Domingo Antes da Natividade


SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
Jesus, o Messias, realiza as promessas de Deus
No calendário litúrgico bizantino, o domingo que antecede o Natal celebra a Genealogia de Jesus, destacando-o como filho da humanidade. Tanto São Mateus quanto São Lucas apresentam as gerações que precederam o nascimento do Filho de Deus, ressaltando sua inserção no tempo e na história dos homens como parte essencial do projeto divino. O primeiro capítulo do evangelho de Mateus já nos coloca diante do mistério da pessoa e da missão de Jesus: Ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, aquele que cumpre as promessas feitas a Israel.
São Lucas, por sua vez, apresenta a genealogia no terceiro capítulo de seu evangelho, após narrar a missão de João Batista, o precursor. Inicialmente, Lucas destaca Jesus como Filho de Deus; depois, revela-o como Filho da Humanidade. Assim, a genealogia torna-se mais do que uma lista de nomes: é uma narrativa histórica que conecta gerações, mostrando como Deus age ao longo da história para realizar sua promessa de salvação.
Orígenes, teólogo do século III, via nas genealogias de Mateus e Lucas uma sólida base para defender a dupla natureza do Messias. Ele enfatizava que José é chamado de “esposo de Maria” – e não o inverso, como era costume –, indicando que a linhagem de Jesus provém de Maria.
«Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão» (Mt 1,1)
Este título resume quem é Jesus: o cumprimento das promessas feitas a Davi e a Abraão. Assim como o Antigo Testamento começa com o Gênesis, narrando o início do universo e da humanidade, o evangelho de Mateus inicia o Novo Testamento com uma nova criação em Cristo, o novo Adão.
Abraão, o patriarca do povo de Deus, representa o início de uma história que culmina em Jesus. Suas aspirações mais profundas – possuir uma terra e ter uma descendência numerosa – ecoam no coração da humanidade. Em Jesus, essas promessas encontram pleno cumprimento, pois Ele é o Salvador não apenas de Israel, mas de todos os povos.
Ainda que as genealogias possam parecer monótonas para os leitores modernos, para os antigos elas eram fundamentais. Representavam a transmissão não apenas da vida, mas também de valores, ideais, lutas e conquistas. O Salmo 78 expressa esse sentido ao exortar que as lições do passado sejam transmitidas às futuras gerações, para que confiem em Deus e sigam seus caminhos.
Jesus, fruto de uma história rica em aspirações e desafios, assume essa herança e nos ensina o verdadeiro caminho da vida. Ele não apenas responde aos anseios de Israel, mas também às aspirações de toda a humanidade, revelando que a realização plena coincide com o projeto divino: vida, liberdade e justiça para todos.
O mistério do nascimento de Jesus
Após narrar a genealogia, Mateus descreve o nascimento de Jesus (Mt 1,18-25). Este relato não é uma simples biografia, mas uma revelação do mistério que envolve não apenas a vida de Jesus, mas a de toda a humanidade. Ele é, ao mesmo tempo, Filho da História Humana e Filho de Deus.
Maria, uma mulher humana, torna-se o ponto de encontro entre o divino e o humano. Em sua virgindade, ela acolhe a vida de Jesus de maneira totalmente inesperada. É o Espírito Santo que age nela, produzindo vida nova. Como nos ensina São Pedro Crisólogo, ao acolher o Verbo Divino em seu seio, Maria tornou-se “o templo grandioso da divindade”, onde o Deus infinito assumiu a pequenez humana sem perder sua essência.
«O Verbo se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1,14)
São Gregório de Nissa destaca que o mistério da encarnação surpreendeu tanto os homens quanto as criaturas celestiais: Deus, em sua grandeza, aproximou-se da humanidade, assumindo a condição humana sem renunciar à sua divindade.
Preparação para o Natal
Ao contemplarmos a genealogia de Jesus, somos convidados a refletir sobre a grandeza de sua missão e a nos preparar espiritualmente para celebrar seu nascimento. O Menino na manjedoura, embora frágil em aparência, é o Todo-Poderoso que veio para nos libertar e nos mostrar o verdadeiro caminho da vida.
Que o mistério da encarnação nos inspire a acolher Jesus em nossos corações e a viver a justiça e o amor que Ele nos ensinou, preparando-nos para as festividades do Natal com espírito de reverência e alegria.
Referências bibliográficas:
- GOMES, Folch. Antologia dos Santos Padres – São Paulo: Ed. Paulinas, 1979.
- STORNIOLO, Ivo Como Ler o Evangelho de Lucas. São Paulo: Ed. Paulus. 4ª Ed..
A linhagem de Jesus Cristo
São Leão Magno (?-c. 461), Carta 31; PL 54, 791
De nada serviria dizer que Nosso Senhor, filho da Virgem Maria, é realmente homem, se não se acreditasse que o é como o Evangelho o proclama. Quando Mateus nos fala da genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão, desenha, a partir da origem da humanidade, a linhagem das gerações até José, de quem Maria estava noiva. Lucas, pelo contrário, sobe os sucessivos graus que conduzem ao início do gênero humano, mostrando assim que o primeiro e o último Adão são da mesma natureza (3,23ss.).
O Filho de Deus onipotente poderia ter-Se manifestado para instrução e justificação dos homens como apareceu aos patriarcas e aos profetas sob forma carnal, por exemplo, quando lutou com Jacó (cf Gn 32,25), ou quando estabeleceu um diálogo com Abraão, aceitando a sua hospitalidade e tomando o alimento que ele Lhe ofereceu (cf Gn 18). Mas estas aparições eram apenas sinais, imagens do homem cuja realidade anunciavam […].
Nenhuma imagem poderia realizar o mistério da nossa redenção, preparado desde antes do tempo, desde toda a eternidade. O Espírito ainda não tinha descido sobre a Virgem, e a força do Altíssimo ainda não tinha estendido sobre ela a sua sombra (cf Lc 1,35). A Sabedoria ainda não tinha construído uma morada onde o Verbo pudesse encarnar, de modo que a natureza de Deus e a do escravo se unissem numa só pessoa, o Criador do tempo nascesse no tempo, e Aquele por quem tudo foi feito fosse gerado entre todas as criaturas. Se o homem novo não Se tivesse assimilado à carne do pecador e carregado a nossa decrepitude, se não tivesse condescendido, Ele que era consubstancial ao Pai, em tomar a substância de sua Mãe e assumir a nossa natureza, exceto no pecado, a humanidade manter-se-ia cativa, à mercê do demônio, e não poderíamos gozar da vitória triunfal de Cristo, porque esta teria acontecido fora da nossa natureza. É, por conseguinte, da admirável participação de Cristo na nossa natureza que brota para nós a luz do sacramento da regeneração.