«O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia»
«Ele retira às profundezas o seu véu de trevas e traz à luz a sombra da morte» (Job 12,22). O que faz o crente quando compreende o sentido misterioso das palavras obscuras dos profetas? Não está a retirar às profundezas o seu véu de trevas? É por isso que, dirigindo-Se aos seus discípulos, a Verdade ordena: «O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia».
Com efeito, quando os nossos comentários desfazem os misteriosos nós das alegorias, dizemos à luz aquilo que ouvimos nas trevas. Ora, a sombra da morte era a dureza da Lei, que prescrevia a todo o pecador a punição da morte física. Mas, quando o nosso Redentor temperou a aspereza das prescrições da Lei com a sua mansidão, quando estabeleceu que a sanção da falta não era a morte do corpo e revelou quão temível era a morte da alma, trouxe manifestamente à luz a sombra da morte. Porque uma morte que separa a carne da alma é uma simples sombra daquela morte que separa a alma de Deus. Assim, pois, a sombra da morte é trazida à luz quando, compreendendo o que é a morte do espírito, se deixa de temer a morte da carne. […]
Com efeito, o Senhor retira às profundezas o seu véu de trevas quando traz à luz o julgamento que procede dos seus conselhos secretos, a fim de tornar manifestos os seus sentimentos sobre cada um de nós.
São Gregório, o Grande
Livro XI, SC 212
Fonte: Evangelho Cotidiano