«Vereis o Céu aberto»
A pretexto de que não consigo beber o rio todo, deverei privar-me de tomar modestamente o que dele necessito? A pretexto de que a constituição dos meus olhos me impede de olhar o Sol de frente, deixarei de ver aquilo que as minhas necessidades me solicitam? A pretexto de que entrei num enorme pomar e não consigo comer todos os frutos que nele se encontram, deverei sair dele com fome? Eu louvo e glorifico Aquele que nos criou, porque tal está prescrito por mandamento divino: «Todo o ser vivo bendiga o seu santo nome» (Sl 145, 21) […].
Mas não está escrito: «Os seus [dos pequeninos] anjos, nos Céus, veem para sempre o rosto do meu Pai que está nos Céus» (Mt 18,10)? Os anjos veem a Deus, não como Ele é, mas – também eles – como O compreendem. Com efeito, foi o próprio Jesus que disse: «Não porque alguém tenha visto o Pai, a não ser Aquele que existe junto de Deus: este viu o Pai» (Jo 6,46). Os anjos veem, pois, de acordo com a sua capacidade, e os arcanjos como podem; os tronos e as dominações veem-no melhor que estas primeiras categorias, mas ficam aquém de um conhecimento digno do seu objeto. Só o Espírito Santo, juntamente com o Filho, O pode ver como Ele deve ser visto, pois «sonda todas as coisas e conhece as profundezas de Deus» (1Cor 2,10). Uma vez que tanto o Filho unigénito como o Espírito Santo conhecem adequadamente o Pai – pois «ninguém reconhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar» (Mt 11,27) –, o Filho vê Deus como Ele deve ser visto e revela-O, com o Espírito e através do Espírito Santo, a cada um segundo a sua capacidade. […]
Portanto, uma vez que nem os anjos O conhecem – pois, como dissemos, o Unigénito revela com o Espírito e pelo Espírito Santo, a cada um segundo a sua capacidade –, que ninguém se envergonhe de confessar a sua ignorância.
São Cirilo de Jerusalém
Catequese batismal n.º 6, 5-6
Fonte: Evangelho Cotidiano