Do que a Ortodoxia é devedora ao Patriarcado Ecumênico?
Deve-lhe a preservação do dogma ortodoxo. A preocupação da Igreja-Mãe foi e segue sendo preservar a palavra da Verdade. Isso foi possível por meio de muitos Concílios Ecumênicos e locais, que se reuniram ao longo dos séculos.
Deve-lhe a Divina Liturgia de São João Crisóstomo que sendo apostólica em suas bases, chegou a Constantinopla através de Antioquia e dali se difundiu por todo o mundo ortodoxo. Também a de São Basílio, o Grande, e a dos Dons Pré-Santificados tiveram em Constantinopla a sua formação e, a partir dali foram divulgadas.
Deve-lhe a hinografia eclesiástica: Romano, o Melode (compositor e músico), Justiniano, Leão, o Sábio, Constantino Porfirogêneto, Monja Icasia, Theodoro Studita, José de Tessalônica, José, o Hinógrafo, João Mavropus e muitos outros, viveram em Constantinopla, ali escreveram, produziram suas composições musicais. Além disso, os grandes autores dos cânticos: André de Creta, João Damasceno, Cosme de Maiumá, se tornaram conhecidos através dos Monastérios de Constantinopla.
Deve-lhe a Música Eclesiástica, a música dos anjos, de acordo com a expressão de Alexandre Papadiamantis. Todos os grandes mestres lá compuseram, cantaram e deram forma à melodia ortodoxa. João, o Doce, João Cucuzelis, João Cladas e muitos outros, até nossos dias, gigantes da Cátedra Patriarcal de Canto, nos deram melodias divinas capazes de apaziguar o coração mais petrificado.
Deve-lhe a ordem eclesiástica, os ordenamentos cerimoniais que, vindas de Jerusalém para Constantinopla, através de seus Monastérios e, em particular, a do Studio, chegaram até nós. O chamado cerimonial de São Savas não é outros senão o cerimonial do famoso Monastério de Studio. Estes ordenamentos seguem vigentes em todo o mundo ortodoxo.
Deve-lhe a literatura Patrística: Os divinos discursos de Gregório, o Teólogo, de São João Crisóstomo, de Proclo, de São Fócio, de Teodoro o Studita e muitos outros até nossos dias.
Deve-lhe a arte cristã ortodoxa: As artes sacras, a arquitetura, a iconografia, a arte de mosaico. De Vladimir na Rússia, Veneza e Sicília, aos eremitérios da Capadócia, essa influência é evidente.
Deve-lhe a preservação da literatura antiga: Platão, Aristóteles, os trágicos e os cômicos seriam desconhecidos da humanidade se não fossem preservados pelos copistas dos Monastérios de Constantinopla.
Deve-lhe a fraternidade e amor ao próximo. Os orfanatos e hospedagens, leprosários e tantos outros institutos filantrópicos são testemunhas indubitáveis. Uma simples leitura do cerimonial do Monastério do Pantocrátor é suficiente para convencer os mais incrédulos.
Deve-lhe a condenação do nacional-racismo que fragmentou o mundo ortodoxo. Ensinou que acima da raça e etnia está a Fé Ortodoxa, que une todos na mesma e bendita família.
Deve-lhe deve o espírito ecumênico, que se encontra em forte contraposição ao localismo eclesiástico.
Deve-lhe a propagação da Fé aos povos “bárbaros”, desde a época de São João Crisóstomo e antes ainda, até a São Fócio e mesmo depois dele: fenícios, búlgaros, magiares, eslavos orientais (ucranianos, russos, sérvios) e ocidentais (Morávios, eslovacos), romenos, de Constantinopla receberam a inextinguível Luz de Cristo. Mas também as missões ortodoxas de hoje (América, Ásia, Oceania), muito lhe devem.
Deve-lhe a preservação da peculiaridade cultural dos povos ortodoxos: O alfabeto cirílico, a autocefalia eclesiástica, o uso no culto das línguas dos novos iluminados em Cristo e tantas outras coisas que compõem as nações ortodoxas atuais.
Deve-lhe a administração pastoral de tantas sacras-arquidioceses espalhados pelo mundo, que vivem e se desenvolvem sob a árvore frondosa da Grande Igreja de Cristo em Constantinopla.
Deve-lhe, particularmente o Helenismo, mas também todos os outros povos dos Balcãs, a preservação da língua, o desenvolvimento da educação em tempos difíceis (domínio otomano), a criação de uma cultura superior, a conformação da consciência nacional, sua própria existência.
Deve-lhe a consciência de que os pastores da Igreja são diáconos de mistérios, servidores do povo de Deus, e se necessário, vítimas, sacrifícios voluntários, atormentados, maltratados, decapitados pelo amor de Cristo (ver o fenômeno dos novos mártires).
Deve-lhe a doutrina de que a Fé Cristã não é um privilégio, não é direito e proveito, mas paciência nas angústias e nas tentações, testemunho e martírio.
Deve-lhe a permanência no que a cada um foi atribuído, apesar das circunstâncias adversas, do ambiente desfavorável, da disposição hostil dos que nos rodeiam.
Deve-lhe a consciência de que a Igreja de Cristo é uma Mãe amorosa, carinhosa e atenciosa que cria seus filhos com o ensino e a exortação do Senhor, derramando-lhes mananciais de vida.
Deve-lhe deve o bom caminho para a vida eterna, ensinando que os cristãos vivem em suas pátrias, mas como se fossem estranhos, pois a pátria eterna é o Reino Celestial, que se alcança com arrependimento, humildade e vida ortodoxa.
Assim, em consciência, todos devemos tudo à Mãe e Grande Igreja de Cristo, o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Nossas são tão somente as amarguras que lhe damos de vez em quando, que são mais amargas que o fel, como filhos rudes, esquecidos, ingratas e desobedientes aos seus Pais.