5° Domingo de São Mateus
SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS
«Os Endemoninhados Gadarenos»
Após acalmar a tempestade, o Senhor e seus apóstolos chegaram à cidade de Gadara (Mt 8,28), no território de Gerasa (Mc 5,1), que estava sob o domínio do Império Grego, a leste da Palestina, aproximadamente 57 km de Amã, para lá, realizar mais um milagre: a expulsão de demônios. Os habitantes de Gadara, ou seja, os gadarenos, eram muito supersticiosos, idólatras e preferiam viver isolados da sociedade. Este povo acreditava, segundo a concepção da época, que os maus espíritos eram associados a tudo o que podia contaminar e contagiar, como por exemplo, as doenças de lepra e também com animais que devorassem de maneira voraz as suas presas, como por exemplo, os porcos, javalis etc.
Ao entrar na cidade e percebendo a presença de Jesus, dois endemoniados saíram de seus esconderijos e foram ao encontro do Senhor para reclamar a sua adiantada presença naquele lugar (Mt 8,28). Além de sentirem a presença do Senhor, reconheceram-no e o confessaram Filho de Deus, o Messias. São Tiago nos escreve: “Também os demônios creem em Jesus e tremem de medo” (Tg 2,19).
Não basta apenas acreditarmos em Deus, mas é preciso reconhecer sua presença amorosa em nossa vida e nossa história, como o eterno Criador e sustentador de tudo o que existe.
Engana-se quem pensa que os que causam o mal não creem em Deus. São muitos os exemplos de males terríveis cometidos contra indivíduos e grupos em seu nome, espalhando a dor, sofrimento e a morte. Este modo de praticar a fé é distorcido e doentio, mas ainda assim, Deus não é ignorado. Se até mesmo os demônios acreditam na existência de Deus e se a nossa fé se resume apenas nesta “certeza” de sua “existência”, então nos enganamos a nós mesmos.
Jesus com sua presença e ação, desterrou o poder do maligno, libertando dois homens de demônios transferindo-os para uma manada de porcos que, em seguida, precipitaram-se no abismo. O porco é considerado pelos judeus e maometanos um animal impuro que merece todo o desprezo por causa de sua voracidade e de seu hábito de fuçar na imundície; é também símbolo de baixeza e embrutecimento.
Este exorcismo, narrado pelo Evangelista São Mateus, permite dupla constatação: a) o Ser humano não é esconderijo de demônios, mas templo do Espírito Santo de Deus. A vinda do Senhor ao mundo restaurou a dignidade própria da criatura humana. Por isso, aos demônios restou habitar naquele que era considerado símbolo da impureza e baixeza. b) o solo sagrado, igualmente, não podia suportar as patas do animal que carregava o maligno. A manada estava em terra sagrada e, diante do Filho de Deus, não restou alternativa senão precipitar-se abismo abaixo. Um convite, portanto, a redescobrirmos os lugares sagrados onde vivemos: em casa, no local de trabalho, de lazer, de oração. Aliás, como cristãos, nossa presença deveria ser uma presença sempre transformadora nos ambientes por onde transitamos, pois somos templos vivos de Deus.
Em outras passagens do Evangelho, o povo se alegrava com os milagres que o Senhor realizava. Neste episódio, porém, observamos o contrário: Jesus é expulso de lá pelos que presenciaram a cena. O Evangelista São Lucas aponta a causa do convite para que Jesus se retirasse como sendo “econômica”: os porcos se jogaram no abismo e isto era sinal de prejuízo para seus donos. Algumas pessoas temendo mais perdas com a presença de Jesus tomaram a decisão de expulsá-lo. Marcos em seu Evangelho conclui que os habitantes preferiram permanecer idólatras, cultivando suas práticas pagãs a converter-se. O importante é que aqueles que antes estavam possessos recuperaram a sua dignidade humana e não mais precisavam habitar as grutas ou cavernas, mas já podiam voltar a conviver com seus semelhantes.
De fato, onde não houver um mínimo de sensibilidade, de compaixão com os sofrimentos de nossos irmãos mais desafortunados, onde não houver grandeza para alegrar-se com os êxitos e alegria do outro, Deus não pode habitar plenamente. Sua presença se faz na partilha, seja de bens materiais ou dos bons sentimentos humanos, dons da Misericórdia e da bondade do Pai Celestial.