Sexta-Feira Santa
SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
O tema da noite da Sexta-feira Santa é a descida de Cristo ao Hades, durante a qual o Evangelho do arrependimento e da reconciliação com Deus é compartilhado com todos aqueles que morreram antes da salvação do Cristo encarnado. O ofício se inicia com o lamento cantado enquanto o povo se põe perante a tumba de Cristo, recordando Sua punição injusta e o derramamento de Seu sangue inocente. Porém o ofício termina com um lampejo de alegria e esperança, com a leitura do livro do Profeta Ezequiel, no qual ele descreve sua visão de nossa ressurreição vindoura; no meio do desespero, ele nos diz que há esperança, pois nem mesmo a morte pode nos separar do amor incessante e do poder de Deus. A morte será vencida e a fidelidade recompensada.
Neste dia não se celebra a Divina Liturgia em sinal de luto pela morte e sepultamento do Jesus. A Igreja nos recorda a traição de Judas, a agonia no Monte das Oliveiras, a condenação de Jesus; a sua Crucifixão e o seu Sepultamento na espera da Ressurreição ao Terceiro Dia. Estas recordações estão distribuídas nos vários ofícios da Sexta-feira Santa, que são:
- Ofício da Paixão;
- As Grandes Horas;
- Ofício de Vésperas;
- Ofício do Enterro de Cristo. (ofício noturno no qual as Lamentações são cantadas no túmulo do Senhor e o santo epitaphios – sudário – é transportado em procissão e venerado por nós).
«A Grande Sexta-Feira Santa»
A realização do Ofício de Matinas da Sexta-feira Santa é comumente antecipada para a noite da Quinta-feira Santa. A principal característica deste ofício é a leitura dos 12 textos selecionados dos Santos Evangelhos, relatos da Paixão de Cristo. A primeira dessas doze leituras é extraída de João 13:31 a 18.1. Trata-se do extenso discurso de Jesus com seus discípulos, finalizando com a designada “Oração Sacerdotal”. A última das doze leituras é um relato de como a tumba de Cristo foi selada e a disposição de guarda para vigiá-la (Mateus 27, 62-66).
Estas doze leituras dos Evangelhos sobre a Paixão de Cristo são recitadas durante o Ofício de Matinas, que são intercalados pela entonação de diferentes hinos e salmos. Toda a hinologia está relacionada aos sofrimentos de Cristo e se fundamenta, em grande parte, em textos evangélicos, nos escritos proféticos e salmos. Após a leitura do quinto Evangelho, o sacerdote carrega a Cruz em uma procissão solene ao redor do templo, enquanto proclama o hino:
«Hoje foi elevado sobre um madeiro Aquele que levantou a terra sobre as águas …»
A cruz é colocada no meio do templo, adornada com coroas de flores e velas, para que os fiéis a venerem. É o momento mais alto da solenidade. A cruz permanece ali até a celebração de Vésperas, cantada na manhã da Sexta-feira.
Após a leitura do sexto Evangelho, são cantadas as Bem-aventuranças (Mt 5), com ênfase especial na salvação concedida ao bom ladrão que foi reconhecido no Reino de Cristo.
Na Sexta-feira Santa pela manhã, são celebradas as Horas Reais (Primeira, Terceira, Sexta e Nona), relendo-se os relatos dos Evangelhos da Paixão de Cristo, as leituras das Profecias do Antigo Testamento sobre a redenção do homem e as Cartas de São Paulo sobre a sua salvação pelos sofrimentos de Cristo. Os Salmos lidos neste contexto também são proféticos (p. ex.: 2, 5, 22, 109, 139 etc.). Neste ofício, é feita a “Descida” do crucificado da cruz e depositado em seu túmulo (Epitáfio), onde permanecerá até a noite em que a Igreja cantará os lamentos fúnebres ou Encômios.
Vale ressaltar que a Divina Liturgia não é celebrada na Sexta-feira Santa pela mesma razão que não deve haver Celebração Eucarística nos dias de jejum da Grande Quaresma.
FONTE:
Publicação da Sacra Arquidiocese Ortodoxa de Buenos Aires, Exarcado da América do Sul do Patriarcado Ecumênico. Tradução de Pe. André Sperandio