ESPIRITUALIDADE

A «Espiritualidade Ortodoxa»

Trad.: Monges da Comunidade Monástica São João, o Teólogo

Afirma-se, muitas vezes, que a espiritualidade ortodoxa é uma espiritualidade “monástica”. O que isto significa?

A espiritualidade ortodoxa é, de fato, caracteristicamente monástica, o que significa que todo o cristão ortodoxo tende para a vida monástica. Ou seja: mesmo que se trate de um leigo, casado e com filhos, trabalhando para se alimentar e à sua família, ele vive no seu interior, na sua parte maior e mais importante, um apelo constante à oração, à transformação da vida espiritual, de acordo com o ideal monástico. Recordamos as palavras de são João Crisóstomo: “Aqueles que vivem no mundo, embora casados, devem em todo o resto assemelhar-se aos Monges”. Desde a sua aparição no deserto egípcio, no fim do século III e começo do século IV, até hoje, o Monge lembra-nos a todo o momento que o Reino de Deus não é deste Mundo e que, portanto, o cristão é um homem de passagem, em trânsito para uma vida melhor.

Do mesmo modo, o cristão ortodoxo (simbolicamente tonsurado quando recebido na Igreja), ao assumir uma espiritualidade deste tipo, vive permanentemente a tensão entre o que é deste Mundo (“de César”) e a esperança da vida eterna junto do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Aliás, já São Teodoro Studita (759-826) – abade do grande Mosteiro de Studios, e que desempenhou um papel tão importante na história do Monaquismo – dizia que os Monges formam uma comunidade que realiza da maneira mais plena e mais perfeita o que a Igreja deveria ser no seu conjunto. E, assim, podemos dizer que a Igreja é uma comunidade de crentes que, estando neste Mundo, não é por ele limitada – essa comunidade está neste Mundo mas não é deste Mundo: vive já ansiando pela segunda vinda de Cristo, que pode acontecer a qualquer momento…