LITURGIA

Monastério Ortodoxo de Valaam | Catedral da Transfiguração

A Liturgia Ortodoxa*

Se se intenta caracterizar a liturgia ortodoxa, pode-se dizer que ela é essencialmente um reflexo da Liturgia celeste. Se se precisa que é eminentemente escatológica e apocalíptica, há que se acrescentar imediatamente que este Apocalipse (= Revelação) não é visto como um acontecimento que virá no futuro, mas que é «fato presente» pela ação litúrgica e pelo quadro no qual ela se desenrola. O Cristo Pantokrátor, a Theotokos, os Anjos, os Santos estão aí, representados nos Ícones ou mosaicos: o mundo celeste participa na liturgia terrestre, se bem que não há, finalmente, mais que uma Liturgia, ao mesmo tempo, terrestre e celeste, da qual a Liturgia trinitária, o Triságion – a tríplice «ação de graças» in divinis – é o protótipo eterno e imutável. É por isso que, depois das orações penitenciais, o diácono começa a incensar os Ícones, depois os celebrantes (sendo a hierarquia eclesiástica a imagem da hierarquia celeste) e, finalmente, o povo fiel.

A luz da Transfiguração, anunciada pelo Prólogo de São João, aparece através da cúpula iluminada pelo Sol, ao qual respondem os inumeráveis círios que os fiéis vem depositar aos pés dos Ícones, diante dos quais fazem respeitosas reverências (metanias).

Os fiéis não participam ativamente na Liturgia. Depois da proclamação do Evangelho e do canto das Litanias, fecham-se as portas do Iconostásio e, por detrás delas, vão ser celebrados os santos Mistérios subtraídos assim do olhar da multidão. O povo, passivo, receptivo, é tomado interiormente pelo ambiente do que temos sublinhado o caráter celeste ou apocalíptico. Porém, se a função dos Ícones é a de atualizar o olhar interior, dirigido para as realidades escatológicas, é necessário agora mencionar o papel do canto: tímido e reservado no início, alcança na sua continuação uma amplitude extraordinária, como, por exemplo, na proclamação do Santo Evangelho. O coro de crianças, evidentemente invisível: são os Anjos que cantam. As melodias sobre duas notas são as mais frequentes, porém, a polifonia não se exclui; o alargamento das notas finais dá ao conjunto o «sentido da eternidade» e a certeza da imortalidade.

*Impressões de um «ocidental primitivo»,
por Abbé Henri Stéphane,
escrito depois de uma visita a uma Igreja Ortodoxa.
Tradução: Pe. André Sperandio