Domingo Após a Teofania

Mons. Irineo Tamanini​
Arquimandrita

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

A Festa da «Santa TEOFANIA»

ão Paulo escreve à Comunidade de Éfeso, instruindo-a que a Igreja se edifica pela variedade dos dons e pela participação de cada fiel na vitalidade do único Corpo de Cristo. Tais dons são recebidos no Batismo e colocados ao serviço de toda a Igreja. Põe em relevo a origem única e generosa do dom concedido a cada um. É uma afirmação da fé em Cristo, Principio e Fim de tudo.

A Fonte dos dons eclesiais é o Cristo Glorioso, O que está sentado à direita do Pai. Esclarece depois a função e o objetivo dos dons que se concretizam nos ministérios. O objetivo essencial das diversas funções é favorecer o Corpo de Cristo na Unidade e na Caridade.

No Domingo após a Epifania do Senhor, tendo celebrado o seu santo Batismo, o evangelista Mateus nos narra os episódios que sucederam o período de quarenta dias no deserto:

«Em seguida o Espírito impeliu Jesus para o deserto. Jesus ficou no deserto durante quarenta dias, e ai era tentado por Satanás. Jesus vivia entre os animais selvagens e os anjos O serviam» (Mc 1, 12-13).

O Senhor, após seu Batismo no Rio Jordão, é guiado pelo Espírito ao deserto e lá confronta-se com as provações. Jesus venceu todas as tentações.

O início de sua pregação aconteceu após a prisão de João, o Precursor, daquele que veio preparar sua vinda.

«Depois que João Batista foi preso, Jesus voltou para a Galiléia, pregando a Boa Notícia de Deus: ‘O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo: convertam-se e creiam no Evangelho» (Mc 1, 14-15).

E começa dizendo que o tempo da espera tinha chegado ao fim: “o tempo já se cumpriu”. João Batista anunciava por sua pregação o caminho de preparação para a vinda do Messias. Jesus, porém, não anunciou sua chegada, mas que o Reino de Deus já estava no meio deles. Sua pregação não era em torno de sua própria Pessoa. Ele não chamava atenção sobre Si mesmo; mas anunciava que o tempo da libertação definitiva já havia chegado.

A breve mensagem de Jesus soava como a do Batista. Só que Jesus a personificou e, o arrependimento que pedia era para receber o Evangelho. O Reino de Deus se fez, portanto, presente e atuante na pessoa de Jesus. Como o Batista, Jesus também exigia conversão: “convertam-se”. Mas não era mais uma conversão na expectativa da vinda do Filho de Deus. A conversão acontecia porque o Senhor do Céu e da Terra, o Filho Unigênito de Deus já estava entre os homens.

A missão do Senhor, portanto, teve inicio após estes dois grandes acontecimentos: o Batismo e o tempo de oração no deserto. Das águas vivificantes do Jordão e da aridez do deserto nasceram o impulso do anúncio do Reino de Deus.

Assim como o Batismo do Senhor O levou à Missão Evangelizadora, também nosso Batismo deve frutificar em momentos de graça. O Batismo nos convida à oração e à meditação; nos convida ao deserto onde podemos fazer a experiência do encontro pessoal com Deus. Depois, iluminados e revestidos da Graça, poderemos partir para a missão e pregar «aquilo que vimos, ouvimos e sentimos» (São Paulo).

Após a Epifania, os evangelhos não mencionam mais nenhum batismo até a Ressurreição do Senhor, quando os discípulos receberam d’Ele a ordem de batizar a todos.

O acontecimento no Jordão e o início de sua pregação na Galileia revestem-se de especial relevância, bem maior que a de simples dados biográficos ou históricos. Eles revelam de fato, quem é Jesus na História da Salvação. Tanto nos Evangelhos como nos Atos dos Apóstolos, o Batismo do Senhor é visto como ponto de partida do Mistério da Salvação e da Redenção do mundo.

Para São Clemente de Alexandria (+215) «O Batismo é iluminação, regeneração, banho e, através dele, nos tornamos filhos de Deus, recebendo a imortalidade.» Deus nos fez para a vida e não para a morte. Deus nos fez para a Luz e não para as trevas. Uma vez iluminados e viventes, nosso compromisso é nos conformar gradativamente a Cristo, vivendo sob a luz de seus ensinamentos: amando, perdoando e proclamando sem cessar a todos a Boa-Nova da Salvação que Ele nos trouxe.

Santo Irineu (†202) defendeu em seus escritos o batismo administrado às crianças e não somente aos adultos «para que a Graça Divina – diz ele – seja dada a todos desde cedo, para que sua missão comece igualmente cedo.»

Referências bibliográficas:

  • GOEDERT, Valter. Teologia do Batismo. São Paulo – Ed. Paulinas – 1987.
  • BALANCIN, Euclides Martins. Como ler o Evangelho de Marcos. São Paulo – Ed. Paulus – 2000.
  • FABRIS, Rinaldo. Cartas de São Paulo – São Paulo. Ed. Loyola – 1996