«O Filho do homem é Senhor do sábado»

Uma advertência por zelo de amor

«E quisera Deus que a vossa alma estivesse no lugar da minha! Também eu vos consolaria com as minhas palavras e levantaria a cabeça sobre vós. A minha boca fortalecer-vos-ia e eu moveria os lábios para vos poupar» (Job 16,5-6). Por vezes, perante espíritos injustos que não se deixam reorientar pela pregação dos homens, é necessário desejar-lhes, com toda a bondade, as pragas de Deus. Porque, quando chegamos a isso pelo zelo de um grande amor, não é certamente um castigo que pedimos para os transviados, mas uma advertência; o que assim exprimimos não é uma maldição, mas uma oração.

Note-se que Job não diz: «E quisera Deus que a minha alma estivesse no lugar da vossa!»; pois, se quisesse ser como eles, estaria a amaldiçoar-se a si próprio. O que ele queria era a elevação daqueles a quem tinha desejado um destino semelhante ao seu. Ora, nós consolamos os espíritos injustos no meio da sua flagelação quando lhes fazemos ver que os golpes exteriores reforçam a sua salvação interior; levantamos a cabeça quando orientamos o seu espírito, que é a parte mestra do nosso ser, para a compaixão; e fortalecemo-los quando sublinhamos a violência da sua dor com a suavidade das nossas palavras.

De fato, há homens que, por estarem fechados à vida interior, se veem abatidos até ao desespero pelos golpes do mundo exterior, o que leva o salmista a dizer: «Não resistirão à desgraça» (Sl 139,11); porque só aquele que vai buscar a alegria à sua esperança interior é capaz de resistir aos males exteriores.

São Gregório, o Grande
Livro XIII
Fonte: Evangelho Cotidiano

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