11º Domingo de São Lucas
SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
A Parábola do «Grande Banquete»
Nesta parábola Jesus dá aos críticos e inimigos de sua conduta, a razão de sua predileção pelos pobres e marginalizados de seu tempo.
O Reino de Deus é comparado ao banquete que um rei celebra por ocasião das bodas de seu filho. Para esta festa são convidadas pessoas importantes que fazem parte do primeiro escalão da sociedade. Por razões diversas se escusam de comparecer e tomar parte na festa, menosprezando um convite tão seletivo. O rei então, estende seu convite a todos que por ali passam ocasionalmente. Assim, a sala onde se realiza a festa, em pouco tempo, fica ocupada pelos que pertencem às classes mais inferiores da sociedade: pobres, aleijados, coxos, viúvas, desempregados, entre outros. O anfitrião entra na sala e apresenta seu Filho aos que ali se encontram.
Deus é este Anfitrião que chama a todos a participar das bodas de seu Filho com a natureza humana, iniciada com a sua Encarnação e consumada com a sua Ressurreição.
É Ele o Rei que apresenta ao mundo o seu Filho Unigênito, o Esposo da Nova Aliança, o Esposo da Igreja anunciado pelos Profetas mas, rejeitado pelos “primeiros convidados”. O convite à salvação assume, nesta analogia, uma fisionomia nova, a nupcial: o rei é Deus; o banquete é a Salvação que seu Filho, Deus feito homem, nos trouxe; os servos são os Profetas e os Apóstolos; os convidados que rejeitaram o convite são aqueles que, não acolhendo a mensagem do Reino, crucificaram o Senhor.
Finalmente, os que foram arrebanhados para a festa, nas ruas e encruzilhadas, são todos os destinatários da Boa-nova, os pobres, os marginalizados, os rejeitados etc.
O Reino de Deus se abre a todos, bons e maus, pecadores e santos, gentios e pagãos, puros e impuros. O banquete de bodas é, portanto, o sinal do amor gratuito de Deus ao homem. Os que rejeitam este convite fecham-se ao amor misericordioso de Deus. É a atitude dos que pensam não necessitar da salvação.
O banquete está pronto. Encarnou-se o Filho de Deus e se oferece em sacrifício perpetuamente, em cada celebração litúrgica, pela salvação da humanidade. Eis porque Deus continua renovando o seu convite:
“Ide pelas encruzilhadas dos caminhos e a todos que encontrardes, convidai-os para as bodas”.
A sala da festa está cheia: bons e maus ali se encontram. É a imagem da Igreja aberta a todos.
A Eucaristia é o grande sinal do banquete do Reino que antecipa o eterno festim messiânico. Somos felizes, pois somos convidados para as bodas do Cordeiro (cf Ap.19,9).
Agora, pertencemos à Nova Jerusalém, a Jerusalém celeste.
Lamentavelmente, muitos ainda são os que continuam a recusar tal convite com as justificativas mais diversas. E, recusar o convite divino é fechar-se à Graça, é escusar-se de participar do banquete do amor e da fraternidade. O banquete não é exclusivo, mas é para todos os irmãos e, por isso, é festa.
São João Crisóstomo, na sua Homilia da noite da santa Ressurreição, presenteia-nos com uma das mais belas formulações do convite para o banquete celestial:
«[…] Entrai, pois, todos no gozo de nosso Senhor; primeiros e últimos recebei a recompensa; ricos e pobres, alegrai-vos juntos; justos e pecadores, honrai este dia; vós que jejuastes e vós que não jejuastes, regozijai-vos uns com os outros; a mesa é farta, saciai-vos à vontade; o vitelo é gordo, que ninguém se retire com fome; tomai todos parte no banquete da fé; participai todos da abundância da graça; que ninguém se queixe de fome, porque o reino universal foi proclamado; que ninguém chore por causa de seus pecados, porque o perdão jorrou do túmulo; que ninguém tema a morte, porque a morte do Salvador nos libertou a todos».
Hoje é um dia feliz para nós que escutamos o convite que brota deste Evangelho. Deus nos chama a todos para a festa de seu Filho. Vamos à Igreja com os irmãos celebrar a vitória da Cruz sobre a morte. Acolhamos ao convite do Rei que nos chama a tomar lugar no banquete de seu Filho. Vinde, exultemos de alegria no Senhor!
A «Parábola das Bodas»
Extraído de «Parábolas Evangélicas» do Bispo Alexander (Mileant)
Tradução de Marina Tschernyschew.
Nesta parábola, Cristo trata da transferência do Reino de Deus do povo judeu a outros povos, na qual, os “convidados” representam o povo judeu, e os servos — os apóstolos e pregadores da fé cristã. Da mesma maneira que os “convidados” não quiseram entrar no Reino de Deus, a propagação da fé fora transferida “na encruzilhada” — a outros povos.
Possivelmente, alguns destes povos não possuíam qualidades religiosas tão elevadas, contudo, manifestaram grande devoção nos serviços a Deus.
«O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho; e enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; e estes não quiseram vir. Depois enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas. Porém eles, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu tráfico. E os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram. E o rei, tendo notícias disto, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade. Então diz aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide pois às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes. E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados. E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com vestido de núpcias. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo vestido nupcial? E ele emudeceu. Disse então o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá pranto e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos» (Mt. 22:2-14).
No contexto de tudo o que foi dito, e das duas parábolas anteriores, esta parábola não exige explicações especiais. Como sabemos a partir da história, o Reino de Deus (Igreja) passou dos judeus aos povos pagãos, difundiu-se com êxito entre os povos do antigo império Romano, e iluminou-se na plêiade infinita dos fiéis a Deus.
O final da parábola dos convidados para as bodas, onde menciona-se o homem que não estava trajado com vestido de núpcias, parece um pouco obscuro. Para compreender esta passagem, deve-se conhecer os hábitos daquela época. Naqueles tempos, os reis, ao convidarem pessoas a uma festa, por exemplo, para uma festa de casamento de um filho do rei, ofertavam-lhes vestes próprias para que todos estivessem trajados de maneira limpa e bela durante o festejo. Mas, de acordo com a parábola, um dos convidados rejeitou o traje real, dando preferência às próprias vestes. Conforme se observa, ele fez isto por orgulho, considerando suas roupas melhores que as reais. Ao rejeitar as vestes reais, ele conturbou o bom andamento da festa e magoou o rei. Devido ao seu orgulho, foi enxotado da festa para as “trevas externas.” Nas Escrituras Sagradas, as vestes simbolizavam o estado da consciência. Roupas claras, brancas, simbolizam a pureza e retidão da alma, que são ofertadas como dádivas de Deus, por Sua misericórdia. O homem que rejeitou as vestes reais representa os cristãos orgulhosos que rejeitam a bem-aventurança e a consagração de Deus, ofertadas nos mistérios bem-aventurados da Igreja. A estes “fiéis” jactanciosos podemos comparar os modernos sectários que rejeitam a confissão, a comunhão, e outros meios bem-aventurados oferecidos por Cristo para a salvação das pessoas. Considerando-se santos, os sectários depreciam a importância da quaresma cristã, do celibato voluntário, da vida monástica etc. , apesar das Sagradas Escrituras ressaltarem estes feitos. Estes fiéis imaginários, como escrevia o Apóstolo Paulo, “tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela” (2 Tim. 3:5). Pois a força da piedade não está no exterior, e sim nos feitos pessoais.
Referências Bibliográficas:
- KONINGS, J. Espírito e Mensagem da Liturgia. Petrópolis: Ed. Vozes.
- CARVAJAL, F. F. Falar com Deus. São Paulo: Ed. Quadrante.