«Ouve, meu povo, sou Eu quem vai falar» (Sl 49,7)
«Oxalá ouvísseis hoje a sua voz! Não endureçais os vossos corações como em Meriba, […] no deserto, quando os vossos pais Me provocaram. […] Eles não entrarão no lugar do meu repouso» (Sl 94,7-11). A graça da promessa de Deus é abundante, se hoje ouvirmos a sua voz, porque este «hoje» refere-se a cada novo dia enquanto se disser «hoje». Este «hoje» permanece até ao fim dos tempos, como permanece também a nossa possibilidade de aprender; nessa altura, o verdadeiro «hoje», o dia sem fim de Deus, confundir-se-á com a eternidade. Obedeçamos, pois, à voz do Verbo divino, à Palavra de Deus encarnada, porque o «hoje» de sempre é a imagem da eternidade e o dia é símbolo da luz; ora, o Verbo é para os homens a luz (Jo 1,9) na qual vemos a Deus.
É pois natural que a graça superabunde para aqueles que acreditaram e obedeceram, mas também é natural que Deus Se ire com aqueles que foram incrédulos […], que não reconheceram as vias do Senhor […], e os ameace. […] O mesmo aconteceu aos hebreus, que erraram pelo deserto e não entraram no lugar o repouso por causa da sua incredulidade. […]
O Senhor ama os homens e, por isso, convida-os «ao conhecimento da verdade» (1Tm 2,4) e envia-lhes o Espírito Santo, o Paráclito. […] Escutai, pois, vós que estais longe e vós que estais perto (Ef 2,17). O Verbo não Se esconde de ninguém. Ele é a nossa luz, Ele brilha para todos os homens. Apressemo-nos a buscar a salvação através de um novo nascimento. Apressemo-nos a reunir-nos num só rebanho, na unidade do amor. E esta multidão de vozes […], obedecendo a um único Senhor, o Verbo, encontrará o lugar do seu repouso na própria Verdade e poderá dizer: «Abba, Pai!» (Rm 8, 15).
São Clemente de Alexandria (150-c. 215)
Protréptico, 9; PG 8, 195-201
Fonte: Evangelho Cotidiano