S I N A X E
Termo e Desenvolvimento no Contexto Cristão e Litúrgico
O termo “Sinaxe” emerge como um conceito técnico e profundamente significativo no contexto da liturgia cristã, especialmente na tradição bizantina, carregando múltiplos significados relacionados à assembleia litúrgica e à Eucaristia. Sua origem etimológica e evolução histórica mostram como o termo transcendeu suas raízes gregas para se tornar um pilar na compreensão da prática litúrgica e espiritual do cristianismo primitivo.
Origem Etimológica e Diferença com "Sinagoga"
“Sinaxe” e “Sinagoga” derivam da mesma raiz grega, significando “reunião” ou “assembleia”. Contudo, desde os primórdios do cristianismo, os seguidores de Cristo buscaram diferenciar suas práticas das assembleias judaicas e, posteriormente, das heréticas. Essa distinção é registrada em fontes patrísticas, como o “Panarion” de Epifânio de Salamina, onde o autor destaca a escolha de uma desinência diferente para o termo cristão, reforçando a identidade única das assembleias cristãs.
Uso e Significado Litúrgico
No cristianismo bizantino, “Sinaxe” tornou-se uma palavra técnica, abrangendo dois aspectos principais:
- A assembleia dos fiéis: Refere-se ao encontro comunitário dos cristãos para culto e oração.
- A celebração eucarística: Mais especificamente, alude à comunhão e à participação nos Santos Mistérios, enfatizando a união íntima dos fiéis com Cristo.
São Cirilo de Jerusalém, em suas “Catequeses”, distingue claramente as sinaxes dominicais e as celebrações de festas específicas, como a Ascensão, ordenando a sequência das leituras litúrgicas. Por outro lado, São Basílio de Cesareia expande o conceito ao introduzir a ideia de uma sinaxe espiritual – uma reunião dos fiéis que servem a Deus em “espírito e verdade”. Ele chama essa reunião de “santa”, destacando o caráter transcendente do culto cristão.
Já São João Crisóstomo, embora centralize suas reflexões na Eucaristia como coração da liturgia, não demonstra a mesma distinção rigorosa entre tipos de assembleias, focando mais na comunhão dos fiéis com Cristo através da participação eucarística.
Sinaxe no Contexto Monástico
No monaquismo oriental, o termo adquire uma acepção mais espiritual e comunitária, sendo utilizado para descrever a participação na oração comunitária e no culto monástico. Textos como os “Apoftegmas dos Padres do Deserto” (Apophthegmata Patrum) sugerem que a sinaxe também carrega o sentido de união espiritual dos monges e monjas, destacando a santidade e a simplicidade do culto.
No Ocidente, o termo aparece mais tardiamente, ligado ao contexto monástico latino. Na “Regra de São Bento”, por exemplo, “Sinaxe” é associada tanto à celebração litúrgica (com ponto culminante na Eucaristia) quanto à salmodia e à oração coletiva, frequentemente chamada de “colecta”.
Significados Contemporâneos
A riqueza do termo “Sinaxe” reflete sua versatilidade e centralidade na experiência litúrgica e espiritual cristã. Ele encapsula:
- A dimensão comunitária, como assembleia dos fiéis;
- A dimensão sacramental, como celebração eucarística;
- A dimensão espiritual, como união íntima com Cristo;
- A dimensão monástica, como prática de oração comunitária.
Mesmo em sua transição para o uso ocidental e monástico, a essência do termo – reunir-se em comunhão para honrar a Deus – permanece central, ecoando os valores primordiais do cristianismo.