«A pequenez de uma semente e a esperança da ressurreição»

Considerando que o espírito se liberta da carne, que a carne se transforma em podridão, que a podridão se reduz a pó e que o pó se reduz aos seus elementos, a ponto de se tornar invisível aos olhos do homem, alguns espíritos desesperam de vir a ressuscitar. Tendo diante dos olhos ossos secos, não têm fé de que esses ossos venham a revestir-se da sua carne e possam readquirir a verde frescura da vida. Mas, se não têm fé na ressurreição por obediência, deveriam tê-la ao menos pela razão.

Com efeito, não é verdade que o mundo imita todos os dias, nos seus próprios elementos, a nossa própria ressurreição? […] Consideremos a pequenez de uma semente que é lançada à terra para produzir uma árvore, e imaginemos, se formos capazes, onde se escondia, na pequenez dessa semente, a imensa árvore que dela cresceu, onde estava a madeira, a casca, a folhagem verde, a profusão de frutos. Era possível distinguir algum desses elementos na semente quando foi lançada na terra? E, no entanto, segundo o plano secreto daquele que ordena maravilhosamente o devir universal, na delicadeza da semente estava escondida a aspereza da casca da árvore, na fragilidade da semente estava escondida a força da sua resistência, e na secura da semente, a profusão da sua fecundidade.

E teremos de nos admirar com o facto de um pó tão fino, que escapa aos nossos olhos uma vez reduzido aos seus elementos, recupere a forma humana no dia em que o quiser Aquele que, a partir das mais ténues sementes, faz brotar árvores imensas? Uma vez que, pela nossa constituição, somos seres dotados de razão, a esperança da nossa ressurreição deve impor-se ao nosso olhar, à nossa contemplação do mundo exterior. Mas, como o juízo da razão se entorpeceu em nós, a graça do Redentor veio dar-nos mais um exemplo.

São Gregório, o Grande
Livro XIV, SC 212
Fonte: Evangelho Cotidiano

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