«Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?»

Se coexistem na mesma alma, por um lado a compaixão e por outro o juízo de simples equidade são como um homem que adora Deus e os ídolos na mesma casa. A compaixão é o contrário do juízo de simples justiça. O juízo estritamente equitativo implica a igual repartição por todos de uma medida semelhante: dá a cada um o que ele merece, não mais; não se inclina para um lado nem para o outro, não discerne na retribuição. Pelo contrário, a compaixão é suscitada pela graça, inclina-se sobre todos com a mesma afeição, evita a simples retribuição àqueles que são dignos de castigo e cumula para lá de qualquer medida os que são dignos do bem.

A compaixão está, pois, do lado da justiça, enquanto o juízo apenas equitativo está do lado do mal. […] Assim como um grão de areia não pesa tanto como muito ouro, assim também a justiça equitativa de Deus não pesa tanto como a sua compaixão. Qual punhado de areia caindo no vasto oceano, assim são as faltas das criaturas em comparação com a providência e a piedade de Deus. E, da mesma forma que uma nascente que jorra com abundância não pode ser bloqueada por um punhado de terra, tão-pouco a compaixão do Criador pode ser vencida pela malícia das criaturas. Quem guarda ressentimento quando reza é como um homem que semeia no mar e espera colher do que semeou.

Isaac, o Sírio (século VII),
Discursos espirituais, 1.ª série, n.º 58
Fonte: Evangelho Cotidiano

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