Sábado das Almas

Bem-aventurados aqueles que tu escolheste e chamaste, Senhor! Sua memória ficará de geração em geração.
Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

As «últimas coisas»

Para os cristãos, existem apenas duas realidades definitivas: o Céu e o Inferno. A Igreja aguarda a consumação dos tempos, que na teologia oriental é chamada de apocatástase ou “restauração”, quando Cristo retornará em glória para julgar os vivos e os mortos. Essa apocatástase final envolve a redenção e a glorificação da matéria: no último dia, os justos ressuscitarão dos túmulos e serão revestidos de um corpo glorioso — não um corpo como o que possuímos agora, mas um corpo transfigurado e espiritual, no qual a santidade interior se manifestará exteriormente. Não apenas os corpos humanos, mas toda a criação material será transformada, pois Deus criará um Novo Céu e uma Nova Terra.

No entanto, assim como o Céu é uma realidade, o Inferno também o é. Nos últimos anos, muitos cristãos, tanto no Ocidente quanto, gradualmente, na Igreja Ortodoxa, têm questionado a ideia do Inferno, considerando-a incompatível com a crença em um Deus amoroso. Contudo, esse raciocínio introduz uma perigosa confusão teológica. É verdade que Deus nos ama com um amor infinito, mas também é verdade que Ele nos concedeu o livre-arbítrio. E, uma vez que temos liberdade para escolher, é possível rejeitarmos a Deus. O Inferno, portanto, não é uma imposição divina, mas a consequência da rejeição voluntária de Deus. Negar a existência do Inferno equivale a negar o livre-arbítrio. Como escreveu Marcos, o Monge ou Eremita (século V): “Ninguém é tão bom e cheio de piedade como Deus; mas nem Ele perdoa aqueles que não se arrependem”  (Sobre aqueles que pensam ser justificados pelas obras, 71, PG. 65, 9400).

Deus não força ninguém a amá-Lo, pois o amor só é verdadeiro quando é livre. Como, então, poderia Deus reconciliar consigo aqueles que recusam toda reconciliação?

A visão ortodoxa sobre o Juízo Final e o Inferno é claramente expressa nas leituras do Evangelho proclamadas nos três domingos que antecedem a Grande Quaresma. No primeiro domingo, ouvimos a parábola do Publicano e do Fariseu; no segundo, a parábola do Filho Pródigo — narrativas que ilustram a infinita misericórdia e o perdão de Deus para com todos os pecadores arrependidos. No entanto, no terceiro domingo, a parábola das ovelhas e dos bodes nos recorda uma verdade crucial: é possível rejeitar a Deus e afastar-se d’Ele para sempre. “Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. (Mt 25:41).

No entanto, assim como o Céu é uma realidade, o Inferno também o é. Nos últimos anos, muitos cristãos, tanto no Ocidente quanto, gradualmente, na Igreja Ortodoxa, têm questionado a ideia do Inferno, considerando-a incompatível com a crença em um Deus amoroso. Contudo, esse raciocínio introduz uma perigosa confusão teológica. É verdade que Deus nos ama com um amor infinito, mas também é verdade que Ele nos concedeu o livre-arbítrio. E, uma vez que temos liberdade para escolher, é possível rejeitarmos a Deus. O Inferno, portanto, não é uma imposição divina, mas a consequência da rejeição voluntária de Deus. Negar a existência do Inferno equivale a negar o livre-arbítrio. Como escreveu Marcos, o Monge ou Eremita (século V): *“Ninguém é tão bom e cheio de piedade como Deus; mas nem Ele perdoa aqueles que não se arrependem”* (Sobre aqueles que pensam ser justificados pelas obras, 71, PG. 65, 9400). Deus não força ninguém a amá-Lo, pois o amor só é verdadeiro quando é livre. Como, então, poderia Deus reconciliar consigo aqueles que recusam toda reconciliação?

A visão ortodoxa sobre o Juízo Final e o Inferno é claramente expressa nas leituras do Evangelho proclamadas nos três domingos que antecedem a Grande Quaresma. No primeiro domingo, ouvimos a parábola do Publicano e do Fariseu; no segundo, a parábola do Filho Pródigo — narrativas que ilustram a infinita misericórdia e o perdão de Deus para com todos os pecadores arrependidos. No entanto, no terceiro domingo, a parábola das ovelhas e dos bodes nos recorda uma verdade crucial: é possível rejeitar a Deus e afastar-se d’Ele para sempre. “Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25:41).

O Inferno existe como uma possibilidade real, mas muitos Padres da Igreja acreditavam que, no fim, tudo será reconciliado com Deus. É herético afirmar que todos devem ser salvos, pois isso negaria o livre-arbítrio; mas é legítimo esperar que todos possam ser salvos. Até o último dia, não devemos desesperar da salvação de ninguém, mas orar e interceder pela reconciliação de todos, sem exceção. Como perguntou São Isaac, o Sírio: “O que é um coração misericordioso? É um coração que arde de amor por toda a criação: pelos homens, pelos pássaros, pelas bestas, pelos demônios, por todas as criaturas” (Tratados Místicos, ed. A. J. Wensinck, Amsterdã, 1823, p. 341). Gregório de Nissa chegou a expressar a esperança de que até mesmo o Diabo pudesse ser salvo.

As Escrituras concluem com uma nota de expectativa ardente: “Certamente venho sem demora. Amém. Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20). No mesmo espírito de esperança, os primeiros cristãos oravam: “Que venha a graça e que este mundo passe” (Didaquê, 10,6). De certo modo, os primeiros cristãos estavam equivocados: esperavam que o fim do mundo ocorresse imediatamente, enquanto já se passaram dois milênios e a consumação ainda não aconteceu. Não nos cabe conhecer os tempos e as estações, e talvez a ordem atual perdure por muitos milênios. No entanto, em outro sentido, a Igreja primitiva estava certa: o fim está sempre iminente, espiritualmente próximo, ainda que cronologicamente distante. O dia do Senhor virá “como o ladrão de noite” (1Ts 5:2), em um momento inesperado. Por isso, os cristãos, hoje como no passado, devem viver em constante vigilância e expectativa.

Um dos sinais mais encorajadores do renascimento espiritual na Ortodoxia contemporânea é a renovada consciência da Segunda Vinda e sua relevância. Como relatou um padre russo: “O problema mais urgente da Igreja Russa hoje é a Parusia” (P. Evdokimov, L’Orthodoxie, p. 9).

No entanto, a Segunda Vinda não é apenas um evento futuro. Na vida da Igreja, o tempo por vir já irrompeu no presente. Para os membros da Igreja, os “últimos tempos” já começaram, pois aqui e agora os cristãos experimentam os primeiros frutos do Reino de Deus. “Vem, Senhor Jesus!” Ele já veio — na Sagrada Liturgia e na vida de louvor da Igreja.

Referências Bibliográficas:
  • DONADEO, Madre Maria: O Ano Litúrgico Bizantino. São Paulo: Editora Ave Maria, 1990.
  • WARE, Kallistos: «A Igreja Ortodoxa», tradução de Pe. Pedro Oliveira

Para Refletir:

  1. O cristão vive na expectativa da apocatástase (restauração final), quando Cristo voltará em glória para julgar os vivos e os mortos.
  2. Nesse dia, os justos ressuscitarão com corpos glorificados, e toda a criação será transformada em um Novo Céu e uma Nova Terra.
  3. Essa esperança não é apenas futura, mas já se manifesta na vida da Igreja, especialmente na Liturgia, onde experimentamos antecipadamente o Reino de Deus.

Aplicação:

Vivamos com esperança e preparação, lembrando que o fim dos tempos está sempre próximo, espiritualmente falando, e que nossa vida já deve refletir a glória do Reino que há de vir.

  1. Deus nos ama infinitamente, mas respeita nossa liberdade. O Inferno não é uma imposição divina, mas a consequência da rejeição voluntária de Deus.
  2. Negar o Inferno é negar o livre-arbítrio, pois o amor só é verdadeiro quando é livre.
  3. Mesmo no Inferno, o amor de Deus está presente, mas é experimentado como tormento por aqueles que O rejeitaram.

Aplicação:

Reflitamos sobre nossas escolhas e busquemos viver em constante arrependimento e reconciliação com Deus, pois Ele deseja que todos se salvem, mas respeita nossa liberdade.

  • A Igreja nos ensina a orar pela salvação de todos, sem excluir ninguém, pois a misericórdia de Deus é infinita.
  • Como Santo Isaac, o Sírio, devemos ter um coração que arde de amor por toda a criação, incluindo até mesmo os demônios.
  • Embora não possamos afirmar que todos serão salvos (pois isso negaria o livre-arbítrio), podemos esperar e orar pela reconciliação universal.

Aplicação:

Sejamos intercessores fervorosos, especialmente no Sábado das Almas, lembrando-nos dos falecidos e de todos aqueles que precisam da misericórdia divina. Nossa oração é um ato de amor e esperança na vitória final de Deus.