Os «Logismoi» Ou Cogitações
Trad. e org. por Máximo Cardoso
Compreender os pensamentos agressivos e como lidar com eles é a chave para viver uma vida vitoriosa em Cristo. A palavra grega logismoi, (pronuncia-se loghismí) traduz como pensamentos em forma de palavras e pensamentos em forma de imagens que vêm até nós para nos afastar de Cristo. Eles são uma distração e são o resultado da queda da humanidade. Existem muitos Pais da Igreja que nos ensinam como identificá-los e como lidar com eles. São João Clímaco, em sua obra Escada da Ascensão Divina, fala de vários estágios de como eles nos afligem e como devemos lidar com eles. Kyriacos Markides, um sociólogo da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, explora esse entendimento em sua conversa com o Pe. Máximos, que é um monge do Monte Athos (atual metropolita Athanasios de Limassol, no Chipre), descrita em seu livro, “Mountain of Silence” (somente em inglês, sem tradução oficial para o português). O livro é uma leitura obrigatória para qualquer pessoa que luta contra seus pensamentos e deseja se libertar.
Etapas do Logismoi
Aqui estão alguns trechos da obra Montanha do Silêncio, de Kyriacos Markides, em sua conversa com o Pe. Máximos acerca dos logismoi:
Os santos anciãos, afirma o Pe. Máximos, identificam cinco estágios no desenvolvimento de uma cogitação. Claro, estou falando de uma cogitação que vai contra as leis de Deus. A primeira é a fase de assalto, quando a cogitação primeiro ataca nossa mente.
Vou dar um exemplo: um pensamento entra em nossa mente na forma de uma sugestão que nos tenta, digamos, a roubar. É como se essa cogitação batesse à porta da nossa mente e nos dissesse: — Veja esta pilha de dinheiro. Ninguém está olhando. Pegue. Quando ocorre tal cogitação, por mais pecaminoso que seja, não nos responsabilizamos, explica Pe. Máximos. A qualidade do nosso estado espiritual não é avaliada com base nesses ataques. Noutras palavras, não cometemos pecado. Os santos anciãos ao longo dos tempos foram implacavelmente tentados e agredidos por cogitações semelhantes e ainda piores.
O segundo estágio de acordo com os santos anciãos é o que eles chamam de interação. Implica abrir um diálogo, uma troca real com as cogitações. Quando uma cogitação o tenta, por exemplo, a roubar aquela pilha de dinheiro, você começa a se perguntar: — Devo ou não? O que vai acontecer se eu roubar? O que vai acontecer se eu não roubar? Isso é arriscado e perigoso. No entanto, mesmo neste estágio, não há responsabilidade por parte do indivíduo, nenhum pecado é ainda cometido . A pessoa pode, de fato, examinar tais cogitações e considerar várias opções sem ser responsável. Mas se a pessoa tem personalidade fraca, então a derrota acaba sendo o resultado mais provável desse encontro com as cogitações.
O terceiro estágio na progressão de uma cogitação é o estágio de consentimento, por assim dizer. Você consente em cometer o que a cogitação o tenta a fazer, neste caso particular, roubar dinheiro. Você tomou uma decisão. É quando a culpa e a responsabilidade começam a emergir. Este é o começo do pecado. Jesus estava se referindo a esse estágio quando proclamou que se você cobiçar uma mulher em sua mente, já cometeu adultério em seu coração. No momento em que esta decisão criar raízes em seu coração, você estará encaminhado para realmente cometer o ato no mundo exterior.
No caso de uma pessoa não conseguir se libertar da etapa anterior, aí já é derrota. Ele fica refém das cogitações. No momento em que a pessoa sucumbe, da próxima vez as cogitações voltam com maior força. É muito mais difícil resistir então. E assim será com a próxima vez e com a próxima. Os santos anciãos o chamam de estágio de cativeiro. É quando a pessoa não pode mais fugir e continua com esse ato que agora se torna um hábito que se repete de novo e de novo.
Por fim, os santos anciãos identificam o estágio final na evolução de uma cogitação como o de uma paixão ou obsessão. A cogitação tornou-se uma realidade enraizada na consciência da pessoa, na nous. A pessoa torna-se cativa de uma cogitação obsessiva, levando a atos destrutivos contínuos para si e para os outros, como no caso de um jogador compulsivo. Os santos anciãos nos advertiram que, quando nos tornamos dominados por tais paixões, é como dar a chave do nosso coração a Satanás para que ele possa entrar e sair quando quiser. Vemos muitos de nossos irmãos e irmãs lutando desesperadamente para superar suas paixões e vícios obsessivos, mas sem muito sucesso. Eles têm plena consciência de que o que fazem é autodestrutivo. Eles são capazes de raciocinar com clareza de mente, mas seu coração está cativo. Eles não podem ejetar de si mesmos a atividade negativa que os possui e os controla.
Então, o que pode ser feito a respeito dessas pessoas? Eles não tem mais esperança de se libertar de suas paixões destrutivas? perguntei.
Pela graça do Espírito Santo, tudo é possível, inclusive a cura delas, respondeu Pe. Máximos.
Então, como um bom professor, ele resumiu as cinco etapas.
Portanto, temos cinco etapas na evolução de uma cogitação, concluiu e estendeu os cinco dedos da mão direita. Ataque, interação, consentimento, cativeiro e paixão. Essas são mais ou menos todas as etapas. Eles se desdobram e crescem dentro de nós às vezes gradualmente, às vezes como uma avalanche.
Como lidar com os logismoi
A resposta é surpreendente. Nós ignoramos. Isso é o que os Pais da Igreja nos dizem para fazer. Eles explicam que são como moscas e que devemos espantá-las. Do ponto de vista neurológico, isso faz todo o sentido. Não queremos pensar sobre a cogitação ou mesmo dialogar com ela, pois assim ela crescerá ainda mais. Os caminhos neurais que negligenciamos acabarão sumindo. Isso deve ser motivo de esperança para qualquer um de nós que lutou contra pensamentos indesejáveis.
Quando os logismoi, como os indesejáveis vendedores, vem à porta, devemos fechar a porta e nem mesmo dialogar com eles. Convidá-lo para entrar em nossa casa ou em nosso coração constitui pecado – pecado do coração. Os primeiros dois estágios não são pecado. Isso deve tornar mais fácil ignorar os primeiros dois estágios, agressão e diálogo.
Claro, orar a Oração de Jesus é um ótimo substituto para pensamentos repetitivos de assalto. São Marcos, o Asceta, disse que deu crédito por sua vida de oração a Satanás. Cada vez que ele foi tentado pelo diabo, ele orou; por isso, ele orou muito. São João Crisóstomo disse que um ladrão não perturba uma casa onde há uma festa lá dentro. O mesmo acontece com o coração de quem diz a oração de Jesus continuamente. Cogitações sempre estarão conosco nesta vida. Mesmo as pessoas mais santas ainda têm que lutar contra eles.
Logismoi e transtornos mentais
Alguns de nós parecem ser mais propensos a problemas mentais e pensamentos do que outros. Há pessoas que têm pensamentos obsessivos, ansiosos e depressivos podem estar lutando contra as cogitações. O ressentimento que está associado ao vício e ao alcoolismo são provavelmente cogitações. A preocupação e muitos transtornos de ansiedade podem ser vistos como cogitações. Quantas pessoas podem estar tomando remédios para se sedar contra o ataque do inimigo. Não sou contra o uso de remédios para certas situações. Também não estou dizendo que todos esses transtornos são causados por cogitações. Só quero salientar que podemos ter sido enganados ao pensar que Satanás e seus pensamentos agressivos não fazem parte de nossas vidas. Vivemos em uma época em que o mundo espiritual é subestimado e o biológico e o psicológico são elevados. O inimigo também tenta nos fazer acreditar que os pensamentos são nossos. Em vez disso, devemos vê-los como vindos de fora de nós se tivermos sido batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo na Igreja Cristã Ortodoxa. Antes disso, é mais provável que os pensamentos sejam gerados de dentro de nós. Satanás perde poder no mistério do batismo. “Todos os que foram batizados em Cristo se revestiram de Cristo” (Gal 3:27).
Considerações importantes
Temos a tendência de viver nossas vidas pensando quaisquer pensamentos que nos venham, sem considerar que esta é uma guerra em que estamos engajados e que os pensamentos são a munição.
Estamos hipnotizados. Estamos caminhando por um campo de batalha e tiros estão passando zunindo por nossas cabeças, mas queremos parar e dar uma olhada mais de perto na bomba. Infelizmente, é assim que nos machucamos.
Olhamos para bombas quando levamos em nosso coração um pensamento de ressentimento, mágoa ou raiva em relação a outra pessoa. Nós poderíamos escolher não levar em consideração um dano sofrido. Estaríamos seguindo a Cristo, que não abriu a boca quando coisas erradas foram ditas sobre ele. Também olhamos mais de perto a bomba quando olhamos mais de perto a beleza de alguém e estamos cobiçando. Nós olhamos mais de perto a bomba quando nos julgamos como casos perdidos, então desistimos de correr a corrida ou nos julgamos virtuosos e paramos de correr porque estamos ‘na frente’.
Devemos ignorar esses ataques e manter as nossas mentes em Cristo, o Autor e Aperfeiçoador de nossa fé.
Por que podemos ignorar os ataques? Podemos ignorá-los por causa da obra de Jesus Cristo na cruz. Ele veio para destruir as obras do inimigo. A Cruz é nossa arma de paz. No que precisamos pensar e ponderar é em sua palavra, seus mandamentos, sua verdade e invocar seu santo nome em oração. Graças a Deus não temos que entreter, analisar, dissecar ou interagir com pensamentos malignos para vencê-los. Podemos ignorá-los e nos concentrar nele. Podemos levar todo pensamento cativo à obediência de Cristo por sua graça.
Estar em estado de alerta é outro ativo importante em nossa luta. Talvez seja isso que o Padres da Igreja se referiam quando falavam da vigilância, desse estado de se estar sóbrio e alerta. Precisamos ser como nosso software de segurança de computador, que está constantemente bloqueando e concedendo acesso para programas que desejam acessar os arquivos de nosso computador. Ele também protege o que sai de nossos computadores, assim como devemos vigiar nossas bocas.
N.T.: A palavra logismoi (λογίσμοι, pronuncia-se loghísmi) significa “pensamentos” em grego, apesar de sképseis (σκέψεις, pronuncia-se sképsis) ser mais comum e menos rebuscado. A escolha de traduzir logismoi como cogitações se justifica pela tradução ao latim cogitationes, utilizada por São João Cassiano que viveu no mundo ortodoxo latino do século V [2].