Segunda-Feira Santa

«Eis que o esposo vem no meio da noite. Feliz o servo que ele encontrar vigilante. Aquele, porém, que encontrar imprevidente será considerado indigno de acompanhá-lo.»
Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

Matinas da Santa e Grande Segunda-feira

Na segunda-feira, recordamos o Bem-aventurado José do Antigo Testamento, que foi espancado por seus irmãos, deixado para morrer e escravizado por estrangeiros. Enquanto seu pai, Jacó, sofria por seu filho, José reinava gloriosamente como um senhor do Egito, e assim, depois, salvou seu pai e seu povo. Isso prefigura a salvação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi vendido por 30 moedas de prata, preso, condenado e que sofreu Sua amarga Paixão por nós … para depois ascender gloriosamente, tendo dado a vida para aqueles que estavam no túmulo!

«José do Egito»

No domingo à noite é realizado o Ofício de Matinas da Santa e Grande Segunda-feira no qual, através da oração e da Palavra de Deus refletimos sobre a pessoa de José, o Justo, e no episódio da figueira estéril.

José bisneto de Abraão, neto de Isaque, filho de Jacó tinha mais onze irmãos: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Isacar, Gad, Dan, Aser, Neftali e Benjamin. Sendo os doze bisnetos de Abraão eram herdeiros da promessa de Deus. Tornariam-se, depois, os chefes das doze tribos de Israel, do povo escolhido por Deus, de quem nasceria o prometido Messias. De todos os filhos de Jacó José, era o favorito do pai. E seus irmãos não entendiam a razão desta preferência, pois José não era nem o primogênito nem o mais forte, mas, de fato, era o penúltimo (11º) de seus deze filhos). Isso provocou fortes sentimentos de ciúme e inveja em seus irmãos.

Os irmãos de José foram levar a pastar as ovelhas, e Jacó ordenou a José que fosse ver seus irmãos e lhe trouxesse notícias. Vendo-o ainda de longe que se aproximava, alegre e despreocupado, os irmãos sentiram raiva e inveja e planejaram matá-lo. Ruben sugeriu então que fosse colocado vivo num poço vazio próximo. Os outros irmãos gostaram da ideia. Quando José chegou, os irmãos o levaram até o poço, despiram-no e o espancaram.

Teria sido este o túmulo de José se não fosse porque, voltando para casa, seus irmãos encontraram uma caravana de Ismaelitas que negociava escravos, e Judá propôs que o vendessem em vez de deixá-lo naquele poço. Os irmãos concordaram e os contrabandistas retiraram José daquele horrível poço e o levaram como escravo para o Egito, onde Putifar, o faraó, o comprou.

José viveu por vários anos como escravo do faraó até que a esposa do faraó se apaixonou por ele e, porque José não consentiu com o romance, ela disse ao Faraó que José havia tentado contra sua honra. O faraó se enfureceu de tal modo que o mandou para a prisão.

José tinha o dom de interpretar sonhos, e eis que, dois anos depois, o Faraó teve um sonho no qual estava ao lado do Nilo, e viu que do rio vinham sete vacas bonitas e gordas que começaram a pastar os juncos que cresciam na sua encosta. Atrás delas vinham sete vacas feias e magras que comiam as vacas belas e gordas.

O Faraó, conhecendo a habilidade de José, o retirou da prisão e o questionou sobre o significado de sonho que tivera. José respondeu: sete anos de abundância e sete anos de seca no Egito, e seu conselho foi para que durante os sete anos de abundância estocassem um quinto de todas as colheitas do Egito. E assim foi feito, e o Egito não sofreu fome durante os sete anos de seca. José foi nomeado então pelo Faraó para o mais alto cargo administrativo do Egito.

A seca, com efeito, foi tão grande que logo afetou além do Egito, lá onde a família de José morava. Jacó, não tendo mais o que comer e ouvindo que no Egito vendiam comida, enviou dez de seus filhos para comprar alimentos. Eles se apresentaram a José, sem saber de quem se tratava. José, percebendo que eram seus irmãos, não só não os julgou ou castigou, mas os tratou com condescendência e misericórdia. Os irmãos voltaram para a casa de Jacó com a boa notícia de que José estava vivo e que queria que Jacó e todos os seus filhos se mudassem para o Egito, o que fizeram.

Desta forma, José torna-se uma clara prefiguração de Cristo, entregue à morte por seus próprios irmãos judeus e vendido por trinta moedas de prata. E,. assim como José, Jesus venceu a morte e foi constituído o Senhor de todas as coisas.
A analogia José-Jesus, elaborada pelos Pais da Igreja, baseia-se, além das circunstâncias acima mencionadas, na atitude amorosa incondicional de ambos em relação aos seus irmãos que atentam contra suas vidas e, por sua vez, são redimidos pelos seus atos em virtude desse amor que perdoa, redime e vivifica para além de todas as ações e circunstâncias da vida.

«A Fiqueira Seca»

A Igreja, neste tempo preparatório à comemoração da Paixão de nosso Senhor, faz referência ao episódio em que Jesus amaldiçoa a figueira infrutífera (Mt 21:18-43). Tendo sido vendido pelo crime e inveja de seus irmãos, José não se entregou ao ódio, ressentimento e vingança que tais atitudes, incompreensíveis à mente humana, poderiam lhe ter causado, mas aproveitou a oportunidade para reverter todo o mal que lhe tinha sido feito e, assim, “produziu bons frutos”. José tomou o caminho mais difícil, o do perdão, da condescendência e do amor.

A vida dá muitas voltas e, quando se encontrou com seus irmãos, não apenas os perdoou, mas os trouxe para viver com ele no Egito, salvando-os da fome. E este é o exemplo mais contundente do que Cristo nos ordena: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13:34). Este é o fruto que Deus espera de cada um de nós. Nosso fruto é o amor incondicional do qual São Paulo fala aos coríntios (Cor 13:4-7). Caso contrário, nossa vida pode secar como a figueira, já neste mundo. Uma vida privada desse amor não dá frutos e não pode alimentar ninguém. Deus nos pede para que O “alimentemos” com esse amor através daqueles que são nossos próximos: este é o novo mandamento e os frutos pelos quais seremos conhecidos (Mt. 7: 15-20).

FONTE:

Publicação da Sacra Arquidiocese Ortodoxa de Buenos Aires, Exarcado da América do Sul do Patriarcado Ecumênico. Tradução de Pe. André Sperandio