As Origens Bizantinas da Árvore de Natal
Enquanto hoje reconhecemos a árvore de natal normalmente como uma conífera como o pinho-alemão, na Grécia antiga era algo chamado de eiresioni (εíρος = lã). Eiresioni era um galho de oliva ou louro decorado com guirlandas de lã vermelha e branca, assim como frutos do inverno (figos, castanhas, amêndoas, grãos, etc. além de maçãs e peras) [1]. Isto era feito por gratidão à colheita e fertilidade do ano passado e em expectativa para continuidade no próximo). Usualmente também se dedicava a divindades locais como Apolo, Atena, ou às Horas).
Homero menciona o costume dos antigos gregos da eiresioni, a qual ele associou com um coro de crianças.
Em Samos ele compilou diversas músicas que um grupo de crianças cantariam nas casas dos ricos desejando-os fartura, alegria e paz. Isto era celebrado duas vezes ao ano, uma vez na primavera como petição às divindades (especialmente Apolo, ao Sol e às Estações) que protegessem as sementes, e outra vez no outono, para agradecê-las pela boa colheita dos frutos. Além do agradecimento às divindades, também se desejava o bom aos seus familiares e amigos.
Entre 22 de setembro e 20 de outubro, crianças iriam de porta em porta, segurando a eirosioni, recitando cantigas e recebendo presentes dos que gostavam de suas performances.
Muitas das crianças traziam para casa os louros e galhos de oliveira para pendura-los em suas portas onde ficaram o restante do ano (algo que alguns gregos fazem até hoje). A eirosioni do ano passado seria retirada e queimada.
Segue uma tradicional cantiga de eiresioni do período homérico.
À essa casa viemos ao rico-proprietário
Que suas portas abram para que entre a riqueza
Que riqueza, alegria e a desejada paz devam entrar
E que possa encher seus jarros com mel, vinho e óleo
E o tonel de sovar com massa crescente.
Árvores de Natal no Império Romano Oriental (Bizantino)
Este antigo costume não foi banido no Império, mas foi ungido e se tornou um modo de agradecer a Deus por sua providência. De fato, este costume era comumente incentivado, pois o governador de cada cidade pediria que as ruas fossem limpas e decoradas de postes com alecrim, mirtilo e flores da estação.
O costume de decorar um poste com alecrim ainda sobrevive na memória do povo grego, quando cantam uma das mais famosas cantigas do Ano Novo: Αρχιμηωιά ψηλή μού μου δενδρολιβαωιά (Começo do mês e começo do ano, ó meu querido alecrim alto).
Acredita-se que o costume de eiresioni juntamente com o costume bizantino de decorar as ruas com postes de alecrim viajou ao norte da Europa – apesar de que eles utilizavam as árvores locais a eles, que são os pinhos que conhecemos hoje.
Esta transferência de costumes pode ter ocorrido pelo Batalhão da Cavalaria Real, que eram os guardas do palácio de Constantinopla.
Entre outros, eles desempenhavam um papel de serviço nas cerimônias oficias do Império – inclusive as festas da Natividade do Senhor. Eles eram divididos em três companhias – Pequena, Média e Grande. A Pequena Companhia consistia daqueles de outras religiões, como muçulmanos e diversos pagãos, a Média Companhia consistia de heterodoxos e Cristãos estrangeiros, como escandinavos, alemães, russos e ingleses, e a Grande Companhia consistia de Cristãos Ortodoxos nativos do Império. Por chance foram estes estrangeiros entre eles que trouxeram esses costumes do Império Romano Oriental a seus países respectivos.
Outros Costumes
Apesar do costume da Grécia antiga da eiresioni e o costume bizantino dos postes com alecrim terem sidos transferidos a outros lugares da Europa, e estes foram associados com aquilo que conhecemos hoje das árvores, coroas, cantigas e presentes de natal, há também outros costumes que podem ter origem bizantina.
Por exemplo, os Gregos do Império Bizantino (ou romanos, como se referiam a si mesmos) cavariam uma pequena caverna e ali colocariam uma imagem de Jesus, como uma antiga forma da cena da manjedoura [2].
Além disso, as crianças do Império do Século XII iriam de porta em porta cantando pelo novo ano em janeiro, assim como na Natividade e Batismo do Senhor.
Também há indícios que a tradição do Papai Noel, associada com São Nicolau no Ocidente, pode ter sido na realidade São Basílio, o Grande, quem os gregos continuam celebrando no dia primeiro de janeiro e que pelas crianças é associado como quem distribui os presentes. É por este motivo que entre os gregos hoje a troca de presentes é normalmente reservada para o primeiro dia do ano.
Notas:
[1] Phaedon Kokoules,
professor assistente da Universidade de Atenas,
Vida Bizantina e Civilização, p. 152.
[2] Ibid. p. 151.
FONTE: Centro de Recursos de Mistagogia, acessado em 25/10/2020.