Junho

São Justino foi um dos maiores mestres e filósofos da Igreja. Nasceu por volta do ano 100, em Sijem, Samaria. Seus pais eram gregos idólatras e impuzeram esta mesma prática religiosa ao filho, que foi distinguido pela sua inteligência incrível. Seu espírito inquieto o levou a conhecer todas as filosofias de sua época sem que, no entanto, preenchessem suas expectativas. E prosseguiu então na sua busca da perfeição. Deus, conhecendo sua reta intenção e sua sincera busca filosófica das coisas divinas, um dia o atendeu. Estando Justino a caminhar próximo do mar, conheceu um certo ancião, excelente conhecedor das Escrituras Sagradas. Teve início, então, um extenso diálogo no qual a Palavra de Deus foi semeada em seu coração. Justino, refletindo sobre as palavras do ancião, descobriu a verdade e, com os dons que possuía, não só se converteu ao cristianismo, como foi um de seus grandes defensores, dando mesmo a sua vida por ele. São Justino foi martirizado em Roma, morrendo decapitado por volta do ano 165 por ordem de Marco Aurélio.

II

Nasceu em 103, na cidade de Siquém, na Palestina. Espírito inquieto, São Justino incursionou pelas escolas estóica, pitagórica, aristotélica … No platonismo julgou ter encontrado a resposta para suas inquietações intelectuais e espirituais. Segundo ele próprio relata, logo percebeu que o platonismo não satisfazia inteiramente a sua busca metafísica e transcendental. Um velho sábio de Cesaréia convenceu-o de que residia no cristianismo a verdade absoluta; a verdade capaz de satisfazer o espírito humano mais exigente. Este encontro marcou a sua conversão, aos 30 anos de idade. A partir daí, tornou-se um dos mais famosos apologistas do século II. Escreveu três “apologias”, justificando a fé cristã e contra as calúnias dos adversários oferecendo-nos uma síntese doutrinal. Das suas numerosas obras, a mais célebre é o “Diálogo com Trifão”. Os seus escritos oferecem-nos ricas informações sobre ritos e administração dos sacramentos na Igreja primitiva. Descontentes pelo seu bom desempenho apologético, Crescêncio e Trifão denunciaram-no como cristão. Condenado à morte, foi decapitado juntamente com outros companheiros, durante a perseguição de Marco Aurélio, imperador romano.

Santo Erasmo foi um bispo sírio que fugiu durante a perseguição de Diocleciano, buscando refúgio no Monte Líbano. Lá viveu como um ermitão solitário, sendo alimentado por um corvo. Ao ser descoberto foi levado a comparecer diante do imperador que ordenou que fosse açoitado com garrotes cravejados de pregos. Em seguida foi coberto de rezina e atearam-no fogo. Tendo sido preservado incólume, apesar de tudo isso, o bispo foi jogado num calabouço para morrer de fome. No entanto, um anjo o retirou para fora da prisão e o conduziu até a província romana de Iliria. Lá, levou muita gente à conversão, sendo mais uma vez submetido a outras formas de tortura, incluindo a sela e armaduras de ferro aquecido em braza. Novamente foi preservado e salvo por um anjo que o conduziu para Formia, onde o Santo, já com idade avançada, morreu mais tarde.

De acordo com o menologio do imperador Basílio, São Luciniano era um sacerdote pagão de Nicomédia, convertido ao cristianismo já em idade avançada, e morreu martirizado. Durante o reinado do Imperador Aureliano, ele foi preso e levado perante o juiz Silvano. Tendo se recusado a negar Cristo, golpearam-no em seu rosto com pedras, o açoitaram e o arrastaram por uma corda atada em torno de seu pescoço. Mais tarde foi encarcerado e, na prisão, teve o consolo de encontrar quatro jovens cristãos: Claudio, Hipacio, Paulo e Dionísio, aos quais fortaleceu com tal êxito na fé que, quando estes foram levados perante o tribunal, fizeram uma firme confissão de sua fé. São Luciniano foi então colocado em um forno quente do qual, contudo, saiu incólume. Por último, os cinco foram enviados para Bizâncio e lá Luciniano foi crucificado e os demais decapitados. Paula, uma cristã que levava alimentos para os mártires na prisão e lhes tratava as feridas, também foi detida, torturada no forno e, finalmente, decapitada. A população de Constantinopla sempre nutriu grande devoção a estes Santos Mártires.

São Metrófanes foi bispo de Bizâncio nos tempos do Imperador Constantino. É provável que tenha sido o primeiro bispo naquela cidade que, antes, estava compreendida na jurisdição na diocese de Heraclea. Desfrutava, por sua santidade, de grande reputação entre os cristãos do Oriente que, logo após a morte de Constantino, construíram uma igreja em sua homenagem. Esta igreja, quando já se encontrava em ruínas, no século VI, foi reconstruída por Justiniano.

Metrófanes era filho de Domício, irmão do Imperador Probus. Este, após sua conversão ao cristianismo, mudou-se para Bizâncio, onde cultivou uma profunda amizade pelo Bispo Tito que lhe conferiu as ordens eclesiásticas. Este, já próximo da morte, elevou Domício à dignidade episcopal. Os dois filhos de Domício lhe sucederam no episcopado: Probus, que ocupou a sede por um período de quinze anos e, depois, Metrófanes. A vida de santidade do bispo foi, ao que parece, um dos fatores que levou Constantino a escolher a cidade de Bizâncio como sua capital;, além da localização privilegiada da cidade.

A avançada idade de Metrófanes o impediu de assistir ao Concílio Ecumênico de Nicéia. EPara representá-lo, eviou Alexandre, um de seus presbíteros, No retorno do Imperador e dos clérigos que haviam participado do Concílio, o Bispo Metrófanes anunciou profeticamente a todos que o Padre Alexandre seria o seu sucessor, e que era de sua vontade que Paulo, um jovenzinho leitor do Bispo, sucedesse Alexandre em suas funções. Morreu poucos dias depois.

O Mártir São Doroteo era um sacerdote de Tiro, depois foi o bispo daquela diocese. Durante o reinado de Diocleciano, após ter sofrido todos os tipos de perseguição por causa da fé, foi, por fim, banido de sua cidade natal. Uma tréqua no rigor da perseguição lhe permitiu voltar ao seio de seu rebanho e assistir o Concílio de Niceia, em 325. Mas, enquanto Juliano, o apóstata, ocupou o trono, a perseguição foi retomada, e Doroteo teve de novo de fugir e refugiar-se, desta vez, em Odissópolis na Trácia. No entanto, até lá seus perseguidores lhe encontraram, prenderam-no e foi espancado tão brutalmente que veio a morrer em consequência dos ferimentos que lhe causaram os golpes. Diz-se que nesta época já estava com idade de 107 anos.

Santo Hilário nasceu na Capadócia, por volta do ano 775. Seus pais, Theodocia e Pedro, prestavam serviço no palácio. Sendo pessoas muito devotas, semearam no coração do pequeno Hilário os ensinamentos cristãos. Este, ainda muito jovem, sentindo arder em seu coração a chama da fé, tomou a decisão de ir ao monastério Hironisu, em Constantinopla. Lá se dedicou ao aos estudos e exercícios espirituais. Um pouco mais tarde foi para o monastério de Dalmácia onde foi tonsurado monge, passando lá cerca de 10 anos. Durante este tempo, sua humildade, paciência e grande generosidade foi exemplo para todos os que o cercavam. Isto o levou a ser eleito abade do monastério. Após um breve período, teve início um grave problema no seio da igreja com a iconoclastas. Os patriarcas Leão, da Arménia, Teodoro de Melisino interromperam a tranqüilidade de Santo Hilário.

Mas ele, com as virtude que lhe eram características, não exitou em se opor a tudo isso e, com uma elevada postura, mostrou sua paciência e sua fé ortodoxa. Teve início então a perseguição ao Santo, com imposição de restrições aos monastérios, prisões, sofrimento, culminando com um exílio que durou cerca de oito anos. Tendo suportado pacientemente todas estas provas, inspirado nas palavras do apóstolo São Paulo: “Suporta comigo os trabalhos, como bom soldado de Jesus Cristo. Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras”. [2Tm 3,5] . Santo Hilário, após a grande Triunfo da Ortodoxia no Sétimo Concílio Ecumênica que confirmou a legitimidade dos ícones como expressões verdadeiras da fé cristã, retornou ao seu monastério, morrendo três anos depois, aos 70 anos, em paz e tranqüilidade.

Willebaldo nasceu por volta do ano 700, no reino ocidental de Saxônia. Era filho de São Ricardo (7 de fevereiro) e, portanto, irmão dos santos Winebaldo e Walburga. Aos 3 anos de idade ficou gravemente enfermo e já não havia esperança de que pudesse sobreviver. Quando todos os remédios naturais resultaram ineficazes, seus pais o levaram aos pés de uma grande cruz erguida num lugar público, próximo da casa da família. Ali fizeram, diante de Deus, uma solene promessa de que, se o menino vivesse lhe consagrariam ao seu divino serviço. Imediatamente o menino recobrou os sinais de saúde, ficando completamente restabelecido. O pai, Ricardo, entregou então o pequeno Willebaldo aos cuidados do abade do monastério de Waltham, em Hampshire. Willebaldo permaneceu no monastério até o ano 720, quando, na companhia de seu pai e seu irmão, saiu em peregrinação, como é relatado na vida de São Ricardo.

Em Roma, contraiu a febre da malária e, depois de permanecer por algum tempo na cidade, partiu novamente com seus companheiros para visitar os lugares que o Senhor os santificou com a sua presença. A viagem teve início com a travessia até Chipre, prosseguindo depois em direção à Síria. Em Emesa (Homs) suspeitando que Willebaldo fosse um espião, os sarracenos o detiveram, juntamente com seus companheiros, mas logo, todos foram liberados, pois o juiz disse, ao ficar diante deles: “Tenho visto com freqüência homens que vem deste mesmo lugar de onde estes saíram para visitar o nosso país. Eu vos asseguro que não querem nos causar dano algum, mas apenas cumprir as suas leis.” Depois dessa aventura, eles seguiram para Damasco, Nazaré, Caná da Galiléia, Monte Tabor, Tiberíades, Magdala, Cafarnaúm, as nascentes do Jordão (onde Willebaldo observou que o gado era diferente do gado de Wessex, já que tinham “lombos mais largos, pernas curtas, chifres mais longos e eram todos de uma mesma cor”), o Deserto da Tentação, Galga e, por fim, Jerusalém. Ali permaneceu por algum tempo para venerar Cristo em lugares onde ele havia realizado tão grandes mistérios, e para ver as maravilhas que até hoje são mostradas aos piedosos peregrinos. Visitou ainda famosos mosteiros, “Lavras” e eremitérios, com o desejo de aprender e imitar as práticas da vida religiosa, pois pretendia adotar os meios que lhe parecessem mais convenientes para a santificação de sua alma. Após uma curta estadia em Belém, visitando as cidades da costa, Samaria e Damasco, além de várias outras nos arredores de Jerusalém, embarcou finalmente em Tiro, permanecendo um longo tempo em Constantinopla e chegando à Itália antes do final do ano 730. Willebaldo decidiu então estabelecer o célebre monastério de Monte Cassino, que havia sido restaurado por ordem do Papa Gregório II. O exemplo do peregrino inglês contribuiu para reintegrar os monges no espírito original de sua santa regra, durante os dez anos que ali viveu; ao que tudo indica, Willebaldo desempenhou um papel importante no restabelecimento da observância de Monte Cassino. Após esse período, visitou Roma, onde foi recebido pelo Papa Gregório III, que se mostrou muito interessado nas suas viagens. Sentindo-se atraído pelo caráter simples e pacífico de Willebaldo, pediu-lhe que fosse à Alemanha para se juntar à missão de seu compatriota, São Bonifacio. Prontamente ele partiu para Turíngia onde foi ordenado sacerdote. Desde então, teve início a sua missão na região Eichstatt, na Francônia, com tal empenho que o mais notável êxito coroou seus esforços. Dado que era mais forte nas obras que nas palavras, logo após a sua chegada, São Bonifácio o consagrou bispo, nomeando-o para uma nova diocese, cuja sede foi instalada em Eichstätt. O cultivo de um terreno espiritual tão árido como aquele foi uma tarefa árdua e penosa para Willebaldo, mas com paciência e energia superou todas as dificuldades. Começou pela fundação, em Heidenheim, de um monastério duplo, cuja disciplina era a de Monte Cassino, e no qual seu irmão, Santo Winebaldo, dirigia os monges, e sua irmã, Santa Walburga, as monjas. Este monastério foi o centro a partir do qual organizou e conduziu o cuidado e evangelização da diocese. Nele, Santo Willebaldo encontrou refúgio para descansar do trabalho de seu ministério. Seu desejo de solidão, porém, não diminuía seu zelo pastoral por seu rebanho. Estava sempre atento a todas as necessidades espirituais de seus filhos e, freqüentemente, visitava cada uma das aldeias e, incansavelmente, instruía o seu povo com zelo e caridade, fazendo florescer naquele “campo tão árido e inculto, uma verdadeira vinha do Senhor”. Willebaldo viveu mais tempo do que seu irmão e sua irmã; governou seu rebanho durante cerca de quarenta e cinco anos, antes que Deus o chamasse para seu seio. Inúmeros milagres foram os prêmios por suas virtudes, e seu corpo foi sepultado em sua catedral, onde ainda hoje permanece.

Santa Kaliopi viveu no século III, no tempo do Imperador Décio. De notável beleza física, distinguiu-se, no entanto, pela beleza de sua alma. Muitos homens, deslumbrados por sua beleza, tentaram, em vão, se casar com ela. Sua alma e todo o seu esforço foram dedicados ao cuidado e assistência aos mais fracos e pobres. Quando teve início a perseguição aos cristãos por Décio, prenderam também a Santa e levaram-na à presença do imperador. Este, muito impressionado por sua beleza, buscou, de diversas maneiras, introduzi-la na idolatria. A Santa, porém, inamovível em sua posição e com a fé inabalável em Cristo, rejeitou toda e qualquer proposta. Assim, o imperador ordenou que a açoitassem e, depois de submetê-la a várias formas de torturas, foi enfim decapitada.


Santa Melânia, a Romana (†410)

Melania (a avó de Melania, a jovem) foi uma patriota, casada com Valério Máximo, prefeito de Roma no ano de 362. Aos 22 anos de idade ficou viúva e mudou-se para a Palestina, deixando seu filho Publicola aos cuidados de tutores. Na Palestina, fundou um monastério em Jerusalém com 50 moças que se consagraram ao serviço de Deus. No monastério, Melania se entregou a uma vida austera, de orações e de caridade. Tempos depois seu filho Publicola chegou a ocupar um posto no senado romano e se casou com Albina, uma cristã, filha de Albino, um sacerdote pagão. Do casamento de Albina com o filho de Melânia, Senador Publicola, nasceu Melania, a jovem, criada e educada na fé cristã por sua mãe, na luxuosa residência do senador Publicola, cristão também, mas demasiado ambicioso para ocupar-se de sua fé. Desejando ter um herdeiro varão a quem pudesse deixar toda a sua fortuna e para que perpetuasse o aristocrático nome de sua família, Publicola prometeu sua filha, a jovem Melania, em casamento a Valério Piniano, um parente seu que era filho de Valério Severo. A jovem Melania, porém, desejava conservar sua virgindade para consagrar-se por inteiro a Deus. Quando seus pais souberam desse desejo de Melania, se opuseram veementemente e trataram de apressar seu casamento. Assim, no ano de 397, quando Melania, a jovem, acabava de completar 14 anos de idade, casou-se com Piniano que, então, tinha 17 anos. A jovem, casada contra sua vontade e descontente com o ambiente licencioso e libertino que reinava em torno de si, suplicou ao seu marido que levasse uma vida de completa continência. Porém, Piniano não aceitou seu pedido e, tempos depois, veio ao mundo seu primeiro filho: uma menina que morreu depois de um ano de idade.

Mesmo tendo já passado algum tempo, o desejo de Melania de consagrar-se inteiramente a Deus não tinha mudado e, corajosamente, pediu para se desincumbir de seu casamento. Seu pai então tomou medidas severas, proibindo os contatos de pessoas religiosas com a filha, para evitar que fomentassem nela o desejo de afastar-se da vida social luxuosa que sua filha desfrutava. Nas vésperas da festa de São Lourenço do ano 399, o senador proibiu que sua filha fosse a Basílica, pois estava grávida. Mesmo assim, Melania permaneceu durante toda a noite em oração, ajoelhada em seu quarto. Pela manhã, assistiu a missa na Igreja de São Lourenço e ao regressar para a sua casa, com grandes dificuldades deu à luz a um menino prematuro que veio a falecer no dia seguinte. Melania esteve durante muito tempo entre a vida e a morte. Seu esposo Piniano, que a amava sinceramente, fez um juramento: se ela se salvasse, deixaria em absoluta liberdade para servir a Deus, assim como sempre quis. Pouco depois, Melancia curou-se e seu marido cumpriu então a promessa. No entanto, seu pai Publicola se opunha a isso. Melania viveu ainda mais 5 anos naquela condição de casada, que tanto lhe desagradava. Publicola caiu gravemente enfermo e, antes de entrar na agonia da morte, deixou todos os seus bens a sua filha Melania, não sem antes pedir-lhe perdão por ter se oposto à vocação celestial de sua filha. Albina, a mãe de Melania, a jovem, e Piniano, seu marido, não apenas aceitaram a nova vida de Melania, como a ajudaram. Os três abandonaram Roma e foram morar em uma casa de campo, longe da cidade. Piniano não estava plenamente convertido e durante muito tempo insistiu em vestir os ricos trajes que estava acostumado em Roma.

O hagiógrafo da santa deixou um relato comovente sobre os métodos empregados por Melania para convencer seu marido a renunciar ao luxo e adotar um vida mais modesta, e para que usasse roupas mais simples, confeccionadas por ela mesma. A família tinha levado consigo numerosos escravos que eram bem tratados. Em pouco tempo, muitas jovens, viúvas e outras 30 famílias estabeleceram-se ao redor da casa de campo de Melania, formando assim um pequeno povoado. A vila chegou a ser um centro de hospitalidade, de caridade e de vida religiosa. Melania era muito rica e seus terrenos estendiam-se a todos os pontos do império romano, mas sentia-se oprimida pela quantidade de bens terrenos. Sabia que abundância de posses fazia falta ao seus vizinhos pobres, famintos e desnudos.Estava certa de que “quando um rico dá esmola a algum pobre, na verdade está lhe pagando uma dívida” (Santo Ambrósio). Solicitou então, e obteve o consentimento de Piniano para vender algumas de suas propriedades e distribuir o dinheiro aos necessitados. Ao saber disso, os parentes a quem muito tempo não a viam, trataram de aproveitar-se daquela situação. Por exemplo, Severo, o irmão de Piniano subornou por algumas moedas alguns colonos e escravos que moravam em terrenos de Piniano, para que no momento da venda das terras se rebelassem e não reconhecessem outro senhor que não o próprio Severo. Foram tantas as dificuldades que surgiram que houve a necessidade de fazer uma apelação ao imperador Honório para que restabelecesse a ordem. Santa Melania, vestida de maneira muito simples, com uma túnica de lã e um véu na cabeça, apresentou-se a Serena, sogra do imperador, pedindo para que ela intercedesse por eles junto a Honório. Serena muito impressionada com a atitude e as palavras de Melania pediu ao imperador que a venda das terras fossem tuteladas pelo Estado, assegurando que todos os procedimento fossem legais e a distribuição do dinheiro fosse feita justamente aos pobres, aos enfermos, aos cativos, aos peregrinos, às igrejas e monastérios.

No ano 406, Melânia com seu esposo e mais algumas pessoas, passaram uma temporada com São Paulino, na cidade de Nora, no campo. São Paulino desejava que Melania e seu esposo fossem seus “hóspedes para sempre”. Chamava Melania de “pequena bendida” e “alegria dos céus”. Porém, o casal regressou a sua vila, próxima de Roma, num momento inoportuno. Mal tinham chegado à vila, tiveram que abandoná-la por causa da invasão dos godos. Refugiaram-se em outra propriedade, em Mesina onde conviveram com Rufino. Depois de quase dois anos, os godos chegaram a Calábria e incendiaram a cidade de Reggio. Melania e o esposo optaram por refugiar-se em Cartago. Morando em Cartago, se dispunham de vez em quando visitar Paulino, para consolá-lo de suas atribulações por causa da invasão. Certa vez, indo visitá-lo, uma tormenta desviou a rota do navio que atracou numa ilha, provavelmente em Lipari, repleta de piratas. Para salvar-se da prisão e evitar sua morte e de seus tripulantes, Santa Melania pagou uma boa soma em moedas pelo resgate. Depois daquela aventura, o casal se instalou na cidade de Tegaste, na Numidia, causando boa impressão entre os moradores da cidade. Certa vez Piniano, ao visitar Santo Agostinho de Hipona (que os chamou de “verdadeiras luzes da Igreja”) formou-se um burburinho porque as pessoas queriam que Piniano fosse ordenado sacerdote para exercer entre eles o seu ministério. Para acalmar as pessoas Piniano prometeu que, se algum dia fosse ordenado sacerdote, iria exercer seu ministério em Hipona. Na África, Santa Melania fundou e adotou dois novos monastérios: um masculino e outro feminino. Neles recebeu especialmente as pessoas que tinham sido seus escravos. A própria Melania vivia no monastério feminino e se sobressaia entre todas por causa de sua vida austera: alimentava-se somente a cada três dias e se ocupava em copiar livros em grego e em latim. Quinhentos anos depois, seus manuscritos circulavam ainda em vários lugares. No ano 417, em companhia de sua mãe e de seu esposo partiu da África para Jerusalém, hospedando-se numa pousada para peregrinos, próximo do Santo Sepulcro. Dali formou uma expedição com Piniano para visitar os monges do Egito. Ao voltarem, fortalecidos pelos exemplos daqueles anacoretas, Melania decidiu isolar-se fora dos muros de Jerusalém, numa vida de oração e contemplação. Sua prima Paula, sobrinha de Santa Eustáquia, foi uma dia visitá-la. Paula apresentou a Melania, em Belém, um grupo cujo formador era São Jerônimo e foi recebida com beneplácito. Conta-se que a primeira vez que se encontrou com São Jerônimo, aproximou-se dele com gestos humildes e respeitosos, ajoelhando-se diante dele para pedir a bênção.

Depois de 14 anos morando na Palestina, morreu Albina (sua mãe) e no ano seguinte Piniano (seu esposo). Melania sepultou os dois lado a lado no Monte das Oliveiras; construindo ali uma pequena cela monástica que, mais tarde, se tornou um grande convento de virgens consagradas, dirigido dor Santa Melania.

Mostrou-se sempre preocupada com o bem estar e a saúde de sua congregação. Quatro anos depois da morte de seu marido, Santa Melania teve noticias de um seu tio materno chamado Volusiano que ainda era pagão e que morava em Constantinopla dirigindo uma embaixada. Decidiu então ir pessoalmente tentar convertê-lo, pois já era um ancião. Assim, viajou a Constantinopla com seu capelão e biógrafo Gerôncio a tempo de converter seu tio antes de sua morte, que aconteceu em seus braços, após o batismo. Diz-se que a vontade de Melania em converter seu tio ancião era tanta que, se fosse preciso, ela apelaria para o imperador Teodósio para intervir no assunto. Porém seu tio Volusiano disse a sua sobrinha: “não deves forçar a boa e livre vontade que Deus te deu. Estou pronto e ansioso para limpar as inumeráveis manchas de minha alma. E faço isso não por mandato do imperador, pois se assim fosse, seria por obrigação e não por mérito e vontade.”

Na véspera da Natividade de 439, Santa Melania estava em Belém, e depois da Missa da manhã, disse à Paula que sua morte estava próxima. No dia de Santo Estevão, assistiu a missa em sua basílica e, depois, estando já no convento, leu junto com suas irmãs o relato de seu martírio, no Novo Testamento. Ao terminar a leitura, todas se aproximaram de Melania para desejar-lhe felicidades, e ela respondeu: “O mesmo eu desejo para vós, porém, não escutareis outra vez mais de minha boca esta leitura”. Naquele mesmo dia, fez uma última visita a alguns monges e, já na volta, encontrava-se muito enfraquecida. Reuniu todas as irmãs e pediu que por ela orassem “porque já iria para o Senhor”. Falou brevemente que, “se alguma vez havia falado palavras severas, só o havia feito por amor” e concluiu dizendo: “bem sabe Deus que não valho nada e não me atrevo a me comparar com uma boa mulher e nem com as que vivem sobre a terra. Porém, o inimigo, no juízo final, não poderá me acusar de nenhum dia ter-me deitado com rancor em meu coração. No domingo seguinte, bem cedo, quando o sacerdote celebrava a missa, com a voz entrecortada pelos soluços, Melania pediu que ele pronunciasse melhor as palavras rituais, pois ela não podia ouvir direito. Recebeu durante todo aquele dia muitas visitas, até que disse: “Agora, deixem-me descansar em paz”. Na hora nona, ao cair da tarde, repetindo as palavras de Jó, “como o Senhor quer, que assim seja”, morreu tranquilamente. Tinha então 56 anos de idade.

São Nicodemos de Monte Athos, em seus escritos de histórias de santos, refere-se a São Cirilo, Arcebispo de Alexandria, nascido no ano 370 em Alexandria. Sobrinho do Arcebispo Teófilo, Cirilo recebeu uma profunda educação teológica, tornando-se o sucessor no arcebispado. Na época do Terceiro Concílio Ecumênico, no ano 431, em Éfeso, São Cirilo foi eleito presidente da mesmo. Neste Concílio foi condenada a heresia de Nestório sobre a pessoa da Mãe de Deus e sempre Virgem Maria. Foram muitos os êxitos intelectuais em seu trabalho. O santo entregou seu espírito em paz ao Senhor no dia 27 de junho do ano 444, estando então há 32 anos no trono patriarcal.

II

São Cirilo nasceu em 370, no Egito, e durante muitos anos foi o firme condutor da Igreja do Egito. Lutou pela ortodoxia da doutrina católica e presidiu o Concílio de Éfeso que definiu a maternidade de Maria, derrotando seu adversário Nestório que colocava em discussão a maternidade divina de Nossa Senhora. Durante o Concílio pronunciou o célebre «Sermão em louvor à Mãe de Deus» que marca o início do florescimento dos hinos em honra à Virgem Maria. A coragem e a persistência com a qual defendia a verdade católica deram a santidade a este bispo de Alexandria: «Nós – dizia – pela fé em Cristo, estamos prontos a sofrer tudo – algemas, cárcere, a própria morte». São Cirilo morreu em 444.

Esta virgem cristã, Santa Antonina, foi a estrela luminosa da cidade de cardamom. Toda a sua vida foi caracterizada por sua fé e por sua esperança posta em Deus, Nosso Senhor. Ocupava-se do cuidado aos órfãos, e isso chegou aos ouvidos do governador que ordenou sua prisão e que fosse submetida a interrogatório. Sem hesitações, Antonina admitiu ser cristã . O governador, vendo que não conseguia fazer com que mudasse sua posição, mandou que lhe tirassem as roupas e, nua, foi aprisionada num calabouço, cheio de mulheres corruptas. Antonina começou então imediatamente a rezar; houve um terrível terremoto e o pânico foi tal que as próprias mulheres prisioneiras a expulsaram de junto delas. Tendo sido informado do fato, o governador ordenou que fosse transferida para uma outra cela. Lá, um piedoso cristão, chamado Alexandros, entrando na cela e, compadecendo-se dela a revestiu com suas próprias roupas. O governador, sabendo disto, mandou que seus corpos fossem untados com óleo e queimados. Juntos, Alexandros e Antonina entregaram seus espíritos a Deus, tornando-se assim, exemplos de fé e pureza.

Ninguém te despreze por seres jovem.
Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis,
no modo de falar e de viver,
na caridade, na fé, na castidade. [1Tim 4,12]

O Santo Apóstolo Bartolomeu foi um dos doze apóstolos de Jesus. Após o Pentecostes, tendo recebido, junto com os demais, o Espírito Santo, que desceu sobre eles em forma de línguas de fogo quando se encontravam reunidos no cenáculo com Maria, São Bartolomeu seguiu com o apóstolo Felipe para pregar o Evangelho na Síria e Ásia Menor. Os dois partiram dali, primeiro pregando juntos, depois, se separando, enquanto visitavam várias cidades individualmente. Mais tarde, outra vez juntos, levaram a muita gente a salvação pela fé em Jesus Cristo. Na Ásia Menor, o apóstolo Felipe se separou mais uma vez de Bartolomeu por algum tempo, levando à conversão os ferozes e selvagens habitantes de Lidia e Misia. Enquanto isso, São Bartolomeu, que anunciava o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo nas cidades dos arredores, recebeu um mandato do Senhor para que fosse ao encontro de Felipe para ajudá-lo. Juntos, mais uma vez, São Bartolomeu desempenhou, com muito esforço, suas tarefas apostólicas, em unidade de pensamento e ação com Felipe.

Felipe foi seguido por sua irmã, a virgem Mariamna, e todos trabalhavam juntos pela salvação das almas. Durante a passagem por Lidia e Misia, ao difundir as boas novas da Palavra de Deus, sofreram todo o tipo de perseguição, suportaram muitas provações, açoites e tribulações nas mãos dos infiéis. Apesar de tudo isso, porém, seguiram adiante com a tarefa de anunciar o Evangelho e difundir a fé cristã por onde passavam. Numa das aldeias de Lidia encontraram-se com São João, o Teólogo, o Discípulo amado de Cristo, e em sua companhia viajaram par a terra de Frígia. Ao entrar na cidade de Hierápolis, começaram desde logo a anunciar o Evangelho de Cristo. Por esta época, a cidade se encontrava repleta de ídolos que eram adorados por todos os seus habitantes. Entre estas falsas divindades, havia uma víbora para a qual tinham edificado um templo especial. Ali se ofereciam alimentos e outros tantos e variados sacrifícios. Esta gente adorava, igualmente, outras serpentes e víboras. São Felipe e sua irmã se protegeram a si mesmos com orações contra os ataques das víboras, e foram ajudados por São Bartolomeu e São João, o Teólogo que ainda estava com eles neste momento. Todos juntos venceram a serpente com orações poderosas, quais lanças, e com o poder de Cristo as mataram. Depois disso, São João, o Teólogo, separou-se deles deixando-lhes em Hierápolis para que ali anunciassem a Palavra de Deus. Ele seguiu para outras cidades para difundir as jubilosas boas novas do Evangelho de Cristo. Felipe, Bartolomeu e Mariamna permaneceram em Hierápolis, esforçando-se com muito empenho, para expulsar a obscuridade da idolatria, e para que a luz do conhecimento da verdade pudesse brilhar entre os desviados. Dedicaram-se, dia e noite, a este trabalho, ensinando a Palavra de Deus aos incrédulos, instigando aos fracos e encaminhando aos errantes pelo caminho da verdade.

Nesta cidade, havia um homem de nome Eustáquio, cego há quarenta anos. Os santos apóstolos, valendo-se do poder da oração, recobraram luz aos seus olhos físicos e, pregando a Cristo, iluminaram também a cegueira espiritual da que era vítima. Depois de batizar Eustáquio, os santos permaneceram por alguns dias em sua casa. A notícia da recuperação da visão ao cego se espalhou logo pela cidade, uma grande multidão acorreu para junto da casa onde estavam. Os santos apóstolos ensinavam a todos que chegavam a boa-nova de Jesus Cristo, conduzindo-os à fé. Muitos enfermos foram levados aos apóstolos e foram curados pela oração e os demônios foram expulsos de tal modo que uma inumerável multidão aderiu à fé, se fazendo batizar.

A esposa do governador desta cidade, um homem chamado Nicanor, tinha sido mordida por uma serpente e se encontrava enferma, já à beira da morte. Sabendo que os santos apóstolos estavam hospedados na casa de Eustáquio, e que curavam toda espécie de males somente com a palavra, na ausência de seu marido, pediu aos seus servos que a levassem aos encontro dos santos. Ali, recebeu uma dupla cura: a do corpo, atingido pela mordida da serpente; e a do espírito, libertando-se do engano demoníaco ao acolher os ensinamentos dos santos apóstolos e crer em Cristo.

No seu retorno, o governador foi informado por seus escravos que a sua mulher havia recebido ensinamentos sobre a fé em Cristo de alguns estrangeiros que estavam hospedados na casa de Eustáquio. Furioso, Nicanor mandou que fossem trazidos à sua presença os santos

apóstolos e que a casa de Eustáquio fosse queimada. Reuniu depois uma grande multidão de pessoas e, à vista de todos, os três santos, Bartolomeu, Felipe e sua irmã Mariamna, foram arrastados pela cidade, sendo por todos ridicularizados e esbofeteados e, finalmente, colocados na prisão. O governador, então, tomou seu lugar no tribunal da cidade para presidir o julgamento daqueles que pregavam os ensinamentos de Cristo. Apresentaram-se todos os sacerdotes dos ídolos e da serpente que havia sido morta, e expuseram suas queixas contra

os santos apóstolos, dizendo: -“Ó senhor, com estes estrangeiros veio a desonra para nossos deuses, porque desde que apareceram em nossa cidade, os altares de nossos grandes deuses foram esquecidos, e as pessoas já não se lembram de oferecer-lhes seus sacrifícios como de costume. Nossa grande deusa, a serpente, foi morta, e a cidade inteira está cheia de iniqüidades, Portanto, morte aos feiticeiros!

O governador ordenou então que Felipe fosse despojado de suas vestes, desconfiado que escondesse por debaixo delas seus mágicos poderes de encanto. Nada encontraram. O mesmo fizeram com Bartolomeu, porém, tampouco encontraram alguma coisa. Quando se aproximaram de Mariamna para fazer o mesmo, despir-lhe de suas vestes deixando seu corpo virginal descoberto, ela se transformou diante de todos, repentinamente, numa chama ardente, pondo em fuga apavorados os ímpios. Os santos apóstolos foram condenados pelo governador à crucifixão. O primeiro foi São Felipe; perfuraram-lhe os orifícios entre os ossos do tornozelo por onde passaram cordas, crucificando-o com a cabeça para baixo diante do portal do templo da serpente. Enquanto estava suspenso à cruz, atiravam-lhe pedras. Depois foi a vez do santo Apóstolo Bartolomeu, que foi crucifixado na parede do templo. De repente, um terremoto sacudiu violentamente a terra que se abriu engolindo o governador, os sacerdotes idólatras e um grande número de infiéis. Os que sobreviveram, crentes e pagãos, cheios de temor rogavam aos santos que tivesse piedade deles e suplicasse ao verdadeiro Deus para não permitir que a terra também lhes tragasse. Rapidamente, começaram a retirar da cruz os apóstolos. São Bartolomeu estava crucificado não muito acima do solo e, por isso, pode ser retirado mais depressa. Felipe, porém, estava suspenso muito acima e não pode ser retirado. Era, pois, da vontade de Deus que seu apóstolo, depois dos tormentos, sofrimentos e morte na cruz, passasse da terra ao céu para onde ele mesmo havia dirigido seus passos durante toda a sua vida. Assim, São Felipe orou a Deus por seus inimigos, para que seus pecados fossem perdoados e suas mentes fossem iluminadas para aprenderem o conhecimento da verdade. O Senhor atendeu seu pedido e, imediatamente, a terra trouxe de volta e com vida, as vítimas que haviam sido tragadas, com exceção do governador e dos sacerdotes da serpente. Todos então confessaram e glorificaram em alta voz o poder de Cristo, expressando o desejo de serem batizados. Quando se apressavam para retirar Felipe da Cruz, perceberam que este já havia entregue à Deus a sua alma, e desceram seu corpo já desfalecido. Mariamna, sua irmã, que havia, durante todo tempo, presenciado os sofrimentos de irmão Felipe, abraçou-o, beijando com amor o seu corpo, alegrando-se por ele ter sido honrado em sofrer por amor a Cristo.

São Bartolomeu batizou aos que aderiram ao Senhor, pela fé, e consagrou bispo a Eustáquio. Os cristãos recém convertidos sepultaram, com grande honra, o corpo do santo apóstolo Felipe. No lugar onde o sangue do apóstolo foi derramado cresceu, em três dias, uma videira como sinal de que Felipe estava junto do Senhor, pelo sangue derramado em nome de Cristo. Depois que o corpo de São Felipe foi sepultado, São Bartolomeu e a bem-aventurada virgem Mariamna, permaneceram em Hierápolis por alguns dias mais para consolidar a fé em Cristo da igreja recém formada, separando-se mais tarde. Santa Mariamna foi a Licaonia onde, depois de anunciar triunfalmente a palavra de Deus, repousou no Senhor (comemoração em 7 de fevereiro). São Bartolomeu ainda esteve na Índia onde passou muito tempo trabalhando na pregação do evangelho de Jesus Cristo e, pelas cidades e aldeias por onde passava, curava os doentes e iluminava com sua fé aos pagãos que encontrava. Depois de estabelecer muitas igrejas, traduziu o Evangelho Segundo São Mateus que trazia consigo, para a língua local. Também deixou um Evangelho escrito em hebraico que, um século mais tarde, foi levado para Alexandria pelo filósofo cristão Panteno.

Da Índia, São Bartolomeu foi para Armênia Maior. Ao chegar neste lugar, os ídolos, ou melhor, os demônios que os habitavam, calaram-se, lamentando com suas últimas palavras, a presença atormentadora de Bartolomeu e que muito logo lhes expulsaria. Na realidade, os espíritos imundos foram expulsos, não só dos ídolos, mas também daquelas pessoas, só com a aproximação do apóstolo e, por isso, muitos se converteram a Cristo.

Polimio, o rei desta terra, tinha uma filha que estava possuída pelo demônio que exclamava através de seus lábios: “Bartolomeu, também nos expulsarás deste lugar?” O rei, ao ouvir isto, ordenou que Bartolomeu fosse trazido imediatamente à sua casa. Estando já o apóstolo ao lado da jovem possuída, o demônio fugiu naquele instante, deixando livre e curada a filha do rei. Este, desejando demonstrar sua gratidão para com o santo, enviou-lhe camelos carregados de ouro, prata e pedras preciosas raras. O apóstolo, em sua grande humildade, nada conservou do que havia recebido. Devolvendo tudo ao rei, disse: “Eu não busco estas coisas, mas as almas dos homens, para lhes mostrar e conduzi-las à mansão celestial e, assim, me tornar um grande mercador aos olhos do Senhor.” O rei Polimio, impactado com estas palavras e a atitude do apóstolo, passou a crer em Cristo juntamente com toda a sua família, recebendo, ele, a rainha e a filha curada, o batismo pelas mãos do santo apóstolo. O mesmo aconteceu com um grande número de nobres de sua corte e outras pessoas deste lugar e de todos os outros lugares do reino, seguindo o exemplo do seu rei.

Ao ver o que estava acontecendo, os sacerdotes idólatras ficaram encolerizados contra Bartolomeu, lamentando pela destruição de seus cultos e divindades, a queda da idolatria e o abandono dos templos de onde obtinham seus lucros. Convenceram então o irmão do rei, Astiago, a vingar-se pelas “ofensas” praticadas contras as suas divindades. Astiago, esperando o momento oportuno, apresentou o santo apóstolo na cidade de Albano e o fez crucificar com a cabeça para baixo. O santo apóstolo, por amor a Cristo, padeceu suspenso na cruz sem, no entanto, deixar de proclamar a Palavra de Deus. Com coragem e determinação, firmou seus fiéis na fé, exortando aos descrentes a conhecerem a verdade e a abandonar a obscuridade dos ídolos e dos demônios em direção à luz de Cristo. O tirano se recusou a dar ouvidos às suas palavras e, em vez disso, ordenou que fosse esfolado vivo. O santo, porém, suportando tudo com grande paciência, não se calou, mas seguiu ensinando e glorificando a Deus. Por último, o tirano ordenou que lhes arrancassem a cabeça e que fosse escalpelado. Só então seus lábios se aquietaram, ainda que seu corpo, ao ter sua cabeça retirada, permaneceu fixado à cruz com as pernas para o alto, dando a impressão de estar a caminho do Alto.

Assim chegou ao final de sua vida terrena o apóstolo de Cristo, Bartolomeu, sofrendo as mais terríveis dores, para a maior glória do Senhor (por volta do ano 90 d.C.). Os fiéis que estavam presentes no momento de seu adormecimento em Cristo, retiraram seu corpo da cruz, juntando sua cabeça e pele e colocando tudo em um caixão e procederam o sepultamento que se deu na cidade de Albano (atual Baku) na Armênia Maior. Através de suas relíquias, os enfermos receberam curas milagrosas, razão pela qual, muitos descrentes foram convertidos para a Igreja Cristã.

Entre os muitos eremitas que viveram nos desertos do Egito durante os séculos 4º e 5º, havia um santo varão chamado Onofre. O pouco que se sabe dele vem de um relato atribuído a certo abade Pafnucio, sobre as visitas que fez aos eremitas de Tebaida. Ao que parece, vários dos ascetas que conheceram Pafnucio lhe pediram que escrevesse sobre essa relação, tendo circulado várias versões, sem que por isso a essência da história fosse desvirtuada. Pafnucio empreendeu a peregrinação com o objetivo de estudar a vida eremítica e descobrir se ele mesmo sentia verdadeira inclinação para ela. Com esse propósito, deixou seu monastério e, durante 16 dias, andou pelo deserto, tendo alguns encontros edificantes e algumas aventuras estranhas. No 17º dia, porém, ficou assombrado ao avistar-se com uma criatura que, a primeira vista, pensou ser um animal. “Era uma homem ancião, com os cabelos e as barbas tão longas que tocavam o chão. Tinha o corpo coberto por um pelo espesso como a pele de uma fera, e de seus ombros pendia um manto de folhas”…

A aparição de semelhante criatura foi tão assustadora que Pafnucio se bateu em fuga. No entanto, a estranha criatura o chamou, pedindo para que parasse, assegurando-lhe que era mesmo um homem e um servo de Deus. Um pouco receoso, a princípio, Pafnucio se aproximou do desconhecido e, logo os dois se viram envolvidos numa conversação, e Pafnucio descobriu que aquele estranho se chamava Onofre, que tinha sido um monge num monastério onde viveu com muitos outros irmãos e que, seguindo sua inclinação para à vida solitária se retirou para o deserto onde já estava há setenta anos. Em resposta às perguntas de Pafnucio o eremitão admitiu que, em várias ocasiões, tinha padecido de fome e sede, dos rigores do clima e da violência das tentações, mas Deus também lhe havia dado consolos inumeráveis e lhe havia alimentado através de uma palmeira que crescia perto de sua cela. Mais adiante, Onofre conduziu o peregrino até a sua cova (caverna) onde morava e ali passaram o resto do dia em amistosas conversas sobre as coisas santas. De repente, ao cair da tarde, apareceu diante deles uma torta de pão e uma jarra de água e, depois de compartilhar a comida, ambos se sentiram extraordinariamente reconfortados. Durante toda aquela noite Onofre e Pafnucio oraram juntos. No dia seguinte, ao despontar o sol, Pafnucio, alarmado, percebeu que se havia operado uma mudança no eremitão, que estva notavelmente prestes a morrer. Aproximado-se de Onofre para ajudá-lo, este começou a falar: “Nada temas, irmão Pafnucio, o Senhor, em sua infinita misericórdia, te enviou aqui para que me sepultasses”. O visitante sugeriu ao eremita agonizante que ele mesmo ocuparia a sua caverna quando ele partisse. Onofre reagiu, porém, dizendo que isso não era da vontade de Deus. Instantes depois suplicou que lhe encomendassem a alma e também às orações dis fiéis, por quem prometia interceder e, abençoando Pafnucio, se deixou cair por terra entregando a Deus o seu espírito. O visitante lhe preparou uma mortalha com a metade de sua túnica, depositou o corpo no côncavo de uma rocha, cobrindo-o com pedras. Logo que terminou sua tarefa, viu desmoronar diante de si a caverna onde o santo tinha vivido, e desaparecer a palmeira que lhe havia alimentado. Pafnucio compreendeu assim que não devia permanecer por mais tempo naquele lugar e, de pronto, partiu de de retorno.

Nos primórdios do Cristianismo, os fiéis do Oriente professavam grande veneração à Santa Aquilina, e seu nome aparece em quase todos os martirológios. São José, o Hinógrafo, compôs um ofício especial em sua honra com um hino em acróstico, isto é, a primeira letra de cada verso, na sucessão vertical, presta um louvor à santa, que o autor chama a sua mãe espiritual. Aquilina era natural de Byblosa, Fenicia, filha de pais cristãos e batizada por Eutálio, bispo daquela diocese. Quando estava com doze anos, teve início a perseguição de Diocleciano, e a menina foi detida e levada perante o juiz Volusiano. Tendo confessado abertamente a sua fé, e quando todas as ameaças resultaram inúteis diante da postura firme e fé inquebrantável da santa, foi esbofeteada pelos soldados, açoitada com chicotes e, por fim, decapitada. A cabeça e o corpo da pequena mártir foram jogados nos campos, longe da cidade.

Diz a tradição que um anjo apareceu e, juntou o corpo à cabeça de Aquilina, devolveu-lhe à vida. No dia seguinte, retornando à cidade, Aquilina se apresentou diante do juiz Volusiano. Este, ao ver a sua vítima viva diante de si, ficou paralisado e mudo de assombro, porém, tão logo se recompôs, ordenou que a menina fosse novamente levada à prisão e decapitada. No dia seguinte, porém, quando os soldados entraram na cela para executar a sentença, encontraram Aquilina morta. O juiz insistiu para que sua ordem fosse levado a cabo. Os soldados executaram então a terrível sentença, decapitando pela segunda vez a menina e,em vez de sangue, do corte brotou leite.

Os gregos professam uma grande devoção a São Metódio, Patriarca de Constantinopla, devido ao importante papel que desempenhou na luta contra os iconoclastas, por sua decisiva contribuição para a sua derrota final, bem como pela sua resistência heróica diante das perseguições que sofreu e, portanto, é honrado com os títulos do “Confessor” e “o Grande”. Metódio, que era natural de Sicília, em Siracusa, sua cidade natal, recebeu uma excelente educação e transferiu-se para Constantinopla com objetivo de obter um posto na corte. Lá, porém, ele conheceu um monge por quem passou a ter um grande afeto e, movido por seu aconselhamento espiritual, decidiu deixar o mundo e entrar para a vida religiosa.

Construiu, mais tarde, um monastério na ilha de Kios, e quando apenas começava a formar a sua comunidade, foi chamado à Constantinopla pelo então Patriarca Nicéforo. Em 815, durante a segunda fase das perseguições iconoclastas, sob o reinado de Leão o Armênio, adotou uma atitude bastante firme e corajosa em defesa da veneração às imagens sagradas. Imediatamente após a deposição e exílio de São Nicéforo, Metódio partiu para Roma, provavelmente com a missão de informar ao Papa São Pascoal I, sobre a situação em Constantinopla, permanecendo por lá até a morte do Rei Leão V de Constantinopla.

Acalentava-se grande esperança de que o seu sucessor, Miguel, o Tartamudo, fosse ficar favorável aos cristãos e, em 821, São Metódio retornou à Constantinopla com uma carta do Papa São Pascoal ao imperador, na qual solicitava a reposição de São Nicéforo ao trono de Constantinopla. Entretanto, logo que Miguel Tartamudo leu a carta, encheu-se de cólera, acusando Metódio de agitador profissional e de tentar criar sedição, ordenando que fosse banido, após receber uma grande surra. Alega-se que, em vez de baní-lo, foi aprisionado por sete anos numa espécie de túmulo ou mausoléu, juntamente com outros dois ladrões. Um deles morreu logo, mas o santo e seu outro companheiro de infortúnio foram abandonados em sua estreita prisão até que se cumprisse toda a sentença.

Metódio, ao ser libertado, estava como um esqueleto, mantendo apenas um sopro de vida e, mesmo assim, conservava íntegro o seu espírito. Num curto espaço de tempo, já se encontrava plenamente restabelecido. Teve início, então, uma nova perseguição, patrocinada, desta vez, pelo imperador Teófilo. Metódio foi levado à sua presença e frontalmente acusado de novo de ter se envolvido em atividades subversivas no passado e de ter incitado o papa a escrever a famosa carta. O santo respondeu firmemente que tudo era falso, aproveitando a oportunidade para expressar as suas opiniões sobre o culto às imagens com estas palavras:

“Se uma imagem tem tão pouco valor aos vossos olhos, e se renegais e condenais as imagens de Cristo, por que, do mesmo modo, não condenais também a veneração às vossas próprias representações? Ao contrário, longe de condenar o culto às vossas imagens, multiplicais continuamente!”

Com a morte do imperador, em 842, sucedeu-o no trono a sua viúva, Theodora como regente de seu pequeno filho Miguel III. A Imperatriz se declarou favorável à veneração das imagens sagradas, tornando-se sua protetora. Durante um período de 30 anos, portanto, cessaram as perseguições, e os clérigos exilados puderam retornar, as imagens sagradas foram restituídas às igrejas de Constantinopla, e grande foi a alegria entre todos. João, o Gramático, iconoclasta declarado, foi deposto do trono, e São Metódio foi restabelecido em sua cátedra de Constantinopla.

Entre os principais acontecimentos que marcaram o Patriarcado de São Metódio, destaca-se a realização de um Sínodo em Constantinopla, que ratificou os cânones promulgados pelo Concílio de Nicéia sobre os ícones; a instituição de uma festa da Ortodoxia denominada o “Triunfo da Ortodoxia”, que até os dias atuais é celebrada no primeiro domingo da Grande Quaresma; e o traslado das relíquias de seu predecessor, São Nicéforo, para Constantinopla. Além disso, este período de reconciliação ficou marcado por uma forte disputa entre os monges estuditas, que antes haviam sido os mais fervorosos apoiadores de São Metódio. Ao que parece, a causa destas desavenças teria sido a condenação de certos escritos de São Teodoro, o Estudita, pelo Patriarca.

Após quatro anos no Trono Patriarcal de Constantinopla, São Metódio morreu, vítima de hidropesía, em 14 de junho de 847. O santo foi um escritor bastante profícuo. Mas, lamentavelmente, das muitas obras de poesia, teologia e controvérsias que lhe são atribuídas, restaram apenas alguns fragmentos que, ainda assim, podem não ser autênticos. No entanto, nos tempos modernos, graças a certas provas manuscritas recentemente descobertas, as autoridades no assunto estão inclinadas a crer que São Metódio seja, de fato, autor de alguns escritos hagiográficos que ainda estão conservados, especialmente “A Vida de São Teófanes”.

Por volta do ano 310, o prefeito de Silícia, chamado Máximo, presidiu um tribunal no promontório de Zefirio. O primeiro dos presos que foi trazido à sua presença era um cristão muito conhecido na região, que havia sido detido por causa de sua fé. Quando solicitado a se apresentar e informar quem era, ele disse que se chamava Tatiano, apesar de que todos os seus conhecidos o chamavam Dulas, e por certo que era um dulos (servo), um verdadeiro servo de Cristo. Como se recusasse a adorar os deuses pagãos, um juiz ordenou que fosse espancado até que “voltasse à razão”. Enquanto era castigado, em voz alta louvava a Deus por lhe ter sido concedido o privilégio de confessar o santo nome de Cristo. Posteriormente, foi submetido a um rigoroso interrogatório durante o qual o santo manteve-se num elevado espírito de dignidade e integridade, e não hesitou em denunciar os deuses pagãos como pedaços de madeira e de pedras trabalhados por mãos do homem. “Atreves-te a dizer que o grande deus Apolo é uma obra das mãos humanas?” Perguntou-lhe gravemente o prefeito. Em resposta, Dulas citou, de forma irônica, o fracasso de Apolo na perseguição à bela Daphne, e perguntou como era possível que um ser tão sensual e licencioso e, além de tudo, impotente, pudesse ser considerado um deus?

Ante tal provocação o juiz, profundamente indignado, ordenou que fosse açoitado no ventre e, em seguida, assado sobre em um grill. Mas, nem mesmo aquelas horríveis torturas dobraram o confessor. No dia seguinte, quando novamente foi trazido ao tribunal, retomou as suas críticas aos deuses, e sua ousadia foi punida com novas formas de tortura: colocaram brasas sobre a sua cabeça e foi forçado a sugar pimenta através do nariz. Tendo depois se recusado a tocar na comida que tinham sido anteriormente oferecidas aos deuses, grandes porções lhe foram empurradas para dentro de sua boca, sendo forçado a engolir, de modo que quase se afogou. Logo depois foi pendurado pelos braços e teve sua carne rasgada com ganchos de aço. No dia seguinte, Máximo devia regressar a Tarso, e tinha dado ordens para que todos os prisioneiros cristãos seguissem r acorrentados a sua comitiva, mas Dulas, completamente esgotado pelos seus sofrimentos, caiu morto enquanto a caravana se pôs em marcha. Seu corpo foi jogado numa vala e, mais tarde, descoberto pelo cão de um pastor. Os cristãos o recolherem, dando-lhe uma digna e honrosa sepultura.

Tudo o que podemos dizer sobre São Tikón é que, numa época muito antiga, ocupou a sede episcopal de Amato, lugar onde está localizada agora a cidade de Limassol, em Chipre, e que durante séculos desfrutou de grande veneração pelos habitantes da ilha, a quem lhes chamam o “Milagroso”, e é considerado o padroeiro dos vinicultores. Dois são os pontos da sua vida que seus hagiógrafos destacam sempre: o primeiro, que era filho de um padeiro e, ainda menino, costumava distribuir entre os pobres o pão que seu pai mandava vender. Ao tomar conhecimento do fato, o padeiro ficou muito indignado, mas, ao abrir a porta de seu armazém onde mantinha sua farinha de trigo, ele encontrou, por um milagre, muito mais do que havia guardado, de modo a que as suas perdas foram amplamente recompensadas. O segundo ponto diz respeito ao tempo em que Tikón era bispo. Naquela época, possuía uma pequena vinha, mas não tinha as cepas para plantar.

Certo dia apanhou um ramo que outro vinicultor havia jogado fora, considerando que já estivesse seco, e plantou em sua terra. Enquanto plantava, voltou-se para Deus pedindo-lhe que concedesse quatro dons: que a seiva voltasse a circular naquele ramo seco; que aquele ramo produzisse abundantes frutos; que as uvas fossem doces; e que amadurecessem rapidamente.

E Deus lhe concedeu, tanto que, desde então, a vinha do bispo Tikón produziu muitos cachos de doces uvas e amadureciam muito antes que quaisquer outras vinhas da região. Por isso é que a festa deste santo é comemorada no dia 16 de junho com a bênção das vinhas, mas apenas na região de Limassol, já que, nas outras regiões de Chipre a colheita é feita somente algumas semanas depois.

No subúrbio de Calcedônia, conhecido como «La Encina», que deu seu nome ao infame pseudo-sínodo que condenou São João Crisóstomo, certo funcionário consular, de nome Rufino, construiu uma igreja dedicada a São Pedro e São Paulo e, junto dela, um monastério. A comunidade monástica que ali viveu e que da assistência à igreja, teve o seu período de prosperidade, mas a morte do fundador causou a dispersão dos monges ficando, tanto o monastério como a igreja, abandonados e, logo conhecidos popularmente como abrigo de fantasmas e almas penadas. Como ninguém se atrevesse a entrar lá, os edifícios permaneceram abandonados por muitos anos, até que um santo asceta chamado Hipácio e seus dois companheiros, Timóteo e Mosquion, decidissem ocupá-los, depois de uma viagem a Bithynia que fizeram em busca de um lugar onde pudessem viver retirados. Habitando aquelas ruínas, em pouco tempo começou a chegar os discípulos, reunindo muito rapidamente uma grande comunidade que empreendeu a recuperação da igreja e do monastério. Hipácio governou o monastério por muitos anos e, depois de sua morte, o local recebeu o seu nome.

A vida de Santo Hipácio chegou até nossos dias sob a forma de uma biografia escrita por Callinicos. Segundo o biógrafo, São Hipácio nasceu em Frigia, tendo sido educado por seu pai que pretendia que seu filho seguisse os seus passos. No entanto, Hipácio sempre se mostrou inclinado para a vida religiosa. Com dezoito anos de idade, depois de uma impiedosa surra que recebeu de seu pai, fugiu de casa indo para a Trácia. Lá trabalhou como pastor de ovelhas por um longo tempo. Um sacerdote que o ouviu cantar ficou impressionado com ele e passou a ensiná-lo os Salmos e Cânticos. Aconselhado por aquele sacerdote, ao que parece, Hipácio juntou-se a um solitário ex-soldado chamado Jonas, com quem viveu entregue a oração e a penitência tão rigorosa que, segundo se conta, algumas vezes os dois se abstinham de comer ou beber durante quarenta dias consecutivos.

Mais tarde, Jonas e Hipácio se transferiram para Constantinopla, onde Jonas passou a viver. Hipácio atravessou mais uma vez o Estreito, em direção a Ásia Menor e, instalado nas ruínas do monastério de Rufino, empreendeu uma missão para fazer reviver a prática da religião. Lá ele chegou a dirigir uma grande comunidade de monges, tendo sido um grande defensor da ortodoxia. Ainda antes que os erros de Nestório fossem condenados pela Igreja o abade ordenou que o nome daquele hierarca fosse apagado dos livros oficiais de sua igreja, sob os protestos do bispo Eulálio de Calcedônia. Quando Santo Alexandre Akimetes e seus monges fugiram de Constantinopla para Bithynia, foi Hipácio quem lhes deu generosa hospitalidade em seu monastério. Santo Hipácio, conhecido como «o estudioso de Cristo», ficou conhecido e famoso por seus milagres e profecias. Morreu, segundo consta, em meados do V século, com a idade de oitenta anos.

Os santos mártires Leôncio, Hipácio e Teódulo, padeceram durante o império de Vespasiano (ano 70-79), na cidade de Trípoli, Fenícia. Leôncio era grego de nascimento, militar de alta patente do exército romano, inteligente e preparado por natureza, um perito em cultura literária, virtuoso, compassivo com os pobres e muito hospitaleiro. Num certo dia, denunciaram ao governador que Leôncio orientava às pessoas a não venerar nem oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. O governador ordenou ao tribuno Hipácio que, sob o seu comando, um esquadrão de soldados fossem ao encontro de Leôncio para detê-lo. Durante a viagem, Hipácio ficou gravemente enfermo, vendo a morte diante de si. Então, um anjo lhe apareceu e disse: «Se queres te curar, implora três três vezes ao céu junto com teus soldados: ‘Deus, que é adorado por Leôncio, ajuda-me!’» Todos fizeram como o anjo havia instruído e o Tribuno ficou prontamente restabelecido.

Já na cidade, Hipácio e o soldado Teódulo, encontraram uma pessoa que os convidou para a sua casa. Era o próprio Leôncio em pessoa que, então, os instruiu na fé cristã , batizando-os, mais tarde. Num certo dia o governador chegou à cidade e ficou sabendo do que tinha acontecido. Entregou então ao martírio os três, Leôncio, Hipácio e Teódulo. Os Santos Hipácio e Teódulo foram decapitados e, São Leôncio foi espancado até a morte. Os cristãos deram aos três mártires uma digna sepultura, próximo ao porto de Tripoli.

O Santo Apóstolo Judas foi um dos doze apóstolos do Senhor, e sua origem é a tribo de Judá, de onde descende também David e Salomão. São Judas nasceu em Nazaré, Galiléia, filho de José, o Justo, a quem a Puríssima Virgem Maria desposou. Segundo a tradição, a mãe de Judas foi Salomé, filha de Hagai. Este, por sua vez, era filho de Baraquiá, irmão de São Zacarias, o pai do precursor do Senhor, o Profeta São João Batista. Judas era irmão do apóstolo São Tiago, o Justo, o primeiro hierarca da Igreja de Jerusalém. O Santo Apóstolo era mais conhecido como «Judas de Tiago», ou seja, o irmão do apóstolo Tiago. Ele, em sua grande humildade, preferia este sobrenome, pois se considerava indigno de ser chamado irmão do Senhor, segundo a carne, porque julgava-se pecador diante de Deus por sua falta de fé e de amor fraterno.

O Santo Evangelista João, o Teólogo, atesta este pecado de Judas, a sua falta de fé, quando escreve: «Nem seus irmãos creram nele» (Jo 7,5). Explicando esta passagem do Evangelho, São Teofilacto interpreta que os irmãos aqui mencionados eram os filhos de José. E assinala: «Nem mesmo os seus irmãos, os filhos de José (entre os quais, Judas) creram nele – isto é, em Jesus. E, de onde vem esta incredulidade? Da tola falta de vontade e da inveja, porque é mais comum nas pessoas sentirem inveja de seus próprios parentes que de estranhos». Fica, portanto, claro, que Judas pecou contra o Senhor por causa da sua pouca fé.

Do mesmo modo, Judas mostrou a sua falta de amor fraterno para com Jesus quando José, no seu regresso do Egito, decidiu dividir suas terras entre os filhos nascidos de sua primeira esposa. Queria também dar uma parte para Jesus, que era ainda apenas um menino, nascido de maneira sobrenatural da Puríssima Virgem Maria. Porém, os três filhos de José não admitiram compartilhar com Cristo, já que havia nascido de outra mãe; somente São Tiago, o quarto filho, concordou que Jesus fosse seu co-proprietário da parte que lhe coube, pelo que, mais tarde, foi chamado de «Irmão de Jesus». Consciente dos seus pecados anteriores, pela sua falta de fé e de amor fraterno, Judas não se atreveu a se chamar o «irmão de Cristo», mas somente «irmão de Tiago», como escreve em sua epístola: «Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago». (Jd 1,1)

Além de ser chamado «Apóstolo irmão de Tiago», Judas tinha ainda outros títulos. O evangelista Mateus o chamava Lebeu e Tadeu. Estes nomes lhe foram atribuídos com razão, pois, Lebeu significa «fervoroso». No apóstolo Judas, este título significaria que, após ter cometido pecados contra o Cristo Deus por sua incredulidade, mais tarde veio a crer em Jesus como o verdadeiro Messias, e se uniu a ele de todo o seu coração. O Apóstolo Judas era também chamado «Tadeu», que significa «aquele que presta louvor», porque ele glorificou e confessou a Cristo Deus, proclamando o seu Evangelho a muitas nações.

Muito pouco se sabe sobre a vida e as atividades do Santo Apóstolo Judas, além do fato de que ele se casou com uma mulher chamada Miriam. Tudo o que se sabe, além disso, é que durante o reinado de Domeciano (81-96 d.C.), dois netos de Judas, que trabalhavam a terra com suas próprias mãos, foram levados pelo mesmo Imperador, por calúnias feitas por hereges, dado que eram descendentes de Davi e parentes do Senhor. Mas, depois que o Imperador teve a certeza de que não significariam qualquer risco político para ele, foram postos em liberdade.

Tal como os outros «irmãos do Senhor , o apóstolo Judas empreendeu muitas missões, levando e difundindo o evangelho de Cristo. Pouco depois da ascensão aos céus do Senhor Jesus Cristo, o apóstolo Judas, tal como fizeram todos os demais apóstolos de Cristo, saiu em viagens missionárias para levar o Evangelho de Cristo. O testemunho do historiador eclesiástico Nicéforo, assinala que: «O divino Judas, que tinha o duplo título de Tadeu e Lebeu, filho de José e irmão de Tiago (que foi jogado do pináculo do templo de Jerusalém), pregou o Evangelho e propagou o Cristianismo, em primeiro lugar na Judéia, Galiléia, Samaria, Idumea e, em seguida, na Arábia, Síria e na Mesopotâmia. Finalmente, ele chegou à cidade de Edessa, que pertencia ao rei Abgar, onde o Evangelho já havia sido anunciado por outro Tadeu, um dos setenta Apóstolos. Lá, o apóstolo Judas empreendeu e concluiu o que o outro Tadeu não tinha terminado”.

Existem algumas indicações que permitem presumir que o Santo Apóstolo Judas tenha pregado o Cristianismo também na Pérsia, onde escreveu sua epístola universal em língua grega. A ocasião ou razão para que tenha escrito esta epístola, não se sabe. Tais fatos foram ocultados por essa gente ímpia, entre a comunidade dos crentes que, convertendo a graça de Deus numa oportunidade para praticar o mal e pecar, e, sob o pretexto e disfarce da liberdade religiosa, permitiram-se cometer todo o tipo de ações abomináveis. Esta curta epístola contém muitos pensamentos profundos e muita doutrina edificante. Em parte, trata de ensinamentos dogmáticos: o mistério da Santíssima Trindade, a encarnação do Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, a diferença entre bons e maus anjos, e o terrível Juízo que está por vir; de outra parte, trata de ensinamentos morais: a exortação a evitar a impureza do pecado – a injúria carnal, blasfêmia, orgulho, desobediência, inveja, ódio, rancor e traição. O Apóstolo aconselha a todos a permanecer fiéis em seus deveres, a sua fé, oração e amor; recomenda que nos preocupemos em corrigir os errantes e de evitar os hereges, cuja moral, espiritualmente daninha, descreve ele claramente, explicando que os hereges perecerão como o povo de Sodoma (Jd 1,7 ss).

Além disso, o Apóstolo São Judas afirma em sua epístola que, para a nossa salvação, não é suficiente a conversão do paganismo ao cristianismo, mas que, além da fé, é preciso realizar as obras apropriadas aos cristãos e dignas de salvação; cita então, como exemplo, os anjos e homens que foram punidos por Deus: aos anjos que não conservaram a sua dignidade, Deus lhes prendeu com eternas correntes, submetendo-os à escuridão eterna até o dia do terrível Juízo (Jd 1,16). Deus também, depois de ter retirado a salvo o seu povo do Egito, fez perecer aos incrédulos, que o negaram e caíram em depravação, não vivendo de acordo com a lei de Deus (Jd 1,5), Em suma, o apóstolo Judas revela, com poucas palavras, grandes verdades em sua epístola.

O Santo Apóstolo Judas visitou ainda muitas outras terras, pregando o Evangelho, convertendo os povos à fé cristã e guiando-os pelo caminho da salvação. Assim fazendo, chegou às terras situadas no entorno do Monte Ararat, onde converteu muita gente da idolatria ao cristianismo. Despertou, portanto, o mal estar dos sacerdotes pagãos contra ele. Estes o agarraram e, depois de submetê-lo a numerosas torturas, suspenderam-no numa cruz atravessando em seu corpo lanças. Assim terminou a luta e a vida do Santo Apóstolo Judas, que partiu para junto de Cristo Deus para receber dele a coroa da eterna recompensa no céu.

São Metódio viveu no século VI d.C.. Homem de uma grande sabedoria e filantropia, Metódio foi rapidamente elevado ao topo da hierarquia da Igreja. Ele foi um eminente teólogo e o primeiro a negar os escritos hereges de Orígenes, de acordo com Jerônimo e Sócrates, historiador que foi bispo de Olimpo, em Lycia e, mais tarde, em Nefmático, na Fenícia, embora tenha sido mais conhecido como Bispo de Patáron, por seu famoso escrito no qual refletia sobre a ressurreição realizada naquela cidade. O santo foi martirizado na cidade grega de Jalkis no ano 311, sob o imperador Máximos. Entre os seus escritos destaca-se «Simpósio das dez Virgens».

O pai de Juliano, idólatra, ocupava uma alta posição no Senado e sua mãe era cristã. Juliano amou tanto a cruz de Cristo que, aos 18 anos, diante do Pro cônsul Marciano, confessou corajosamente a sua fé em Cristo, sabendo que, por causa disso, poderia ser torturado. E assim foi. Tão logo São Juliano acabou de falar, o Pro cônsul, ordenou que ele fosse espancado e atirado numa cela. Depois disso, Marciano mandou que a mãe do santo fosse chamada e trazida para que visse o seu filho espancado e ferido e tentasse convencê-lo a abandonar a sua fé cristã. Pois, foi exatamente o contrário o que aconteceu: a mãe pediu-lhe para que se mantivesse firme em sua fé e, incentivando a que tudo suportasse por amor a Cristo, e se foi. Após alguns dias, Marciano novamente mandou que o santo fosse trazido à sua presença para verificar se havia mudado de opinião. Tendo recebido resposta negativa, ordenou imediatamente que Juliano fosse colocado dentro de um saco, com areia e serpentes venenosas, e jogado ao mar. E foi assim que São Juliano entregou a sua alma a Deus. «Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam» (Tg 1: 12).

Nada se sabe sobre a origem e a primeira parte da vida de Santo Eusébio. A história começa a registrar sua existência por volta do ano 361, quando já era bispo de Samosata e, como tal, participou do sínodo convocado em Antioquia para eleger o sucessor de bispo Eudoxio. Justamente, pelos esforços que empreendeu o bispo Eusébio, o Sínodo elegeu São Melécio, antigo bispo de Sebaste, e um homem venerado por sua piedade e sabedoria. Grande parte dos eleitores eram arianos e alimentavam a esperança de que, se votasse em favor de Melecio, este iria favorecer a sua doutrina, pelo menos tacitamente. Os arianos, porém, se decepcionaram ao ouvir no primeiro discurso do novo bispo de Antioquia, na presença do imperador Constâncio, que também era ariano, a reafirmação da doutrina ortodoxa da Encarnação, tal como havia sido exposta no Credo de Nicéia. Após este sermão, os arianos, furiosos, procuraram de todas as formas se livrarem do bispo, e o imperador Constâncio enviou um emissário a Santo Eusébio para pedir-lhe que entregasse as Atas Sinodais da eleição que havia sido confiada aos seus cuidados. Santo Eusébio respondeu que não poderia fazê-lo sem o prévio consentimento e aprovação de todos e cada um dos signatários.

Este foi então ameaçado de ter sua mão direita decepada, se persistisse em sua atitude. O santo, estendendo as suas duas mãos, disse estar disposto e pronto a perdê-las, antes que trair a confiança que nele havia sido depositada. O imperador ficou muito impressionado com a coragem do bispo e já não mais insistiu. Durante algum tempo após esse incidente, Santo Eusébio participou ainda nos concílios e conferências dos arianos e semi-arianos, a fim de sustentar a verdade e na esperança e alcançar a unidade, mas a partir do Concílio de Antioquia, em 363, Santo Eusébio deixou de comparecer nas reuniões, porque percebeu que sua atitude escandalizava aos ortodoxos. Nove anos mais tarde, atendendo a um chamado urgente do já idoso São Gregório de Nazianzo, foi à Capadócia e lá exerceu sua influência e experiência em favor de São Basílio, na eleição para a sede vacante de Cesaréia. Tão notáveis foram os serviços prestados nessa ocasião que o jovem Gregório, numa carta escrita, refere-se a Eusébio como «a coluna da verdade, luz do mundo, instrumento da graça de Deus para o seu povo, apoio e glória de toda a ortodoxia». Entre São Basílio e Santo Eusébio se estabeleceu uma sincera amizade que continuou, mais tarde, através das cartas. Quando teve início a perseguição de Valente, Santo Eusébio, não satisfeito em proteger os seus próprios fiéis da heresia, empreendeu, de maneira incógnita, várias viagens para a Síria e Palestina para fortalecer a fé dos católicos, ordenar sacerdotes e ajudar aos bispos ortodoxos a nomear verdadeiros e dignos pastores para ocupar as sedes que ficavam vacantes. Seu extraordinário zelo despertou a animosidade dos arianos e, em 374, o Imperador Valente promulgou uma ordem que o condenava ao exílio em Trácia. Quando o oficial encarregado de fazer cumprir a ordem imperial foi apresentado a Santo Eusébio, o bispo rogou-lhe para que procedesse com toda a discrição, pois, se o povo suspeitasse do que estava acontecendo, podiam eles ser atacados e até mortos. Naquela mesma noite, portanto, depois de rezar o ofício, como de costume, enquanto todos dormiam, deixou calmamente a sua casa em companhia de um dos seus servidores, indo em direção ao Eufrates onde embarcou. Na manhã seguinte, quando alguns de seu povo perceberam que ele tinha partido, saíram em sua busca; alguns, tendo-o encontrado, suplicaram entre lágrimas, para que não os deixasse. Ele também chorou muito diante das manifestações de afeto daquelas pessoas, mas explicou-lhes que era necessário obedecer as ordens do imperador, exortando-os a confiar em Deus que tudo seria resolvido satisfatoriamente a seu tempo. Seus fiéis, numa demonstração de fidelidade ao seu bispo, recusaram-se a qualquer contato com os dois bispos arianos que ocuparam a sede durante seu exílio. A morte de Valente, em 378, pôs fim à perseguição e Santo Eusébio que pode então retornar à sua sede e ao seu povo. Os sofrimentos do exílio em nada diminuíram seu zelo e piedade. Graças aos seus esforços, restabeleceu, em toda a sua diocese, a unidade ortodoxa, e as sedes vizinhas foram ocupadas por prelados ortodoxos. Santo Eusébio estava visitando a cidade de Dolikha para lá instalar um bispo, quando uma mulher ariana, escondida no telhado de uma casa, atirou-lhe uma pesada pedra sobre a sua cabeça. O golpe que recebeu foi fatal e, como conseqüência, morreu alguns dias depois, tendo a promessa de seus amigos de que não reagiriam perseguindo ou castigando sua agressora.

II. Santo Eusébio de Samosata, Bispo e mártir(† 379 )

Nada se sabe sobre a origem e a primeira parte da vida de Santo Eusébio. A história começa a registrar sua existência por volta do ano 361, quando já era bispo de Samosata. Eusébio foi um dos mais zelosos defensores da ortodoxia no século IV, contudo, não se sabe quando foi nomeado bispo de Samosata, na Síria Eufratense, porque ele não aparece na história antes da eleição de Melécio para a sede patriarcal de Antioquia (360-361), eleição pela qual ele trabalhou firmemente.

Quando teve início a perseguição de Valente, Eusébio, não satisfeito em proteger seus próprios fiéis da heresia, empreendeu, de maneira incógnita, várias viagens para a Síria e Palestina para fortalecer a fé dos cristãos, ordenar sacerdotes e ajudar aos bispos ortodoxos a nomear verdadeiros e dignos pastores para ocupar as sedes que ficavam vacantes. Seu extraordinário zelo despertou a animosidade dos arianos e, em 374, o Imperador Valente promulgou uma ordem que o condenou ao exílio na Trácia.

Na manhã seguinte à sua condenação, alguns fiéis perceberam que ele havia partido, saíram em sua busca. Alguns, tendo-o encontrado, suplicaram entre lágrimas, para que não os deixasse. Ele também chorou muito diante das manifestações de afeto daquelas pessoas, mas explicou-lhes que era necessário obedecer às ordens do imperador, exortando-os a confiar em Deus que tudo seria resolvido satisfatoriamente a seu tempo. Seus fiéis, numa demonstração de fidelidade ao seu bispo, recusaram-se a qualquer contato com os dois bispos arianos que ocuparam a sede durante seu exílio.

Eusébio era ortodoxo de coração e mostrou-o bem quando o imperador Constâncio o fez pedir a ata da eleição de Melécio, que lhe fora remetida. Eusébio recusou-se a mostrar sua adesão ao novo patriarca, que era ariano.

Em 370, apoiou São Basílio e conseguiu que fosse nomeado bispo de Cesareia. Desde então, teve uma estreita relação com ele por sua ação comum em favor da fé de Niceia. Existem vinte e duas cartas endereçadas a ele por São Basílio. Também teve contato com São Gregório de Nazianzo, que lhe escreveu cinco cartas.

Em 378, com a morte do Imperador Valêncio retornou à sua cidade episcopal, que permaneceu fiel a ele, apesar da intrusão de Eunômio. Ele, então, viajou para o norte da Síria para combater a heresia ariana e nomear bispos ortodoxos. No dia 22 de junho de 380, ao chegar a Dolikha, uma mulher ariana o atacou em um atentado: não resistindo aos ferimentos, Santo Eusébio acabou por falecer alguns dias depois, em virtude de traumatismo craniano. Antes de morrer suplicou o perdão para sua assassina, obtendo a promessa de seus amigos de que não reagiriam perseguindo ou castigando sua agressora.

Os gregos o celebram neste dia. Os vários calendários da Igreja de Antioquia também o celebram no dia 22 de junho e com a menção “martirizado pelos arianos”. Deve-se notar a este respeito que uma “Vida” Siríaca de Eusébio foi publicada baseada num manuscrito conservado no Museu Britânico.

Santa Agripina, virgem e mártir, é muito venerada na Sicília e, em menor medida, na Grécia. Sabe-se que era uma jovem de nascimento nobre e que, por causa de sua fé cristã teria morrido, ou por decapitação ou depois de duros açoites, durante o reinado de Valeriano, ou na perseguição de Diocleciano. Após o martírio, três mulheres cristãs de nomes, Bassa, Paula e Agatônice recolheram o corpo da jovem Agripina e levaram-no para Mineo, na Sicília, para ali sepultá-lo. Parece que, em seu túmulo, muitos milagres foram operados, incluindo curas de males irremediáveis e de pessoas possessas. Sabe-se que as relíquias da santa foram trasladadas de Sicília para Constantinopla, presumivelmente, para evitar a profanação pelos infiéis. Santa Agripina é invocada contra os espíritos malignos, hanseníase e tempestades violentas.

Neste dia 24 de junho, os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram o nascimento de São João Batista. Também coincide, nas duas tradições, a data em que se celebra o seu martírio em 29 de agosto. No Oriente bizantino, porém, as comemorações do grande Profeta e Precursor são sem dúvida mais numerosas. Com relação ao nascimento, os calendários bizantinos assinalam, no dia 23 de setembro, a data da concepção do “glorioso Profeta, Precursor João, o que batizou Jesus no Jordão”. Antigamente também os martirológios latinos registravam essa comemoração em 24 de setembro; porém a partir do século XV foi abolida. Na tradição oriental é comum iconografar São João Batista na forma de um Anjo. Com efeito “era mais que um homem”, como diz o evangelho, e a palavra “mensageiro” em grego aggelo coincide com nossa tradução”. endo um dos santos mais venerados no Oriente bizantino, é compreensível que muitas sejam as formas de representá-lo em ícones:

Encontramo-lo representado sozinho, ou em episódios da sua vida, especialmente o da sua decapitação. João é filho de Zacarias que, por causa de sua pouca fé, tornou-se mudo, e de Isabel, aquela que era estéril. O nascimento de João Batista anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética.

São Máximo, bispo de Turim, que nasceu mais ou menos nos meados do século IV no Piemonte e morreu entre 408 e 423, é considerado o fundador da diocese de Turim, erigida pela iniciativa de santo Ambrósio e de santo Eusébio de Vercelli, de quem o próprio São Máximo se declarava discípulo. Do seu grande empenho apostólico dão testemunho os numerosos sermões e homilias, escritos com estilo claro e persuasivo, nos quais se percebe um caráter manso e benévolo, que sabe todavia reprovar e advertir com firmeza e às vezes com sutil ironia. Ele exorta seus fiéis, amedrontados pela aproximação do exército dos bárbaros a empunhar as armas do “jejum, da oração e da misericórdia” e aos medrosos que se apressavam a fugir da cidade diz: “É injusto e ímpio o filho que abandona a mãe no perigo. A pátria é sempre uma doce mãe.” Quando tratava dos temas de catequese dogmática, a sua palavra iluminadora hauria plenamente das páginas da Sagrada Escrituras, que interpretava com perfeita ortodoxia.

Santa Febronia, Virgem e Mártir

A Santa virgem e mártir Febronia é venerada pelas igrejas do Oriente, incluindo a de Etiópia, enquanto que, no Ocidente, é conhecida e venerada nas cidades de Trani, Apúlia e Patti, na Sicília, onde se diz que são conservadas algumas de suas relíquias. Ela sofreu o martírio em Nísibis, na Mesopotâmia, por volta do ano 304, durante a perseguição de Diocleciano. Quando Febronia contava apenas dois anos de idade, seus pais a deixaram aos cuidados de sua tia Briene, que dirigia um monastério em Nísibis. Ali ela cresceu, tornando-se uma bela jovem de alma tão cândida que ignorava por completo o mundo exterior, preocupando-se apenas em adornar-se com as virtudes que a tornassem digna da promessa celestial. A tia Briene cuidou com escrupuloso esmero de sua educação, preparando-a para as tentações que, necessariamente a assaltariam, não permitindo que a sobrinha comesse senão de três em três dias, e obrigando-a dormir sobre uma estreita prancha de madeira. Febronia era uma menina inteligente, e soube aproveitar muito bem os ensinamentos que lhe eram ministrados, a tal ponto que, com idade de dezoito anos, recebeu a tarefa de ler e explicar as Escrituras para as monjas todas as sextas-feiras.

As mais nobres e destacadas damas da cidade assistiam a estas leituras, mas a tia Briene tinha tomado a precaução de manter sob um véu o belo rosto de Febronia, para que as senhoras não a advertissem de sua extraordinária beleza e, ao mesmo tempo, para não perturbar a menina que, ao longo de sua vida, não tinha visto a ninguém, a não ser as outras monjas. A pacífica existência no convento foi brutalmente interrompida pela perseguição. Os cruéis editais de Diocleciano foram aplicados com especial ferocidade em Nisibis, pelo prefeito Seleno. Os clérigos, juntamente com o bispo, saíram rapidamente em fuga, e todos os religiosos seguiram o exemplo; permaneceram no claustro apenas Briene, sua sobrinha Febronia, que estava se recuperando de uma grave doença, e Tomáis. Quando os oficiais chegaram para fazer um registro no convento, não se preocuparam em prender as duas monjas mais idosas, mas apenas levaram Febronia. No dia seguinte, ela foi levada ao tribunal, diante do prefeito Seleno. O prefeito, por sua vez, encarregou a seu sobrinho Lisímaco a tarefa de interrogá-la. O jovem começou a fazê-lo com cortesia e até com certa condescendência, pois sua mãe era cristã e assim, não continha a sua simpatia pela prisioneira. Mas, Seleno interveio intempestivamente e, com certa malícia, prometeu a Febronia a sua liberdade e grande riqueza se, renunciando sua fé, consentisse em se casar com Lisímaco. A bela jovem respondeu simplesmente que não desejava riquezas, pois que já possuía um grande tesouro no céu; e que não estava à procura de um marido, já que desposava seu Imortal Prometido, que lhe dava como dote o Reino dos Céus. Furioso por tal resposta, Seleno ordenou que a jovem fosse despida, pendurada pelos braços sobre brasas e açoitada. Os soldados, executando a ordem, arrancando-lhe dezessete dentes e cortando os seus seios. Entre os indignados protestos da multidão que lotavam a sala, os torturadores foram ainda mais cruéis com sua vítima; fizeram-lhe em pedaços os seus membros e, finalmente, vendo que a santa ainda vivia, puseram fim à sua vida a golpes de machado. Pouco depois, Seleno recebeu a retribuição pela atrocidade de suas ações: um ataque súbito de loucura o levou a voltar-se contra si próprio e, arremessando-se de cabeça contra as colunas de mármore de seu palácio, morreu ao ter o próprio crânio destroçado pelos impactos. Por ordem de Lisímaco, os restos mortais de Febronia foram reunidos e levados a um digno e magnífico funeral. O espantoso martírio de Febronia fez com que um grande número de pagãos pedisse o batismo. Lisímaco foi um dos primeiros e mais tarde, no tempo do imperador Constantino, tomou o hábito monástico.

São João é venerado nas igrejas do Oriente, mais que no Ocidente, devido à sua corajosa oposição aos iconoclastas. Era natural da região norte do Mar Negro, que compreendia a Criméia, e seu avô era um legionário armênio. Em 761, o então Bispo de Goths, uma importante cidade da região, aderiu à iconoclastia para ficar bem aos olhos do Imperador Constantino Coprônimo, que apoiava estas idéias e se dispunha a abolir as santas imagens. A adesão do bispo ao movimento iconoclasta foi recompensada com uma promoção ao posto mais elevado de Heraclea. Seus diocesanos, porém, mais ortodoxos que seu bispo, passaram a ignorá-lo como tal e, para o seu lugar, elegeram o bispo João. As autoridades aprovaram a eleição, mas os moradores de Goths tiveram de esperar pelo retorno do novo bispo que se encontrava em Jerusalém onde passou por três anos. Ao assumir a Sede, ele escreveu uma defesa da veneração que se dispensava às imagens e relíquias sagradas, bem como, sobre a prática de invocar aos santos. Seus argumentos estavam apoiados em citações dos Antigo e Novo Testamentos e nos ensinamentos dos Santos Padres. Sob a regência da Imperatriz Irene, foi suspensa a proibição contra as imagens sagradas e o bispo João pode então ir a Constantinopla para assistir ao Sínodo convocado por São Tarásios.

Também esteve no segundo Concílio de Nicéia, no ano 787, no qual a veneração às imagens sagradas foi considerada como parte da doutrina ortodoxa. Ao retornar para a sua diocese, o trabalho do bispo João foi interrompido pela súbita invasão do «khazars». Após a denúncia de um traidor, o prelado foi capturado e levado prisioneiro para o acampamento do inimigo guerreiro. Não obstante, escapou com relativa facilidade, encontrando refúgio em Amastris, cidade da Ásia Menor, onde foi hóspede do bispo local, lá permanecendo os últimos quatro anos da sua vida. Ao ser informado de que o chefe dos invasores «khazars» havia morrido na cidade subjugada, voltou-se para os seus amigos e lhes disse: «Eu também vou deixar este mundo em quarenta dias, e colocarei diante de Deus a minha causa contra o guerreiro que nos subjugou». A primeira parte de sua profecia se cumpriu à letra: quarenta dias depois, expirou tranquilamente. Seu corpo foi levado para o seu país de origem, pelo bispo Jorge de Amastris, e depositado no monastério de Partenite na Criméia.

Por volta do quinto século, um homem muito rico e generoso, chamado Sansão, fundou por sua própria conta um grande hospital para os doentes pobres de Constantinopla. Diz-se que Sansão era médico e sacerdote, e que havia se consagrado a atender com inesgotável solicitude aos que sofriam, física e/ou espiritualmente. Já durante a sua vida ele foi honrado com o título de «hospitaleiro» e de «pai dos pobres» e, após a sua morte, ele venerado como um santo. Seu hospital foi totalmente destruído por um terrível incêndio ocorrido no início do sexto século e, cinqüenta anos mais tarde, o imperador Justiniano empreendeu a sua reconstrução. Em datas posteriores, com incrível desprezo para com os dados cronológicos, intentou-se associar Santo Sansão ao imperador Justiniano, como sendo co-fundadores do hospital. Uma tentativa de apresentar São Sansão como amigo do imperador, a quem o santo havia curado milagrosamente de uma grave enfermidade.

Ainda que, quando Justiniano se ocupava da construção da Igreja de Santa Sofia, Sansão teria convencido o imperador de construir, ao mesmo tempo, o hospital para os pobres. Alega-se que o imperador teria concordado imediatamente, pois que tinha uma grande dívida de gratidão para com Sansão, e este não aceitava outro pagamento que não fosse a construção do hospital. Mas, na realidade, Sansão morreu antes do ano 500, e Justiniano ascendeu ao trono de Constantinopla só mais tarde, no ano 527.

Estes santos viveram no tempo de Diocleciano. São Ciro era de Alexandria e São João de Edessa, na Mesopotâmia. Devido à perseguição aos cristãos daqueles tempos, Ciro fugiu para o Golfo da Arábia, onde havia uma pequena comunidade de monges. João, que era soldado, tomou conhecimento da fama de Ciro e foi ao seu encontro. A partir de então, eles passaram a vida trabalhando juntos, curando muitas pessoas enfermas pela graça de Cristo. Eles ouviram dizer que uma mulher de nome Atanásia, havia sido presa com suas três filhas, Teodora, Teóctiste e Eudóxia. A mãe temia muito pela juventude de suas filhas, pois era comum submeter os cristãos ao martírio para que renunciassem a sua fé. Ao ficarem sabendo do santo foram ao seu encontro, pelo que também estes foram encontrados e detidos. Depois de muitas torturas, Ciro, João, a mãe e suas três filhas foram decapitados, no ano 292. O local onde seus corpos foram sepultados tornou-se muito afamado e centro de peregrinação do Egito.

O Apóstolo São Pedro era chamado, antes, Simão, o filho de Jonas, pescador de Betsaida na Galiléia, e irmão do Apóstolo Santo André, o «Primeiro Chamado», que foi quem o conduziu a Cristo. São Pedro era casado e tinha sua casa em Cafarnaúm. Chamado por nosso Salvador, Jesus Cristo, enquanto pescava no Lago de Genesaré (Mar de Tiberíades), sempre demonstrou uma especial devoção e determinação, pelo que se fez digno de uma especial abordagem do Senhor, como o Apóstolo Tiago (Jacó) e São João, o Teólogo. Espiritualmente forte e fervoroso, ele ocupou, na verdade, um lugar influente entre os apóstolos de Cristo. Foi o primeiro que confessou com determinação ao Senhor Jesus como o Cristo (Messias), e por isso foi digno de ser chamado «Pedra» (Pedro). Sobre esta fé firme como pedra de Pedro o Senhor prometeu edificar a Sua Igreja, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno.

O Apóstolo São Pedro lavou com lágrimas amargas de arrependimento a sua tríplice negação a seu Senhor, na véspera de Sua crucifixão. Conseqüentemente, logo após a sua Ressurreição, o Senhor novamente o reabilitou na dignidade de apóstolo, por três vezes, o número de suas negações, e lhe confiou o cuidado de seu rebanho de cordeiros e ovelhas.

Segundo a tradição, o apóstolo São Pedro chorava amargamente sempre ao amanhecer, ao ouvir o canto dos galos, lembrando-se de suas covardes negações para com o Cristo. O apóstolo Pedro foi o primeiro a contribuir para o fortalecimento e a divulgação da Igreja de Cristo após a descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes; ao pregar com determinação e firmeza diante de uma multidão de pessoas, promoveu a conversão de três mil almas para Cristo. Pouco depois curou a um paralítico de nascença; e na sua segunda pregação pública, levou a conversão e à fé em Cristo mais de cinco mil hebreus. A força espiritual que procedia do apóstolo Pedro era tão intensa, que «chegaram ao ponto de transportar doentes para as praças, em esteiras e camas, para que Pedro, ao passar, pelo menos a sua sombra cobrisse alguns deles, e todos eram curados». (At 5,15). O livro dos Atos dos Apóstolos, do primeiro ao décimo segundo capítulo, narra a sua atividade apostólica. Herodes Agripa I, neto de Herodes, o Grande, após o ano 42 d. C., restabeleceu as perseguições contra os cristãos, assassinando o Apóstolo São Tiago (Jacó), filho de Zebedeu e aprisionando o Apóstolo São Pedro. Os cristãos, ao serem informados sobre a sua prisão, oraram fervorosamente pelo Apóstolo Pedro. Durante a noite, um milagre aconteceu: um Anjo do Senhor apareceu na cela de Pedro, e as algemas que o prendiam se partiram caindo ao chão, e ele pode assim deixar a sua cela sem ser notado. Após esta milagrosa libertação o livro dos Atos o recorda mais uma vez ao narrar o Concílio dos Apóstolos. Outros testemunhos sobre ele foram conservados ela tradição da Igreja. Sabe-se que ele difundia o Evangelho às margens do Mar Mediterrâneo, em Antioquia (onde consagrou o bispo Evódio). O Apóstolo Pedro evangelizava na Ásia Menor aos judeus e prosélitos (pagãos convertidos ao judaísmo). Logo depois, no Egito, onde consagrou Marcos como o primeiro bispo da Igreja de Alexandria. Daí, seguiu para evangelizar a Grécia, Corinto, e depois Roma, Espanha, Cartagena e Bretanha. Segundo a tradição, o apóstolo Marcos escreveu seu Evangelho para os cristãos romanos baseado nas palavras do Apóstolo Pedro. Entre os livros do Novo Testamento existem duas Epístolas Católicas (universais) do Apóstolo Pedro. A primeira é dedicada aos estrangeiros da diáspora, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bithynia, províncias da Ásia Menor. Esta carta tem a finalidade de fortalecer aos seus irmãos ante o surgimentos de conflitos internos nestas comunidades e perseguições por parte dos inimigos da Cruz de Cristo. Entre os cristãos surgiram também inimigos internos, os falsos mestres. Na ausência do Apóstolo Paulo começaram a perverter os seus ensinamentos sobre a liberdade cristã e a defender uma moral sem limites. A segunda Epístola Católica foi escrita para os cristãos da Ásia Menor. Nela o Apóstolo Pedro colocou ênfase especial em advertir aos fiéis sobre os falsos mestres libertinos. Estes falsos ensinamentos coincidem com aqueles que foram refutados pelo apóstolo Paulo em suas cartas a Timóteo e Tito, e também ao Apóstolo São Judas, em sua Epístola Católica. Os falsos ensinamentos dos hereges ameaçavam a moral e a fé cristãs. Naquela época, rapidamente se espalhou a heresia gnóstica que absorveu elementos do judaísmo, do cristianismo e de diversos ensinamentos pagãos. Esta Epístola foi escrita pouco antes do Apóstolo São Pedro ser martirizado: «Eu sei que em breve deverei deixar o meu templo (corpo), como nosso Senhor Jesus Cristo me revelou». No final de sua vida o apóstolo Pedro esteve novamente em Roma, onde foi martirizado no ano 67 d.C., sendo crucificado com a cabeça para baixo.

Estes são os nomes dos doze Apóstolos: Primeiro Simão, chamado Pedro, e seu irmão André; Tiago e seu irmão João, filhos de Zebedeu; Felipe, e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeo, e Tadeu; Simão o zelote e Matias, que foi eleito para assumir o lugar de Judas Iscariotes, o que traiu Jesus. Todos os discípulos de Jesus morreram como mártires, com exceção de dois: Judas e João. Judas Iscariotes (12º), que traiu Jesus e acabou se enforcando; João (4º), após ser exilado na ilha de Patmos, obteve a liberdade e morreu de morte natural; Matias, ficou no lugar de Judas Iscariotes e foi martirizado na Etiópia; Simão (11º), o zelote, foi crucificado; Tadeu (10º), morreu como mártir pregando o evangelho na Síria e na Pérsia;

Tiago (9º), o mais jovem, pregou na Palestina e no Egito, sendo ali crucificado; Mateus (8º), morreu como mártir na Etiópia; Tomé (7º), pregou na Pérsia e na Índia, sendo martirizado perto de Madras no monte de São Tomé;

Bartolomeu (6º), serviu como missionário na Armênia, sendo golpeado até a morte; Filipe (5º), pregou na Frigia e morreu como mártir em Hierápolis; André (2º), pregou na Grécia e Ásia Menor. Foi crucificado em Acácia pelo procônsul Eges. Foi amarrado para sofrer mais. Ele foi crucificado em forma de X (cruz decussada); Tiago (3º), o mais velho, pregou em Jerusalém e na Judéia. Foi decapitado por Herodes; Simão Pedro (1º), pregou entre os judeus até a Babilônia, esteve em Roma, onde foi crucificado com a cabeça para baixo. Considerado indigno de sofrer como Jesus; Paulo, que não era apóstolo oficialmente, foi considerado apóstolo dos gentios por causa da sua grande obra missionário nos países gentílicos. Foi decapitado em Roma por ordem de Nero.