São João, o Teólogo
SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
«João, o Discípulo Amado»
São João, o Apóstolo Virgem, é sem dúvida um dos maiores santos da Igreja, merecendo o título de “o discípulo a quem Jesus amava”. Junto à Cruz, recebeu do Redentor Nossa Senhora como Mãe, e com Ela – como Fonte da Sabedoria – a segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de “o Teólogo” por excelência.
Sabemos pelos Evangelhos que São João era filho de Zebedeu e de Maria Salomé. Com seu irmão Tiago, auxiliava o pai na pesca no lago de Genesaré. Pelos Evangelhos sabemos também que seu pai possuía alguns barcos e empregados que trabalhavam para ele. Maria Salomé é apontada como uma das santas mulheres que acompanhavam o Divino Mestre para O servir.
Como seus outros dois irmãos Simão e André, também pescadores, era discípulo de São João Batista, o Precursor. Deste haviam recebido o batismo, zelosos que eram, preparando-se para a vinda do Messias prometido.
Certa vez, estavam João e André com o Precursor, quando passou Jesus a alguma distância. O Batista exclama: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”. No dia seguinte repetiu-se a mesma cena, e desta vez os dois discípulos seguiram Jesus e permaneceram com Ele aquele dia (Jo, 1, 35 a 39).
Algumas semanas depois estavam Simão e André lançando as redes às águas, quando passou Jesus e lhes disse: “Vinde após mim. Eu vos farei pescadores de homens”. Mais adiante estavam Tiago e João numa barca, consertando as redes. “E chamou-os logo. E eles deixaram na barca seu pai Zebedeu, com os empregados, e O seguiram” (Mc 1, 16 a 20).
A partir de então passaram a acompanhar o Messias em sua missão pública. Logo se lhes juntaram outros, que perfariam o número de doze, completando assim o Colégio Apostólico.
Preeminência de três Apóstolos sobre os demais
Desde logo, Pedro, Tiago e João tomaram preeminência sobre os outros Apóstolos, tornando-se os “escolhidos dentre os escolhidos”. E, como tais, participaram de alguns dos mais notáveis episódios na vida do Salvador, como a ressurreição da filha de Jairo, a Transfiguração no Tabor e a Agonia no Horto das Oliveiras.
São João foi também um dos quatro que estavam presentes quando Jesus revelou os sinais da ruína de Jerusalém e do fim do mundo. Mais tarde, com São Pedro, a quem o unia respeitosa e profunda amizade, foi encarregado de preparar a Última Ceia. São Pedro amava ternamente São João, e essa amizade é visível tanto no Evangelho quanto nos Atos dos Apóstolos.
Por sua pureza de vida, inocência e virgindade, João tornou-se logo o discípulo amado, e isso de um modo tão notório, que ele sempre se identificará em seu Evangelho como “o discípulo que Jesus amava”. Apesar de os Apóstolos não estarem ainda confirmados em graça, isso não provocava neles inveja nem emulação. Quando queriam obter algo de Nosso Senhor, faziam-no por meio de São João, pois seu bom gênio e bondade de espírito tornavam-no querido de todos.
“Mas esta serenidade, esta doçura, este caráter recolhido e amoroso [de João] são algo diferente da inércia e da passividade. Os pintores nos acostumaram a ver nele um não sei quê de feminino e sentimental, que está em contraste com a energia varonil e o zelo fulgurante que se descobre em algumas passagens evangélicas” [1].
Se Nosso Senhor amava particularmente São João, também era por ele amado de maneira especialíssima. Com seu irmão Tiago, recebeu de Cristo o cognome de “Boanerges”, ou “filhos do trovão”, por seu zelo. Indignaram-se contra os samaritanos, que não quiseram receber o Mestre, e pediram-Lhe para fazer descer sobre aqueles indóceis o fogo do céu.
Foi por esse amor, e não por ambição, que ele e o irmão secundaram a mãe, Salomé, solicitando que um e outro ficassem à direita e à esquerda do Redentor, em seu Reino (um tanto equivocadamente, pois imaginavam ainda um reino terreno). Quando Nosso Senhor perguntou-lhes se estavam dispostos a beber com Ele o mesmo cálice do sofrimento e da amargura, com determinação responderam afirmativamente.
Entretanto, uma das maiores provas de afeição de Nosso Senhor a São João deu-se na Última Ceia. Quis o Divino Mestre ter à sua direita o Apóstolo Virgem, permitindo-lhe a familiaridade de recostar-se em seu coração. Diz Santo Agostinho que nesse momento, estando tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja.
A pedido de Pedro, perguntou a Jesus quem seria o traidor, e obteve a resposta. São João teve, porém um momento de fraqueza — e das mais censuráveis — quando os inimigos prenderam Jesus, tendo então fugido como os outros Apóstolos. Era o momento em que Nosso Senhor mais precisava de apoio! Logo depois o vemos acompanhando, de longe, o Mestre ao palácio do Sumo Sacerdote. Como era ali conhecido, fez entrar também Simão Pedro. Pode-se supor que ele tenha permanecido sempre nas proximidades de Nosso Senhor durante toda aquela trágica noite, e que não saiu senão para ir comunicar a Maria Santíssima o que se passava com seu Filho. Acompanhou-A então no caminho do Calvário e com Ela permaneceu ao pé da cruz. Era o sinal evidente de seu arrependimento.
Custódia da Mãe de Deus ao Apóstolo virgem
Foi então que, recebendo-A como Mãe, obteve o maior legado que criatura humana jamais podia receber. Diz São Jerônimo: “João, que era virgem, ao crer em Cristo permaneceu sempre virgem. Por isso foi o discípulo amado e reclinou sua cabeça sobre o coração de Jesus. Em breves palavras, para mostrar qual é o privilégio de João, ou melhor, o privilégio da virgindade nele, basta dizer que o Senhor virgem pôs sua Mãe virgem nas mãos do discípulo virgem” [2]. Ensinam os Padres da Igreja que esse grande Apóstolo representava naquele momento todos os fiéis. E que, por meio de São João, Maria nos foi dada por Mãe, e nós a Ela como filhos. Mas João foi o primeiro em tal adoção.
Foi ele também o único dos Apóstolos a presenciar e a sofrer o drama do Gólgota, servindo de apoio à Mãe das Dores, que com seu Filho compartilhava a terrível Paixão.
Quando, no Domingo da Ressurreição, Maria Madalena veio dizer aos Apóstolos que o túmulo estava vazio, foi ele o primeiro a correr, seguido de Pedro, para o local. E depois, estando no Mar de Tiberíades, aparecendo Nosso Senhor na margem, foi o primeiro a reconhecê-Lo.
Uma das três colunas da Igreja nascente
Nos Atos dos Apóstolos, ele aparece sempre com São Pedro. Juntos estavam quando, indo rezar no Templo junto à porta Formosa, um coxo pediu-lhes esmola. Pedro curou-o, e depois pregou ao povo que se reuniu por causa de tal maravilha. Juntos foram presos até o dia seguinte, quando corajosamente defenderam sua fé em Cristo diante dos fariseus. Mais adiante, quando o diácono Felipe havia convertido e batizado muitos na Samaria, era necessário que para lá fosse um dos Apóstolos a fim de os crismar. Foram escolhidos Pedro e João para a missão.
São Paulo, em sua terceira ida a Jerusalém, narra em sua Epístola aos Gálatas (2, 9) que lá encontrou “Tiago, Cleofas e João, que são considerados as colunas”, e que eles, “reconhecendo a graça que me foi dada [para pregar o Evangelho], deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo”.
Depois disso os Evangelhos se calam a respeito de São João. Mas resta a Tradição. Segundo esta, ele permaneceu com Maria Santíssima durante o que restou de sua vida mortal, dedicando-se também à pregação. Depois da intimidade com o Filho, o Apóstolo virgem é chamado a uma estreita intimidade de alma com a Mãe […]. Que grande virtude deveria ter alguém para ser o custódio da Rainha do Céu e da Terra!
Assim, teria ele permanecido com Ela em Jerusalém e depois em Éfeso.
“Dois motivos principais deveriam ter ocasionado essa mudança de residência: de um lado, a vitalidade do cristianismo nessa nobre cidade; de outro, as perniciosas heresias que começavam a germinar. João queria assim empenhar sua autoridade apostólica, quer para preservar quer para coroar o glorioso edifício construído por São Paulo; e sua poderosa influência não contribuiu pouco para dar às igrejas da Ásia a surpreendente vitalidade que elas conservaram durante o século II” [3].
Após a Dormição de Nossa Senhora — que é como a Igreja chama o fim de sua vida terrena — e a Assunção d’Ela aos Céus, fundou ele muitas comunidades cristãs na Ásia menor.
Vivo após o martírio
Ocorre então o martírio de São João […]. O Imperador Domiciano o fez prender e levar a Roma. Na Cidade Eterna, ele foi flagelado e colocado num caldeirão de azeite fervendo. Mas o Apóstolo virgem saiu dele rejuvenescido e sem sofrer dano algum. Domiciano, espantado com o grande milagre, não ousou atentar uma segunda vez contra ele, mas o desterrou para a ilha de Patmos, que era pouco mais do que um rochedo. Foi ali, segundo a Tradição, que São João escreveu o mais profético dos livros das Sagradas Escrituras, o Apocalipse.
Após a morte de Domiciano, o Apóstolo voltou a Éfeso. É lá que, segundo vários Padres e Doutores da Igreja, para combater as doutrinas nascentes de Cerinto e de Ebion — que negavam a natureza divina de Cristo — escreveu ele seu Evangelho [4]. Ordenou antes a todos os fiéis um jejum que ele mesmo observou rigorosamente, para em seguida ditar a seu discípulo Prócoro, no alto de uma montanha, o monumento que é seu Evangelho. Transportado em Deus, com um vôo de águia, ele o começa de uma altura sublime: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus”. Este Evangelho, dos mais sublimes textos jamais escritos, é tido em tanta veneração pela Igreja, que figura [como o Evangelho da celebração das Festas das Festas, a Páscoa], pela fundamental doutrina que contém.
Segundo São João Crisóstomo, os próprios Anjos aí aprenderam coisas que não sabiam. São João escreveu também três Epístolas, sempre visando estabelecer a verdadeira doutrina contra erros incipientes que se infiltravam na Igreja.
Segundo uma tradição, o discípulo que Jesus amava teria morrido em Éfeso, provavelmente […] no ano 101 ou 102. […]
Por: José Maria dos Santos
Notas:
- Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, p. 614.
- Apud Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, op. cit., p. 612.
- Abbé L.Cl. Fillion, La Sainte Bible avec commentaires, Évangile selon S. Jean, P. Lethielleux, Libraire-Éditeur, Paris, 1897, Prefácio.
- Les Petits Bollandistes, Vies des Saints d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo XIV, p 489.
Outras obras consultadas:
- Pe. M.-J. Lagrange, Évangile selon Saint Jean, Librairie Lecoffre, Paris, 1936, 6a. edição, Introduction, pp. VI a XII.
- Pe. Jean Croisset, SJ, Año Cristiano, Saturnino Calleja, Madrid, 1901, tomo IV, pp. 963 a 969.
- Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoza, 1949, tomo VI, pp. 573 a 581.
- Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1987, pp. 490 a 495.
São João, «o discípulo bem-amado»
São Pedro Damião (1007-1072), Sermão 63; PL 144, 857ss.
É justo e bom que aquele que foi mais amado por Cristo que todos os mortais seja objeto de um amor particular por parte dos amigos de Cristo, tanto mais que João deu provas de um amor tão grande por nós que partilhou conosco […] as riquezas da vida eterna que ele próprio tinha recebido. Com efeito, foram-lhe dadas as chaves da sabedoria e do conhecimento (cf Lc 11, 52). […]
O espírito de João, iluminado por Deus, concebeu a incomparável altura da sabedoria divina quando, na Última Ceia, repousou sobre o peito do Redentor (Jo 13, 25). E, porque no coração de Jesus se encontram «todos os tesouros da sabedoria e da ciência» (Col 2,3), foi aí que ele foi buscar e daí que tirou os conteúdos com que enriqueceu grandemente a nossa miséria de pobres e distribuiu amplamente os bens tomados da fonte para a salvação do mundo. E, porque o bem-aventurado João fala de Deus de maneira maravilhosa, que não pode ser comparada com nenhuma outra entre os mortais, é compreensível que tanto os gregos como os latinos lhe tenham dado o nome de o Teólogo. Maria é Theotokos porque foi verdadeiramente Mãe de Deus, e João é Theologos porque viu, de maneira que não pode ser descrita, que o Verbo de Deus estava junto de Pai antes de todos os séculos e era Deus (Jo 1,1), e também porque no-lo revelou com extraordinária profundidade.
São João, o Teólogo
DONADEO, Madre Maria. O Ano litúrgico Bizantino, São Paulo: Ed Ave Maria.
São João, que em hebraico significa «Deus concede a graça», na tradição bizantina é chamado habitualmente “o Teólogo”, título reservado a poucos e, particularmente, apropriado ao Apóstolo, sempre citado entre os primeiros, cuja insigne doutrina, através do seu evangelho, das Epístolas e do Apocalipse, tem nutrido a Igreja de todos os tempos.
Enquanto os fiéis latinos celebram a festa de São João em 27 de dezembro, os fiéis do Oriente bizantino comemoram solenemente esse santo duas vezes: em 26 de setembro, dia da Dormição do Apóstolo (isto é, dia da sua morte) e no dia 8 de maio. O tropário e o kondakion são os mesmos nas duas festas, e também boa parte do ofício próprio do santo, contido nos Minéa, é comum. Dos textos do Ofício podemos depreender todos os dados essenciais da biografia do mais moço dos doze Apóstolos, o qual teve também o privilégio de testemunhar o Cristo até a idade mais avançada. O primeiro texto sobre São João, nos é informado que ele é filho de Zebedeu e que a ele foi dado a graça das visões apocalípticas e de chamar Deus de AMOR. Ele é lembrado como o “Filho do Trovão” e com frequência somos admoestados pelo seu ensinamento sobre o «Verbo que era desde o princípio e que estava junto do Pai inseparavelmente; igual a Ele na natureza».
Nas Vésperas as três leituras bíblicas são tiradas da primeira epístola de São João, dando destaque especialmente aos trechos em que ele se manifesta como o Apóstolo do amor (final do cap. 3, o cap. 4 quase por inteiro e o início do cap. 5).
No Cânon destaca-se a dúplice palavra que Jesus, na cruz, dirige à sua Mãe:
«Discípulo virgem, recebeste a honra de ser adotado como filho pela Virgem imaculada; te tornaste irmão daquele que te escolheu e fez de ti o seu Teólogo”.
“Discípulo do Salvador, na Cruz Cristo confiou a ti, Teólogo virgem, a Puríssima Theotókos; então cuidaste dela como a pupila dos teus olhos: intercede pela salvação de nossas almas».
Nas Laudes se recorda que o
“Discípulo virgem, igual aos anjos, evangelista São João, teólogo formado por Deus”, anunciou ao mundo a ferida no lado de Cristo da qual saiu “sangue e água de onde jorra vida eterna para as nossas almas”.
Tampouco é esquecida a atividade apostólica de João, em que se usam por vezes imagens poéticas, tão queridas aos orientais, como no katisma poético do Órthros (Matinas).
«Tendo abandonado as águas profundas em que pescavas, ó Apóstolo ilustre, com o caniço da Cruz sabiamente pegaste, feito peixes, o conjunto das nações e, como Cristo te dissera, foste pescador de homens, atraindo-os à fé; tendo semeado o conhecimento do Verbo de Deus, com tuas palavras colheste Éfeso e Patmos. Ó apóstolo São João, intercede junto do Cristo nosso Deus, a fim de que conceda a remissão dos pecados a quantos celebram de coração a tua sacra memória».
A iconografia de São João estende-se pelos séculos em amplos espaços geográficos. Na tradição bizantina predominam duas representações: do santo aos pés do Crucificado, frequentemente ao lado oposto de onde se encontra a Virgem (à direita do Cristo), sem as demais pessoas, embora lembradas nos evangelhos, presentes no Calvário ou então o Evangelista é representado sentado, por vezes tendo ao lado o símbolo da águia, ditando ao seu escriba Prócoro a revelação. Ao centro do Iconostase, nas Portas Reais, debaixo da cena da Anunciação é frequente a representação dos quatro evangelistas. São João é logo reconhecível, pois é o único. que está ditando a um discípulo. Na iconografia da Santa Ceia o discípulo amado é sempre representado com a cabeça sobre o peito do Mestre. Ele está presente também em numerosas cenas evangélicas ou tradicionais, como a Transfiguração, o Pentecostes, a Dormição da Virgem e muitas outras.
Com a liturgia bizantina, peçamos ao discípulo de Cristo, ao Apóstolo da luz e do amor, tão bem retratado nas Sagradas Escrituras, “para que ilumine todo homem e o leve ao conhecimento de Deus”.
Filho de Zebedeu e Salomé, pescadores da Galileia, foi o primeiro discípulo, com Santo André, que se encontrou com Jesus à beira do Jordão, que os convidou a segui-lo. Nas listas dos apóstolos, João sempre apareceu com seu irmão Tiago imediatamente depois de Pedro e André.
João, juntamente com Pedro e Tiago, formam a tríade privilegiada que Jesus levou consigo nos momentos mais solenes, como na ressurreição da filha de Jairo, na transfiguração do Tabor e na agonia do Getsêmani.
A consciência desta preferência de Cristo e certo ciúme da liderança de Pedro no grupo dos doze levaram os dois irmãos, Tiago e João, a solicitar a Jesus uma declaração explícita e definitiva: “Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te vamos pedir”. Respondeu-lhes Jesus: “Que quereis que eu vos faça?” ‘Concede-nos que nos assentemos na tua glória, um a tua direita e outro à tua esquerda”.
Jesus não lhes concedeu este pedido, mas lhes confirmou que deveriam padecer muito por amor dele: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eu vou beber, e podeis ser batizados com o batismo que eu vou receber?” Eles responderam: “Podemos”. Jesus, então, lhes disse: “Bebereis o cálice que vou beber e sereis batizados com o batismo com que vou ser batizado. Todavia, sentar à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim concedê-lo, mas é para aqueles a quem está preparado” (Mc 10,35-40).
Depois de Pentecostes, a presença e a ação de João foram de grande importância para a consolidação da comunidade primitiva na Judéia, como testemunham as numerosas citações do seu nome nos Atos dos Apóstolos. Depois da dispersão dos apóstolos, São João dedicou-se a fundar e firmar as igrejas na Ásia Menor.“Foi precisamente o cuidado pastoral das Igrejas que levou o apóstolo João a escrever nos seus últimos anos o Apocalipse, o quarto evangelho, e três epístolas. Escreveu o Apocalipse para confortar os cristãos durante a perseguição de Domiciano. Descreve nele o poder sublime do Cordeiro sacrificado, as grandes tribulações dos fiéis, o castigo dos perseguidores e o triunfo final da Igreja. Terminada a perseguição e estabelecido em Éfeso, João escreveu o evangelho e suas epístolas”.
Este evangelho é o mais belo, e o mais sublime. Pressupõe os outros três, completa-os com episódios preciosos, interpreta-os e os comprova.
Em suas epístolas respira-se o amor que nos leva a Deus e nos prende ao próximo. Conta-se que, já idoso, ao ser levado por seus discípulos à igreja, só repetia estas palavras: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros, pois no amor está incluída toda a Lei de Deus”.
Provavelmente faleceu em Éfeso no tempo do Imperador Trajano (98-117).
São João, o Teólogo
Fonte: Orthodox Church in America. Trad.: de Ricardo Williams G. Santos.
O santo e glorioso Apóstolo e Evangelista e amado amigo de Cristo, São João, o Teólogo, era filho de Zebedeu e Salomé, uma das filhas de São José, esposo de Maria. Nosso Senhor Jesus Cristo o chamou para ser um de Seus Apóstolos, juntamente com seu irmão mais velho, Tiago. Os dois irmãos foram convocados no Lago Genezaré (Mar da Galileia), e deixaram sua família para seguir ao Senhor.
Nosso Salvador tinha grande amor pelo Apóstolo João por seu amor oferente e sua pureza de corpo e alma. Após seu chamado, o Apóstolo esteve com o Senhor em todos os momentos, e era um dos três Apóstolos mais próximos a Cristo – ele esteve presente quando Nosso Senhor ressuscitou a filha de Jairo, e foi testemunha de Sua Transfiguração no Monte Tabor.
Durante a Última Ceia, ele deitou sua cabeça no colo do Senhor, e perguntou-Lhe o nome do traidor. Após a prisão de Cristo no Jardim do Getsêmani, São João seguiu o Senhor até a corte dos sumos sacerdotes Anás e Caifás, testemunhou o interrogatório de seu Mestre e o seguiu até o Gólgota, com o coração pesaroso.
Ele permaneceu aos pés da Cruz junto com a Mãe de Jesus e o Senhor Crucificado lhes disse: “Mulher, eis aí teu filho”. O Senhor então lhe disse “Eis aí tua mãe” (Jo 19:26-27). Daquele momento em diante, São João, como um filho amoroso, cuidou da Santa Virgem Maria e a serviu até sua Dormição.
Após a Dormição da Mãe de Deus, o Santo Apóstolo João partiu para diversas cidades da Ásia Menor para pregar o Evangelho, levando com ele seu discípulo Prócoro. Quando estavam se dirigindo para Éfeso por mar, uma terrível tempestade afundou seu navio. Todos os viajantes conseguiram chegar em terra firme, exceto o Apóstolo, que afundara. Muito triste após a perda de seu guia e pai espiritual, Prócoro decidiu partir sozinho para Éfeso.
No décimo quarto dia de sua jornada pelo litoral, ele viu que o mar havia trazido um homem à praia. Ao se aproximar, Prócoro viu que se tratava do Apóstolo João, que fora mantido vivo pelo Senhor por catorze dias no mar. Então, mestre e discípulo partiram para Éfeso, onde o Apóstolo pregou incessantemente para os pagãos. Durante sua pregação ele fez inúmeros milagres, convertendo mais e mais pessoas a cada dia.
Naquele tempo, porém, o imperador Nero (56 – 68 d.C.) iniciara a perseguição aos cristãos. São João foi levado à Roma para ser julgado. Por professar sua fé em Jesus Cristo, ele foi condenado à morte por envenenamento, mas o Senhor o salvou – após beber um cálice de veneno mortal, nada lhe aconteceu. Ele também saiu ileso de um caldeirão de óleo fervente no qual ele fora jogado pelo torturador.
Após tudo isso, o Apóstolo foi exilado para a ilha de Patmos, onde viveu por muitos anos. Enquanto estava a caminho do local de exílio, São João fez vários milagres. Ao chegar na ilha, sua pregação e seus milagres atraíram os ilhéus, que foram convertidos pela luz da Boa Nova. Ele também expulsou os demônios dos templos pagãos e curou muitos enfermos.
Feiticeiros com poderes demoníacos se opuseram à pregação do Santo Apóstolo. Seu líder, um feiticeiro chamado Kinops, declarou que destruiria o Apóstolo. Mas o grande São João, pela graça de Deus, destruiu todos os ardis demoníacos de Kinops, e o arrogante feiticeiro se suicidou lançando-se ao mar.
Então, São João retirou-se com seu discípulo para uma colina desolada, jejuando por três dias. Durante uma de suas orações a terra tremeu e os céus trovejaram. Prócoro se atirou ao chão, assustado. O Apóstolo o ajudou a levantar-se, dizendo-lhe para escrever o que ele iria dizer. “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor Deus, aquele que é, aquele era, e aquele que vem, o Todo-Poderoso” (Apocalipse 1:8), proclamou o Espírito de Deus através do Apóstolo João. E assim, no ano de 67 d.C., foi escrito o Livro das Revelações, também conhecido como “Apocalipse” do Santo Apóstolo João, o Teólogo. Esse livro fala sobre uma período de tribulação da Igreja e do fim do mundo.
Após seu longo exílio, São João ganhou a liberdade e retornou a Éfeso, onde continuou seu trabalho, instruindo os cristãos a terem cuidado com falsos profetas e seus ensinamentos errôneos. No ano de 95, o Apóstolo escreveu seu Evangelho em Éfeso.
Ele ensinava aos cristãos para amarem ao Senhor e uns aos outros, cumprindo desse modo os mandamentos de Cristo. A Igreja chama São João de “Apóstolo do Amor”, porque ele dizia constantemente que o homem não pode se aproximar de Deus sem amor.
Em suas três Epístolas, São João fala da importância do amor a Deus e ao próximo. Já em idade avançada, ele soube de um jovem que se perdera ao juntar-se a um grupo de bandoleiros, e decidiu então sair em busca do rapaz. Ao ver o Santo ancião, o jovem tentou fugir, mas o Apóstolo o alcançou. Ele prometeu ao jovem que seus pecados seriam perdoados se ele se arrependesse e não levasse sua alma à perdição. Movido pelo intenso amor do Ancião, o jovem bandido se arrependeu e deixou a vida de crimes.
São João viveu até os 100 anos, mais do que qualquer outro Apóstolo, e por muito tempo ele foi a única testemunha terrestre da vida terrena do Salvador. Quando chegou a hora de seu descanso, São João retirou-se para fora de Éfeso, acompanhado por seus discípulos e suas famílias. Ele pediu que lhes preparassem um túmulo em forma de cruz, onde ele se deitou, pedindo em seguida para que seus discípulos o enterrassem. Com muita tristeza e lágrimas nos olhos, os discípulos se despediram de seu querido mestre, e embora tristes, obedeceram suas ordens, envolvendo-o em um sudário e cobrindo-o com terra.
Após o enterro, outros discípulos vieram visitar à sepultura para se despedir. Ao abrir a cova, ela estava vazia.
A partir de então, a cada ano no dia 8 de maio, brotava do túmulo do Apóstolo uma fina areia, que curava as enfermidades dos fiéis. Por isso que a Igreja também celebra o milagre de São João no dia 8 de maio.
Nosso Senhor deu a seu amado discípulo João e a seu irmão, Tiago, o nome de “Filhos do Trovão”, pois o trovão é um terrível mensageiro em seu poder purificador do fogo celeste. E justamente por este motivo que o Salvador destacou o caráter exaltado, ígneo e sacrificial do amor cristão, cujo principal mensageiro foi o Apóstolo João.
A águia, símbolo da sublimidade de sua teologia é o símbolo iconográfico do Santo Evangelista João. São João é o único dentre os Apóstolos de Cristo que recebe o epíteto “Teólogo”, pois ele foi profeta dos misteriosos Julgamentos de Deus.