Domingo Após a Natividade

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
«A Fuga para o Egito»
Tendo celebrado a Festa do Nascimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo segundo a Carne, a Igreja destaca, neste domingo após o Natal, três figuras fundamentais para compreender o Mistério da Encarnação do Verbo: José, Tiago e Davi.
- José é lembrado como homem de fé, que esteve ao lado do Menino como pai adotivo.
- Tiago confirma o dogma da Virgindade de Maria antes e depois do parto.
- Davi é o ancestral do Salvador, o Messias esperado.
José, Esposo de Maria
Conforme as genealogias, José é filho de Jacó (Mt 1, 16) ou de Eli (Lc 3, 23). Esposo de Maria, aparece nos evangelhos da infância em Mateus e Lucas, e é reconhecido como o humilde “Guardião” de Jesus (Lc 4, 22; Jo 1, 46; Jo 6, 42). Em Mateus, é chamado de “o Justo”, aquele a quem foi revelado o nascimento virginal de Jesus (Mt 1, 10-25).
José cuidou de Maria e Jesus durante a fuga para o Egito. Mateus não menciona sua residência em Nazaré antes do retorno do Egito, enquanto Lucas afirma que José e Maria já moravam lá antes do nascimento do Messias. Após a fuga, José aparece em eventos como o Nascimento de Jesus, a Apresentação no Templo e a perda e reencontro de Jesus em Jerusalém, mas não é mencionado novamente nas Escrituras.
Homem justo, escolhido por Deus para proteger a virgindade de Maria, José se casou com ela aos 30 anos. Era carpinteiro, como indicam as palavras: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13, 55). Apesar de humilde, José era da linhagem real de Davi (Mt 1, 1-16; Lc 3, 23-38), e o anjo o saudou como “filho de Davi”, título real também atribuído a Jesus.
José foi um homem compassivo e carinhoso. Ao saber que Maria estava grávida, planejou deixá-la em segredo para protegê-la (Mt 1, 19-25). Quando o anjo revelou a verdade sobre a criança, José a tomou como esposa sem questionar. Ele acompanhou Maria a Belém para o censo, onde Jesus nasceu. Obedecendo ao anjo, fugiu para o Egito para proteger o Menino, permanecendo até receber ordem de voltar (Mt 2, 13-23).
Embora pobre, José ofereceu no Templo um par de pombinhos, sacrifício permitido aos menos favorecidos (Lc 2, 24). Seu amor por Jesus transparece em sua dedicação à segurança da criança. Após retornar do Egito, fixou residência em Nazaré e, junto com Maria, buscou Jesus com grande ansiedade quando Ele ficou no Templo (Lc 2, 48). José é tratado como pai de Jesus, como mostram as palavras: “Não é este o filho de José?” (Lc 4, 22).
Provavelmente José morreu antes do início do ministério público de Jesus, pois não é mencionado nos eventos de Sua vida pública, morte e ressurreição.
Tiago, irmão de Jesus
Os irmãos de Jesus são citados em diversos textos bíblicos (Mt 12, 46; Mc 3, 31; Lc 8, 19; Jo 2, 12; At 1, 14). São mencionados quatro: Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13, 55; Mc 6, 3). A Igreja reafirmou em vários Concílios a Virgindade de Maria, antes e depois do parto, descartando que fossem seus filhos.
Estudos mostram que “irmão” designava membros da mesma tribo ou clã em hebraico e aramaico. Tiago e José, por exemplo, são filhos de Alfeu (Mt 10, 3) e de outra Maria. Esse entendimento reforça que Maria não teve outros filhos, o que explica por que Jesus confiou Sua mãe a João na cruz.
Davi, Profeta-Rei
No Novo Testamento, Jesus é frequentemente chamado de “Filho de Davi” (Rm 1, 3; 2Tm 2, 8). Este título reforça que o Messias seria descendente de Davi, conforme prometido por Deus: “Estabelecerei para sempre o trono do seu reino” (2Sm 7, 13). Isaías profetizou: “Brotará um rebento do tronco de Jessé” (Is 11, 1).
Davi foi rei de Israel por 40 anos, amado por Deus, apesar de suas falhas humanas. Seu arrependimento e fervor o tornaram exemplar. Ele é autor do Saltério, repleto de profecias sobre Cristo: Sua Encarnação (Sl 17, 9), Batismo (Sl 76, 15), Crucificação (Sl 21, 16-18), Ressurreição (Sl 15, 10) e Ascensão (Sl 46, 5).
Conclusão
José, Tiago e Davi são figuras fundamentais para compreender o Mistério da Encarnação. José, o Justo, protegeu a Mãe e o Filho. Tiago confirma a Virgindade de Maria. Davi, o Rei profético, aponta para o Salvador prometido. Suas histórias nos inspiram a contemplar a obra de Deus em Cristo, o Ungido, nosso Redentor e Salvador.
- MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Ed. Paulinas, 1983.
- MORRIS, Henry; CLARK, Martin. The Bible Has the Answer (A Bíblia Tem a Resposta), Master Books, 1987; Trad. Avelar Guedes Junior, provido por Eden Communications, com permissão de Master Books.
Mais sobre São José, o Justo
São José, cujo nome significa “aquele que cresce”, era filho de Jacó e genro – e, por assim dizer, também filho – de Eli (também chamado de Eliaquim ou Joaquim), pai de Maria, a Virgem (Mateus 1:16; Lucas 3:23). Pertencia à tribo de Judá, da família de Davi, e era habitante de Nazaré. De profissão carpinteiro e já em idade avançada, pela boa vontade de Deus, tornou-se o noivo da Virgem Maria, encarregado de ministrar o grande mistério da Encarnação. São José foi escolhido para protegê-la e prover suas necessidades, sendo conhecido como seu esposo, a fim de que Maria, permanecendo virgem, não sofresse reprovação ao ser encontrada grávida.
Antes de seu noivado com Nossa Senhora, José havia sido casado, e os que são chamados de “irmãos e irmãs” de Jesus (Mateus 13:55-56) eram filhos de seu primeiro casamento. Pelas Escrituras, sabemos que São José viveu pelo menos até o décimo segundo ano de Cristo (Lucas 2:41-52). Segundo a tradição dos Padres, ele repousou antes do início do ministério público do Senhor.
Davi, o Filho e Ancestral de Deus
Davi, o grande Profeta após Moisés, também é um ancestral de Cristo, vindo da tribo de Judá. Filho de Jessé, nasceu em Belém – conhecida como a Cidade de Davi – no ano de 1085 a.C. Ainda jovem, por ordem de Deus, foi ungido secretamente pelo Profeta Samuel para ser o segundo Rei dos israelitas, enquanto Saul, já privado da graça divina, ainda estava vivo. Aos trinta anos, quando Saul morreu em batalha, Davi foi proclamado Rei, primeiro por sua própria tribo e, posteriormente, por todo o povo de Israel, reinando por quarenta anos. Viveu setenta anos e repousou em 1015 a.C., indicando que seu filho Salomão seria o sucessor ao trono.
A história sagrada registra não apenas a graça do Espírito que habitou em Davi desde a juventude, suas façanhas heroicas na guerra e sua grande piedade, mas também suas transgressões humanas. Contudo, seu arrependimento superou suas faltas, e seu amor por Deus foi fervoroso e exemplar. Deus honrou tanto a Davi que, mesmo quando seu filho Salomão pecou, declarou que não destruiria o reino durante sua vida “por amor de Davi, teu pai” (III Reis 12:12). O livro de Eclesiástico testemunha: “Todos, exceto Davi, Ezequias e Josias, eram defeituosos” (Eclesiástico 49:4). O nome “Davi” significa “amado”.
O Saltério de Davi: Fundamento da Oração na Igreja
O melodioso Saltério de Davi é o alicerce de todos os serviços litúrgicos da Igreja. Não há culto que não esteja repleto de Salmos e versículos sálmicos. Era o meio pelo qual o antigo Israel louvava a Deus e foi usado pelos Apóstolos e pelo próprio Senhor. Este Saltério está tão imbuído do espírito de oração que, ao longo dos séculos, os Padres monásticos o utilizaram como guia e mestre na vida interior de comunhão com Deus.
Além de expressar eloquentemente cada estado e emoção da alma diante de seu Criador, o Saltério está repleto de profecias sobre a vinda de Cristo. Ele anuncia:
- Sua Encarnação: “Ele inclinou os céus e desceu” (Salmo 17:9).
- Seu Batismo no Jordão: “As águas Te viram, ó Deus, as águas Te viram e ficaram com medo” (Salmo 76:15).
- Sua Crucificação: “Traspassaram-me as mãos e os pés… Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sortes sobre a minha túnica” (Salmo 21:16, 18), “Para a minha sede me deram a beber vinagre” (Salmo 68:26).
- Sua descida ao Hades: “Pois não abandonarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o Teu Santo veja a corrupção” (Salmo 15:10).
- Sua Ressurreição: “Levante-se Deus e sejam dispersos os seus inimigos” (Salmo 67:1).
- Sua Ascensão: “Deus subiu em júbilo” (Salmo 46:5).
Assim, o Saltério não apenas retrata a alma em oração, mas também proclama os mistérios da Salvação, inspirando a Igreja a louvar a Deus em todo tempo.