Cóliva
Cóliva ou cólivo (grego: Κολλυβα, (kólliva); sérvio: кољиво, (koljivo); romeno: colivă; búlgaro: коливо, (kolivo); ucraniano e russo: Kutya (ou Kutia)) é uma oferta de trigo cozido que é abençoado liturgicamente em conexão com os serviços comemorativos na Igreja em benefício dos adormecidos em Cristo, oferecendo assim a Deus , por assim dizer, um sacrifício de propiciação pela pessoa morta, e em honra do Soberano Senhor sobre a vida e a morte.
Receita
Embora as receitas possam variar muito, o ingrediente principal do cóliva de hoje consiste em grãos de trigo que foram fervidos até ficarem macios. Estes são geralmente misturados com uma variedade de ingredientes que podem incluir sementes de romã, sementes de gergelim, amêndoas, nozes moídas, canela, açúcar, passas, anis e salsa.
A mistura da cóliva é então colocada em uma travessa e moldada em um monte ou bolo, para se assemelhar a um túmulo. O conjunto é então decorado com uma cobertura de açúcar em pó, muitas vezes com amêndoas da Jordânia, passas ou outros doces colocados decorativamente na superfície. Uma cruz é traçada ou criada com os doces no topo, e nas laterais são colocadas as iniciais dos falecidos para quem o memorial é realizado. Uma vela, muitas vezes colocada no centro do cóliva, é acesa no início do serviço memorial e apagada no final; a vela simboliza a luz com que o cristão é iluminado no Batismo, e também a luz do mundo vindouro, que ainda não conhecemos completamente.
Algumas paróquias ortodoxas têm um indivíduo designado especialmente encarregado de fazer a cóliva.
O tamanho e a decoração da travessa variam de acordo com o tempo decorrido desde a data do falecimento. O serviço memorial do quadragésimo dia é o mais importante que praticamente nenhum ortodoxo deixa de realizar para o repouso da alma de seu amado. Este alimento ritual é abençoado após o serviço memorial, realizada em intervalos específicos após a morte. Os cóliva são então distribuídos à congregação após o culto, que em troca diz “que Deus perdoe sua alma!” .
Também é costume que o Padre despeje vinho, azeite e um pouco de cóliva no túmulo do cemitério, após o Serviço Memorial na igreja.
Origens
Antes da conversão dos gregos
A origem da receita de cóliva é anterior à conversão dos povos gregos ao cristianismo. A palavra deriva da palavra grega antiga κόλλυβo (kollyvo), que originalmente significava grãos de cereais. As oferendas de primícias da região eram conhecidas como panspermia […].
«O costume foi retomado pela Igreja grega. A panspermia é oferecida aos mortos no Sábado das Almas, o Psicosábado, que é celebrado na Igreja antes da Quaresma e novamente antes do Domingo de Pentecostes. É também oferecido como primícias em em várias ocasiões, mas principalmente na colheita do fruto nas regiões de lavoura. É levado à igreja, abençoado pelo padre e consumido em parte, pelo menos, pelos celebrantes. Essas primícias variam de acordo com as estações e consiste de uvas, pães, milho, vinho e azeite. Velas são fixadas nos pães, e há castiçais com copos para trigo, vinho e óleo. O nome moderno usual dessas oferendas é kollyva , que significava na antiguidade tardia, bem como nos tempos modernos, uma oferta de trigo cozido e frutas. A palavra aparece também em descrições de usos eclesiásticos no Império Romano Medieval (Bizantino). Muito raramente a continuidade de um uso de culto pode ser seguida através dos tempos como este […].»
Sábado de São Teodoro
A tradição de abençoar e comer cóliva também no final da primeira semana da Grande Quaresma está ligada a um evento no reinado de Juliano, o Apóstata , em 362 dC. A Tradição diz que o imperador sabia que os cristãos passariam fome após a primeira semana de jejum estrito, e iriam aos mercados de Constantinopla no sábado, para comprar comida. Por isso ordenou que o sangue dos novilhos utilizados em rituais pagãos fosse aspergido sobre toda a comida que ali se vendia, tornando-a «alimento contaminado com o sangue da idolatria», na tentativa de impor ao povo grego o paganismo helênico do qual Juliano foi um fervoroso defensor.
No entanto, São Teodoro de Tiro, apareceu em visão ao Patriarca de Constantinopla Eudóxio, ordenando-lhe que informasse a todos os cristãos que ninguém deveria comprar nada no mercado, mas ferver o trigo (já chamado cóliva) que eles tinham em casa. e comê-lo adoçado com mel.
Como resultado, este primeiro sábado da Grande Quaresma passou a ser conhecido como Sábado de São Teodoro de Tiro. Após o serviço, o cóliva é distribuído a todos os presentes e, após a Sagrada Comunhão o pão abençoado (antidoron), é o primeiro alimento consumido após o jejum estrito da primeira semana.
Desde então, cóliva, tendo se conectado com a celebração da memória dos Santos, é trazida à igreja, tradicionalmente pela família e outros entes queridos, durante as orações memoriais.
Simbolismo
Os Kólivo são simbólicos da ressurreição dos mortos no dia da Segunda Vinda do Senhor. São Paulo disse, «o que você semeia não vive se não morrer» (I Cor 15:36), e no Evangelho segundo São João, «se o grão de trigo cair na terra e morrer, ele permanece sozinho; mas se morre, dá muito fruto» (Jo 12:24).
Assim, como o trigo é enterrado no solo e se desintegra sem realmente morrer, mas depois é regenerado em uma nova planta que dá muito mais frutos do que ele mesmo, da mesma forma, o corpo do cristão será ressuscitado da própria matéria corruptível da qual agora é feito; no entanto, será ressuscitado não em sua substância carnal anterior, mas em uma essência incorruptível que «revestirá o corpo mortal com uma roupagem imortal», nas palavras de São Paulo (I Cor 15:53).
A Kóliva, então, simboliza a esperança enraizada pelos apóstolos na ressurreição do corpo e da alma como o único evento que dá sentido e atinge a perfeição almejada por parte do indivíduo. Somente este evento faz que esta vida tenha significado e seja organizada segundo à justiça de Deus […].
Ocasiões de uso
Serviço Memorial
Durante os serviços memoriais, a família ou amigos dos falecidos geralmente preparam um cóliva que é colocado em frente à mesa memorial diante da qual o serviço é cantado. Também se envia uma lista dos nomes dos entes queridos falecidos ao sacerdote. Os serviços comemorativos são servidos no terceiro, nono e quadragésimo dia após o repouso de um cristão ortodoxo, bem como no aniversário de um ano e, comumente, anualmente.
Além disso, há quatro Sábados das Almas (Psicosábados) durante o ano eclesiástico, incluindo os dois sábados anteriores à Grande Quaresma, o primeiro sábado da Grande Quaresma e o sábado anterior a Pentecostes, durante os quais são feitas comemorações gerais para todos os falecidos de uma família e paroquianos. Além disso, igrejas na Ucrânia e Rússia possuem o «Dia do Júbilo» (ucraniano: Проводи, (Provody); russo: Радоница, (Radonitsa)) como datas extras, na segunda terça-feira depois da Páscoa (terça-feira de Tomé), porém, na prática ortodoxa moderna, este tem cada vez mais se tornado universal.
Comemoração dos Santos
Também é costume, mas menos comum, que a festa do padroeiro de uma igreja ou de uma família, ou na festa de santos de especial significado, oferecer cóliva. Em vez de servir um serviço memorial, o cóliva é colocado na frente de um ícone do santo e um ofício de petição (Paráclise) é servido a esse santo.
Há também uma prática de origem Athonita, porém comum no mundo todo, em que os ícones dos santos são incorporados com desenhos de açúcar na superfície das oferendas de cóliva feitas em sua homenagem.
Galeria
Ingredientes:
Serve de 35-40 pessoas. Utilizar proporção para cada necessidade.
500 g de bagas de trigo
400 g de açúcar de confeiteiro
100 g de sementes de gergelim
200 g de amêndoas, descascadas
250 g de nozes
2 colheres (sopa) de canela
1/2 colher (chá) de cravo
80 g de torrada de trigo
250 g de passas douradas
1/4 maço de salsa, finamente picada
50 g de farinha de trigo
1 romã.
Modo de preparo:
Nota: O açúcar de confeiteiro comprado pronto normalmente inclui maisena. Para um açúcar de maior qualidade, recomenda-se triturar o açúcar cristal no liquidificador e depois peneirar para retirar os grãos grossos.
- Adicione o trigo em uma tigela e encha-a com água.
- Deixe o trigo de molho por 8-10 horas.
- Descarte as bagas de trigo que sobem à superfície!
- Escorra e ferva em uma panela com água, por 30-40 minutos.
- Deixe o trigo na peneira, por 1 hora, para retirar o excesso de umidade e esfrie bem.
- Espalhe panos de prato em assadeiras e coloque o trigo sobre eles.
- Cubra com mais toalhas e espere 3-4 horas para que as toalhas absorvam toda a umidade.
- Transfira o trigo para uma tigela, adicione o açúcar de confeiteiro e misture.
- Em um liquidificador, adicione as sementes de gergelim, as amêndoas, as nozes e processe até ficarem bem moídas.
- Adicione a mistura à tigela.
- Adicione a canela, os cravinhos, a torrada ralada, as passas, a salsa finamente picada, a romã e misture.
- Leve uma frigideira ao fogo baixo e acrescente a farinha.
- Refogue em fogo alto com azeite por 2-3 minutos.
- Retire e adicione à tigela.
- Misture, decore (com elementos do próprio cóliva) e sirva.
Fontes: Orthodox Wiki | Akispetre Tzikis
Traduzido por Máximo Cardoso e Arquimandrita André Sperandio.