A graça divina, sábia perspicácia e olhos bem abertos!
O vício imita a virtude e o joio tenta fazer-se passar por trigo: a aparência é semelhante, mas o sabor não engana o conhecedor. O demónio também se disfarça de anjo de luz, não para voltar para onde estava (porque tornou o seu coração duro como uma bigorna e a sua determinação anterior é agora irrevogável), mas para cercar aqueles que levam uma vida semelhante à dos anjos com as trevas da cegueira e a pestilência da incredulidade. Muitos são os lobos que andam em pele de cordeiro. Das ovelhas, tiraram apenas as peles, não as unhas nem os dentes, mas, vestidos com o velo de um animal doméstico e usando a sua aparência para enganar os que não têm malícia, deixam escorrer pelos dentes o vírus mortal da impiedade.
Precisamos, pois, da graça divina, de ter um discernimento sábio e de estar de olhos bem abertos, para não sermos vítimas da nossa ignorância e comermos joio em vez de trigo; para não confundirmos o lobo com uma ovelha e nos tornarmos sua presa; para não imaginarmos que o demónio destruidor é um anjo benéfico e sermos devorados, pois ele «anda à nossa volta como leão que ruge, procurando a quem devorar» (1Pd 5,8), como diz a Escritura. É por isso que a Igreja nos adverte, é por isso que damos estas lições e é por isso que as instituímos.
São Cirilo de Jerusalém
Catequese batismal n.º 4, 1
Fonte: Evangelho Cotidiano