«Ao ver Maria a chorar e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-Se» (Jo 11,33)

Porque te chorarei, meu irmão que tanto amava e que me foste tirado […]? Na verdade, a minha relação contigo não desapareceu, apenas se alterou completamente para mim: até agora, era inseparável do corpo, a partir de agora tornou-se inseparável dos sentimentos. Tu permaneces comigo, e permanecerás para sempre. […] O apóstolo Paulo recorda-mo e põe uma espécie de freio à minha dor com as seguintes palavras […]: «Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos que faleceram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança» (1Tess 4,13). […]

Mas nem todas as lágrimas são um sinal de falta de fé ou de fraqueza. Uma coisa é a dor natural, outra a tristeza que resulta da descrença. […] A dor não é a única a manifestar-se com lágrimas; também a alegria tem as suas lágrimas, também o afeto suscita lágrimas, a palavra rega o solo com lágrimas, e a oração, segundo as palavras do profeta, banha de lágrimas o nosso leito (Sl 6,7). Quando os patriarcas eram sepultados, o seu povo também chorava muito. As lágrimas são, pois, um sinal de afeto e não incitações à dor. Chorei, confesso-o, mas também o Senhor chorou (Jo 11,35); Ele chorou uma pessoa que não era da sua família, eu choro um irmão. Ele, num só homem, chorou todos os homens; e eu chorar-te-ei, meu irmão, em todos os homens.

Foi com a nossa sensibilidade que Cristo chorou, e não com a sua, porque a divindade não tem lágrimas. […] Ele chorou neste homem que tinha «uma tristeza de morte» (Mt 26,38), chorou naquele que foi crucificado, que foi morto, que foi sepultado; chorou neste homem […] nascido da Virgem.


Santo Ambrósio de Milão (c. 340-397)
Sobre a morte de seu irmão, § 6
Fonte: Evangelizo.org

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