«Jesus respondeu-lhe: […] ‘Tu, segue-Me’»
«Levanta-te e vem, minha bem-amada,
minha bela, minha pomba» (Cant 2,10).
A natureza divina convida a alma humana a participar dela, transcendendo-a sempre pela sua eminência no bem. A alma cresce na sua participação no transcendente e nunca deixa de crescer; mas o bem no qual participa permanece o mesmo, manifestando-se sempre igualmente transcendente à alma que dele participa sempre mais.
Deste modo, vemos o Verbo guiar a esposa para os cumes pelo crescimento na virtude, como quem sobe uma escada. Primeiro, envia-lhe um raio de luz pelas janelas dos profetas e as treliças dos mandamentos da Lei, ordenando-lhe que se aproxime da luz e se torne bela, tomando na luz a forma da pomba. Depois, quando ela já tomou parte nesses bens na medida em que pode contê-los, atrai-a de novo, como se ela ainda não tivesse participado nos bens, à participação na beleza transcendente. Assim, à medida que ela vai progredindo na direção daquilo que está sempre uns passos à sua frente, também o seu desejo aumenta, e o excesso de bens, manifestos na sua transcendência, levam-na a pensar que se encontra sempre no começo da sua ascensão.
É por isso que o Verbo diz de novo: «Levanta-te» (Cant 2,13) àquela que já se encontra de pé; e: «Vem» àquela que já veio. Com efeito, quem assim se levanta nunca mais acabará de se levantar, e quem corre para o Senhor jamais esgotará o amplo espaço para a corrida divina. Temos, pois, de nos levantar continuamente, sem nunca cessarmos de nos aproximar na nossa corrida; pois cada vez que o Verbo diz: «Levanta-te» e: «Vem», dá-nos força para subirmos um pouco mais.
São Gregório de Nissa (c. 335-395)
«De pomba em pomba»
Fonte: Evangelho Cotidiano