Domingo do Juízo Final

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
«A Quaresma e o Amor»
Neste Terceiro Domingo do Triódion, a Igreja celebra o «Dia do Juízo», também conhecido como a «Segunda Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo«. Celebrar, na tradição cristã, significa tornar presente, na vida da comunidade eclesial, o mistério que se recorda. A liturgia de hoje nos convida a refletir sobre o Juízo Final, destacando o critério pelo qual seremos julgados: o amor concretizado em obras de misericórdia.
O Evangelho proclamado hoje (Mateus 25:31-46) apresenta uma cena solene: o Filho do Homem, em Sua glória, separando as nações como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. A imagem da balança, frequentemente presente nos ícones do Juízo Final, simboliza o peso das nossas ações, especialmente aquelas que manifestam amor ao próximo. A medida do nosso julgamento será a medida do nosso amor, não como sentimento abstrato, mas como ação concreta.
O Amor como Obra Concreta
A palavra «amor» é frequentemente banalizada ou reduzida a meros sentimentos, emoções ou palavras vazias. No entanto, o Evangelho de hoje nos recorda que o amor verdadeiro se expressa em ações concretas. Jesus diz: «Tudo quanto fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes» (Mateus 25:40). O amor, portanto, não é um conceito abstrato, mas uma realidade que se manifesta no cuidado com os necessitados: os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os nus, os enfermos e os encarcerados.
É um erro comum confundir amor com afeto ou dependência emocional. Podemos até nutrir sentimentos negativos por alguém, mas, se agirmos com bondade e caridade, transformamos nosso coração. Por outro lado, podemos sentir uma profunda afeição por alguém e, ainda assim, falhar em ajudá-lo em suas necessidades. O amor verdadeiro exige que coloquemos o outro em primeiro lugar, renunciando ao egoísmo que nos leva a buscar apenas o próprio interesse.
O Juízo e as Obras de Misericórdia
No relato do Juízo Final, tanto as ovelhas quanto os cabritos ouvem as mesmas palavras do Senhor e enfrentam as mesmas situações existenciais: a pobreza, a fome, a sede, a solidão e o sofrimento. A diferença entre eles está no que fizeram ou deixaram de fazer. As ovelhas são elogiadas por suas obras de amor, enquanto os cabritos são repreendidos por sua indiferença.
O Evangelho nos ensina que não podemos amar a Deus sem amar o próximo. Como afirma São João: «Quem diz que ama a Deus e não ama o seu irmão é um mentiroso» (1 João 4:20). O amor a Deus se concretiza no serviço aos irmãos, especialmente aos mais vulneráveis. Deus não precisa das nossas obras, mas acolhe o nosso amor quando nos colocamos a serviço daqueles que Ele ama.
As Perguntas que o Evangelho nos Coloca
O Evangelho de hoje nos interpela com perguntas incômodas:
- Por que não damos de comer ao faminto? Será que nossa ambição nos impede de partilhar até mesmo as sobras?
- Por que não saciamos a sede do sedento? Acaso acumulamos recursos que poderiam aliviar o sofrimento alheio?
- Por que não vestimos o nu ou acolhemos o desamparado? Estamos tão preocupados com nossas aparências e vaidades que nos esquecemos dos que padecem necessidade?
- Por que não visitamos os encarcerados? Será que nos contentamos com sentimentos de compaixão, sem agir?
Essas perguntas revelam a tensão entre o amor e o egoísmo. Vivemos para as obras de amor ou estamos fechados em nós mesmos, presos às nossas paixões e desejos?
A Quaresma como Escola do Amor
A Quaresma é um tempo propício para abandonarmos o egoísmo e nos voltarmos para as obras de amor. São Máximo, o Confessor, define o amor como o estado de não-paixão, ou seja, a libertação das paixões que nos escravizam e nos afastam do próximo. A abstinência quaresmal não é um fim em si mesma, mas um meio para nos purificarmos e aprendermos a amar como Cristo nos amou.
A Quaresma nos convida a uma mudança de direção, a um verdadeiro arrependimento (metanoia). Ela nos ensina a ver o próximo com os olhos de Cristo, reconhecendo nele a presença do próprio Jesus. O serviço aos irmãos é o caminho que nos conduz ao verdadeiro paraíso, onde o amor reina supremo.
Conclusão: Aprendendo as Obras do Amor
Nesta Quaresma, somos desafiados a deixar para trás nossos maus desejos e a nos abstermos de tudo o que nos afasta de Deus e do próximo. Que este tempo sagrado nos ensine as «obras do amor», libertando-nos da tirania das paixões e nos conduzindo ao verdadeiro Amor, que é Cristo.
Que a Santíssima Theotokos, a Virgem Maria, modelo de caridade e serviço, nos ajude a viver esta Quaresma como um caminho de conversão e amor. Amém.
Referência Bibliográfica:
- Sermões do Arcebispo Paulo Yazigi, Metropolita de Alepo (Síria).
Para Refletir:
Para aprofundar a compreensão do Evangelho deste domingo (Mateus 25,31-46), reflitamos sobre os seguintes pontos:
Jesus identifica-se com os necessitados, afirmando que toda ação de amor dirigida a eles é feita a Ele próprio. Somos convidados a ver Cristo em cada pessoa que sofre e a responder com compaixão e solidariedade.
O critério do julgamento final, segundo Jesus, baseia-se em nossas ações concretas de amor: alimentar os famintos, acolher os estrangeiros, vestir os nus, cuidar dos enfermos e visitar os presos. A fé autêntica manifesta-se em gestos práticos de caridade.
Além das ações cometidas, seremos julgados pelas omissões. Deixar de fazer o bem quando temos a oportunidade é igualmente grave. Somos chamados a uma vigilância constante para não negligenciarmos as necessidades dos outros.
Que estas reflexões nos motivem a viver uma fé ativa, expressa em obras de amor e misericórdia, reconhecendo em cada irmão e irmã a presença do próprio Cristo.