«Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (Jo 3,30)
O maior dos homens foi enviado para dar testemunho daquele que era mais que um homem. Com efeito, quando aquele que «é o maior de entre os nascidos de mulher» (cf Mt 11,11) diz: «Eu não sou o Messias» (Jo 1,20) e se humilha face a Cristo, temos de entender que Cristo não é apenas um homem. […] «Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graça sobre graça» (Jo 1,16). Que quer dizer «todos nós»? Quer dizer os patriarcas, os profetas e os santos apóstolos, aqueles que precederam a encarnação ou que foram enviados depois pelo próprio Verbo encarnado, «todos nós participamos da sua plenitude». Nós somos recipientes, ele é a fonte. Portanto […], João é homem, Cristo é Deus: é preciso que o homem se humilhe, para que Deus seja exaltado.
Foi para ensinar o homem a humilhar-se que João nasceu no dia a partir do qual os dias começam a diminuir; para nos mostrar que Deus deve ser exaltado, Jesus Cristo nasceu no dia em que os dias começam a crescer. Há aqui um ensinamento profundamente misterioso. Nós celebramos a natividade de João como celebramos a de Cristo, porque essa natividade está cheia de mistério. De que mistério? Do mistério da nossa grandeza. Diminuamo-nos em nós próprios para podermos crescer em Deus; humilhemo-nos na nossa baixeza, para sermos exaltados na sua grandeza.
Santo Agostinho de Hipona (354-430)
Sermão 289, 3.º para a Natividade de João Batista
Fonte: Evangelho Cotidiano