições recomeçaram. Três dias depois da Páscoa, chegou à cidade um pelotão de soldados a mando de Ataridio que, imediatamente foi a casa do sacerdote Sansala onde  estava Savas descansando, depois das festas. Os soldados amarraram Sansala a um leito que foi puxado por um carro. Amarraram também Savas sobre a cama e o arrastaram nu sobre  arbustos espinhosos. Na manhã seguinte, Savas disse aos perseguidores: «Não é possível que vocês tenham arrastado meu corpo durante toda a noite sobre espinhos, se não há feridas ou cicatrizes?» Os soldados então viram que em sua  pele não havia nenhum arranhão. Enfurecidos, ataram seus braços e pés sobre um carro e o torturaram durante grande parte da noite. Quando estavam cansados, pararam e a mulher em cuja casa estavam alojados, movida de compaixão, desatou Savas, mas este se negou fugir. Na manhã seguinte, os carrascos amarraram as mãos de Savas em uma das vigas da casa. Puseram diante de Savas e Sansala a carne oferecida aos ídolos. Ambos se recusaram comê-la e Savas exclamou: «Esta carne é tão suja e impura quanto Ataridio que  no-la enviou». Um dos soldados o golpeou tão violentamente que todos acreditavam que o havia matado. Porém Savas não sentiu o golpe e disse: «Crês haver-me matado? Pois te confesso que tua arma parece lã que não me fez nenhum mal». Quando Ataridio soube do acontecido, mandou que jogassem Savas no rio. Ao chegar às margens, um dos soldados disse aos seus companheiros: «Deixemos escapar este inocente, pois sua morte não trará nenhum bem a Ataridio». Savas, porém, persuadiu o soldado a que cumprisse a ordem dizendo: «Eu vejo o que tu não vês. Do outro lado do rio há uma multidão que está esperando minha alma para conduzi-la a glória; basta que minha alma se separe do corpo». Então os soldados o jogaram no rio com um peso atado ao seu pescoço.  Narra-se que o lugar do martírio de São Savas foi em Targovisto, ao noroeste da cidade de Bucareste.

Santa Elizabeti, a taumaturga († ?)

Santa Elizabeth foi dada por Deus a seus pais, cristãos devotos de uma nobre família de Heracléia, na Trácia, após uma intervenção miraculosa de Santa Glicéria, Virgem e Mártir (13 de maio). Desde sua infância, ela conservou em seu coração os ensinamentos dos santos, procurando viver segundo os ensinamentos de evangelho, revelando um espírito de liderança. Quando, na idade de doze anos, ficou órfã, distribuiu sua herança aos mais necessitados, libertou seus escravos e entrou para o convento de São Jorge, conhecido como «Pequena Colina», em Constantinopla, que era dirigido por sua tia paterna. Abraçou zelosamente todas as obras de vida ascética, tornando-se rapidamente um vaso eleito de graça. Os olhos de seu coração estavam constantemente fixos na beleza divina, razão pela qual, durante três anos inteiros, manteve olhar fixo no chão, sem deixá-lo vaguear à esmo. Usava apenas um casaco e caminhava descalça, mesmo no rigor do inverno, mas o amor de Deus que ardia em seu coração substituía o casaco e a manta.

As lágrimas que derramava quando orava, exalava uma fragrância mais suave que os perfumes de banhos. Seu principal alimento era o pão descido céu, dado em comunhão na Divina Liturgia. Quando a superiora do convento estava prestes a deixar esta vida, apontou para Elizabeth como sua sucessora, e o Santo Patriarca Gennadius (458-471), foi quem lhe conferiu a investidura. Deus, então, redobrou os efeitos de sua graça e a Santa operava muitos milagres: cura de doenças graves, expulsão de demônios e profecia. Assim, ela profetizou ao imperador Leão I o terrível incêndio que destruiu a capital em 465*, também previsto por São Daniel Estilita (11/12), e foi através da intercessão destes dois santos que a cidade foi preservada da destruição total. Em sinal de reconhecimento, o Imperador ordenou a construção de um Monastério nas terras de São Babylas, próximo ao palácio de L’Hebdomon. Grandes milagres aconteceram na região e a fama do poder da santa se espalhou rapidamente em todo o território da cidade imperial. Muitos doentes que acorriam a ela ficaram livres de seus males. Um dia, durante a Divina Liturgia, ela entrou em êxtase e viu o Espírito Santo descer como uma grande lâmina de luz branca a rodear o altar. Já perto do final de sua vida, Santa Elizabeth retornou à sua terra natal, Heraclea, para venerar os santuários. Santa Glicéria apareceu-lhe, recordando a proteção concedida a ela desde a sua infância e convidando-a para habitar em seu lar celestial, um dia após a festa de São Jorge. Voltando ao seu mosteiro, Elizabeth passou suas instruções finais e, depois de os Sagrados Mistérios (Eucaristia), seu rosto se iluminou como o sol e ela elevou suas mãos com alegria para o céu, repetindo as palavras do profeta São Simeão: «Agora, ó Soberano Senhor, deixa o teu servo ir, porque meus olhos viram a tua Salvação!». E, serenamente, entregou a sua alma a Deus. O corpo de Santa Elizabeth, que permaneceu incorrupto por muitos séculos, tornou-se uma fonte de cura.

* Esta catástrofe é comemorada no Synaxarion em 1º de setembro.

Admite-se que o autor do Segundo Evangelho e o Marcos – primo de Barnabé, de que se fala nos Atos e nas Epístolas – sejam uma só e a mesma pessoa. Marcos e Maria viviam em Jerusalém na casa de sua mãe, Maria que ficava próxima ao Jardim do Getsêmani e servia de local de reunião aos primeiros cristãos. Discípulo de São Paulo, esteve ao seu lado quando este ficou preso em Roma. Foi também discípulo de São Pedro: «a que (Igreja) está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho» (1 Pd 5,13s.). Santo Irineu, Tertuliano e Clemente de Alexandria atribuem decididamente a Marcos, discípulo e intérprete de São Pedro, o segundo Evangelho. E segundo os críticos modernos, o evangelho de Marcos foi escrito por volta dos anos 60/70 e dirigido aos cristãos de Roma.

II

O Santo Apóstolo e Evangelista Marcos, também conhecido como João Marcos (At 12:12), foi um dos Setenta Apóstolos, e era sobrinho de São Barnabé (11 de junho). Ele nasceu em Jerusalém e, de acordo com a Tradição da Igreja, na noite em que Cristo foi traído, ele o seguiu atrás, envolto apenas em um pano de linho. Detido por soldados, ele fugiu desnudo, deixando para trás o pano. « E um certo jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão, mas ele, largando o lençol, fugiu nu. (Mc 14:51-52). Após a Ascensão do Senhor, a casa de sua mãe Maria se tornou um lugar onde os cristãos se reuniam, e um local de alojamento para alguns dos apóstolos (At 12:12). São Marcos foi um companheiro muito próximo dos Apóstolos Pedro e Paulo (29 de Junho) e Barnabé. Foi a Selêucia, com Paulo e Barnabé, e de lá partiu para a ilha de Chipre, e atravessou toda a ilha, de leste a oeste. Na cidade de Paphos, São Marcos testemunhou a cegueira que São Paulo fez cair sobre o feiticeiro Elimas (At 13:6-12). Depois de trabalhar com o Apóstolo Paulo, São Marcos retornou a Jerusalém indo depois foi para Roma com o apóstolo Pedro. De lá, partiu para o Egito, onde fundou uma igreja local. São Marcos conheceu São Paulo em Antioquia. De lá ele foi com São Barnabé para Chipre, indo depois ao Egito novamente, onde ele com São Pedro fundaram muitas igrejas. Foi depois então para a Babilônia e, desta cidade foi que o apóstolo Pedro enviou uma epístola aos cristãos da Ásia Menor, na qual chama São Marcos de seu filho (1 Pd 5,13). Quando o apóstolo Paulo chegou a Roma acorrentado, São Marcos estava em Éfeso, onde São Timóteo (4 de janeiro) foi bispo. São Marcos foi com ele para Roma e, de lá foi que escreveu seu Santo Evangelho (ca. 62-63). De Roma São Marcos viajou para o Egito. Em Alexandria, iniciou uma escola cristã que, mais tarde, produziu sacerdotes notáveis e mestres da Igreja, como São Clemente de Alexandria, São Dionísio de Alexandria (5 de outubro), São Gregório Taumaturgo (5 de novembro) e outros. Zeloso dos serviços da Igreja, São Marcos compôs uma liturgia para os cristãos de Alexandria. São Marcos pregou o Evangelho nas regiões do interior da África, quando esteve na Líbia, em Nektopolis. Durante essas viagens, São Marcos foi inspirado pelo Espírito Santo a ir novamente para Alexandria e enfrentar os pagãos. Lá, ele visitou a casa de Ananias e curou uma de suas mãos aleijada. O dignitário ouviu suas palavras e, cheio de júbilo, recebeu o santo Batismo. Seguindo o exemplo de Ananias, muitos dos habitantes daquela parte da cidade foram batizados.

Isso despertou a inimizade dos pagãos que queriam matar São Marcos. Quando soube disso, São Marcos fez de Ananias bispo, e os três cristãos, Malchos, Sabinos e Kerdinos foram ordenados presbíteros para que a igreja pudesse contar com líderes após a sua morte. Os pagãos aprisionaram São Marcos enquanto celebrava a Liturgia. Eles o espancaram, arrastaram-no pelas ruas e jogaram-no depois na prisão. A São Marcos foi concedida uma visão do próprio Senhor Jesus Cristo que o fortaleceu antes de suas torturas. No dia seguinte, a multidão enfurecida arrastou novamente o santo pelas ruas, e ao longo do caminho, diante do tribunal, São Marcos entregou seu espírito a Deus, dizendo: «Em tuas mãos, ó Senhor, eu entrego meu espírito». Os pagãos quiseram queimar o corpo do santo, mas quando acenderam o fogo, tudo escureceu, ouvia-se trovões e terra tremeu. Os pagãos fugiram aterrorizados, e os cristãos levaram o corpo de São Marcos para sepultar em uma cripta de pedra. Isso foi em 04 de abril do ano 63. A Igreja celebra a sua memória em 25 de abril. No ano 310, uma igreja foi construída sobre as relíquias de São Marcos. Em 820, quando os árabes muçulmanos tinham estabelecido o seu domínio no Egito e oprimido a Igreja Cristã, as relíquias de São Marcos foram transferidas para Veneza e posta na igreja dedicada a ele. Na antiga tradição iconográfica que adotou os símbolos sagrados para os Evangelistas com base na visão de São João, o Teólogo (Ap 4:7) e na profecia de Ezequiel (Ez 1:10), o santo evangelista Marcos é representado por um leão , simbolizando a força e dignidade real de Cristo (Ap 5:5). São Marcos escreveu seu Evangelho para os cristãos gentios, enfatizando as palavras e ações do Salvador, que revelam seu poder divino. Muitos aspectos do seu estilo podem ser explicados por sua proximidade com São Pedro. Os escritores antigos dizem que o Evangelho de Marcos é um registro sucinto da pregação de São Pedro. Um dos temas teológicos centrais do Evangelho de São Marcos é o poder de Deus para se alcançar o que é humanamente impossível; os Apóstolos, os principais milagres realizados por Jesus Cristo (Mc 16:20) e o Espírito Santo (Mc 13:11), atuando através deles; a instrução dada aos discípulos para que saíssem pelo mundo a pregar o Evangelho a toda criatura (Mc 13:10, 16:15). E foi o que eles fizeram.

São Basílio era bispo de Amaséia, na região do Ponto, no tempo do imperador Licínio (308-324). Era casado com Constância , irmã de São Constantino, o Grande. Constância tinha uma escrava chamada Glafyra. Quando soube que Licínio nutria por ela desejos pecaminosos, Constântia enviou secretamente Glafyra para o Oriente. Chegando a Amaséia, ela refugiou-se na casa de Basílio. Quando soube disso, Licínio ficou muito furioso e ordenou que ambos fossem trazidos perante ele. Entretanto, quando os oficiais chegaram ao local, Glafyra já havia adormecido no Senhor – contudo, sua memória é celebrada no mesmo dia de São Basílio. São Basílio foi então conduzido sozinho para Nicomédia, onde foi decapitado. Seu corpo foi lançado ao mar, mas através de uma revelação divina foi encontrado e trazido de volta novamente para Amaséia.

Santo Etienne (Estêvão), primeiro bispo de Perm (†1396)

Na Hagiografia de São Sérgio de Radonezh conta-se que num certo dia um bispo ia em direção a Moscou e, já distante cerca 10 quilômetros do monastério deste santo, teria voltado do caminho e dito a São Sergio: «A paz seja contigo, irmão!» São Sérgio, que se encontrava naquele momento no refeitório, levantou-se e e foi ao local onde estava o bispo e respondeu: «bom dia pastor do rebanho de Cristo! A paz de Deus seja sempre contigo!» Mais tarde, explicou aos monges que tratar-se do Bispo Etienne que se dirigia a Moscou e que deixara suas saudações ao monastério, e que sua presença ali atraiu as bênçãos do céus.Desde o inicio de sua conversão, os russos enviaram missionários aos mongóis e finlandeses.

No século XIV, renovou-se o zelo missionário, sendo um grande incentivador o bispo Etienne. Quando ainda era monge de Rostov, em 1370, foi evangelizar os zirios ou permiakis, uma comunidade russa que situava-se a leste de Volga e a sudoeste dos Montes Urales, local de origem de Santo Etienne.

A maneira de fazer missões de Santo Etienne recordava a dos santos mestres Cirilo e Metódio. Segundo seu hagiógrafo, Etienne estava convencido de que cada povo deveria adorar a Deus em sua própria língua, pois Deus era a fonte de todos os idiomas. Por isso, uma das primeiras coisas que fez foi traduzir o essencial da liturgia e muitas passagens da Sagrada Escritura para a língua local. Tão convencido estava de que cada povo tem seu lugar no cristianismo que sequer ensinava aos convertidos o alfabeto russo, mas valia-se dos próprios símbolos locais para explicar a fé. São Etienne se destacou ainda por sua obras sociais em favor dos oprimidos. Em 1383, em reconhecimento pelo conjunto de suas obras, foi nomeado Bispo de Perm pregando e escrevendo contra as heresias locais. Santo Etienne morreu em Moscou no ano de 1396.

Segundo a Tradição da Igreja, Simeão (ou Simão) era um dos quatro filhos do primeiro casamento de São José e irmão de São Tiago, primeiro bispo de Jerusalém que também era chamado, conforme o costume judaico da época, de «irmão do Senhor». Após o martírio de São Tiago (62), e da tomada de Jerusalém pelos exércitos romanos (70), Simeão foi eleito o segundo bispo da Mãe de todas as igrejas, sucessor de são Tiago no Trono de Jerusalém. Simeão exerceu seu apostolado de forma perfeita, com abnegação e trabalho incansável. Combateu, com zelo divino, os cultos e ídolos pagãos de sua época, e seus dons intelectuais foram luzes que ajudaram muitas almas alcançar a salvação, a despeito dos perigos e perseguição aos cristãos daquele tempo. Sua principal característica era uma fé inabalável. Viveu até os 120 anos, quando enfrentou o martírio com dignidade. Sua idade avançada contrastava com seu coração jovem que fê-lo resistir aos muitos sofrimentos. Nos momentos difíceis voltava-se para Deus e era inspiração para todos.

São Cirilo foi uma das três figuras mais importantes do cristianismo russo, com Clemente Smoliatich e Hilarion, Bispo de Kiev, anterior à época das invasões dos mongóis. Ele viveu em meados do século XII. Primeiro foi monge, depois eremitão. Abandonou sua cela ao ser nomeado o bispo de Turov, cidade próxima à Kiev. O historiador Fedotov disse que seus escritos deixam a impressão de ele ter sido um homem muito despreendido da vida, não obstante às exigências morais, completamente entregue à contemplação e aos estudos dos mistérios e da doutrina. Destacou-se por sua devoção teológica na Rússia antiga. Cirilo é praticamente um representante da tradição grega na Rússia, já que em seus escritos não se observa os traços característicos dos russos de sua época. Não se sabe ao certo se lia grego e se conhecia os Padres gregos em sua língua original, e é difícil precisar a profundidade de sua cultura patrística. De qualquer forma, era sem duvida nenhuma, um dos mais cultos escritores russos de sua época. Seu ideal ascético transmitido aos monges consistia na espiritualidade e, principalmente, na obediência, frutos da humildade.

Dizia que era preciso ser como um pedaço de pano que serve somente para limpar o chão. Tornou-se muito famoso por seus sermões, por mostrar fluida retórica grega. Era criticado por alguns por ter em seus sermões conteúdo eminentemente teológico, sem aplicação prática. Nas orações que escreveu, e que são notáveis pelo estilo muito semelhante ao de Santo Efrém, o Sirio e Santo André de Creta, sobressai a necessidade que o homem tem do perdão de Deus; Deus se fez homem para trazer ao homem o perdão divino. A Redenção é o que tem de mais belo dentre todos os assuntos tratados em seus sermões. Teve um papel importante nos assuntos eclesiásticos de sua época. Escreveu muitas cartas que não chegaram até nossa época. Morreu no ano de 1182/3.

II

Nascido em uma família rica de Turov, na região de Minsk, São Cirilo não tinha nenhuma atração pela riqueza ou glória. Passou a sua juventude dedicado aos estudos das Sagradas Escrituras sob a orientação de mestres gregos e russos, ingressando, mais tarde, no Monastério dos Santos Boris e Gleb. Após receber o hábito monástico, ele exauriu o seu corpo em vigílias de oração e no serviço aos irmãos monges, tornando-se um modelo perfeito de observância das regras monásticas. Encorajava-os, através de admoestações fraternas, a perseverarem na obediência ao superior do monastério, se quizessem alcançar a salvação. Aspirava viver seus dias numa coluna, a exemplo dos santos Estilitas do passado. Seus exemplos e escritos ascéticos ajudaram a espalhar sua boa reputação por todo o país e, mais tarde, foi escolhido por unanimidade para ser o bispo de Turov. Todo o tempo e esforço dedicado às práticas ascéticas lhe foi de bom proveito na edificação espiritual de seu povo. Escreveu muitos sermões sobre as grandes festas do Ano Eclesiástico, além de meditações sobre o Evangelho e as profecias do Antigo Testamento. Em tudo, demonstrava um profundo conhecimento das Escrituras e dos Pais da Igreja, adquirido durante o tempo de sua vida solitária. Durante uma visita que fez ao Monastério de São Nicolau, ele escreveu também uma coletânea de orações num espírito de perfeita compunção, no estilo de Santo Efrém, o Sírio e Santo André de Creta, que também compôs o «Grande Canon Penitencial» e um ofício paráklise.

Depois de uma vida dedicada ao trabalho de edificação do Corpo Místico de Cristo, São Cirilo, reverenciado da Rússia como um segundo «Crisóstomo», adormeceu em paz, em 1183, logo após ter deixado sua função como bispo para se recolher à hesyquia.

Jasom e Sosípatro eram discípulos do Apóstolo Paulo que os menciona em sua Epístola aos romanos dizendo: «Saúdam-vos Timóteo, meu cooperador, e Lúcio, Jasom e Sosípatro, meus parentes». (Rom 16,21). Jasom era de Tarso, na Cilicia, e foi nomeado bispo de sua cidade. Sosípatro era de Patros, na Arcadia, e foi nomeado bispo de Icônio. Depois de alguns anos a frente de suas dioceses, ambos tomaram a decisão de mudar-se para o Oriente, indo para a Ilha de Corfú, pregando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo pela primeira vez ao povo daquele lugar. Por suas pregações salvaram muitas almas, mas também por causa delas e em nome de Cristo foram submetidos a muitos sofrimentos. Na antiga cidade de Corfú foram martirizados, e lá foi construída uma igreja em honra e memória destes santos.

São Basílio, Bispo de Ostrog († séc. XVI)

Basílio nasceu em Popova, uma aldeia da Hercegovina, de pais simples e tementes a Deus. Desde sua juventude nutria profundo amor para com a Igreja de Deus e, atingindo a maturidade, entrou para o Monastério da Dormição (Assunção) da Santíssima Mãe de Deus em Trebinje, e lá recebeu a tonsura monástica. Como monge, sua fama rapidamente se espalhou por causa de sua vida ascética e rara genialidade. São Basílio impunha-se pesadas mortificações, intensificando gradativamente estes exercícios. Mais tarde, contra a sua vontade, foi eleito e consagrado bispo de Zahumlje e Skenderia. Mesmo como hierarca seguiu vivendo no monastério Tvrdosh e de lá, como bom pastor, fortaleceu o seu rebanho na fé ortodoxa, protegendo-os da crueldade dos turcos e das astúcias dos latinos. Quando Tvrdosh foi destruída pelos turcos, pressionado fortemente por seus inimigos ele se mudou para Ostrog, onde viveu uma vida de muita austeridade ascética, protegendo seu rebanho por sua fervorosa e incessante oração.

Adormeceu pacificamente no Senhor no século XVI. Seu corpo mantém-se milagrosamente incorrupto até os dias atuais. Os Milagres no túmulo de São Basílio são inúmeros. Cristãos e muçulmanos encontram diante de suas relíquias, o alívio para as suas aflições e a cura das doenças mais graves e. Uma grande romaria de fiéis acorrem anualmente em peregrinação ao local por ocasião da Festa de Pentecostes.

Tiago, o irmão do Senhor, o Apóstolo Divino, foi o primeiro bispo de Jerusalém. Sua origem era a Judeia, e era filho de José, o Desposado. Homem piedoso e de fé inquebrantável, além de outras virtudes, Tiago, o Justo, recebeu assim, merecidamente, o codinome de «irmão do Senhor». Como já foi dito, era um dos filhos de José com sua primeira mulher, Salomé. Sendo já de avançada idade e viúvo, José desposou a Maria, virgem antes e depois do nascimento de seu filho. Tiago recebeu primeiro o nome de Joblián, que em hebraico significa «justo», pois ainda criança mostrou ter autodomínio sobre todos os seus sentidos, o que era realmente extraordinário. Seu olhar era dirigido apenas para as coisas boas e lhe foi concedida a misericórdia divina. Seus ouvidos se abriam às santas leituras e sua boca se regozijava com a lei. Estava sempre pronto à caridade e sentia simpatia por todos. Controlava o apetite e não usava nada de supérfluo ou desnecessário.

Ao longo de sua vida, não comeu nenhum alimento animal, ou seja: carne, peixe ou crustáceos. Nunca bebeu vinho, somente água para matar sua sede. Subsistia a pão e lágrimas. Por causa de muitas prostrações seus joelhos ficaram desgastados e sua aparência revelava uma vida de extremo ascetismo. Usava uma camisa de crina de cavalo, mas vestia uma túnica de linho quando entrava no santuário. Orava e trabalhava incansavelmente. Era amado pelos familiares, amigos e os desconhecidos estrangeiros que vinham de longe o reverenciam por suas virtudes. Dentre estes, não só haviam os devotos, mas mesmo os pagãos o tinham em alta estima.

Tiago, o Justo, foi o primeiro escolhido por nosso Salvador e pelos apóstolos para o episcopado da Igreja de Jerusalém. Era adornado com todas as virtudes, em especial, porém, destacam-se duas: a capacidade de guiar os homens à perfeição, tanto na teoria como na prática; era tanto humilde como moderado. Seu nome o dizia: «Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo». De sua própria experiência pessoal compreendeu a paciência que deriva das aflições e alentava aos demais com estas palavras: «considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações […] Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. [Tg 2,2;12].

Corrigia os que afirmavam que o pecado é natural ao homem, pois estava a dizer, assim, que Deus é o autor do mal. Como um excelente médico, curou a estes insensatos com estas palavras: «Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia» [Tg 1,13-14]

Ensinava-lhes que Deus não era a causa das enfermidades humanas e lhes advertiu a reconhecerem a própria indolência e fraqueza, a serem humildes e pedirem perdão. Também afirmava que sem a graça divina, somos incapazes de fazer uma coisa boa, pois «toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, do Pai das luzes» [Tg 1,17] Ele Instava a todos a praticar a caridade para com os mais necessitados, a fim de encontrar a misericórdia do juiz na hora do Juízo, e assinalava: «Pois, haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento» [Tg 2,13].

Afirmava ainda que somente a fé não beneficia aqueles que não guardam os mandamentos de Deus, porque sem obras, são considerados mortos, como se o corpo estivesse morto e sem vida. Sobre este ponto, diz: «Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril?» [Tg 2,20]

Também ensinava aos homens a refrear as palavras, a evitar proferir mentiras, palavras em vão, insultos ou julgamentos, mas principalmente, para afastar-se do falso testemunho que é muito prejudicial para a alma.

O homem, dizia ele, não deve jurar nem pelo céu nem pela terra, nem por qualquer coisa criada.

Estes e muitos outros doces ensinamentos nos vieram da boca do Apóstolo Tiago, bispo e irmão de nosso Senhor, através de sua epístola.

Todos os apóstolos veneravam Tiago e consideravam a sua palavra como lei. Sua opinião prevaleceu em diversas situações nos Atos dos Apóstolos, como na questão de saber se era ou não necessário circuncidar aos gentios. Quando os apóstolos e anciãos se reuniram para debater sobre este tema, Tiago disse-lhes, uma vez que já haviam falado Pedro, Paulo e Barnabé: Portanto, julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue». [At 15, 19-20]. Sua voz e seu voto teve grande valor, pois os Apóstolos veneravam este Apóstolo acima de todos. Para demonstrar ainda mais sua proeminência entre eles, São Paulo foi com os outros Apóstolos encontrar-se com Tiago, quando os anciãos estavam presentes, para declarar as coisas que Deus operara entre os gentios através de seu ministério; e logo, glorificaram a Deus.

Somente a São Tiago, o Justo, foi dada a permissão de entrar no lugar sagrado, e entrou sozinho no santuário. De acordo com Hegesippus, no santuário somente podiam entrar os sacerdotes da linhagem de Arão, ainda que tenham sido concedidos privilégios sacerdotais aos nazarenos. Muitas vezes o encontraram ajoelhado, oferecendo súplicas pelos pecados do povo, especialmente por aqueles que estavam sob a lei de Moisés; seus joelhos tinham calos como de camelos. O extraordinário Tiago contava realmente com elevado alto favor de Deus para a condução de sua vida.

Entretanto, alguns membros das seitas heréticas dos judeus ousaram, numa certa ocasião, por instigação de Ananias, o sumo sacerdote, aproximar-se de Tiago pedindo-lhe que renunciasse sua fé em Cristo. Os inimigos de Cristo lhe perguntaram: «Diga-nos, oh Justo, o que significa que a ‘Porta é Jesus’?» E Tiago respondeu: «Este é Jesus Cristo, o Filho de Deus, uma só essência com o Pai».

Na verdade, alguns chegaram a crer graças à pregação de Tiago e aceitaram suas justas palavras da verdade. Alguns membros das várias seitas, no entanto, permaneciam contra ele e o consideravam equivocado, pois não acreditam na ressurreição, ou que todos seriam recompensados por suas boas ações. Houve então um grande murmúrio entre os fariseus e os escribas, convencidos de que estavam diante de um perigo de que todos acreditassem em Cristo. Foram então ao encontro de Tiago e disseram: «Nós te pedimos, oh Justo, que ensines as pessoas, pois se afastaram do caminho e crêem em Jesus, afirmando que ele é o Cristo. Então, na festa da Páscoa, quando todos estiverem reunidos, procure convencê-los para que não sejam enganados por um simples homem. Nós te imploramos que realizes esta boa ação, pois todos nós te reconhecemos que és um homem justo e imparcial. Por isso te pedimos, para que subas ao parapeito do templo, onde todos facilmente te verão e ouvirão tuas justas palavras de instrução».

Na festa da Páscoa, todas as tribos se reuniram, havendo ali, inclusive, cristãos. Foi então que os mentirosos e embusteiros, acreditando que Tiago compartilhasse de suas crenças, o fizeram parar sobre o parapeito do templo, e para que todos os presentes ouvissem, clamaram em alta voz: «Como todos nós te aceitamos, oh Justo, diga-nos: o que achas de Jesus, que foi crucificado por Pilatos, e que depois disso as pessoas se afastaram do caminho, acreditando que ele é o Cristo e, até mesmo, que ele é Deus? Explica-nos isto e proclama a verdade!» Quando chegou o momento de dizer a verdade contra os falsos, Tiago não retrocedeu por temer a morte nem aceitou negar a verdade, mas, contrariamente às expectativas daqueles, levantou a voz, e com espontâneo espírito e palavra, respondeu:

«Por que me perguntais sobre Jesus? Ele está sentado no céu à direita de seu Pai, com os poderes celestiais, e voltará nas nuvens do céu para julgar o mundo com justiça». Tendo testemunhado isto, muitos se convenceram e exclamaram: «Hosana ao Filho de Davi !» Mas os obcecados fariseus e escribas se queixaram de que haviam permitido a Tiago dirigir sua palavra ao público, pois que não tinha proclamado o que pretendiam. Cheios de cólera, se dirigiram à multidão, dizendo: «Até mesmo o Justo se afastou do caminho». Em seguida, foram para o parapeito e o agarraram como bestas selvagens, atirando-o ao chão, mas o bem-aventurado sobreviveu. Começaram então a apedrejá-lo. Mas o Santo recebeu as pedras em silêncio e, como se fosse um precioso tesouro, se ajoelhou e orou: «Senhor Deus e Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem».

Oh bendita alma! Oh humildade maravilhosa! Estas foram as palavras proferidas, tanto pelo Mestre na cruz como pelo Protomártir Santo Estevão. Assim também orou Tiago, o puro irmão do Senhor, por seus cruéis assassinos cruéis. Embora alguns tenham conseguido escutar suas orações por eles, os ingratos não tiveram respeito pela sua clemência e continuaram atirando-lhe as pedras. Um dos descendentes de Recab, o filho de Racabim da casta sacerdotal, disse: «Basta! Malvados, o que estais fazendo?O Justo está rezando por nós, injustos como somos e que o apedrejamos!» Então, um dos agressores tomou um bastão usado para bater na lona, e golpeou fortemente a cabeça de Tiago que, não resistindo, o Justo entregou seu espírito a Deus. Seu corpo foi sepultado próximo do santuário. Após sua morte, foi nomeado bispo Simeão, o filho de seu tio Cléofas, porque era primo do Senhor e por um desejo unânime de que ele deveria ser o próximo bispo.

Havia alguns judeus compassivos e justos que, secretamente, enviaram uma carta ao tetrarca Agripa, que era o sucessor de Herodes, informando-lhe sobre esta cruel morte. Nela eles pediam que ordenasse a Ananias para que nunca mais convocasse o Conselho sem a autorização deles. O rei Agripa havia nomeado Ananias como sumo sacerdote, mas não havia ocupado o posto por mais de três meses sendo então substituído por outro, Jeshua ben Dammeo.

Após a morte de Tiago, muitos judeus consideravam que as calamidades que se abateram sobre eles foram conseqüência da violenta morte deste justo homem; pois, no ano 67 dC., Vespasiano tomou Jerusalém de assalto. Assim conclui esta narração, porque Flavius Josephus registrou os acontecimentos subseqüentes em seus escritos.

Portanto, pelas orações de Tiago, Apóstolo, Hierarca, Justo, Mártir e Irmão do Senhor, cuja alma foi adornada com todas as virtudes, ó Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem misericórdia de nós!