«É com razão que te amam» (Ct 1,4)

«É com razão que te amam» (Ct 1,4): recebemos aqui um ensinamento particularmente elevado, a saber, a caridade que devemos ter com Deus e a conduta que devemos ter com os homens. Se é preciso que «tudo aconteça com decoro e com ordem» (1Cor 14,40), quão mais rigorosa deve ser a ordem a este nível. […]

Conheçamos, pois, a ordem da caridade que a Lei nos ensina, isto é, que devemos amar a Deus e amar os nossos inimigos, para nunca invertermos a ordem do cumprimento da caridade. Temos de amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com todas as nossas forças e com toda a nossa sensibilidade, e ao próximo como a nós mesmos; o homem de coração puro deverá amar sua mulher «como Cristo amou a Igreja» (Ef 5,25), e, se estiver sujeito às paixões, como ao teu próprio corpo (cf Ef 5,28), como manda Paulo, que estabeleceu a ordem nesta matéria; e temos de amar os nossos inimigos, sem retribuir o mal com o mal, mas respondendo à injustiça com o bem.

Na realidade, porém, a ordem da caridade está confundida e perturbada na vida da maior parte dos homens; […] pois amam com toda a sua alma e com todas as suas forças as riquezas, as honras, ou mesmo as mulheres, se as desejam ardentemente, a ponto de serem capazes de dar a vida por elas, mas só amam a Deus na medida em que lhes convém, não têm com o próximo a caridade que se deve aos inimigos e só pensam em agravar o mal que receberam daqueles que os odeiam.

É por isso que a Esposa diz: «É com razão que te amam» (Ct 1,4), para que demos a Deus tudo o que Lhe é devido e encontremos a medida adequada em relação aos outros.

São Gregório de Nissa (c. 335-395)
«A ordem da caridade»
Fonte: Evangelho Cotidiano

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