«E Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12,32)

Aprende e vê, meu irmão […], que há no deserto muitas serpentes que mordem a multidão dos teus pensamentos, e que são: injúrias, difamações, angústias, murmúrios, disputas, calúnias que são lançadas contra ti. […] Se queres escapar-lhes, faz o que faziam os israelitas: olhavam para a serpente de bronze que Moisés tinha feito. E todos os que a olhavam eram curados. Também tu, quando te vires mordido por uma dessas serpentes, contempla Nosso Senhor Jesus Cristo suspenso na cruz. […] Como diz o apóstolo Paulo, põe os olhos «em Jesus, autor e consumador da fé. Ele, renunciando à alegria que Lhe fora proposta, sofreu a cruz, desprezando a ignomínia, e sentou-se à direita do trono de Deus» (Hb 12,2). […]

Eis, em poucas palavras, como deves de ter os olhos fixos nele, quando fores mordido pelas serpentes: quando fores desonrado, fixa os olhos nele, que também foi desonrado, e foi-o por ti, tratado por demônio e por samaritano (Jo 8, 48) […], escarnecido, esbofeteado, cuspido na cara, deram-Lhe vinagre e fel, feriram-Lhe a cabeça com espinhos. Se fores mordido por um pensamento de vanglória, por te confiarem tarefas importantes, lembra-te daquelas palavras de Nosso Senhor: «Quando tiverdes cumprido tudo o que vos foi ordenado, dizei: “somos servos inúteis”» (Lc 17,10). E se tiveres vontade de desprezar o teu irmão por causa da sua fraqueza, fixa os olhos naquele que tinha mais solicitude pelos pecadores, os publicanos e as prostitutas, para os converter a Si, do que pelos justos, que não tinham necessidade de conversão. E,  quando as paixões naturais e os demônios te oprimirem, fixa os olhos nele, pregado na Cruz, cravado de mãos e pés. […]

Medita sem cessar no teu coração acerca destas coisas e o veneno das serpentes desaparecerá do teu coração. É que, pela sua crucifixão, Jesus está mais próximo de ti do que a serpente de bronze estava dos hebreus, pois habita o teu coração, e nas pregas secretas da tua alma resplandece a luz do seu rosto glorioso.


Filoxeno de Mabug (?-c. 523), bispo da Síria
Carta sobre a vida monástica
Fonte: Evangelho Cotidiano

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