2º Domingo da Quaresma

«Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos» (Mt 22:14)
Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

«A Veneração às Santas Relíquias»

A veneração às relíquias de santos cristãos teve inicio no culto aos mártires do inicio do cristianismo que eram vistos como símbolo do sofrimento, da morte e da vitória do Cristo. No santo mártir, a fé por Cristo ganhava forma; era uma realidade próxima, possível de ser imitada. Por isso restos dos corpos desses mártires e objetos que lhes pertenciam eram venerados com respeito e devoção pelos cristãos da Igreja perseguida, pois, não negando a fé no Ressuscitado, derramaram seu sangue por Ele, O testemunhavam com sua vida.

Após o Edito de Milão, quando a Igreja deixou de ser perseguida, essas relíquias dos primeiros santos mártires eram colocadas em altares para veneração. Tempos depois as relíquias eram incrustadas no Altar principal, onde se celebrava a Sagrada Liturgia.

O Altar é o símbolo do Cristo, Pedra Vida e Pedra Fundamental da Igreja . Da mesma forma que as relíquias estavam unidas ao Altar, o mártir estava unido ao Corpo Místico de Cristo de modo inseparável, pelo martírio e pela santidade de vida.

Na cerimônia Litúrgica de Consagração de uma nova Igreja ou de um novo Altar, as relíquias de um santo são colocadas naquela Igreja para veneração dos fiéis, lembrando também o primitivo costume da celebração eucarística nas catacumbas, na época da Igreja perseguida.

Neste Segundo Domingo da Quaresma, após venerarmos os santos Ícones, a Igreja do Oriente dá às santas relíquias, a mesma dignidade, honra, devoção e respeito. Os santos ícones unidos às santas relíquias são venerados pela Igreja pois são vistos pelos cristãos como testemunhas vivas da sua fé.

A devoção aos santos ícones e às santas relíquias são pois, um convite para que vivamos a Quaresma santificando nossa vida. Ela é vista como um estímulo, um convite insistente para que não esqueçamos de nossa vocação primeira: sermos santos como nosso Pai é Santo.

Encontramos relatos extraordinários de curas e milagres graças à intercessão de um santo cujas relíquias foram tocadas. As relíquias dos santos na Igreja são testemunhas do possível: a santidade nos é possível. Venerar relíquias de pessoas que viveram santamente a sua fé nos dá coragem e ânimo.

A Quaresma nos convida, através das santas relíquias, a trilharmos o caminho da caridade, do amor e do perdão. Hoje são veneradas as relíquias não só de mártires mas de todos os que amaram a Cristo em sua vida cotidiana. Ser santo é viver sua fé de maneira simples mas verdadeira. A sinceridade de nossa vida rumo à santidade nos encaminha à perfeição. A perfeição de uma vida vivida na caridade, no desapego, na solidariedade e filantropia é causa de admiração e imitação.
Muitos são os que viajam para lugares distantes para ver e, se possível, tocar as relíquias em algum lugar sagrado. As peregrinações a estes lugares já são registradas desde o inicio do cristianismo, principalmente em Jerusalém.

Nós fiéis acreditamos que ao venerarmos estas relíquias estamos testemunhando a presença do Cristo na história dos homens e mulheres simples. O santo arrasta atrás de si milhares de pessoas, e em alguns casos, não só após a morte, mas já durante sua vida.

O Evangelho de Marcos, nos confirma este pensamento: onde Jesus estava, as pessoas recorriam a Ele. Numa atitude incomum, destelhando o lugar onde se encontrava Nosso Senhor, as pessoas fizeram chegar a Ele um paralítico. Alguns poderiam pensar que tal gesto beirasse ao vandalismo, outras poderiam argumentar que a capacidade das pessoas concretizarem seus objetivos, às vezes as leva às cenas pitorescas, como esta. De qualquer forma, o interessante é que Jesus não repreendeu as pessoas por destelharem a casa, ou as elogiou pela sua determinação em ali chegar. Jesus surpreende a todos manifestando a misericórdia de Deus, perdoando os pecados daquele paralítico, causando espanto a todos. Como se uma coisa estivesse de fato associada à outra, comunica ao paralítico primeiramente o perdão de seus pecados e liberta-o em seguida do mal que mantém paralisado o seu corpo: «Levanta-te, toma teu leito e vai para casa!» Logo após a purificação da alma, o Senhor purifica o corpo dos males físicos, curando-o.

Esta passagem nos faz refletir sobre o “pecado”. Se na época de Jesus, a noção de pecado era distorcida, no mundo de hoje padecemos de uma generalizada e progressiva banalização da mesma. Do “tudo é pecado” ao “nada é pecado”. Quando pensamos que “nada” é pecado nos privamos da experiência da misericórdia divina. Como sentir o perdão de Deus se nada achamos em nós que precise ser perdoado? Como dar perdão aos que nos ofendem, se não sabemos o que é ser perdoado?

Quem acredita não ter pecado, afasta a possibilidade da presença de Deus em sua vida. Os santos homens, ao atingirem um grau quase perfeito em sua vida espiritual, achavam-se pecadores e indignos. Por que então poderíamos nós pensar diferente?

Este Segundo Domingo da Quaresma nos convida, pois, ao sacramento do Perdão. A Igreja, sinal e sacramento do Perdão Divino, é lugar de conversão e perdão fraterno. Também é portadora da mensagem do perdão que o Pai misericordioso quer estender a todos os filhos e filhas para tê-los sempre próximos. E todos nós, tornados seus membros pelo batismo, somos chamados a assumir, comunitária e individualmente, esta tarefa: ser mensageiros do sacramento da misericórdia divina, instrumentos do amor misericordioso que o Pai quer fazer chegar a cada um de nós, seus filhos e filhas.