6 de dezembro: São Nicolau, o Taumaturgo

«Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos» (Mt 22:14)
Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

São Nicolau, o Taumaturgo

A tradição diz que São Nicolau, bispo de Mira, é proveniente de Patara, na Ásia Menor (Turquia), onde nasceu na segunda metade do século III, e faleceu no dia 6 de dezembro de 342. A ele foram atribuídos vários milagres. Daí sua popularidade em toda a Europa como protetor dos marinheiros e comerciantes, santo casamenteiro e, principalmente, amigo das crianças.

De São Nicolau, bispo de Mira (Lícia) no século IV, temos um grande número e notícias, mas é difícil distinguir as autênticas das abundantes lendas que germinaram sobre este santo muito popular, cuja imagem todos os anos é reproposta pelos comerciantes nas vestes de Papai Noel (Nikolaus na Alemanha e São Claus nos países anglo-saxões), um velho corado de barba branca, trazendo nas costas um saco cheio de presentes.

Sua devoção difundiu-se na Europa quando as suas relíquias, roubadas de Mira por 62 soldados de Bari, e trazidas a salvo subtraindo-as aos invasores turcos, foram colocadas com grandes honras na catedral de Bari a 9 de maio de 1807. As relíquias eram precedidas pela fama do grande taumaturgo e pelas coloridas lendas: “Nicolau – se lê na Lenda Áurea – nasceu de ricas e santas pessoas. No dia que tomou o primeiro banho, levantou-se sozinho na bacia…”, menino de excelentes qualidades e já inclinado à ascese, pois conforme acrescenta a Lenda, nas quartas e nas sextas-feiras rejeitava o leite materno. Ficando um pouquinho maior desprezava os divertimentos e vaidades e frequentava mais a igreja.

Elevado à dignidade episcopal por inspiração sobrenatural dos bispos reunidos em concílio, o santo pastor teve cuidado do seu rebanho, distinguindo-se sobretudo pela sua generosa caridade. “Um vizinho seu chegou a tal extremo de pobreza que mandou suas três filhas virgens venderem o próprio corpo para assim não morrerem de fome…” Para que fosse evitado esse pecado, São Nicolau, passando três vezes à noite diante da casa do pobrezinho deixou cada vez uma bolsa cheia de moedas de ouro e com esse dote cada uma das filhas teve um bom marido […].

São Nicolau Taumaturgo

Bispo Alexander Mileant

São Nicolau Taumaturgo da cidade de Mira, da província de Lícia, é um santo especialmente querido pelos ortodoxos, e em particular, pelos russos. Ele ajuda rapidamente em diversas calamidades da vida e perigos das viagens. Nasceu na Ásia Menor no final do séc. III, e desde a sua infância, demonstrou a sua profunda religiosidade e aproximou-se do seu tio, bispo da cidade de Patara sendo, ainda jovem, ordenado sacerdote.

Após a morte dos seus pais, Nicolau herdou uma grande fortuna a que começou a distribuir entre os pobres. Ele se empenhou em ajudar secretamente, para que ninguém pudesse agradecer-lhe.

O seguinte caso mostra, como ele ajudava aos infelizes:

Havia na cidade de Patara um rico comerciante com 3 filhas. Quando as suas filhas chegaram à maturidade, as transações comerciais de seu pai fracassaram e ele chegou a completa falência. Teve então ele a ideia criminosa de usar a beleza das filhas para conseguir meios de sobrevivência. São Nicolau ficou a par do seu plano e decidiu salvar, a ele e as filhas de tal pecado e vergonha. Aproximando-se durante a noite da casa do comerciante falido, jogou pela janela aberta um saquinho com moedas de ouro. O comerciante, achando o ouro, com grande alegria preparou o enxoval da filha mais velha e arranjou-lhe um bom casamento. Passado um pouco de tempo, São Nicolau novamente jogou na janela um saquinho com ouro, o suficiente para o enxoval e o casamento da segunda filha. Quando o jogou o terceiro saquinho com ouro para a filha mais nova, o comerciante já estava a sua espera . Prostrando-se diante do Santo, agradeceu-lhe com lágrimas pela salvação da sua família de um horrível pecado e vergonha. Após o casamento das três filhas, o comerciante conseguiu recuperar os seus negócios e começou a ajudar aos próximos, imitando o seu benfeitor.

São Nicolau desejou visitar os lugares santos e embarcou num barco de Patara para a Palestina. O mar era calmo, mas ao Santo foi revelado que em breve haveria uma tempestade e ele avisou aos outros viajantes. Veio uma tremenda tempestade e o barco virou um brinquedo indefeso nas ondas violentas. Como todos sabiam que São Nicolau era padre, pediram que rezasse pela salvação dos que ali estavam. Após a oração do Santo, o vento se acalmou e veio uma grande calmaria. Depois disto, um dos barqueiros foi derrubado pelo vento do mastro ao convés e morreu. São Nicolau, com suas orações, fez voltar à vida.

Após a sua peregrinação a lugares santos, São Nicolau queria se isolar num deserto e passar sua vida inteira longe dos homens. Mas não era esta a vontade de Deus que o escolheu para ser o pastor de almas. São Nicolau ouviu uma voz que ordenava a ele voltar à sua pátria e servir àquele povo.

Não querendo morar na cidade onde foi tão bem conhecido, São Nicolau dirigiu-se a uma cidade vizinha, Mira, capital da província de Lícia e sede episcopal, estabelecendo lá como um pobre. Com profundo amor pela Igreja, visitava-a diariamente, logo cedo quando eram abertas suas portas.

Nesta época o bispo de Mira faleceu e os bispos vizinhos se reuniram para eleger o seu sucessor. Como não conseguissem chegar à unanimidade na escolha, um deles aconselhou: “O Senhor deve Ele mesmo nos indicar a pessoa certa. Assim, irmãos, vamos rezar, jejuar e esperar pelo escolhido de Deus.” E, ao mais velho dos bispos Deus revelou, que a primeira pessoa a entrar na igreja após a abertura das portas devia ser o eleito para ser o bispo daquela sede. Ele contou o seu sonho aos outros bispos e, antes da missa da manhã, ficou vigiando a porta e esperando pelo escolhido de Deus. São Nicolau, como de costume, chegou cedo para para fazer suas orações. Vendo o Santo, o bispo lhe perguntou: “Qual é seu nome?” E, com humildade, São Nicolau prontamente lhe respondeu. “Siga-me, meu filho” – disse o bispo, e tomando-o pela mão, conduziu-o até a igreja dizendo-lhe que seria ordenado bispo de Mira. São Nicolau não se sentia a altura de tão elevado cargo, mas finalmente cedeu à vontade dos bispos e do povo.

Após a sua ordenação, São Nicolau resolveu: “Até agora pude viver para mim mesmo e para a salvação de minha própria alma, mas daqui em diante, todo o tempo da minha vida deve ser dedicado aos outros.” E, esquecendo-se de si mesmo, abriu a porta de sua casa a todos, tornando-se o verdadeiro pai dos órfãos e pobres, defensor dos oprimidos e benfeitor de todos. Conforme testemunho de seus contemporâneos, ele era humilde, pacífico, vestia-se com simplicidade, alimentava-se com o estritamente necessário e uma única vez por dia, à noite.

Quando, no reinado do imperador Diocleciano (284-305) teve a perseguição da Igreja, São Nicolau foi encarcerado. Na prisão ele também esquecia-se de si mesmo, indo ao encontro de dos mais fracos e necessitados, animando-os com suas palavras e seu exemplo aos que com ele sofriam. Mas, certamente, não era desígnio e vontade de Deus que ele sofresse o martírio. O novo imperador Constantino era benévolo aos cristãos e deu à eles o direito de abertamente confessar a sua fé e suas convicções religiosas. São Nicolau pode assim retornar ao seu povo.

Seria uma tarefa quase impossível enumerar todos os seus feitos, de ajuda ao próximo e de milagres que se fez por seu intermédio:

Aconteceu na Lícia uma grande fome. São Nicolau apareceu em sonho a um comerciante que, na Itália, carregava seus barcos com trigo, dando a ele moedas de ouro e mandando-lhe navegar para a cidade de Mira na Lícia. Ao acordar, o comerciante achou moedas de ouro em sua mão e, possuído de um grande temor, não ousou desobedecer à ordem do Santo. Trouxe seu trigo para a Lícia e contou aos habitantes o seu milagroso sonho, graças ao qual chegou lá.

Naquele tempo, em muitas igrejas, teve início uma forte agitação sobre a heresia de do arianismo que negava a Divindade do Senhor Jesus Cristo. Para apaziguar a Igreja, o imperador Constantino, o Grande, convocou o Primeiro Concílio na cidade de Nicéia, em 325. Entre os bispos deste Concílio estava também São Nicolau. O Concílio condenou a heresia de Ário e estabeleceu o Credo onde, com palavras bem claras expressa a fé ortodoxa em Nosso Senhor Jesus Cristo, como Filho Unigênito, da mesma essência do Pai. Durante os debates, São Nicolau, ouvindo a blasfêmia ariana ficou tão indignado que agrediu seu opositor diante de todos. Pela indisciplina, o Concílio retirou a dignidade episcopal a São Nicolau. Logo após este incidente, porém, alguns bispos tiveram uma visão em que Senhor Jesus Cristo entregava à São Nicolau Evangelho e a Virgem Mãe de Deus impunha-lhe Seu manto. Os bispos entenderam como contrária a vontade de Deus a heresia ariana, reintegrando São Nicolau em seu múnus e sede episcopal.

Da hagiografia de São Nicolau sabemos que uma vez o imperador condenou à morte 3 dos seus chefes. Estes se lembraram dos milagres de São Nicolau e mandaram-lhe um pedido de ajuda. O Santo rezou piedosamente e, no sonho, apareceu ao imperador ordenando que libertasse seus fiéis servos, ameaçando, caso contrário, de castigos divinos. Quem és tu – perguntou o imperador – que ousas dar ordens aqui?” – “Eu sou Nicolau, arcebispo de Mira,” respondeu o Santo. Não ousando desrespeitar a ordem, o imperador reviu com atenção o caso dos seus chefes, libertando-os com as devidas honras.

Aconteceu, que saiu do Egito para a Líbia um barco. Em alto mar começou uma horrível tempestade e o barco estava já quase afundando. Algumas pessoas se lembraram de São Nicolau e começaram a rezar a ele. Viram claramente como o Santo corria em direção a eles por sobre as ondas enfurecidas e, entrando no barco, tomou o leme com as suas mãos. A tempestade acalmou e o barco chegou a salvo no porto.

São Nicolau morreu já muito idoso em meados do século IV, mas com a sua morte, não cessou sua ajuda aos que a ele recorrem. Durante mais de 1500 anos, muitos são os que atribuem a ele grande ajuda em atenção às suas orações e pedidos de intercessão. Estes testemunhos constituem uma vasta literatura, e o amor dos cristão ortodoxos por este Santo cresce a cada dia.

Quando, em 1087 a província de Lícia foi devastada, o Santo apareceu em sonho a um padre em Bari, na Itália pedindo que suas relíquias fossem trasladadas para aquela cidade. Esta ordem do Santo foi rapidamente atendida e, desde aquela época, suas relíquias repousam na igreja de Bari. Delas vertem bálsamo que cura os doentes. Este acontecimento é comemorado em 22 de maio de cada ano (9 de maio no antigo calendário).

Suplemento Litúrgico